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22/11/2015

" BIA "


Amigo Carlos este ano de 2015 depois de saber da tua doença, estivemos juntos por diversas vezes, tinha o prazer da tua companhia quando vinhas aos tratamentos e almoçavamos juntos com vários amigos, e eu dizia-te que tinha esperança de ficares bem e quanto foste ao São João do Porto com avilos nossos amigos estavas com uma energia e um espirito positivo, na minha opinião estavas já sem ninguém saber a despedires-te de todos os teus amigos.

Depois estive contigo no último encontro dos miúdos da Rua da Gabela. Prometi-te na altura e tinha esperança de ainda o poder fazer de passar contigo muitos fins-de-semana, sabia que padecias dessa terrível doença ( o chamado Lobo Mau ) contra a qual estavas a lutar, mas tinhas um estado de espírito positivo, estavas feliz comendo, bebendo e dançando e por isso, nunca pensei que pudesses terminar tão cedo. Tenho muita, muita pena mesmo, de não poder voltar a estar contigo e partilhar as memórias de um passado comum em que éramos felizes sem saber. Se de facto outra vida existe noutra dimensão, espero que possas ser tão ou mais feliz ainda do que foste nesta. Mais uma vez vi que estavas a despedir-te de nós e mais comovente foi a visita do teu amigo do coração o Capon ( LOCAS ) que veio de Luanda para estar contigo .

Depois de várias visitas ao Hospital de Loures, no dia 16 de Novembro de 2015, eu e os teus amigos e familiares, fomos ter contigo sem saber que era uma despedida fui um de muitos que estiveram presentes dando homenagem a uma grande Pessoa que tu foste. Com tristeza no coracão lá subiste ao céu, lá nos encontraremos um dia. Descansa em paz meu avilo Deus te guarde agora e sempre.

Faleceu um grande Amigo, alguém de quem gostava muito. De trato fácil, bom amigo, homem culto e que sempre que estava com ele me dispensou palavras de amizade e encorajamento, não existem palavras que exprimam a intensidade da tristeza destes momentos que separam dois mundos...mas ficam com certeza muitas palavras para te recordar com carinho da tua passagem neste mundo...foram bons os momentos em que estivemos juntos...estejas onde estiveres, sei que estás bem, principalmente em paz e sem sofrimento...até um dia Carlos...para sempre nos corações de todos nós.

O Funeral foi dia 18 de Novembro, pelas 15 horas na Igreja do Colégio em Portimão, na Praça da República, de onde partiu para o cemitério de Portimão. O Corpo ficou em câmara ardente a partir das 10:30 dessa manhã.

No dia do funeral  soubemos  que o nosso já saudoso amigo Carlos Santos *BIA* era conhecido entre os seus pares e em Portimão de "embaixador" (foi dito por um dos familiares)...e não seria por acaso, é que nessa noite, num bar que era frequentado por ele, iria haver uma homenagem, com música e petiscos angolanos de forma a lembrarem-se e "tê-lo presente" como o maior anfitrião daquele espaço e de uma vida bem vivida...sem amarguras ou tristezas!
Daí, e a pedido dos filhos, e a referência do pároco na celebração ("festiva" e de menor drama) da homilia na despedida com o corpo presente.
Em tua representação consular e destes teus amigos saudámos a tua vida que, eternamente também será celebrada sempre que nos encontrarmos em qualquer espaço...é preciso que estejas presente....!! Porque para todos nós, não partiste ,...não apanhámos foi o mesmo machimbas para o "Largo do Bairro" que nos espera! 

Meu Querido Amigo, sei que foste para algum lado, e é aí que nos vamos reencontrar, um dia... para ouvirmos um som de Angola e bebermos uma bebida ! Até logo Carlinhos! O teu conceito de amizade durante estes anos todos,  foi linda para com todos os teus amigos.

Mas a verdade dói e a tua partida é uma verdade, mas também é verdade que por aqui só andamos de passagem, por isso meu amigo logo todos nós havemos de nos reencontrar.
Até lá vais sempre permanecer nos nossos coraçoes
Que Deus te guarde em grande glória.


"ideia original de Delmar Videira, Nelo Caroça, Luis Gil e Zé Antunes"

Zé Antunes
2015
 

01/11/2015

GENTE ANÓNIMA " ILUSTRE"

Eu quando cheguei a Lisboa em 1975, e por aqui fiquei a morar na Av. da Liberdade, com o passar dos tempos, passei a perceber certas particularidades por vezes tão desconcertantes nesta cidade, fui descobrindo uma multidão anônima que parecia transitar invisível aos olhos das pessoas. Dentre esses anônimos alguns se destacaram ao ponto de fazer parte do dia-a-dia dos transeuntes e da história da cidade.

O FALSO CEGO – O Homem que nos anos 80, teria os seus 50 anos de idade ficava na Estação do Metro do Rossio com uns óculos de lentes muita grossas e uma bengala, fingindo-se cego ia pedindo esmola, como a mentira tem perna curta, mais tarde foi descoberta a sua malandrice. Deixei de o ver .
 

A VIÚVA – Mulher já com bastante idade, Enrolada em panos pretos Esmolava na esquina da Rua 1º de Dezembro com o Largo da Estação, ali ao pé da entrada do Restaurante Beira Gare implorava pela caridade chorando a sua dor de viúva. Descobriu-se que era o próprio filho que a punha ali desde manhã até ao anoitecer, a pedir esmola. A policia descobriu a farsa, e ela nunca mais foi vista.


