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30/03/2012

MEMÓRIAS - ACERCA DE MIM





Zé Antunes e meu
irmão Fernando



                Zé Antunes,  Fernando  e meus pais                  


     Meu pai e nós os quatro Bº. Pop  


               Meus pais na Sonefe em Luanda                  



PRELÚDIO - Vou tentar sintetizar os meus passos em Angola, mas acho que não consigo. Contudo começo por dizer que sou retornado, e também refugiado. Sou europeu porque o meus antepassados o eram, mas sinto-me africano pelos 20 anos mais importantes da minha vida vividos em Angola, a maior parte deles em Luanda.

José Antunes Gonçalves, também conhecido por Zé Antunes ( Russo ), nascido na Póvoa de Penafirme - Santa Cruz – Torres Vedras, em Maio de 1955, no seio de uma família normal – somos 4 irmãos ( Zé Antunes, Fernando, Victor e Amélia) - lá está a história de não haver televisão, ou se calhar, a minha mãe levava a religiosidade muito a sério - cada gravidez, cada parto.

O meu pai, per si, também pertencia a uma prôle normal - 6 irmãos (Manuel, Madalena, Branca, meu pai Júlio, Delmar e Esperança).
Minha mãe também com família dita normal - 5 irmãos (minha mãe Carmitas, Alice. Lourdes, Zé Martins e Victória).

Não nasci rico, pois o meu pai quando nasci já se preparava para emigrar para Angola, a vida em Portugal era muito difícil na época, embarcou no navio Niassa em Setembro de 1956 tendo passado esse natal já em Cambambe, com o seu trabalho conseguiu ter uma vida estável e educar os filhos dando-nos ferramentas para termos melhores condições de vida, a quando da independência de Angola, lá ficou a moradia da família, no Bairro Popular nº 2 e mais os dois automóveis ( um Opel Kadete e uma carrinha Datsun) lá ficaram em Angola, com o José Agostinho o “bom moço”, que foi fuzilado a quando do Golpe do Nito Alves em 27 de Maio de 1977.

A MENINICE - Fui para Luanda em Janeiro de 1957 . Vivi a minha meninice na Barragem de Cambambe (Alto Dondo), para onde fui com 20 meses de idade e nesse tempo o meu pai trabalhava na Barragem de Cambambe, e tenho poucas recordações desse tempo por ser ainda criança. Sei de algumas passagens por ouvir minha mãe contar.

TEMPO DA GUERRA - Em Maio de 1960, fomos residir para o Bairro São Paulo, indo depois para o Bairro da Cuca em Luanda, e lá vivemos o inicio do "tempo da guerra". O meu pai sempre ligado há Empresa Sonefe. Moravamos numa casa que era do Calisto e da Maria, que foram mais tarde padrinhos de batizado do Victor. Lembro-me dos militares, pois andei muito nos jipes Willy's e Jipões da tropa portuguesa e, albergámos na nossa casa muitos militares de patente alta e suas esposas pois a casa tinha imensos quartos - parecia uma pensão!!! O Bairro da Cuca era um Bairro bem grande, já tinha naquele tempo um Clube Social, um Posto de Combustivel, Escola Primária, Colégio “João de Deus”, a fábrica de cervejas “CUCA” tinha uma piscina (Cacimba de águas paradas ) onde morreu um amigo meu com 7 anos ( ficou preso no lodo )!!! Quando o meu pai dizia - vou sair - nós nunca sabíamos se ia na carrinha Austin para a cidade de Luanda ou se ia para alguma povoação do Norte de Angola!

