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25/02/2015

VENCER A MORTE


Denunciava o Jornal “Público”, que o Neurologista e Escritor de contos clínicos, Oliver Sacks, sofria de cancro terminal, restando-lhe apenas algumas semanas de vida. Num discurso simples e emotivo, disse: -“Há um mês sentia-me bem, com saúde robusta…com 81 anos, conseguia nadar uma milha por dia”. E acrescentava nostálgico: -“Mas a minha sorte começou a andar para trás– há poucas semanas, soube que sofria de metástases múltiplas no fígado” e explicava que se devia ao desenvolvimento de um “tumor raro num olho…que tinha sido tratado há nove anos”. O distinto Esculápio, avança como vê o tempo que lhe resta para viver, dizendo: -“Sinto-me muito vivo, sem medo e espero que o tempo que me resta me permita aprofundar as minhas amizades, despedir-me daqueles que amo, escrever mais, viajar…alcançar novos níveis de conhecimento e compreensão”.

Por sua vez, o Dr. Adolfo Rocha (Miguel Torga), Médico e distinto Escritor, em fase terminal, deixava escrito no seu Diário (XVI), estas palavras: -“E aqui estou na vala comum de uma enfermaria a ver agonizar outros infelizes à minha volta. Passei a vida a tratar doentes (…) Mas faltava-me a prova suprema de sofrer sem esperança numa cama ao lado deles…mimado do mesmo mal incurável, mas…sem medo! Com a diferença apenas de que a ignorância lhes permite alimentar um absurdo fio de esperança, que, eu, por sabedoria profissional, não posso compartilhar (…) e sem forças para erguer uma palha…nem a escrita me deixa em paz. (…) Mas tenho de me render à evidência. A caneta cai-me da mão aos primeiros rabiscos. E ainda bem. Nasci para cantar a glória da vida e não para cronista da humilhação da morte”. 

Por outro lado, o célebre Advogado e Escritor Dr. António Duarte Arnaut (o Pai da Saúde), no seu livro “Vencer a Morte”, escreveu:-“O homem nunca aceitou a morte. Torga chamou-lhe um “escândalo sem remissão”. Não admira, pois, que desde o alvor dos tempos, a tenha tentado vencer pelas mais diversas e variadas formas, desde a magia à religião, passando naturalmente, pela filosofia e pela ciência. (…) A crença em Deus foi, desde os primórdios, a solução encontrada para vencer a morte (…)”. 

Meus Senhores: a morte física, faz parte do ciclo natural da vida, mas a morte da consciência humana é inaceitável. A Medicina, está mais preocupada em olhar de frente a Senescência (envelhecimento), deixando a morte para o Filósofo e o Teórico se ocuparem dum tema, que aceitamos como irremediável. Em 1882, Weismann foi categórico: “A morte biológica é obrigatória, para seres tão complexos na sua organização, como é o Homem”. Timidamente, o Homem, o único produto da natureza que põe questões a ele mesmo, deixa no ar a pergunta: “Morre-se de velhice”? Bom…Até ao momento, só o escolasticismo medieval deu uma resposta: “A vida é uma lamparina a óleo que se gasta queimando-se, enfraquece-se e finalmente extingue-se”!

Diz tudo e…não diz nada. É uma imagem demasiado terrena.

Cruz dos Santos 

2014

04/02/2015

O MEU EXAME DO “PROPEDÊUTICO“


No ano letivo de 1975/1976 matriculei-me na Escola Industrial Machado de Castro, no número 41 da Rua Saraiva de Carvalho, em Campo de Ourique, ali perto da Avenida Alvares Cabral, trabalhava de dia e á noite estudava para acabar o chamado Propedêutico que era uma preparação para a entrada no Instituto Superior Técnico recordar os exames do Propedêutico que, globalmente, me correram bem, para quem, durante o ano letivo, tinha feito quase tudo menos assistir às aulas e estudar. As provas escritas deram, pelo menos, para ir à oral a todas as disciplinas - mesmo a Geometria Descritiva, em que era a disciplina mais fraca na qual tive apenas 8 valores! – razoável a Matemática, claro, na qual tive 13 valores. Mas, desta vez, havia a 2ª chamada, em Setembro e eu tinha que acabar o ano. Estava cansado das poucas aulas, das greves, dos comícios da associação de estudantes que por tudo e por nada arranjavam maneira de não haver aulas!

A preparação dos exames do Propedêutico, começou a ser feita na Avenida Álvares Cabral, em casa da Maria Inês. Depressa descobri que, assim, não conseguiria estudar coisa nenhuma… A Maria Inês queria era tempo para andar na politica fazia parte da Juventude do MRPP – Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado de inspiração
maoísta, fundado em 18 de Setembro de 1970,  

Foi então que comecei a estudar na Pastelaria Estrela, um cafezinho simpático mesmo em frente ao prédio onde residia na Álvares Cabral, e que tinha, só cinco ou seis mesas, sempre ocupadas por estudantes. Naquele tempo, estudar nos cafés era prática corrente. Lá, podia-se estar descansado, horas seguidas, com uma bica à frente e com um maço de cigarros SG Gigante, a estudar as diversas matérias. Foi nessa Pastelaria que conheci o Eduardo Pires que acabara de entrar no Instituto Superior Técnico e que era um barra em Geometria Descritiva. Assim que tive conhecimento da mísera nota que obtivera no exame de Geometria Descritiva, pedi-lhe que me preparasse para o exame da 2ª época. Passámos o verão de 1975 enfiados na Pastelaria Estrela a fazer exercícios mas o esforço valeu a pena. Na 2ª época, tive 12 valores na prova escrita e, na oral, consegui subir para 15 valores! 

