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21/10/2014

É SÓ PARA RECORDAR...


NOMEADAMENTE NO DIA 25 DE ABRIL DE 1974


"Descolonização portuguesa foi feita à pressa em Angola", diz António Passos Coelho

Lisboa– António Passos Coelho considerou ainda que o Portugal de hoje “é uma coisa séria” e culpa os políticos, dos vários Governos PS e PSD, pelo estado a que o país chegou. A descolonização portuguesa foi feita “à pressa” em Angola, país que ficou entregue a partidos armados que faziam guerra em vez de política, afirmou domingo, 30 de Março, o médico António Passos Coelho, que há 40 anos vivia em Luanda.




 

Retornados ( Foto net )
A Revolução de Abril apanhou o médico pneumologista em Luanda, onde residia com a mulher e os quatro filhos, entre eles o atual primeiro-ministro, e ocupava o cargo de diretor de hospital e chefe do serviço de combate à tuberculose.

Nascido em Vale de Nogueiras há 87 anos, em Vila Real, António Passos Coelho deixou o Caramulo em 1970 para embarcar naquela que viria a classificar como a “loucura africana”, ao aceitar o desafio lançado pelo então ministro do Ultramar de organizar um serviço de pneumologia moderno em Angola.

Esta passagem por África inspirou, anos mais tarde, o livro “Angola, amor impossível”, em que o autor aborda a guerra, o 25 de Abril e a descolonização.

Na altura, encontrou uma Angola onde a “vida era normalíssima” e apenas do norte e leste chegavam alguns relatos da atividade da guerrilha. Primeiro passou pelo Bié e, só depois, se instalou na capital para colocar em funcionamento um novo e moderno hospital. 

A notícia da revolução foi-lhe dada por uma enfermeira, mas não ligou. O “puto”, como em Angola chamavam à metrópole, estava demasiado longe, mas depois o país africano “entrou em efervescência”. 

Quanto à descolonização, afirmou à agência Lusa que “foi tudo feito à pressa”. “Eu acho que a independência deveria ter sido dada com o auxílio da ONU ou da organização das Nações Africanas, deveria ter sido assim, de maneira a ter lá uma força qualquer que evitasse a guerra entre eles”, salientou. 

O MPLA ou a UNITA eram “partidos armados” que “não faziam política” e o resultado foi, na opinião do médico, “uma guerra que matou famílias inteiras” e “destruiu Angola”. 

António Passos Coelho acreditava que o país caminhava já há alguns anos para uma independência que iria acontecer com ou sem 25 de abril e revelou que, quando estava a recrutar pessoal para o hospital, recebeu uma “confidencial” que dizia para contratar também angolanos. 

A revolução, na sua opinião, precipitou tudo. Luanda mudou, transformando-se numa cidade solitária e deserta, onde os cafés e restaurantes de sempre se encontravam de portas fechadas. Pelo meio, o médico teve também de se esconder quando se deparou com trocas de tiros e teve que lutar para conseguir combustível para o funcionamento do hospital, que ficou sem eletricidade ou telefone. 

Apesar do clima de instabilidade que se foi alastrando, Passos Coelho permaneceu naquele país até às vésperas da independência, a 11 de novembro de 1975, apanhando o último avião da carreira área para Lisboa.

Talvez por trazer na bagagem a memória de uma Angola “florida e limpa”, o Portugal que encontrou, “sujo e imundo”, deixou-o desolado. Admirou-se com o desleixo das pessoas, mal vestidas e de barba por fazer, e a alegria que não parecia natural. 

Declinou convites que surgiram para deixar de novo o país e fixou-se em Vila Real, onde foi também diretor de hospital, abriu consultório e foi presidente da Assembleia Municipal, eleito pelo PSD. 

Quarenta anos depois, disse acreditar que a Revolução de Abril trouxe “vantagens fantásticas” ao país, com destaque para a liberdade de expressão e de crítica, ainda ao nível do Serviço Nacional de Saúde ou da justiça.