ESCOLA PRIMÁRIA - Em 1962 fomos residir para O Bairro Popular nº2 Luanda. Ai fiz a instrução primária. Estivemos lá até 1975. O meu pai trabalhava como encarregado de obras na “Sonefe” minha mãe tinha uma banca de legumes no Kinaxixe, Frequentei a Escola Primária nº 176, no Bairro Câncio Martins, vulgarmente conhecido por Bairro Popular nº, 2, hoje chamado de Neves Bendinha ( páraco de Luanda que foi o estratega da revolta do dia 4 de Fevereiro de 1961) é como se fosse hoje, recorda-me da escola e da minha primeira professora Srª. Professora Fernanda, pessoa respeitável 1ª e 2ª classes depois Srª. Professora Amélia 3ª e 4ª classe. Escola nova moderna com características arquitectónicas do Estado Novo, mandada construir pelo governo de Salazar. Toda a estrutura principal era de alvenaria, amplas salas de aula e sanitários num recinto coberto para nos intervalos das aulas nos abrigarmos quando chovia. Tenho bem presente na memória que nas salas de aula na parede por detrás da mesa da professora, havia dois quadros: um com o retrato do Presidente da República na altura Américo Tomáz e do Primeiro Ministro Dr. Oliveira Salazar. No centro um crucifixo. Nas paredes laterais da sala de aulas havia quadros, não me lembra quantos, os chamados quadros de Salazar. Recorda-me apenas de dois que ficaram, não sei porquê, gravados na minha memória. Num deles do lado esquerdo via-se uma velha escola e o professor bêbado. Os alunos insubordinados saltavam pelas janelas para a rua. Do lado direito viam-se as escolas tal como aquela que eu frequentei. O outro era um quadro onde, do lado esquerdo, se via um automóvel da época talvez um Ford circulando numa estrada toda cheia de buracos. Do lado direito as estradas novas mandadas construir pelo Governo de Salazar. Recordo, também, que num recital feito na escola se exaltavam os quadros de Salazar. A mim coube-me dizer a introdução: "Os quadros de Salazar são a mais alta lição que ao Mundo se pode dar à Grei e a toda a Nação". E, naquele tempo, assim foi. Em Luanda havia pelo menos quatro dessas escolas, com classes mistas .

ESCOLA SECUNDÁRIA - Terminado o estudo primário (4ª classe) fui matriculado na Escola Preparatória “JOÃO CRISÓSTOMO” que, naquele tempo, foi inaugurada nesse ano, ano de 1967/1968 ainda tinha turmas masculinas e femininas, depois transitei para a Escola Indústrial António Oliveira Salazar de 1968 a 1973. terminando o meu curso de Formação de Serralheiro, ( Desenhador de Máquinas, Desenho de Construção de Estruturas Metálicas e Desenho de Construção Civil ), para no futuro ter mais algumas possibilidades de emprego, tendo ainda frequentado à noite a secção preparatória.

ADOLESCÊNCIA INTERROMPIDA - De 1973 até 1975 empreguei-me na “Represental “ Empreendimentos Turísticos e Imobiliários, Lda, Lembro-me das Farras, do Moto-cross, do primeiro namoro … lembro-me bem dos gelados do Baleizão, dos pregos do Pólo Norte, dos pirolitos das "quitandeiras", da Luta Livre no Circo na D. João II, do Estádio dos Coqueiros, dos "karts" do Lobo da Costa, das corridas de carros na Fortaleza, do "conjunto" musical Os Rúbis. Nas tardes quentes de Verão fazíamos gazeta ás aulas e íamos tomar banho ás praias na Ilha de Luanda ou à Piscina de Alvalade, as jovens costumavam tomar banho vestindo apenas as camisas interiores de Verão que, com a água, ficavam transparentes e pegadas aos corpos e nós, já rapazotes, aproveitávamos para dar uma espreitadela e apreciar com volúpia a intimidade dos seus esbeltos corpos.