                       Foto da net
 

A JOANA MALUCA DE LISBOA - Andava nos caixotes do Lixo a apanhar papel . Diambulava pelo Rossio e pela Praça da Figueira . Era uma mulher , alta e esguia que insistia em usar pó-de-arroz e um incrível batom vermelho a delinear-lhe a boca sem dentes. Uma rosa de plástico enfeitava-lhe os cabelos. Não deveria tomar banho á muitos meses. Sempre que arranjava uns centimos , era no álcool que se metia e depois de ficar já com o chamado grão na asa , gritava, xingava, ameaçava as pessoas. Só sossegava quando chegava a viatura da Policia. Um dia desapareceu.deixamos de a ver

 

                                 Foto da net 


TÓGUTO – Amigo da nossa geração, também veio na ponte aérea de Luanda, a profissão dele era aprendiz de mecânico, nunca conseguiu trabalho, ia vivendo da caridade de muitos de nós. Arrumava automóveis ali na Rua dos Sapateiros e sempre se ia alimentando com as esmolas que lhe davam, só que meteu-se na droga e foi a sua ruina, numa das vezes estivemos a admira-lo, sempre pedrado ele arrumava os carros dormia em pé , comia uma maçã e bebia uma Cerveja Super – Bock tudo ao mesmo tempo, e sempre que tinha 500 Escudos até de táxi ia á meia Laranja no casal Ventoso comprar a dose, Um belo dia do ano de 2006, recebemos a noticia que tinha falecido, com uma overdose.


ZÉ HUILA – Em 1976, quando isto se passou, eu tinha 21 anos de idade, e estes foram os meus primeiros contactos com quem estava agarrado á droga ( Zé Huila) que era empregado bancário em Sá da Bandeira e tinha chegado a Portugal na Ponte Aérea, deambulava pelo Rossio embrulhado num cobertor muito seboso, muito sujo, e já só se alimentava com um bolo de arroz esfarelado e metido dentro de uma garrafa de coca cola.
Estava senil , há várias versões que circulavam sobre a sua doença. Sei que a policia ás vezes o levava para a Mitra e até banho e roupas lhe davam. Mas ele fugia e aparecia de novo enrolado no cobertor, faleceu ainda jovem no ano de 1981.


FATIOTAS - Uma figura digna de um filme, bem vestido fatinho azul escuro camisa branca uma rosa na lapela, sapatinho de verniz preto. Intitulava-se “poeta incompreendido”. Circulava pela Praça Dom Pedro IV ( Rossio ), no passeio em frente ao Snack-bar PIC NIC e ao café Nicolas em cima de um pequeno caixote, costumava ai declamar seus versos. Morreu atropelado na Rua do Ouro.


EMPLASTRO - Uma das figuras actuais é o adepto do F.C. Do Porto, Fernando Alves, mais conhecido por “ emplastro”, tornou-se figura mítica por ficar junto aos jornalistas quando estão em diretos para a Televisão. De certeza que em Portugal todos o conhecem.

Depois destes anos todos a dizer que Jorge Nuno Pinto da Costa era seu pai e de fazer juras que é do F. C. do Porto, apareceu num video a dizer que é adepto do Benfica e que Filipe Vieira é seu Pai. Última vez que o vi foi no Estádio do Restelo num jogo do Belenenses. Mas o jornalista Eugénio Queirós do jornal Record descreve tudo ou quase tudo da vida do “
O emplastro "


http://www.record.xl.pt/revista-r/detalhe/o-emplastro-978366.html

 
 

                                  Foto da net 


DONA ROSA A FADISTA - Há poucas pessoas que não tenham já visto e ouvido a Rosa Francelina Dias Martins mais conhecida somente por Rosa, uma invisual que toca ferrinhos e canta fados e canções conhecidas portuguesas enquanto espera por uma dádiva na sua caixa de madeira com ranhura, ali junto á casa da Sorte no Rossio. Chegou a dormir na rua enquanto procurava uma casa para ela.

 

                                       Foto da net 

Dormia onde podia pagando com o dinheiro que ganhava pela venda dos bilhetes da lotaria. Foi roubada quando vendia lotaria e mais tarde concorreu a um bairro social do Monte da Caparica e foi-lhe atribuida uma casa onde habita até aos dias de hoje. Dizem que foi ao Estrangeiro gravar um C.D. No rossio deixei de a ver. Dona_Rosa
 
                               Foto da net 


O HOMEM SEM ROSTO - Chama-se José Mestre, e tem perto de 60 anos. É conhecido por ter a face completamente desfigurada não se lhe reconhecendo qualquer contorno do rosto. Há mais de vinte anos que é pedinte no largo do Rossio por não ser capaz de arranjar trabalho nestas circunstâncias. O tumor que foi aumentando desde os tempos de adolescente. Recusava-se a fazer qualquer tipo de cirurgia devido à sua opção religiosa, testemunha de Jeová, religião que é contra as transfusões de sangue.


José Mestre, o ‘Homem sem rosto’, que já foi operado nos Estados Unidos ao tumor, já está em Portugal e foi observado pelo cirurgião plástico Fernando Gomes Rosa, no Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), Não o tenho visto na Baixa de Lisboa. 
 

 

 

 
 
                                    Foto da net 

 

OS METRALHAS - Os metralhas que arranjavam maneira de vender e consumir, droga, eram três irmãos, quando apareciam no Rossio pediam dinheiro a quase todas as pessoas dizendo que era para se alimentarem, todos sabiam que era para a droga, o irmão mais novo matou o irmão mais velho à facada, no ano de 1983, os outros dois faleceram no ano de 1985, causa da morte “ Droga” nesse ano também faleceram por causa da maldita droga, os irmãos o “Tico” e o “Teco”, que andavam com eles, eram filhos de uma ilustre família vinda de Angola que moravam no Estoril.



HOMEM ESTÁTUA - Entre as a personagens do dia a dia de Lisboa, há um homem estátua verdadeiramente singular.
António Gomes dos Santos é dos motivos mais fotografados na baixa lisboeta pelos turistas. É o homem estátua. Uma ocupação que nasceu por causa de um problema de saúde.
Há 25 anos foi-lhe diagnosticada uma neurodermite, uma doença nervosa sem cura que impede os doentes de trabalharem, a não ser que fiquem imóveis.
 