Lamentou, no entanto, que não se tenha conseguido aproveitar o que estava bem antes e afirmou que não se revê neste Portugal, onde a falta de educação é encarada com normalidade e se insultam ministros e presidentes. “Vejo tudo isto com muita preocupação. Não há um meio-termo, onde se critique sem insultar”, questionou. 

António Passos Coelho considerou ainda que o Portugal de hoje “é uma coisa séria” e culpa os políticos, dos vários Governos PS e PSD, pelo estado a que o país chegou. “Isto está mau, está a ser complicado a cortarem-nos nos vencimentos, está mal, e o Estado não tem dinheiro, de maneira que isto é um problema”, concluiu.
 
Recebido via mail

Fonte: Lusa

2013

 

OS CALOIROS


No ano de 1967, nas férias escolares estava eufórico com os exames de admissão ás Escolas Técnicas e aos Liceus.

Antecipadamente já sabia que iria para uma escola Técnica caso fosse aprovado nos exames, meu pai desejava que os filhos homens seguissem profissões técnicas e que a filha mulher seguisse uma profissão administrativa.

Isto tocou a uma grande parte de todos nós, estudantes do ensino primário. Nesse ano as férias grandes foram ligeiramente mais curtas. Tive que fazer três exames: o da 4ª classe e os de admissão, às Escolas Técnicas e aos Liceus.

Como estudava na Escola Primária nº.176 no Bairro Popular nº. 2, foi na Emídio Navarro (antiga João Crisóstomo), ali na Vila Alice perto da Fábrica Imperial de Borrachas ( Macambira ), que tive que fazer os exames de admissão ás escolas técnicas. Tudo correu bem, tive que ir à oral – penso que era obrigatório.

Nas orais, lembro-me que na prova de Português foi sempre o mesmo texto nos três exames “A camaradagem” do livro de leitura da 4ª classe, foi no exame da Escola Primária nº. 176, na Escola Preparatória Emídio Navarro e no Liceu Nacional de Salvador Correia.

Outra coisa que me ficou presente na memória. O professor que me fez o exame no Liceu Salvador Correia era bem conhecido de muitos alunos, para me meterem medo me disseram logo “ Estás tramado esse professor é do piorio”.

Mas aí estava eu aprovado e com três opções a meu bel-prazer. Escolhi a Escola Preparatória João Crisóstomo, naquele tempo as aulas começavam só a 1 de Outubro.

Mas, no Bairro Popular nº 2 onde eu residia, os amigos e alguns colegas mais velhos do que eu, iam-me informando o que poderia acontecer-me.

Sabes, lá na João Crisóstomo ninguém se chama pelo nome! Todos têm um número atribuído, dizia um! Logo outro “Eh pá, vais apanhar uma carecada do caraças! Faz mas é tudo o que dizem pra fazeres, senão… tás lixado, ainda te fazem umas picadas pela cabeça toda!”.

Com estes avisos todos, inicio do ano lectivo, no dia 1 de Outubro fui no Maximbombo 22 com vários amigos do bairro que também iam para a João Crisóstomo, descemos nos Maristas, depois seguimos o descampado ( uma picada de terra batida ) ai existente até chegarmos á novíssima João Crisóstomo (foi inaugurada nesse ano de 1967). 

Logo ali vi o grande movimento à entrada da Escola, com uma maior concentração à entrada e no espaço interior. Entrei no grande portão e o filme que me tinha sido contado pelos mais velhos tornava-se agora mais real, podendo ouvir-se um movimento de “algazarra” no amontoado de estudantes, quase todos rapazes, do lado exterior. “Ó miúdo és do 1º ano?!..” Era a caça ao caloiro.

E lá me mandaram colocar a jeito, baixando a cabeça, enquanto um bramia a tesoura de contentamento, dando-lhe aqueles movimentos entusiasmados que produziam o som metálico de abrir e fechar repentina e constantemente a tesoura, outro ensaiava a técnica da circunferência perfeita, colocando um escudo angolar na coroa da minha cabeça, desenhando uma circunferência com a esferográfica no couro cabeludo... bem ao meio

Depois era só cortar o cabelo que constituía o círculo até fazer uma careca, tão ou mais perfeita que a de um seminarista, ou padre capuchinho.
Hagh! O executante, após a feitura da coroa, pegava na sua Bic e rubricava a obra de arte, apondo um carimbo à moda de um punho assente de cima pra baixo na mesma.