FUGA PARA A "SELVA" EUROPEIA – Junho de 1975, já quase não haviam amigos no Bairro, a maior parte veio para a Baixa de Luanda e outros tinham ido embora, de carro, de barco ou de avião. As ruas de alguns bairros de Luanda, pejadas de mortos. O meu pai tinha que ziguezaguear para não os pisar. Era a caça ao homem. Nós que sempre acreditámos que ficaríamos. Um amigo de meu pai o “Belito” que mais tarde foi assassinado no golpe do Nito Alves, dizia Sr. Júlio, fique porque aqueles que saírem vão ter dificuldades em regressar. Infelizmente o Belito não tinha razão. Hoje vai mais depressa para Angola um tuga que "não gosta de pretos", tal como os russos (e lá faz o sorriso amarelo para os explorar) do que um (genuíno) angolano como meus irmãos que nasceram lá. E eu que lá vivi desde menino.
Ficam por contar os episódios inimagináveis desta "Selva" e as catanas que tive de afiar para desbravar mato e sobreviver aqui no Puto, como se fosse um dos exploradores Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo ou Robert Ivens quando se aventuraram no mato verdadeiro e das savanas de Angola. Morando em Lisboa , onde vivo com a minha esposa Marinha Ribeiro (São Ribeiro), ela Angolana oriunda de Sanza Pombo distrito do Uije, terra dos grandes cafezais residente desde menina também no Bairro Popular nº 2.


1956

28/03/2012

VIAGEM PARA O DONDO




Este texto foi-me deixado em herança, narrando a viagem que minha mãe fez descrevendo os seus sentimentos e experiências!

Para quem viveu em Luanda, reconhece sem muita dificuldade todos os pontos descritos e até vividos que aqui transcrevo...

Minha mãe saiu de Lisboa numa tarde de uma Terça feira de Janeiro de 1957. Com ela viajava eu com 20 meses de idade.

No cais, repleto não só de passageiros, como também de pessoas amigas e familiares, despediam-se dos que seguiam viagem. A figura maravilhosa do "Niassa" que, acostado e com as bocas dos porões abertas engolia toda a carga que as gruas teimosamente lhes oferecia, parecia enorme, há muito para carregar, a partida estava marcada para as 16 horas.

O grande navio "Niassa" que fez uma viagem extraordinária, tem a lotação esgotada. Passageiros que tinham acabado de gozar umas merecidas férias, outros que tinham vindo em serviço e ainda muitos colonos que iam tentar nova vida para as provincias ultramarinas. Fez-se noite está mais fresco, as gruas continuam a transportar carga do cais para o paquete.

Pelas 20 h 30 m o belo "Niassa" começou a largar, depois de já terem servido o jantar. No dia 13, ao levantar-se pelas 07 horas, avista as Ilhas Canárias. O navio atracou em Puerto de La Luz em Las Palmas da Gran Canária ás 08 horas. Depois de um passeio pela ilha admirando maravilhosas paisagens e belas praias, fez como é hábito de todos os passageiros algumas comprae e voltou para bordo. Por volta das 15 horas o barco largou do porto para prosseguir viagem.

No dia 20 pela manhã alguns passageiros pensavam ver já Luanda. Pairava uma incerteza sobre a hora da chegada, mas de Luanda nada se via. Só por volta das 11 horas se descortinou terra, mas não era a cidade mais 30 minutos e lhe dissertam:

-Lá está Luanda !




É impossivel descrever aqui a péssima impressão que minha mãe ficou da capital da provincia. Da amurada do paquete, onde se encontrava desde manhã muito cedo, como que querendo ser a primeira a avistar terras de Angola, ficou com uma impressão desagradável daquelas barrocas com mais de 50 metros de altura, de terra barrenta e avermelhada sobre o casario, conferindo asim um aspecto desolador à cidade. Pensou para com os seus botões:

-Onde me vim meter?!!

Mas esses morros vermelhos escondiam a verdadeira e bela cidade de Luanda!!!!!

á passava 30 minutos do meio dia quando o navio atracou num local do porto demasiado pequeno para a capital desta tão grande provincia portuguesa. Podem atracar apenas seis barco de longo curso. À chegada muito aperto, o espaço é pequeno e há muita gente esperando no cais pessoas de familia, amigos, etc, etc.

Depois das formalidades legais, começou o reboliço a bordo, procurando moços para que as bagagens pudessem sem demoras serem desembarcadas. Aqueles corpos negros, brilhantes de suor e mal cheirosos de "catinga" eram poucos para , de um momento para o outro, satisfazerem os muitos passageiros que ficariam em Luanda.

Minha mãe não foi das últimas e só se despachou ás 14 horas.