 


                                      Homem estátua de Lisboa tem 4 recordes mundiais

Ver mais em:
http://www.lux.iol.pt/internacional/recorde-mundial/video-homem-estatua-de-lisboa-tem-4-recordes-mundiais


Eu, nas minhas andanças por Lisboa conheci muitos desconhecidos que se tornaram “ “ilustres”, e que dariam páginas de histórias.


 ZÉ ANTUNES

2015 

13/10/2015

CRONOLOGIA DO VERÃO QUENTE DE 1975

Já muito se tem falado no Verão Quente de 1975 e porque passados 40 anos ainda nos recordamos do que foi esse período épico, com as amplas massas populares a tomarem em mãos a construção dum futuro melhor, no qual, então, acreditavam.

Período épico e alucinante, com um ritmo desenfreado de acontecimentos naquele chamado «verão quente»

O período que ficou conhecido em Portugal por Verão Quente de 1975 teve a sua origem no chamado Caso República no mês de Maio e como consequência crescentes tensões entre grupos de esquerda e de direita, que se confrontavam nessa época.

Paradoxalmente, é precisamente no epicentro deste período que a população derrota nas urnas, em 25 de Abril de 75, as vias radicais, dando a vitória ao PS e o segundo lugar ao PPD .

Alguns dos mais importantes acontecimentos desse ano épico de 1975

Comecemos pelo pelo principio desse ano.


15 de Janeiro - Acordos de Alvor , assinados, nos termos do qual Portugal reconhecia a independência de Angola, transferindo o poder para o MPLA, a UNITA e a FNLA.

11 de Março - Divisões profundas entre oficiais do MFA. A ala spinolista é levada a tentar um golpe de estado. Insurreição na Base Aérea de Tancos e ataque aéreo ao Quartel do RAL1. 

12 de Março - São extintos a Junta de Salvação Nacional e o Conselho de Estado e em sua substituição é criado o Conselho da Revolução. O Governo dá início à execução de um grande plano de nacionalizações (Banca, Seguros, Transportes etc...).

26 de Março - Tomada de Posse do IV Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves. 

31 de Março - O Decreto-Lei n.º 169/75 de 31 de Março cria o IARN, Instituto de Apoio ao Retorno dos Nacionais. A este competia "(…) estudar e propor superiormente as medidas necessárias para a integração na vida nacional de todos os cidadãos portugueses" e "(…) encarregar-se dos assuntos que superiormente lhe forem cometidos e que dentro da sua esfera de acção possam estar directa ou indirectamente ligados ao processo de descolonização e ao possível retorno de emigrantes."

16 de Abril - Nacionalização da Siderurgia Nacional e das várias sociedades exploradoras do serviço público de produção, transporte e distribuição de energia eléctrica.

 25 de Abril - Eleições para a Assembleia Constituinte com uma taxa de participação de 91,7%. Resultados dos Partidos com representação parlamentar: PS 37,9%; PPD 26,4%; PCP 12,5%; CDS 7,6%; MDP 4,1%; UDP 0,7%.

30 de Abril - Terminava a Guerra do Vietname, o conflito que proporcionou à maior potência mundial, os EUA, a grande derrota de sua História. Enquanto os cidadãos americanos eram retirados da embaixada do país em Saigão, por ordem do presidente Gerald Ford a capital, tomada pelos guerrilheiros vietcongues, passava a se chamar Cidade de Ho Chi Minh.

Leia mais sobre esse assunto em
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 15 de Maio - Oficialmente começa a Ponte aérea de Angola chegam 1500 refugiados a Lisboa. Gonçalves Ribeiro, mais tarde alto-comissário para os refugiados, afirma o seu pudor em abordar a matéria em causa, que define como “a experiência da sua vida”. Mal ou bem, é ele o nome que todos apontam como coordenador do air-lift-ponte aérea-que em três meses e meio transportou quase meio milhão de pessoas de Nova Lisboa e Luanda para o aeroporto da Portela. rapidamente e em força" tornou-se palavra de ordem para os cerca de 500 mil portugueses que (ainda) permaneciam na ex-colónia, no verão de 1975. Com o escalar da guerra entre os movimentos africanos, só restava salvar a pele - e deixar toda uma vida para trás ler mais

 
Embarque na Ponte Aérea ( Foto da net )


 15 de Maio – Dão-se as primeiras ocupações de casas vagas. As ocupações de casas, em ritmo vertiginoso, vêm a ser legalizadas por Decreto-Lei de 14 de Abril (D-L nº 198-A/75), que obriga os senhorios a celebrar contratos de arrendamento não só em relação às habitações já ocupadas, mas em relação a todas as que se encontrassem ainda devolutas, funcionando as câmaras e juntas de freguesia como mediadoras imobiliárias. Por isso, logo em Maio, a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Lisboa apela às comissões de moradores que assinalem os fogos vagos para que sejam “requisitados a favor da população necessitada”.

 Ocupação de casas ( Foto da net )


 
19 de Maio - Início do chamado Caso República, Raul Rêgo é afastado da direcção do jornal pelos trabalhadores, acusado de ter tornado o República no órgão oficioso do Partido Socialista.

25 de Maio - Ocupação pelos trabalhadores das instalações da Rádio Renascença, propriedade do Episcopado.

 27 de Maio - Revogação da Lei do Divórcio. Decreto Lei nº 261 /75

 28 de Maio - Prisão de elementos do MRPP 


 
 Caso República ( Foto da net )
 

30 de Maio - chegada a Lisboa da Marinha Ribeiro vinda de Angola acompanhada da mãe indo directamente para Guimarães.

