Já muito se tem falado no Verão Quente de 1975 e porque passados 40 anos ainda nos recordamos do que foi esse período épico, com as amplas massas populares a tomarem em mãos a construção dum futuro melhor, no qual, então, acreditavam.
Período épico e alucinante, com um ritmo desenfreado de acontecimentos naquele chamado «verão quente»
O período que ficou conhecido em Portugal por Verão Quente de 1975 teve a sua origem no chamado Caso República no mês de Maio e como consequência crescentes tensões entre grupos de esquerda e de direita, que se confrontavam nessa época.
Paradoxalmente, é precisamente no epicentro deste período que a população derrota nas urnas, em 25 de Abril de 75, as vias radicais, dando a vitória ao PS e o segundo lugar ao PPD .
Alguns dos mais importantes acontecimentos desse ano épico de 1975
Comecemos pelo pelo principio desse ano.
15 de Janeiro - Acordos de Alvor , assinados, nos termos do qual Portugal reconhecia a independência de Angola, transferindo o poder para o MPLA, a UNITA e a FNLA.
11 de Março - Divisões profundas entre oficiais do MFA. A ala spinolista é levada a tentar um golpe de estado. Insurreição na Base Aérea de Tancos e ataque aéreo ao Quartel do RAL1.
Período épico e alucinante, com um ritmo desenfreado de acontecimentos naquele chamado «verão quente»
O período que ficou conhecido em Portugal por Verão Quente de 1975 teve a sua origem no chamado Caso República no mês de Maio e como consequência crescentes tensões entre grupos de esquerda e de direita, que se confrontavam nessa época.
Paradoxalmente, é precisamente no epicentro deste período que a população derrota nas urnas, em 25 de Abril de 75, as vias radicais, dando a vitória ao PS e o segundo lugar ao PPD .
Alguns dos mais importantes acontecimentos desse ano épico de 1975
Comecemos pelo pelo principio desse ano.
15 de Janeiro - Acordos de Alvor , assinados, nos termos do qual Portugal reconhecia a independência de Angola, transferindo o poder para o MPLA, a UNITA e a FNLA.
11 de Março - Divisões profundas entre oficiais do MFA. A ala spinolista é levada a tentar um golpe de estado. Insurreição na Base Aérea de Tancos e ataque aéreo ao Quartel do RAL1.
12 de Março - São extintos a Junta de Salvação Nacional e o Conselho de Estado e em sua substituição é criado o Conselho da Revolução. O Governo dá início à execução de um grande plano de nacionalizações (Banca, Seguros, Transportes etc...).
26 de Março - Tomada de Posse do IV Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.
31 de Março - O Decreto-Lei n.º 169/75 de 31 de Março cria o IARN, Instituto de Apoio ao Retorno dos Nacionais. A este competia "( ) estudar e propor superiormente as medidas necessárias para a integração na vida nacional de todos os cidadãos portugueses" e "( ) encarregar-se dos assuntos que superiormente lhe forem cometidos e que dentro da sua esfera de acção possam estar directa ou indirectamente ligados ao processo de descolonização e ao possível retorno de emigrantes."
16 de Abril - Nacionalização da Siderurgia Nacional e das várias sociedades exploradoras do serviço público de produção, transporte e distribuição de energia eléctrica.
25 de Abril - Eleições para a Assembleia Constituinte com uma taxa de participação de 91,7%. Resultados dos Partidos com representação parlamentar: PS 37,9%; PPD 26,4%; PCP 12,5%; CDS 7,6%; MDP 4,1%; UDP 0,7%.
30 de Abril - Terminava a Guerra do Vietname, o conflito que proporcionou à maior potência mundial, os EUA, a grande derrota de sua História. Enquanto os cidadãos americanos eram retirados da embaixada do país em Saigão, por ordem do presidente Gerald Ford a capital, tomada pelos guerrilheiros vietcongues, passava a se chamar Cidade de Ho Chi Minh.