Esperavam por ela e pelo Eng. José Manuel Lopes ( que também fez a viagem ) o sr. Eng. José Macedo Vitorino da Empresa SONEFE, a quem minha mãe ia dirigida e que a informou o mais possivel para que as dificuldades do momento fossem contornadas sem prejuizos. No seio da multidão encontrava-se ainda a esposa e os filhos do seu futuro compadre e muito amigo Sr. Figueredo de Mello que mais tarde seria padrinho do meu irmão Fernando.

Depois já fora do cais, pressentiu que mofavam dela pela desambientação e do traje europeu envergado em pleno calor tropical.

A cidade de Luanda que se esconde por detrás das barrocas, é realmente uma grande cidade.

Após a saida do porto, o Largo Diogo Cão mostra a Avª. Paulo Dias de Novais ou Marginal, abraçando a baia, a linda baia de Luanda, com um azul limpo e vistoso, onde baloiçavam barcos de recreio, navegavam pirogas de pescadores e apareciam alguns praticantes de vela. Em toda a marginal rodeada de bonitas palmeiras, erguiam-se os principais arranha-céus, produto de forte aplicações de capitais de ricos comerciantes e fazendeiros. Depois a sucessão de majestosas vivendas de linhas ousadas e, por todo o lado modernos blocos de apartamentos.

Ao fim desta larga marginal a fortaleza de São Miguel e, para quem a visita, uma visão incomparável da cidade e da ilha do Cabo que, por ser ligada por uma pequena ponte, tornava-se numa peninsula com as suas caracteristicas vivendas, a velhissima igreja Nossa Senhora do Cabo e, mais afastada, a mancha do Parque Florestal.

No carro do seu amigo Sr. Figueiredo de Mello deram um passeio pela cidade, atendendo sorridente e sempre com muita simpatia a sua curiosidade sôfrega. Subiram ao Forte de São Miguel, onde pôde então regalar a sua curiosidade com a bela, a maravilhosa e apaixonante paisagem da cidade.

Percorreu com a vista todas as elegantes moradias com os seus bonitos jardins.

Seguiram para a Avª Mouzinho de Albuquerque, perto do Cemitério do Alto das Cruzes ( Ingleses ). nunca pôde esquecer o que este amigo fez para que ela tirasse a má impressão que ficou em principio da cidade.

Sairam de Luanda por volta das 09 horas do dia 21 de Janeiro. Minha mãe, eu e o motorista o Justino Silva. O Sr. José Macedo Vitorino deslocava-se mais a esposa numa carripana da Empresa que ia carregada com diversos mantimentos.

O  calor já se fazia sentir, por volta das 10 horas passaram em Catete que dista de Luanda 60 kmºs. sempre por uma boa estrada.

Depois de duas horas de marcha ao meio dia, para que o estomago não os atormentasse mais, e por que eu também choramingava por ter fome, almoçaram no Zenza do Itombe que dista de Luanda 126 kmºs.Quarenta e cinco minutos foi o tempo suficiente para degustação de tão apetecivel almoço.

Novamente em viagem pois o Justino ainda tinha 75 kmºs para percorrer e a maior parte do percurso por péssima "picada" pois que não se pode chamar a um caminho de carro de bois, como se diz no puto.

Depois de Cassoalala, chegam à vila do Dondo, que é banhada pelo rio Quanza, onde fizeram uma paragem de pouca demora, o tempo suficiente para o Justino beber uma Cuca fresca, pois que a garganta e o organismo já algum tempo lhe pedia uma bebida gelada que lhe matasse a sede.

~Havia seis horas de viagem... ás 15 horas, novamente em marcha directos à Barragem de Cambambe. chegaram as 15 h 30 m .

O  sol que até ali os atormentava com os seus raios quentes, cobre as grandes ramadas das árvores, como que querendo descansar naquele "colchão" verde e abundante. Ao longo vê-se umas queimadas naquele capim alto. Mais para além, uma fita vermelha indicando a estrada que seguiriam e que parecia tocar o céu, perdendo-se para lá....

Escuta-se o lindo cantos das aves, que parecem querer saudar-nos. Para lá daquele mato, quantos animais selvagens? Não se sabe.