6 de Junho - Em Ponta Delgada realiza-se a primeira manifestação pública da Frente de Libertação dos Açores (FLA). Este movimento sem grande expressão e peso político reivindicava a autodeterminação dos Açores.

21 de Junho - chegada a Lisboa de José Antunes vindo de Angola acompanhado com a mãe Maria do Carmo e irmã Amélia Antunes

25 de Junho - Independência de Moçambique.

05 de Julho - Independência de Cabo-Verde.

12 de Julho - Independência de S. Tomé e Príncipe.

13 de Julho - Assalto à sede do PCP em Rio Maior. Têm aqui início uma série de acções violentas contra as sedes de partidos e organizações políticas de esquerda, registadas por todo o país mas com maior intensidade no Norte e Centro.

Além de politicamente ter acontecido estes escaldantes episódios nesse verão de 1975 foi mesmo tórrido. Durante dias seguidos, sobretudo nos meses de julho e agosto, os termómetros subiram acima dos 35 graus, as florestas (incluindo a serra de Sintra, a sul, e a serra da Agrela, a norte) foram pasto de incêndios com grandes labaredas e as populações debandaram em massa para as praias. Só no segundo fim de semana de julho, cerca de meio milhão de pessoas, vindas de Lisboa e arredores, invadiram os areais da Costa de Caparica, provocando engarrafamentos de mais de duas horas nos acessos à Ponte 25 de Abril e filas intermináveis nas paragens de autocarros da Praça de Espanha e de Alcântara, com zaragatas e desmaios. A água faltou com frequência e, nas cidades, a população procurava abrigo e algum conforto nas sombras dos jardins.

29 de Julho - um Domingo, em pleno PREC, ocorreu um episódio caricato e ao mesmo tempo exemplar do tipo de país que somos: 89 agentes da DGS, polícia política do regime que caiu com Marcello Caetano estavam presos, juntamente com mais 754 colegas, em Alcoentre, futura prisão modelo de segurança, mas na altura "mera fantasia", fuga espectacular e que ocorreu do modo mais simples e prosaico que é costume: bastou que dois agentes da temível "PIDE/DGS" explorassem as fraquezas do sistema de segurança, para se porem ao fresco e só não aconteceu o mesmo aos restantes por mera sorte e voluntarismo de um GNR que " ao presenciar a passagem de pessoas pelo topo do morro, a praça da GNR apercebeu-se de que se tratava de uma fuga"...
O jornalista Hernâni Santos de “O Jornal “ deu conta do modo como foram ridicularizados...

08 de Agosto - Tomada de posse do V Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves. 

11 de Agosto - Quando muitos dos militantes do P.C.P. tinham já saído da sede, que um grupo de marginais, chefiados pelos célebres cadastrados irmãos “Corrécios” com desperdícios a arder, pegaram fogo ao rés-do-chão da casa onde funcionava o escritório de uma empresa de camionagem, onde se encontrava um bidão com combustível cuja explosão se propagou rapidamente à velha casa, sede do PCP. Este ataque levou à destruição total do edifício, bem como do seu conteúdo.

18 de Agosto - famoso discurso de Vasco Gonçalves (em Almada). 

Em plenoVerãoQuente de 1975, Portugal suspendeu a aplicação dos Acordos de Alvor em Angola, assumindo, assim, a sua impotência para travar a escalada do conflito que opunha MPLA, FNLA e UNITA. E que levara já o movimento de Agostinho Neto a expulsar de Luanda as restantes formações.

22 de Agosto . Em Lisboa, Vasco Gonçalves vivia os últimos dias como primeiro-ministro e Carlos Fabião (que chefiava o Estado-Maior do Exército) tentava, com o apoio de Costa Gomes, formar um executivo que lhe sucedesse, evitando o braço-de-ferro que já se anunciava entre a Esquerda Militar e o Grupo dos Nove, tendo Otelo Saraiva de Carvalho pelo meio. 

25 de Agosto - Oficialmente é criada, a FUR (Frente de Unidade Revolucionária), claramente afecta ao COPCON. Aderem: FSP, LCI, LUAR, MDP/CDE, MES, PCP, PRP/BR e 1º de Maio.

 Manifesto da FUR ( Foto da net )


Em Agosto de 1975, surgiram os SUV (Soldados Unidos Vencerão). Os SUV eram grupos de militares que actuavam no interior dos quartéis com vista a promover a auto-organização política dos militares. Tratava-se de uma organização clandestina no interior das Forças Armadas e incluía, não só soldados como também alguns graduados.

Fotos da net 



30 de Agosto - Vasco Gonçalves é demitido do cargo de Primeiro Ministro. Iniciam-se as negociações para a formação do VI Governo Provisório, PS/PPD/PC.

01 de Setembro - Ocupação do Banco de Angola pelos Retornados em Lisboa, para trocarem escudos Angolanos por escudos Portugueses.



 Banco de Angola ( Foto net )
 

02 de Setembro
- pronunciamento de Tancos contra Vasco Gonçalves

10 de Setembro - Desvio de 1000 espingardas automáticas G3 do DGM 6 em Beirolas.

10 de Setembro - Em Angola começa a ponte aérea; 1500 refugiados chegam a Lisboa. 

11 de Setembro - Manifestação dos SUV no Porto, numa tentativa de criar no seio das Forças Armadas uma zona de influência adepta do Poder Popular de Base como advogavam alguns partidos da chamada esquerda revolucionária.

19 de Setembro - Posse do VI Governo Provisório, chefiado pelo almirante Pinheiro de Azevedo

21 de Setembro - Bomba na messe da Marinha em Cascais onde dormia Pinheiro de Azevedo.

21 e 22 de Setembro - Agudiza-se a luta política nas ruas: manifestação dos Deficientes das Forças Armadas com ocupação de portagens de acesso a Lisboa e tentativa de sequestro do Governo.