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15 de Maio - Oficialmente começa a Ponte aérea de Angola chegam 1500 refugiados a Lisboa. Gonçalves Ribeiro, mais tarde alto-comissário para os refugiados, afirma o seu pudor em abordar a matéria em causa, que define como “a experiência da sua vida”. Mal ou bem, é ele o nome que todos apontam como coordenador do air-lift-ponte aérea-que em três meses e meio transportou quase meio milhão de pessoas de Nova Lisboa e Luanda para o aeroporto da Portela. rapidamente e em força" tornou-se palavra de ordem para os cerca de 500 mil portugueses que (ainda) permaneciam na ex-colónia, no verão de 1975. Com o escalar da guerra entre os movimentos africanos, só restava salvar a pele - e deixar toda uma vida para trás ler mais
Embarque na Ponte Aérea ( Foto da net )
15 de Maio – Dão-se as primeiras ocupações de casas vagas. As ocupações de casas, em ritmo vertiginoso, vêm a ser legalizadas por Decreto-Lei de 14 de Abril (D-L nº 198-A/75), que obriga os senhorios a celebrar contratos de arrendamento não só em relação às habitações já ocupadas, mas em relação a todas as que se encontrassem ainda devolutas, funcionando as câmaras e juntas de freguesia como mediadoras imobiliárias. Por isso, logo em Maio, a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Lisboa apela às comissões de moradores que assinalem os fogos vagos para que sejam “requisitados a favor da população necessitada”.
Ocupação de casas ( Foto da net )
19 de Maio - Início do chamado Caso República, Raul Rêgo é afastado da direcção do jornal pelos trabalhadores, acusado de ter tornado o República no órgão oficioso do Partido Socialista.
25 de Maio - Ocupação pelos trabalhadores das instalações da Rádio Renascença, propriedade do Episcopado.
27 de Maio - Revogação da Lei do Divórcio. Decreto Lei nº 261 /75
28 de Maio - Prisão de elementos do MRPP
Caso República ( Foto da net )
30 de Maio - chegada a Lisboa da Marinha Ribeiro vinda de Angola acompanhada da mãe indo directamente para Guimarães.
6 de Junho - Em Ponta Delgada realiza-se a primeira manifestação pública da Frente de Libertação dos Açores (FLA). Este movimento sem grande expressão e peso político reivindicava a autodeterminação dos Açores.
21 de Junho - chegada a Lisboa de José Antunes vindo de Angola acompanhado com a mãe Maria do Carmo e irmã Amélia Antunes
25 de Junho - Independência de Moçambique.
05 de Julho - Independência de Cabo-Verde.
12 de Julho - Independência de S. Tomé e Príncipe.
13 de Julho - Assalto à sede do PCP em Rio Maior. Têm aqui início uma série de acções violentas contra as sedes de partidos e organizações políticas de esquerda, registadas por todo o país mas com maior intensidade no Norte e Centro.
Além de politicamente ter acontecido estes escaldantes episódios nesse verão de 1975 foi mesmo tórrido. Durante dias seguidos, sobretudo nos meses de julho e agosto, os termómetros subiram acima dos 35 graus, as florestas (incluindo a serra de Sintra, a sul, e a serra da Agrela, a norte) foram pasto de incêndios com grandes labaredas e as populações debandaram em massa para as praias. Só no segundo fim de semana de julho, cerca de meio milhão de pessoas, vindas de Lisboa e arredores, invadiram os areais da Costa de Caparica, provocando engarrafamentos de mais de duas horas nos acessos à Ponte 25 de Abril e filas intermináveis nas paragens de autocarros da Praça de Espanha e de Alcântara, com zaragatas e desmaios. A água faltou com frequência e, nas cidades, a população procurava abrigo e algum conforto nas sombras dos jardins.
29 de Julho - um Domingo, em pleno PREC, ocorreu um episódio caricato e ao mesmo tempo exemplar do tipo de país que somos: 89 agentes da DGS, polícia política do regime que caiu com Marcello Caetano estavam presos, juntamente com mais 754 colegas, em Alcoentre, futura prisão modelo de segurança, mas na altura "mera fantasia", fuga espectacular e que ocorreu do modo mais simples e prosaico que é costume: bastou que dois agentes da temível "PIDE/DGS" explorassem as fraquezas do sistema de segurança, para se porem ao fresco e só não aconteceu o mesmo aos restantes por mera sorte e voluntarismo de um GNR que " ao presenciar a passagem de pessoas pelo topo do morro, a praça da GNR apercebeu-se de que se tratava de uma fuga"...
O jornalista Hernâni Santos de “O Jornal “ deu conta do modo como foram ridicularizados...