O Camião seguiu em marcha reduzida, devido aos buracos da estrada. É este, apesar do calor o melhor trmpo para se viajar em Angola. No entanto a natureza reveste-se de maior esplendor, proporcinando paisagens deslumbrantes no tempo das "chuvas".

O pôr do sol começa, banhando tudo com uma cor avermelhada. Os grandes imbondeiros lançavam sombras que mais pareciam teias de aranha de grande tamanho. Ao volante do grande e pesado camião, o amigo Justino, sempre bem disposto.

A ele minha mãe agradeceu, pela primeira vez, ter visto um pôr de sol no mato de Angola. Chegam à Barragem de Cambambe, onde se encontrava já meu pai, o Sr. Raminhos e a Dona Aninhas que viriam a ser grandes amigos. Minha mãe fez uma viagem de Luanda a Cambambe de 200 kmºs .onde já passou a noite na casa junto ao Rio Quanza comigo e com meu pai.

1957

VIAGEM PARA ANGOLA DE MEU PAI




Esta é a história resumida contada por meu pai quando viajou para Luanda e para a Barragem de Cambambe no Alto Dondo

Lisboa 11 de Setembro de 1956 do cais de Alcântara parte o navio Moçambique rumo a Angola com carga e passageiros numa viagem prevista de 11 dias, com paragem na Madeira. Como passageiros uma centena de pessoas com rumos diferentes no interior de Angola, e moçambique, mulheres casadas por procuração iam ao encontro de um homem sem o ter conhecido antes, a não ser por fotografia, outras casadas por procuração, essas tinham namorado no Continente e só agora poderiam finalmente juntar à pessoa com quem tinham casado visto ele não se poder ou não querer deslocar ao Continente. Mulheres casadas com ou sem filhos que finalmente se iam juntar aos seus maridos que tinham partido muito antes na tentativa de conseguir uma vida melhor do a que tinham no Continente. Homens que partiam também à procura de melhor vida alguns numa completa aventura outros já com carta de chamada de amigos ou familiares que já lá se encontravam e lhe arranjavam a tal carta de chamada que implicava uma grande responsabilidade para quem a arranjava que o tornava responsável por essa pessoa, a maior parte era gente humilde do interior do Território que nunca tinham visto um navio ou mesmo o mar.

De entre todos esses passageiros meu pai ia para a Barragem de Cambambe. A bordo era tudo muito estranho e diferente de tudo a que estava habituado, a começar nas refeições e acabar nos porões onde dormia um salão enorme cheio de beliches uns em cima dos outros, atravancados de cestos, garrafões de vinho, de azeite, chouriços, salpicões, presuntos, fruta e outras coisa que as pessoas queriam levar consigo que impregnava o ambiente insuportável de cheiros e odores, a par dos cheiros das suas roupas e corpos por lavar, misturado com cheiro de urina de putos que nunca tinham utilizado uma casa de banho na vida deles, e por isso urinavam para o primeiro canto que encontrassem. Na primeira refeição a bordo foi um autentico desastre com as pessoas a tentar comer o que vinha para a mesa, misturando tudo numa gula desenfreada, resultado, aliado ao balanço do navio passado um bocado era o pessoal todo a vomitar por todos os cantos do barco, dia e meio depois de ter partido de Lisboa chegou à Madeira, o navio ficou ao largo, e alguns passageiros foram a terra a bordo de uma lancha, os outros ficaram abordo, pequenas embarcações acercaram-se do navio com lembranças da Madeira, trabalho artesanal que vendiam, os passageiros atiravam o dinheiro para as embarcações e através de uma corda as lembranças eram então içadas para bordo, outros pequenos miúdos, pediam que lhe atirassem moedas para a água, que eles logo mergulhavam e iam em busca delas a caminho do fundo do mar em grandes mergulhos para delírio de todos debruçados na murada do navio, assim se passaram as horas de paragem na Madeira.