Caloiro… Baixa a Careca!! E lá baixava eu a tola! E eles, que andavam em grupo, lá malhavam com os dedos todos unidos neste novo caloiro.
A obediência e a simpatia que cada caloiro demonstrasse era meio caminho andado para que tudo corresse normalmente, porque quem espigasse estava tramado. Apanhava forte e feio, com a palma da mão, com pequenos sacos com sal grosso, ou com as colheres de pau, algumas lindamente decoradas a cores, para que o caloiro medisse e refletisse, antes que se armasse em corajoso protestante!

Mas o melhor mesmo, por segurança, era arranjarmos um padrinho, um mais velho de preferência conhecido, daqueles considerados, ou com algum status, e não importava o tipo de status entre os mais velhos, tinha era que ter peso. Foi o que me aconteceu quando entrei na Escola Industrial de Luanda, conhecia alguns avilos mais velhos como o Tomané (António Manuel dos Santos Diniz) que era dado aos Karts e com mais amigos do Bairro.

Hê malta!!.. Este é meu conhecido, meu afilhado!” Aí ficava tudo bem melhor e as palmadas na careca era não mais que um cumprimento.
Alunos do meu tempo… O Piteira, Amílcar, Alberto Rodrigues, Carvalho, Gomes, Camilo, Ernesto, Nelson, Francisco Pereira, Walter Sério e outros,,,,

ZÉ ANTUNES

1975



 

ANDAMOS AMORDAÇADOS E À ORDEM DOS PODEROSOS


A União Europeia (EU), nem sempre teve as dimensões atuais. Em 1951, ano em que se iniciou a cooperação económica na Europa, apenas a Bélgica, a Alemanha, França, Luxemburgo e os Países Baixos participavam nesse projeto. Com o passar do tempo, o número de países interessados em fazer parte da UE foi aumentando e, com a adesão da Croácia em 1 de julho de 2013, a UE passou a ter 28 Estados-Membros. No entanto, a população europeia em vez de crescer…está a decair. Nas previsões da ONU, constata-se que os países que constituem a atual União Europeia, vão perder mais de 23 milhões de pessoas até 2050. Só Portugal, vai perder um (1) milhão, mais que a média. Como o globo, no mesmo período, aumentará mais de 2.500 milhões de pessoas, o peso demográfico da Europa cairá acentuadamente.

O facto desse descalabro, é que os europeus desistiram de ter filhos, agravado pela confusão ideológica e estratégica de que padecem os europeus. A União parece ser a única zona do mundo, que não sabe o que quer, ou que quer coisas inconsistentes. Enquanto os outros Povos lutam por afirmação civilizacional e trabalham arduamente para o desenvolvimento produtivo e influência político-militar, Portugal, esgota-se em controvérsias axiais, debates conceptuais e abstratos que, mesmo se resolvidas, só confirmarão o crepúsculo. Daí, sermos hoje, uma reserva de eucaliptos para uso de uma obscura entidade económica, que tem o pseudónimo de CEE.

Cunha Leal, um dos políticos mais ativos e esclarecidos no final da Primeira República, numa conferência que pronunciou na Sociedade de Geografia em 1925, afirmou: “O Exército não deve realmente actuar contra os partidos, mas tem o direito de fazer ouvir a sua voz e indicar aos poderes públicos que, se lhe compete neutralizar as ameaças de dissolução da sociedade portuguesa, também lhe compete o direito de agir…”. Por sua vez, o Prof. Fidelino de Sousa Figueiredo, político, historiador e crítico literário português, fez a síntese da situação catastrófica que se vivia naquele final de 1925, nos seguintes termos: “Desprestigiados o poder, perseguidos a inteligência e o carácter como irritantes superfluidades, e criados os falsos valores, os governos não governam, só pensam durar au jour le jour e infiltrar-se na burocracia e na finança”. 