08 de Agosto - Tomada de posse do V Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.
11 de Agosto - Quando muitos dos militantes do P.C.P. tinham já saído da sede, que um grupo de marginais, chefiados pelos célebres cadastrados irmãos “Corrécios” com desperdícios a arder, pegaram fogo ao rés-do-chão da casa onde funcionava o escritório de uma empresa de camionagem, onde se encontrava um bidão com combustível cuja explosão se propagou rapidamente à velha casa, sede do PCP. Este ataque levou à destruição total do edifício, bem como do seu conteúdo.
18 de Agosto - famoso discurso de Vasco Gonçalves (em Almada).
Em plenoVerãoQuente de 1975, Portugal suspendeu a aplicação dos Acordos de Alvor em Angola, assumindo, assim, a sua impotência para travar a escalada do conflito que opunha MPLA, FNLA e UNITA. E que levara já o movimento de Agostinho Neto a expulsar de Luanda as restantes formações.
22 de Agosto . Em Lisboa, Vasco Gonçalves vivia os últimos dias como primeiro-ministro e Carlos Fabião (que chefiava o Estado-Maior do Exército) tentava, com o apoio de Costa Gomes, formar um executivo que lhe sucedesse, evitando o braço-de-ferro que já se anunciava entre a Esquerda Militar e o Grupo dos Nove, tendo Otelo Saraiva de Carvalho pelo meio.
25 de Agosto - Oficialmente é criada, a FUR (Frente de Unidade Revolucionária), claramente afecta ao COPCON. Aderem: FSP, LCI, LUAR, MDP/CDE, MES, PCP, PRP/BR e 1º de Maio.
Manifesto da FUR ( Foto da net )
Em Agosto de 1975, surgiram os SUV (Soldados Unidos Vencerão). Os SUV eram grupos de militares que actuavam no interior dos quartéis com vista a promover a auto-organização política dos militares. Tratava-se de uma organização clandestina no interior das Forças Armadas e incluía, não só soldados como também alguns graduados.
Fotos da net
30 de Agosto - Vasco Gonçalves é demitido do cargo de Primeiro Ministro. Iniciam-se as negociações para a formação do VI Governo Provisório, PS/PPD/PC.
01 de Setembro - Ocupação do Banco de Angola pelos Retornados em Lisboa, para trocarem escudos Angolanos por escudos Portugueses.
Banco de Angola ( Foto net )
02 de Setembro - pronunciamento de Tancos contra Vasco Gonçalves
10 de Setembro - Desvio de 1000 espingardas automáticas G3 do DGM 6 em Beirolas.
10 de Setembro - Em Angola começa a ponte aérea; 1500 refugiados chegam a Lisboa.
11 de Setembro - Manifestação dos SUV no Porto, numa tentativa de criar no seio das Forças Armadas uma zona de influência adepta do Poder Popular de Base como advogavam alguns partidos da chamada esquerda revolucionária.
19 de Setembro - Posse do VI Governo Provisório, chefiado pelo almirante Pinheiro de Azevedo
21 de Setembro - Bomba na messe da Marinha em Cascais onde dormia Pinheiro de Azevedo.
21 e 22 de Setembro - Agudiza-se a luta política nas ruas: manifestação dos Deficientes das Forças Armadas com ocupação de portagens de acesso a Lisboa e tentativa de sequestro do Governo.
25 de Setembro - Nova manifestação dos SUV em Lisboa. Na intenção de retirar poderes ao COPCON o Governo cria o AMI - Agrupamento Militar de Intervenção.
Fotos da net
27 de Setembro - Manifestantes de partidos de esquerda assaltam, destroem seguido de um incêndio as instalações da Embaixada de Espanha como medida de protesto contra a execução pelo garrote de cinco nacionalistas bascos, decidida pelo governo ditatorial do Generalíssimo Franco.
Embaixada de Espanha em Lisboa
29 de Setembro de 1975, os estúdios de várias rádios e da Rádio e Televisão de Portugal (RTP) foram ocupados por decisão tomada numa reunião onde estiveram presentes Pinheiro de Azevedo, primeiro-ministro e também Presidente da República interino (Resolução DD1479), vários elementos do Conselho da Revolução .