Em Junho de 1976, concluía o curso complementar de acesso ao ensino superior ramo mecanotécnico na Escola Industrial Machado de Castro.

Ainda mal refeito deste esforço, agarrei-me outra vez aos livros para os exames de admissão ao Instituto Superior Técnico. O que eu marrei!… E, dessa vez, não fui premiado. Consegui só 10 valores na prova escrita, mesmo assim suficientes para ir ás provas orais e, em Outubro de 1975, por motivos de trabalhos faltei a esses exames, tendo só no ano 1991 retomado os exames já com a equivalência do 12º ano.

Foi também em 1975 que comecei uma espécie de Diário, onde escrevia comentários sobre o meu dia-a-dia e colava recortes de jornais com notícias que eu achava importantes, cartoons, publicados nos jornais diários, bilhetes de cinema dos filmes que ia ver, com comentários diversos, registo dos livros que ia lendo (sobretudo os famosos Cadernos D. Quixote, com temas como "A pílula é um perigo?" ou "O futuro é dos jovens") escritos em toalhas de papel dos restaurantes, e até alguns registos dos jogos de futebol a que ia assistir, prática que mantinha desde que cheguei a Lisboa…

A frequência na Pastelaria Estrela , para além das disciplinas que ali estudava, também foi lá que conheci o Júlio, filho do proprietário, o Norberto de Andrade, Madruga e o Pedro que tinham chegado de Moçambique, e o prazer inimitável da bica e do cigarro, com a sinergia desses dois sabores que se complementam, a cafeína que confere à língua um toque de veludo quente e o fumo que se enrola na boca e desce pela garganta com um paladar único.

Já tinha bebido bicas antes, claro em Luanda. Lembro-me que a primeira bica que bebi, teria talvez uns 12 anos, foi no Bar São João ( Matias ) um snack bar no Largo do Bairro Popular nº2, na altura a convite dos mais velhos que frequentavam a J.O.C. ( Juventude Operária Católica ) . Na altura soube-me mal, quase tão mal como o primeiro cigarro mas, como dizia o Fernando Pessoa a propósito da Coca Cola, primeiro estranha-se, depois entranha-se. Mas foi aos 20 anos, com o estudo sistemático na Pastelaria Estrela, que aprendi a gostar de beber a bica enquanto degustava um cigarro. E afirmo que é um prazer único. O problema é que há muitos prazeres únicos (e não é problema nenhum, antes pelo contrário…)

E falando em cigarros!! Qual é o cigarro que sabe melhor? O mítico cigarro depois do sexo? Não me parece. Julgo que o cigarro depois de um bom sexo (e postulo que todos os atos sexuais têm sempre qualquer coisa de bom) é como a Serra da Estrela ao pé dos Himalaias. Trata-se de mais uma daquelas imagens que o cinema introduziu e divulgou massivamente, de tal modo que mesmo alguns não fumadores não dispensam um cigarro depois de fazer amor. O primeiro cigarro da manhã é bom; o cigarro a meio da manhã, quando faço uma curta pausa no trabalho também é óptimo; o cigarro antes de almoçar e o que se fuma depois, com a bica e o whisky também sabe bem; e vários outros cigarros são tão bons como os melhores. É este o problema dos fumadores: é raro o cigarro que sabe mal, caramba! Se, no nosso dia a dia, um ou outro cigarro começasse a saber mal e esse número fosse aumentando à medida que os dias fossem passando, talvez nós acabássemos por só fumar depois do ato sexual.

Foi também na Pastelaria Estrela que conheci o Zé Lima que acabou por se tornar o meu grande amigo durante anos. O Zé Lima era mais velho um ano do que eu alfacinha de gema, e frequentava o 2º ano na Faculdade de Ciências. Não fumava. Até ao Natal de 1975, eu o Zé Lima, os seus dois irmãos mais velhos, o Fernando, o Luís, e um amigo deles o Joaquim ( Madeirense ) que trabalhava nas oficinas aeronáuticas de Alverca e que introduziu, no grupo, a célebre frase "É o fim pá!") formámos uma equipa que se reunia diariamente no Pingo Bar, no Pic – Nic, no Leão Douro e no Bessa, ou no Sol Mar (e daí partia-se para os programas mais variados). E o que é que se entendia por programas, nos anos 70, para jovens de 18-20 anos com o pouco dinheiro que tinham, e estando em Lisboa? Ir ao cinema, por exemplo.