Hoje, certamente, ninguém terá dúvidas de que a nossa dependência se agravou e cada dia temos menos liberdade para decidir do nosso futuro. Será o que os outros quiserem como quiserem. Estamos amordaçados e à mercê dos interesses dos poderosos. Pequenos mas “orgulhosamente acompanhados”, como afirmava recentemente o Sr. Primeiro-Ministro. Eu diria antes, “envergonhadamente dominados”.

Cruz dos Santos

2014
 

MACAMBIRA


Da "Fábrica Imperial de Borracha", no Macambira, junto à Rua Eugénio de Castro na Vila Alice ( hoje Bairro Belito Soares ) onde trabalhei nas Férias do 1º ano de Curso de Aperfeiçoamento de Serralheiro da Escola Industrial no ano de 1970.

Frequentava a Escola Industrial de Luanda, cursando o Curso de Aperfeiçoamento de Serralheiro e durante as férias grandes o meu pai punha-me a trabalhar para assim aprender a arte e como era amigo do Sr. Alfredo que residia na Rua de Porto Alexandre, e era chefe da secção de Serralharia da Fábrica Imperial de Borrachas pediu-lhe que me coloca-se na Fábrica. O Sr. José Rodrigues Pereira deu o seu aval e assim no 1º ano do Curso estive os três meses das férias grandes na Fábrica Imperial de Borracha ( Macambira ).

José Rodrigues Pereira residia no Bairro Popular nº 2, na rua de Ourique, frequentava o Bar São João onde com o Jorge o mais velho de dois irmãos, jogavam ás damas e ao Xadrez. O Jorge conseguia ganhar-lhe nas damas mas em xadrez era ele o mais forte, o que não admira pois ele aprendeu a jogar xadrez com o seu pai, a partir dos seis anos e muitas vezes saia do Bar São João e à noite ia jogar ao Clube de Xadrez de Luanda, onde era sócio. 

José Rodrigues Pereira estava ao leme da Fábrica e ainda ficou em Luanda, após a independência, a 11 de Novembro de 1975, continuando na Fábrica com plenos poderes para a gerir. O sr. Macambira deixou-lhe uma procuração para o substituir e manteve-o 6 ou 7 meses nesse cargo, altura em que o Governo de Angola entendeu nacionalizar todas as empresas cujo donos tivessem regressado a Portugal e deixado procuração a terceiros. A partir daí, José Rodrigues Pereira foi integrado ao serviço do Ministério da Indústria, em todas as fábricas têxteis de Luanda, Macambira, Textang, Fiangol, em Viana e Satec no Dondo, bem como as fábricas Macambira de Borracha, Plásticos e Cobertores.

Da parte do Governo angolano ele teve todas as facilidades nesse trabalho e
nunca houve problemas de produção nessas fábricas. Voltou a Luanda em
1989, mas com os problemas que existiam da falta de matérias primas e acessórios, numa reunião avisou as chefias angolanas que dentro de dois
a três anos, todas as fábrica iriam parar de laborar o que assim aconteceu. Voltou para Portugal em 1991.

Em 2004, quando lá voltou, todas as fábrica tinham sido desmanteladas e ficaram sem emprego cerca de 6.000 trabalhadores.

Luanda tinha também a Curbol, que fabricava botas e os famosos Kedis e estava prestes a produzir os sapatos “Campeão Português”, o topo de gama da época.
Este grande amigo que conheci em 1970 na Fabrica Imperial de Borracha faleceu em Lisboa em Outubro do ano de 2014.

José Rodrigues Pereira descansa em paz, que eu lembrar-me-ei sempre de ti.


ZÉ ANTUNES 

2014


01/10/2014

SAUDADES DE QUANDO EU ERA “KANDENGUE”!