O resto da viagem à excepção da passagem do Equador, no qual fizeram um exercício de por colete de salvação e ir para a uma baleeira de salvação como se o navio estivesse a ir ao fundo com banho de água à mistura o que resultou numa grande confusão pois muitos pensaram que era a sério, tudo acabou em bem, o resto dos dias foram sempre iguais até à chegada a Luanda em 1 de Outubro de 1956, numa manhã muito cedo, a sua ansiedade era muito grande, para saber como iria ser a tal falada África dos pretos como se dizia em Portugal.

Muito lentamente o navio lá se ia aproximando do cais as pessoas iam-se tornando cada vez mais visíveis. Tudo com muita lentidão à mistura com empurrões todos a quererem ser os primeiros, finalmente chegou a hora de sair e pela primeira vez pisou solo africano, sentiu uma sensação muito estranha de sons, cheiros e vozes e à mistura uma embriaguez em que se sentiu tonto e sem reacção.

Os Europeus num tom de pele muito tisnado, mesmo amarelo torrado num contraste de vestimentas brancas e muito suados, em contra partida os negros calmos pachorrentos transpirando muito e com os olhos muito abertos olhando as cenas de chegada dos abraços, dos beijos, eram os bagageiros que transportavam as malas para os carros que os levariam, enfim para os locais que cada um iria habitar.

Postas as malas na carripana que o foi buscar, e com os olhos muito abertos olhando numa ânsia desmedida de querer mirar tudo numa só vez, marginal fora que encanto de Avenida ladeada do lado direito por Palmeiras junto ao mar formando então a tal famosa Baía de Luanda, um dos muitos locais que muito o marcaria para o resto da sua vida. Deixou para trás a avenida e seguiram directos para Cambambe.

Algumas picadas eram somente os sulcos que os carros deixavam ao passar, um pequeno desvio e lá ficava um enterrado isto sem contar com os grandes buracos que quando chovia formavam grandes lagos que eram a alegria de muitos negros miúdos que chafurdavam nesses lagos de uma cor avermelhada com tons de castanho, e que serviam como Piscinas. Água canalizada era um luxo para alguns, essas lagoas serviam também para nascer e criar milhões de mosquitos que eram uma das maiores pragas que cedo teve de começar a enfrentar, começando logo por tomar comprimidos contra o paludismo, camoquine todos os dias e resoquine todas as semanas, águas fervidas e passadas pelo filtro um bonito aparelho de louça com uma vela também em louça por onde a água teria de passar e ser então filtrada saindo através de uma torneira metálica era uma água fresca e saborosa, depois de muitas peripécias lá chegou ao seu destino.

Chegado à casa que viría a habitar até 1959, a sua excitação era enorme, descarregadas as malas começou logo por atacar bananas num cacho dependurado á porta de casa, um grande cacho de grandes e maduras bananas, percorridas as duas divisões da casa e um grande anexo que ficava na parte de trás da casa. De referir que a casa era feita de aduelas dos Barris de vinho e forrada a papel. Foi apresentado ao casal que tinha providenciado a habitação o Sr. Raminhos e a Dona Aninhas. O casal tinha dois filhos, que teriam 3 e 4 anos de idade, foi então apresentado ao casal. Viveu ai sozinho pela primeira vez depois de casado por 3 meses, pois sua esposa só haveria de chegar em Janeiro de 1957.


1956

27/03/2012

PORTUGAL NA 2ª GUERRA MUNDIAL



ESCASSEZ DE ALIMENTOS Entre os anos 1942/1945 tempo da 2º guerra mundial em Portugal na base das lajes nos Açores foram abastecidos os aviões militares e comerciais dessa época.
Quando tocavam as sirenes (sinal indicativo de provável bombardeamento) previamente a população colocava uma fita em cruz para evitar que se partissem os vidros.
Em Portugal devido à guerra não havia produtos alimentares para consumo, pois os nossos produtos portugueses iam para as “tropas aliadas” como sobejos de Portugal, logo os portugueses tinham que comer aquilo que vinha de outros países que por norma não gostavam dos alimentos, pois lá fica a nobre frase do Salazar:

“Livro-vos da guerra mas não da fome”.


