Há um fator muito importante e com grande impacto sobre as crianças, que é o desemprego. O desemprego é um fator que tem um peso enorme, pela privação enorme que isso representa para as famílias na diminuição dos rendimentos, mas também na menor disponibilidade que os pais têm, porque estão preocupados, em procurar formas alternativas, que lhes possam dar algum rendimento.” Essa austeridade tem causado sérios impactos sociais, principalmente a Portugal, país resgatado pela Troika.
É que além da geração perdida de jovens desempregados, essa crise também hipotecou a vida de milhões de crianças! Há famílias desesperadas, a viverem cheias de medo. Medo, porque os empregos não são seguros; medo, porque trabalham alguns meses e pouco tempo depois estão desempregadas; medo de ficar sem a reforma; medo de não conseguirem emprego e de não sobreviverem a todas essas privações; medo de serem despedidas, ou serem mal classificadas pelo chefe e, no meio de todos esses medos, quem sofre são as crianças! Essa severidade, tem vindo a causar um impacto forte na vida dos mais novos. Cerca de 500 mil pessoas ficaram sem abono de família; 120 mil dependem de ajuda alimentar para escapar à fome e mais de 85% destes desempregados têm filhos.
E há quem já nem sequer tenha subsídio de desemprego nem Rendimento Social de Inserção. Há crianças que vivem em lugares onde não é possível crescer e aprender valores positivos. Essa rispidez de governação, é uma autêntica violação dos direitos das crianças e do homem. O ilustre Dr. Jorge Sampaio (ex-Presidente da República), disse na Gulbenkian que, «Não estamos a conseguir garantir igualdade de oportunidades às gerações mais jovens nem sequer a mostrar-lhes que o sucesso não depende de alguém ter nascido rico ou em privilégio, mas sim do seu próprio mérito».
A desigualdade dos mais jovens, como a pobreza infantil, não são chagas apenas do presente, terão reflexos cruéis no futuro. Comprometer o futuro é o que estamos a fazer com aquilo que Sampaio descreve como a «aplicação severa e drástica de medidas de austeridade centradas no curto prazo e unicamente movidas pelo intuito da redução de défices». Por outro lado, a distinta Magistrada Drª. Maria José Morgado, denunciou que: “A classe política aproveitou a sua oportunidade, que não é a oportunidade do bem comum. Choveram fundos europeus para ajuda a Portugal, mas esses fundos foram apropriados individualmente, para enriquecimento individual, para a miséria da população e não para o desenvolvimento económico, tal como foram atribuídos os fundos sociais europeus.”
Meus Senhores: nos próximos sete anos, Portugal vai receber 1600 milhões de euros do Fundo Social Europeu, para ser usado em colmatar a pobreza e minorar, o sofrimento e a fome dessas crianças. Pergunto: Será que vai ser mesmo usado, para esse fim? Termino com essa sentença de Almeida Garret, que dizia que “Para fazer um rico, são necessários milhares de pobres!”
Cruz dos Santos
2014