08 de Outubro - 50 feridos nos confrontos junto ao Regimento de Artilharia da Serra do Pilar, no Porto ,
09 de Outubro - quando colavam cartazes junto à Praça do Comércio, um grupo do MRPP foi atacado por elementos da UDP e da ORPC (m-l) que os empurraram para o cais e os atiraram ao Rio Tejo, resultando daí a morte por afogamento de Alexandrino de Sousa, que não sabia nadar
15 de Outubro - Manifestação dos SUV em Évora.
18 de Outubro - Incendiada sede da UDP no Porto.
Embaixada de Espanha em Lisboa
29 de Setembro de 1975, os estúdios de várias rádios e da Rádio e Televisão de Portugal (RTP) foram ocupados por decisão tomada numa reunião onde estiveram presentes Pinheiro de Azevedo, primeiro-ministro e também Presidente da República interino (Resolução DD1479), vários elementos do Conselho da Revolução .
08 de Outubro - 50 feridos nos confrontos junto ao Regimento de Artilharia da Serra do Pilar, no Porto ,
09 de Outubro - quando colavam cartazes junto à Praça do Comércio, um grupo do MRPP foi atacado por elementos da UDP e da ORPC (m-l) que os empurraram para o cais e os atiraram ao Rio Tejo, resultando daí a morte por afogamento de Alexandrino de Sousa, que não sabia nadar
15 de Outubro - Manifestação dos SUV em Évora.
18 de Outubro - Incendiada sede da UDP no Porto.
06 de Novembro - grande debate entre Mário Soares e Álvaro Cunhal na RTP, com o célebre «olhe que não, olhe que não!»
«olhe que não, olhe que não!»
07 de Novembro - Por ordem do Governo, o recém-criado AMI, faz explodir os emissores da Rádio Renascença.
09 de Novembro - Famosa manifestação a favor do governo no Terreiro do Paço, com o deflagrar de granadas de fumo, dando origem à celebre frase do primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo: «o povo é sereno. É só fumaça».
11 de Novembro - Independência de Angola.
Recolha da Bandeira Portuguesa
12 de Novembro - Manifestação de trabalhadores da construção civil cercam o Palácio de S. Bento sequestrando os deputados. Em resposta às vaias dos trabalhadores o primeiro-ministro respondeu com um contundente “vão todos bardamerda”.
20 de Novembro - o Governo entra em greve e suspende o exercício da sua actividade, acto inédito no mundo. O Governo anuncia a suspensão das suas actividades alegando "falta de condições de segurança para exercício do governo do país".
Nesse chamado Verão quente a indisciplina, notava-se na rua nos estabelecimentos Comerciais e também nas viagens de comboio que fazia entre Lisboa e Porto, quando ia passar alguns fins-de-semana a Guimarães. Assisti a cenas bastante lamentáveis, nos comboios especiais para militares, protagonizadas por alguns elementos quando eram abordados pelo revisor, pois houve uma altura em que havia uma recusa generalizada em pagar a viagem e já quase ninguém comprava bilhete, o que provocava conflitos com os funcionários da C.P., isto numa altura em que o preço das viagens para militares correspondia a 50% do bilhete normal, antes da redução que ocorreu posteriormente em que o preço passou a ser de ¼ do custo total.
O chamado “verão quente de 1975” foi um período alucinante, que só terminaria no dia 25 de Novembro. O 25 de Novembro de 1975 foi o golpe militar que pôs fim à influência da esquerda radical iniciada em Portugal com o 25 de Abril de 1974. Após um Verão Quente de disputas entre forças revolucionárias e forças moderadas, pela ocupação do poder do Conselho da Revolução, civis e militares.
Na continuidade do 25 de Novembro o PREC acalmou a sua politica. Ramalho Eanes, sendo de Esquerda não era comunista e por conseguinte durante algum tempo o ambiente politico social serenou. Mas os derrotados do 25 de Novembro, os utópicos da revolução não ficaram quietos nem calados.
Mais tarde começaram a explodir “ engenhos” reivindicados pelas chamadas Forças Populares 25 de Abril ( FP25 ) foram uma organização armada clandestina de extrema – esquerda que operou em Portugal entre os anos de 1980 a 1987 . Ainda está para contar toda a história desta organização clandestina.
A figura mais conhecida das FP 25 foi Otelo Saraiva de Carvalho que nunca se assumiu como membro do grupo armado FP-25. Foi condenado e amnistiado.
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