25 de Setembro - Nova manifestação dos SUV em Lisboa. Na intenção de retirar poderes ao COPCON o Governo cria o AMI - Agrupamento Militar de Intervenção.

 Fotos da net 

 
27 de Setembro - Manifestantes de partidos de esquerda assaltam, destroem seguido de um incêndio as instalações da Embaixada de Espanha como medida de protesto contra a execução pelo garrote de cinco nacionalistas bascos, decidida pelo governo ditatorial do Generalíssimo Franco.

 

 Embaixada de Espanha em Lisboa

29 de Setembro de 1975, os estúdios de várias rádios e da Rádio e Televisão de Portugal (RTP) foram ocupados por decisão tomada numa reunião onde estiveram presentes Pinheiro de Azevedo, primeiro-ministro e também Presidente da República interino (Resolução DD1479), vários elementos do Conselho da Revolução .

08 de Outubro - 50 feridos nos confrontos junto ao Regimento de Artilharia da Serra do Pilar, no Porto ,

 09 de Outubro - quando colavam cartazes junto à Praça do Comércio, um grupo do MRPP foi atacado por elementos da UDP e da ORPC (m-l) que os empurraram para o cais e os atiraram ao Rio Tejo, resultando daí a morte por afogamento de Alexandrino de Sousa, que não sabia nadar

15 de Outubro - Manifestação dos SUV em Évora.

18 de Outubro - Incendiada sede da UDP no Porto.

06 de Novembro - grande debate entre Mário Soares e Álvaro Cunhal na RTP, com o célebre «olhe que não, olhe que não!»

 «olhe que não, olhe que não!»
 

 07 de Novembro - Por ordem do Governo, o recém-criado AMI, faz explodir os emissores da Rádio Renascença.

09 de Novembro - Famosa manifestação a favor do governo no Terreiro do Paço, com o deflagrar de granadas de fumo, dando origem à celebre frase do primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo: «o povo é sereno. É só fumaça».

 11 de Novembro - Independência de Angola.

 

 Recolha da Bandeira Portuguesa
 

12 de Novembro - Manifestação de trabalhadores da construção civil cercam o Palácio de S. Bento sequestrando os deputados. Em resposta às vaias dos trabalhadores o primeiro-ministro respondeu com um contundente “vão todos bardamerda”.

20 de Novembro - o Governo entra em greve e suspende o exercício da sua actividade, acto inédito no mundo. O Governo anuncia a suspensão das suas actividades alegando "falta de condições de segurança para exercício do governo do país".

Nesse chamado Verão quente a indisciplina, notava-se na rua nos estabelecimentos Comerciais e também nas viagens de comboio que fazia entre Lisboa e Porto, quando ia passar alguns fins-de-semana a Guimarães. Assisti a cenas bastante lamentáveis, nos comboios especiais para militares, protagonizadas por alguns elementos quando eram abordados pelo revisor, pois houve uma altura em que havia uma recusa generalizada em pagar a viagem e já quase ninguém comprava bilhete, o que provocava conflitos com os funcionários da C.P., isto numa altura em que o preço das viagens para militares correspondia a 50% do bilhete normal, antes da redução que ocorreu posteriormente em que o preço passou a ser de ¼ do custo total.

O chamado “verão quente de 1975” foi um período alucinante, que só terminaria no dia 25 de Novembro. O 25 de Novembro de 1975 foi o golpe militar que pôs fim à influência da esquerda radical iniciada em Portugal com o 25 de Abril de 1974. Após um Verão Quente de disputas entre forças revolucionárias e forças moderadas, pela ocupação do poder do  Conselho da Revolução, civis e militares.

Na continuidade do 25 de Novembro o PREC acalmou a sua politica. Ramalho Eanes, sendo de Esquerda não era comunista e por conseguinte durante algum tempo o ambiente politico social serenou. Mas os derrotados do 25 de Novembro, os utópicos da revolução não ficaram quietos nem calados.

Mais tarde começaram a explodir “ engenhos” reivindicados pelas chamadas Forças Populares 25 de Abril ( FP25 ) foram uma organização armada clandestina de extrema – esquerda que operou em Portugal entre os anos de 1980 a 1987 . Ainda está para contar toda a história desta organização clandestina.

A figura mais conhecida das FP 25 foi Otelo Saraiva de Carvalho que nunca se assumiu como membro do grupo armado FP-25. Foi condenado e amnistiado. 

 

 Frente Popular 25 de Abril

ZÉ ANTUNES

1975
 





 
 

27/09/2015

ASSALTO À EMBAIXADA DE ESPANHA

Assalto à Embaixada de Espanha. Invoca-se um protesto contra os cinco Bascos que vão ser condenados á morte, três deles por fusilamento e dois deles executados a 27 de Setembro de 1975, por meio de garrote. A manifestação contra a execução dos bascos pelo regime de Franco, a embaixada de Espanha em Lisboa é assaltada, saqueada e incendiada.
 


 Embaixada incêndia ( foto net )


 Em Lisboa, em contrapartida dos ataques ao partidos de esquerda, é assaltado na noite de 26 de Setembro o consulado de Espanha por elementos da extrema-esquerda conotados com a UDP, porventura infiltrados por elementos não identificados, a pretexto da repressão em Espanha de independentistas bascos. A embaixada é incendiada a 27 de Setembro . Imagens dos assaltos são destacadas nos EUA pela cadeia de televisão CBS.
 
 
 
                         Prédio da Av. da liberdade 141 e Embaixada de Espanha




Já era do domínio público que em Espanha, por sentença dos tribunais, foram condenados à morte os jovens terroristas, o que provocou forte reacção em toda a Europa, tanto no campo diplomático como nas áreas populares, muito especialmente por Franco não ter comutado a pena. 