Estou só e silenciosamente a meditar, naquelas “velhas” e saudosas recordações de infância, que trago gravadas até aos dias de hoje. Daí eu partilhar convosco, estas rememorações, de tempos que já não voltam. Quero manifestar, dividir, com todos vós, essas lembranças, todos esses fascículos que ficaram por escrever, interrogações sem fim, separações, despedidas…que brotam da minha já cansada memória e que julgo terem sido verídicas, porque se fossem uma ilusão, não poderiam resistir ao tempo nem magoarem tanto. Se fossem apenas a criação imaginária de um espelho, elas não seriam aquele foco, que me tem atraído, constantemente, até à exaustão. Será a razão, a técnica ou o pensamento despidos do afeto que são capazes de ganhar essa luta desigual?

Óh que recordações meu Deus!, a envolverem lugares, terras, ocorrências passadas com pessoas, misturada com a fragrância da terra molhada, dos amigos de escola, das feridas causadas em “berridas” e nas “baçulas”, dos “trumunos” com bolas de borracha e de catchú, da Feira Popular, que ficava ali para os lados da avenida Lisboa em Luanda e de centenas de lugares, que me marcaram para todo o sempre! Óh…como me recordo de tudo! Estava a lembrar-me daquelas corridas de carros, onde tínhamos que “bater” num manípulo, para que uma bola passasse dentro de uma espécie de cesto que fazia o carro lá em cima avançar. E quando era mesmo pequeno adorava andar nos Póneis e numa pista que lá havia que fazia um 8 e uma parte passava por cima tipo viaduto.

Lembro-me também que os meus Pais ralhavam comigo por ficar acordado até mais tarde a ler os livros aos quadradinhos do Mandrake, Cisco Kid, Major Alvega, Fantasma, etc. etc.

É verdade, também me lembro de jogar à bola em frente do portão da minha casa, no Largo do Preventório Infantil de Luanda, descalço ( para não estragar os pancos ) jogava de manhã á noite, até cansar, era de deixar os velhotes quase doidos principalmente minha mãe, que queria que eu estudasse, e eu o que queria era jogar á bola, lembro-me do jogo do espeto, jogar ao berlinde, bate pé, quarto escuro, os carrinhos de rolamentos, as trotinetes e as rodas feitas de arame com uma gancheta, dos jogos do Monopólio e da Glória. Bons tempos.

Também me lembro de o meu pai ouvir os relatos dos jogos do campeonato Português de futebol principalmente os jogos do Benfica, que era quase sempre campeão!!

Lembro-me dos bolos que vendiam á porta da Escola João Crisóstomo e da Escola Industrial , os famosos bolos ROCHA, malvados bolos, mas tão bons, foram logo batizados de MATA-FOME.

Quando era kandengue não tínha TV em Luanda, mas acordava cedo aos sábados para arrumar as minhas bicuatas ( a minha mãe fazia questão que cada um dos seus filhos arruma-se o que era seu ), depois do almoço, como não tinha aulas e então ai estávamos todos para brincar, ia-mos para a rua jogar à bola, às escondidas, ao bate pé, enfim, uma série de brincadeiras que hoje não se vê mais nas ruas.

Lembro-me das quedas que dava na terra batida, era com cada ferida nas pernas que eram só desinfetadas e logo depois estava tudo bem, hoje é um cabo de trabalhos quando isso acontece.

Eu uma vez a jogar à bola caí (mas que valente baçúla) e de seguida levantei-me e disse não foi nada. E o pessoal a olhar para mim como se estivesse a ver um fantasma. Quando reparei tinha um fio de sangue a escorrer pelo braço abaixo, tinha feito uma grande ferida no cotovelo.

Conclusão, fui a casa, desinfetei, coloquei um penso grande e siga para o jogo.

Nas férias de verão, aderia muito aos encontros organizados pelo Padre Costa Pereira, como os passeios que se faziam na companhia de todos e das catequistas que nos davam catequese, as idas ao “ campo e à praia".

Bons tempos mesmo! SAUDADES

Belos tempos, o que eu me divertia . 

Os tempos passam e sempre fica a saudade.