Carta de racionamento de Géneros

Racionamento em Portugal

Pela altura da segunda guerra Mundial, Portugal sofreu com a falta de muitos bens essenciais, o governo de Salazar decidiu racionalizar alguns bens alimentares tais como: Açúcar, azeite, leite, pão entre outros, existiam por essa altura umas senhas que eram distribuídas pela população para comprarem esses mesmos bens.
Uma boa parte da população era muito pobre e as famílias muito numerosas, pelo que se viam na necessidade de dividir uma sardinha para três pessoas o que por vezes provocava alguns conflitos pois todos queriam a parte do rabo da sardinha (foi-me relatado este facto pelo meu pai) que viveu nesta época, e muitos tiveram que emigrar para as colónias ultramarinas ou para o Brasil e nos anos 60 para França.
Portugal não foi atingido pela guerra directamente mas indirectamente foi afectado por causa da falta de alimentos pois Salazar disse: “Livro-vos da guerra, mas não da fome"

Portugal não participou no conflito que ensanguentou a Europa. Todavia, isso não impediu que os efeitos da guerra se fizessem sentir duramente no nosso país. O aumento desenfreado da inflação; a escassez e o racionamento dos géneros de primeira necessidade; o mercado negro e a especulação; o congelamento dos salários e o aumento da jornada de trabalho de 8 para 10 horas diárias, seis dias por semana, tais são os efeitos da guerra em Portugal. Entretanto, Lisboa torna-se o paraíso dos espiões.


Comercialmente, Portugal exportava produtos para os países em conflito, como açúcar, tabaco, e volfrâmio. O volfrâmio cujo preço subiu em flecha desde o início das exportações, sendo que para a Alemanha, a exportação foi interrompida em 1944 por imposição dos Aliados. Até ao final da guerra as exportações para a Alemanha foram pagas com ouro canalizado via Suíça.

No entanto há problemas de escassez de géneros (Portugal era deficitário quanto a alimentos) e a inflação dispara. O Governo recorre, embora tardiamente, a racionamento de géneros e fixação de preços e aumenta a corrupção do aparelho corporativo. Estalam várias greves que são reprimidas pela polícia política e pelo Exército, estando a situação controlada em 1944. Estou-me a referir ao Racionamento derivado da Guerra Civil Espanhola, e depois, da 2ª Guerra:

Muitos portugueses sofreram na pele e no estômago as consequenciais da guerra civil de Espanha nos anos 30 e nos anos 40 com a II Guerra Mundial, passando fome e privações. Os anos 30 e 40 foram marcados pelo “racionamento alimentar”.

Muitos idosos recordam uma afirmação de Salazar: “Livro-vos da guerra, mas não vos livro da fome”. E assim foi… grande parte dos produtos alimentares produzidos em Portugal eram exportados para os países envolvidos no conflito. Muitos portugueses viveram um cenário de escassez de produtos e fome

A Sopa do Sidónio


Muitos idosos recordam-se de irem em miúdos de madrugada para as filas com as senhas de racionamento e, por vezes, voltavam de mãos a abanar para casa porque os produtos não chegavam para todos. Como as pessoas tinham muitos filhos e não tinham o que lhes dar de comer, recorriam à Sopa dos Pobres, que forneciam sopa e pão às famílias mais necessitadas de acordo com o n.º do agregado familiar (comprovado mediante a apresentação de um cartão).

Muitas vezes eram as próprias crianças que a mando dos pais iam buscar a sopa ao meio-dia, carregando uma lata (antigas latas de 5 kg de atum das mercearias que eram reutilizadas) que servia de panela. A sopa era feita com massa, feijão ou grão e com “peles” ou apenas “cheiro de carne” como nos relataram alguns idosos. Mas “como a fome é o melhor tempero”, foi um auxílio importante à sobrevivência dos mais pobres, que Salazar era o Demónio.

Com o final da guerra, o governo de Salazar decretou luto oficial de três dias pela morte de Hitler aquando da sua morte, em 1945.

Quando a guerra acabou tinha meu pai 15 anos e passados poucos anos veio para Lisboa tendo emigrado para Angola no ano de 1956.


1956