 

 Os últimos assassinados por Franco
 

 
Dois dos condenados foram executados e, entre nós, a reacção fui muito empolada, nomeadamente pela Rádio que, a partir da meia-noite do dia de execução, principiou a incitar as massas populares para, como desagravo, assaltarem a Embaixada e o Consulado de Espanha. Até o poeta Miguel Torga, redigiu um texto de protesto (que muito contribuiu para encorajar o assalto) e que foi lido aos microfones da então chamada Emissora Nacional pelo próprio e depois repetido por um dos poetas do PC, Ary dos Santos.


 
 Ary dos Santos
 

 
Condenados à morte por terrorismo, não se livraram da pena, apesar dos pedidos de clemência enviados de todo o Mundo. Os dois ‘etarras’ morreram presos ao garrote – uma máquina de horrores que aperta o pescoço aos condenados até os olhos lhes saltarem das órbitas. 
 
 
 

 Garrote ( foto net )
 

 Vivendo eu na Avenida da Liberdade no número 141 – 5º Andar, na altura dos acontecimento , acompanhei o saque à embaixada a par e passo.



     Predio da Av. da liberdade 141


 Os manifestantes forçaram a entrada, lá dentro destroem quadros de El Greco, rasgam os vestidos da embaixatriz e as casacas do embaixador, roubam jóias, lançam fogo ao mobiliário. Grossas colunas de fumo saem pelas janelas. No parque Mayer e na Rua do Salitre a população apoia e grita palavras de ordem : “A embaixada está a arder… E bem!” “ Deixem arder”.
 Quando nessa noite saí de casa para ir ver um espectáculo no Parque Mayer, eu e mais dois amigos o Carlos Clara e o Fernando Aderito dirigimonos à Cervejaria Ribadouro, para podermos jantar. Lá chegados constatamos que a Cervejaria se encontrava fechada por causa da manifestação, por ali ficamos a ver os acontecimentos, depois do incêndio extinto lá fomos assistir no Teatro Variedades, a revista à portuguesa “Adeus Valentina “ com a Famosissima Laura Alves. No fim do espetáculo pude ver e constatar o caos que ficou a fachada do Edificio e todo o lixo na rua. 

 



 Manifestação
 

O governo português fora informado por governos amigos de que em Portugal se previam represálias particularmente violentas. Tomaram-se as providências usuais nestes casos: o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Costa Gomes, chamou o general Fabião e responsabilizou-o pela segurança das missões diplomáticas espanholas, o general Fabião transmitiu as suas ordens à força operacional, que era o COPCON comandado por Otelo.

 

 Prédio da Av. da Liberdade 141 e Embaixada de Espanha
 

Este escolheu o RALIS como unidade encarregada de assegurar a referida segurança. Como era de prever, dado o caos reinante, o RALIS recusou-se a sair para cumprir a ordem recebida. Portanto, a responsabilidade principal pelo sucedido cabe aos oficiais que estavam de serviço naquele Regimento, um dos quais era o capitão Diniz de Almeida. A PSP também teve como missão defender a Embaixada mas, faltando-lhe o apoio do RALIS, com que contava, viu-se impotente para conter o ataque provocado pela Rádio. Sabia-se todas as ordens que foram emitidas pelo "quartel-general" aos marginais (entre os quais muitos militantes de partidos de esquerda) que assaltaram a embaixada e o consulado.
 

 
 Francisco Franco
 
 

No dia 20 de Novembro de 1975 morre o general de seu nome completo Francisco Paulino Hermenegildo Téodulo Franco y Barramonde, general e ditador fascista espanhol que governou a Espanha desde 1939, quando venceu a guerra civil.

A 29 de Dezembro de 1978 a Constituição espanhola aboliu a pena de morte, exceto em casos previstos lei militar em tempo de guerra. No seu artigo 15, o Código Penal Militar prevê a pena de morte como punição máxima por traição, rebelião militar, espionagem, sabotagem ou crimes de guerra.

 
ZÉ ANTUNES

1975







 
 

 

 


26/09/2015

VIAGEM A LUANDA


Incrível como as conversas sobre aquilo que não vemos mas que amigos nossos nos vão contando, sobre Luanda nos desperta o nosso consciente. Nestas férias de 2005, ter sabido de novidades de Luanda por intermédio do Mário Canário que está no Soio, do Belchior ( irmão do Zé Ideias ) que está em Luanda, do Sanguito que trabalha na Taag em Luanda, do Jorge Russo ( Russo da Garelly ) que está em Viana, e de outros avilos que quando veêm a Lisboa, o ponto de encontro é no Rossio onde a malta da Confraria os recebe para saber novidades. Depois de mais uma tertúlia báquica e gastronómica, fui para casa e deitei-me, adormeci, adormeci e sonhei, sonhei que...........

Teria que ir a Luanda, e a 26 de Setembro de 2005, cheguei a Luanda, ao fim da tarde, já quando a noite se ia fechando, tive oportunidade de ver a bordo do moderníssimo avião da Taag, Boeing 777, para 300 passageiros, toda a cidade de Luanda profundamente iluminada, o que me causou espanto pois tinham-me dito que havia muitas interrupções de luz e de água para abastecimento da cidade.



Boeing 777 da TAAG ( Foto net )
 

 O desembarque e a passagem pela Alfândega não teve, para mim, problemas, pois tinha amigos à minha espera que trataram de me abrir caminho e ninguém me pediu satisfações. Soube, no entanto, que por vezes os funcionários da Alfândega pedem a um ou outro passageiro para abrir as suas malas o que acontece também em qualquer aeroporto da Europa.

Mais à frente darei mais pormenores sobre a viagem para o centro da cidade, mas esta análise vai incidir somente sobre assuntos que possam ter interesse para os amigos do Bairro Popular nº 2, que na eventualidade de se deslocarem a Luanda. Um ponto importante devo mencionar, no Aeroporto de Luanda não se consegue arranjar transportes para o Centro da cidade, pois não há táxis nem maximbombos públicos.