Lembro-me, de acontecimentos narrados pela Emissora Oficial de Angola, pela Rádio Eclésias de Luanda, e pela Voz de Angola;

1º Festival da Eurovisão que Portugal participou em 1964 (António Calvário ) com "A Oração"

Das transmissões do Mundial de 1966 ( mais tarde vi em cinema )

Na inauguração a 6 de Agosto de 1966 da Ponte Salazar (hoje 25 Abril)

Das "Conversas em Família" do Prof. Marcelo Caetano (1968/73) ( era uma seca meu pai queria silêncio enquanto ouvia o Marcelo )

Do "Zip-Zip", programa transmitido em direto do Teatro Villaret, com R. Solnado, Carlos Cruz e Fialho Gouveia, em 1969, que mexeu com muita coisa no País, era reproduzido na Rádio, lembro-me que á tarde mais ao menos pelas 18 h00, quase todas as mães ouviam a radionovela “MARIA” transmitida pela Rádio Eclésia.

Da agitação juvenil nas universidades e das eleições legislativas de 1969 e 1973. No ano de 1970 (eu estava em Lisboa a estudar).

Da eleição da miss Portugal ganha pela Riquita.

Da revolta fracassada do RI 5 das Caldas da Rainha, a 16 de Março de 1973.

Assisti "in loco", á revolução do "25 Abril ", em Luanda, íamos ouvindo e lendo os jornais da capital Angolana sobre o ocorrido em Lisboa.

Vivi toda a turbulência politica ou social ( o chamado PREC ) ou ( Verão quente de 75 ) ocorrida após o 25 Abril (manifes, paralisações, greves, quedas de governos sucessivamente, tentativas de tomada do poder, golpes militares, como o 11 de Março e 25 Novembro de 1975, etc. etc. etc. tudo isso porque já estava em Lisboa. Lembro-me da descolonização, e tantas e tantas outras coisas, que passaria aqui o resto do dia a enumera-las.

Eu sou do tempo em que me lembro de comer de manhã as "sopas de leite" e a farinha 33 que tinha como slogan, algo parecido a isto: Come farinha 33 e valerás por 3, e ainda a célebre farinha Amparo.

Já nos tempos de jovem dos bons velhos tempos, dos anos 1975 já a residir em Lisboa, em que na época só existia 2 canais de TV para ver, e em que não havia telemóveis que hoje se diz indispensável, hoje tenho 2 telemóveis um da empresa e um particular, ( hoje tenho 100 canais, internet e telefone ).

Depois já adulto lembro-me do que o meu filho gostava :

Os Soldados da Fortuna (a primeira vez que passou, para os mais novos, antes da versão Esquadrão Classe A da Herbert Richards ) e o Norte e Sul.

Nas séries lembro-me que ele adorava o D´Artacão. Gostava igualmente de ver o Alf, o Allô Allô, os Marretas...

E da Orangina e do Caprisonne (que agora voltou em força) e do Topo Gigio. e os Jogos Sem Fronteiras. Ele não perdia um. 

E dos Kalkitos, alguém se lembra???

E as mini tortas da DanCake, ou não???

A Heidi e o Marco

A Pipi das meias altas

O fungágá da bicharada

O jornalinho

Sou a favor da modernidade, mas ás vezes dá-me a nostalgia e fico com saudades de quando não existiam telemóveis, multibancos, nets, TV`s por cabos, shoppings, fast foods, as Auto Estradas a A7, A8, A9...A49, IC´s e afins.

E quando demorávamos 7 horas a fazer a viagem de Lisboa a Guimarães, em que passávamos pelo interior de muitas cidades, pois só existia auto estrada de Lisboa a Vila Franca de Xira e dos Carvalhos ao Porto

Até destes tempos mais atuais tenho saudades, e que saudades.

O sempre igual, o repetitivo, cansa nesse eterno retorno do acontecer. O espaço da vida precisa desse tempo sem tempo que só o amor e a arte engendram pelos tortuosos caminhos da sem razão. E há palavras mudas que o olhar desenha…Palavras que discretamente moram no fundo de um silêncio, palavras que enunciam a certeza de um sentido oculto…!


ZÉ ANTUNES

2014