Alguns filmes que eu registei ter visto, além do tal com o Clint Eastwood e da "Morte em Veneza": "Borsalino", "A Filha de Ryan", "Os Caminhos de Katmandu", "Easy Rider", "Dr. Divago", "Destinos Opostos" (com o Jack Nicholson), "Lawrence d'Arábia", "Os Insaciáveis", "Inimigo Público" (com o Woody Allen), "As Sandálias do Pescador", "Romeu e Julieta", "A Festa" (com o Peter Sellers), "Um homem e uma mulher", "Love Story". 

 Outro programa: ir ao cinema, à meia-noite, ao Politeama, ver "filmes de terror" e, depois, emborcar imperiais no Sol-Mar, ali na Rua Jardim do Regedor e regressar a casa a pé, chegando perto das cinco da matina, para grande desespero do Ti Júlio e da Ti Carmitas meus pais , que viam o filho a fugir-lhe por entre os dedos da sua autoridade cada vez mais posta em causa. O que vale é que a minha irmã Melita estava sempre presente, para pôr água na fervura...

Outro programa: jogar à bola num campo de futebol em terra batida. Ali para os lados de Xabregas, assim, aproveitávamos algumas tardes, e íamos dar uns toques na bola. Depois, suados e cansados, íamos até ao bar mais próximo beber umas cervejolas e comer pregos. Já em 1975 o estrago de um desses dias: um prego, dois pasteis de bacalhau, uma caneca e uma imperial - 50 escudos…
Outro programa ainda: jogar á lerpa. Neste particular, eu, o Zé Lima, o Fernando, o Transmontano, o Machado e outros, que já esqueci, juntávamo-nos, geralmente em casa do Manel, ( já mais velho que era vendedor de vinhos), na Rua do Ouro num 2º andar, para o depenar, alguns de nós tínhamos uma série de sinais combinados, fazíamos o pobre Manel perder grandes somas. Outro que era um Cristo o Zé Alfredo, que perdeu 2500 escudos numa tarde. Pode parecer pouco mas, mas na altura era meio ordenado mais ou menos…

No final de cada lerpa tinham que abrir as janelas dos aposentos , porque o fumo dos cigarros era tanto que parecia ter caído um denso nevoeiro. Quanto aos pais, do Manel já se tinham habituado à ideia de que tinham um filho fumador mas eu, sempre muito respeitador, não fumava ostensivamente à frente deles. Foi ai que conheci o Henrique dos Prazeres, que tinha vindo de Luanda e morava num quarto nesse prédio. Aliás, visto à distância, este grupinho de bons rapazes até que se integraram bem na vida Lisboeta, mas a verdade é que comungávamos as mesmas ideias e, sobretudo eu e quase todos os amigos acabamos por mais tarde criar a Confraria do Penico Dourado.

Havia quem não gosta-se destas amizades, e a pouco e pouco iam-se afastando e acabavam por desaparecer. 
ZÉ ANTUNES

1975

PARA QUE SERVEM OS NOSSOS IMPOSTOS?


Meus Senhores, vamos pôr os pontos nos “is”!? Portugal, está “embrulhado”, “empacotado”, numa encruzilhada pouco dignificante, ou seja, num cruzamento decisivo. O caminho que escolhermos, condicionará o nosso futuro colectivo por muitos e longos anos. No meio de todos estes imbróglios, é muito estranho, que os principais partidos não consigam estar de acordo sobre uma política de transportes, de saúde ou de educação, quando, por exemplo, as diferenças doutrinárias entre eles são mínimas. Mas não! Preferem atuar sob pressão, quando a capacidade negocial é nula e o tempo para pensar inexistente. 

Uma opção, salvo melhor opinião, terão de fazer: ou cortar substancialmente despesa estrutural do Estado, ou aumentar o já elevado nível de impostos que pagamos (os que pagam!), porque não chegam para manter a “máquina” existente. Temos, de facto, de reduzir a despesa do Estado – urgentemente –para nos libertarmos da pesadíssima carga de impostos e taxas a que estamos sujeitos. Não é que esta carga seja demasiado elevada, face a outros países da Europa. Até fica dentro, ou abaixo da média europeia. Mas…tem subido muito, nos últimos tempos e começa a penalizar decisivamente a atividade econômica. O nível de taxas de impostos em Portugal, face a uma economia pobre e mal organizada, é elevadíssimo e o nível de retorno em eficiência nos serviços prestados e bens fornecidos pelo Estado e entidades públicas em geral, é muito baixo, diria mesmo, marginal! É carregar o pobre, é molestar o trabalhador, é explorar o mais pequeno!

Quando as organizações do Estado, gastam mais energia para se manter a funcionar, ou simplesmente, para sobreviver do que a que gastam para servir o objectivo para o qual foram criadas, estamos perante um fenômeno chamado “entropia”. É o fenômeno, que se passa no Estado português: a “máquina” gasta mais energia e recursos para se alimentar a si própria e sobreviver, do que para servir a sociedade em que se insere. Por isso, é importante repensar o modelo de tributação que temos em Portugal e questionar para que servem os nossos impostos, e…os “Partidos Políticos?”

 
Banga Ninito

2015