Existem carros privados aos milhares, pintados de azul e branco. São carrinhas fechadas que transportam 8 a 10 passageiros cada uma, para serviço das populações locais que precisam de se deslocar dos muceques para o centro da cidade, pagando 500 Kuanzas cada passageiro, Aproveito a altura para informar que em Luanda o euro vale 100 Kuanzas e o dólar 80 kuanzas. O dólar é aceite com mais facilidade, em qualquer ponto, do que o Euro, mas existem casas de câmbio e Bancos que trocam euros por Kuanzas, sem problemas.



 
               Os chamados Taxis ( Candongueiros )

 
Existem empresas que alugam carros, com ou sem motorista. Não é aconselhável alugar carro sem motorista pois não conseguiriam guiar no actual trânsito da cidade. Também não aconselho a utilização das carrinhas azuis, onde facilmente seriam roubados. A cidade vai surpreende-los. De 1975 a 2005 nada foi feito para a aumentar. A única coisa que aumentou foi a construção indiscriminada de muceques com casas de madeira, de lata e algumas poucas de tijolos ou blocos de cimento.

Actualmente estão construídos ou em construção dezenas de grandes prédios, com 10 a 20 andares, muitos deles já habitados por grandes empresas. A vida em Luanda está mais cara do que em Lisboa. Um almoço ou jantar, com um prato, fruta ou doce, vinho, cerveja ou água e café não fica por menos de 2500 Kuanzas , 25 euros. Um café custa à volta de 200 Kuanzas dois euros. Não há problemas com Restaurantes. Por toda a parte se encontram bons restaurantes, com preços mais ou menos iguais. Os próprios hoteis e algumas pensões podem fornecer almoço ou jantar. A diária inclui o pequeno almoço, sendo pago á parte as restantes refeições.

Na Ilha de Luanda existem dezenas de Restaurantes, quase todos eles de bom nível. Alguns são Self-service, com preços mais em conta, existindo um grande restaurante com esse tipo de serviço, logo à saída da ponte mas na estrada de regresso á cidade. Pode-se escolher uma grande variedade de pratos, incluindo lagosta grelhada ou cozida, com os acompanhamentos à escolha, e o preço por kilo são sempre os mesmos, tomei conhecimento desses preços pois num dos almoços mais os meus amigos saboreamos lagosta grelhada e pagamos bem caro, ai constatei que Luanda é a cidade mais cara do mundo de verdade.

Na antiga Rua General Carmona, mesmo ao cimo da rua, do lado direito, junto *as antigas instalações do Grupo Desportivo da Fábrica Macambira*, existe um restaurante denominado Veneza pertencente a portugueses com um bom serviço. É um grande restaurante, para mais de 50 pessoas, onde uma dose de comida dá perfeitamente para duas pessoas. Várias vezes almocei lá e ainda ficava comida na travessa. Se pensam que vão encontrar os restaurantes cheios de angolanos, enganam-se! A maior percentagem de clientela é de portugueses ou estrangeiros. Grande percentagem de angolanos recebem salários em kuanzas que não lhes permitem frequentar restaurantes.

À noite a ilha de Luanda fica entupida com carros pois grande parte da população estrangeira janta nos Restaurantes da Ilha. Bebidas não faltam . As fábrica Cuca, Nocal e Eka foram privatizadas e estão a trabalhar bem. Cervejas portuguesa e holandesas aparecem por toda a parte. Vinho de Portugal há de todas as marcas e produtores e é o preferido por todas as classe sociais, mas os preços são altos. Um fino (Imperial) custa quase 2 euros. Não devem beber água da Companhia pois embora seja tratada não merece grande confiança. Não vi ninguém beber dessa água. Mas água engarrafada, em garrafas de plástico, pequenas e grandes, há de todas as marcas portuguesas e francesas.

A cidade está invadida por vendedores ambulantes. Vendem de tudo, desde alfinetes até rádios, televisões, barracas de praia e até preservativos, se necessitarem. Mas atenção a esses vendedores, começam por um preço muito alto e chegam a vender por metade do preço e ainda menos. Também não deixam de roubar o que o cliente tiver à mão, desde que tenham oportunidade para isso.

O Bairro Popular nº2, que agora se chama Neves Bendinha, desistam de o visitar. Visitei o Bairro e fiquei deprimido com o que vi ou não vi. O asfalto acabou! Nem na estrada principal de acesso ao Bairro ele existe. Todas as ruas do Bairro são ornamentadas com buracos que um carro normal não pode transpor. As casas estão irreconhecíveis. Para encontrar a minha casa que habitei durante 20 anos, tive de subir e descer a rua de Serpa várias vezes e mentalmente ir vendo quem outrora, morava nelas, pois todas as casas estão praticamente tapadas por tapumes de madeira ou de lata, construídas no pequeno espaço de quintal e jardim que as casas tinham à frente. O lixo está amontoado em toda a parte, nalguns pontos dificultando o trânsito. 


 
 Bairro Popular nº 2 ( Cine São João )

 
O cinema foi vendido a uma seita religiosa cujo nome não fixei. A escola primária foi fechada e serve agora de escola industrial, com alunos de maioridade.

 


              Bairro Popular nº2 ( Escola Primária 176 )


Cheguei a pedir ao motorista que ali parasse, mas ele aconselhou-me a não o fazer pois muitos desses alunos são perigosos e ele lá tinha as suas razões para o afirmar. Só parámos perto da minha antiga casa para fazer perguntas a dois moradores que estavam à porta. Perguntei a razão daquele descalabro do Bairro e fui informado que a maioria dos antigos moradores angolanos, que tinham comprado as casas aos portugueses ou tomado conta delas, venderam as mesmas por bom preço aos refugiados do Zaire e do Mali que as pagaram por bom preço. 

 
                 Largo do Bairro Popular nº2 (Sapataria)
 

 
                     Bairro Popular nº 2 ( Rua da Gabela )


 
O Bairro foi praticamente abandonado à sua sorte e por isso vos digo: Não percam tempo a visitar um bairro que já não é bairro mas sim um amontoado de barracas ornamentadas pelo lixo que têm à porta.


                 Bairro Popular nº 2 ( Bar do Matias )

 

 Se persistirem em visitar o Bairro, não o façam num carro normal, terão de utilizar um Land-Rover e mesmo assim será necessária muita perícia do motorista. A rua de acesso que sai da Estrada de Catete, junto ao Cemitério de Santa Ana, a antiga Machado Saldanha está sempre pejada de viaturas, andando a 5 klms, por hora, tanto na ida como no regresso. 

 
                Bairro Popular nº 2 ( Rua Machado Saldanha )



 A própria Estrada de Catete, onde andei várias vezes, embora em razoável estado de conservação, comparando com a estrada para o Bairro, a todas as horas do dia, mantém intenso fluxo de viaturas, e metade desse tráfego é feita pelas carrinhas de passageiros, pintadas de azul e branco..

Para quem viaja sem ter onde ficar em Luanda , o principal problema é a saída no Aeroporto. Antes de viajar é preciso efectuar reservas num hotel. Tem que se tratar com eles para que um carro os vá buscar ao Aeroporto.. Não acontece com quem tenha pessoas a residir em Luanda que foi o meu caso, que tinha pessoas amigas à minha espera.

Uma visita à Ilha do Mussulo é indispensável. Há barcos rápidos para nos levar à Ilha onde existe um belíssimo Restaurante Self-service que nos apresenta mais de 20 pratos diferentes, à escolha. Também tive oportunidade de comer belas lagostas, saborosas gambas ou apetitosos caranguejos de Moçâmedes, expostos numa comprida mesa.. Há só um preço mas pode-se comer tudo o que nos apetecer. Quando lá estive esqueci-me de perguntar o preço, pois almocei lá, e paguei um dinheirão, mas se lá forem podem contactar o proprietário Sr. Gonçalves, que é português. Em conversa com ele vim a saber que tinha um irmão que trabalhou na Fábrica Imperial de Borracha e que eu conheci, nos meus tempos de estudante. 


 
                                                                    Ilha do Mussulo


 Está em construção uma auto - estrada que sai da Samba, contonado Viana e vai até ao Cacuaco ( Via Expresso ). Alguns quilómetros, logo à saída de Luanda, já estão operacionais. Também na Praia do Bispo está em construção outra auto - estrada. Toda a zona da Xicala estava transformada em muceque, com centenas de barracas, mas o Governo mandou-as demolir, colocou os seus moradores em Viana, e no Cazenga, em casas construídas pelo Governo, só para que a estrada fosse iniciada.

Uma visita à barra do Kuanza também é aconselhável. Já ali existe um Restaurante Self-service muito bom. O Cabo Ledo, a uns 10 klms. também tem Restaurante e toda a zona está linda, com uma praia maravilhosa. A ponte sobre o Kuanza foi restaurada, mas tem de se pagar portagem.

Se não quiserem sair de Luanda têm as praias da Ilha que estão muito limpas, principalmente na ponta da Ilha onde existem muitos restaurantes com praias privativas. Algumas alugam cadeiras e chapéus de sol pelo preço de 300 kuanzas.

Em todas as cervejarias e restaurantes pode – se pedir um prego no pão ou um prego no prato, como nos tempos antigos. Quem é que nunca se deliciou com um bom prego no pão, com ou sem gindungo? Depois da independência isso acabou, pois não havia carne mas agora até há carne demais.

Luanda, vias secundárias e terciárias do Bairro Popular nº 2 no município do Kilamba Kiaxi estão fechadas ao trânsito, para remodelação que se irá iniciar, no quadro do Programa de Reabilitação de Infra - estruturas a nível de Luanda.

Enquadradas no Programa da gestão municipal, os trabalhos estão a cargo de uma empreiteira que atua na circunscrição de modo faseado. Segundo constatei, a obra contempla o asfaltamento dos arruamentos, construção de passeios e lancis, iluminação pública, arborização e sinalização, bem como a restauração do sistema de distribuição de água potável e rede de esgoto. Isto é o que se consta no Bairro.
A intervenção está a contar com a colaboração da EDEL (Empresa de distribuição de Eletricidade) e EPAL (Empresa Provincial de Abastecimento de Água de Luanda) para não obstruir o abastecimento de água, fornecimento e distribuição de energia elétrica na área.  

Para o êxito da empreitada de desenvolvimento urbano de vias integradas, o trânsito ficou fechado em várias ruas, tais como a principal Machado Saldanha ( só se vai circular num sentido entrada para o Bairro a saída será pela rua ao fundo do Cemitério), Ruas de Vila Viçosa, do Crato, do Cubal e do Andulo.

No largo está projetado um jardim infantil e um ringue para a pratica de desportos ( futsal, basquetebol e outros ) vai ficar mesmo defronte da Igreja de Santa Ana.


 

               Bairro Popular nº 2 ( Igreja de Santa Ana )

A Cidade está diferente. Zonas e edifícios novos muito bonitos. E mil e uma histórias de vida marcadas pelo ritmo e cultura Angolana. A baía. Sempre a bela Baía, a vista lindíssima da marginal, mas os arredores em total e degradação principalmente os bairros de Luanda.

Voltei a Lisboa feliz por ter visto Luanda 30 anos depois, mas triste por toda a inercia e degradação, mas na baixa de Luanda vi a cidade a crescer como um ritmo alucinabte.

 
 

ZÉ ANTUNES

2005