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26/09/2015

VIAGEM A LUANDA


Incrível como as conversas sobre aquilo que não vemos mas que amigos nossos nos vão contando, sobre Luanda nos desperta o nosso consciente. Nestas férias de 2005, ter sabido de novidades de Luanda por intermédio do Mário Canário que está no Soio, do Belchior ( irmão do Zé Ideias ) que está em Luanda, do Sanguito que trabalha na Taag em Luanda, do Jorge Russo ( Russo da Garelly ) que está em Viana, e de outros avilos que quando veêm a Lisboa, o ponto de encontro é no Rossio onde a malta da Confraria os recebe para saber novidades. Depois de mais uma tertúlia báquica e gastronómica, fui para casa e deitei-me, adormeci, adormeci e sonhei, sonhei que...........

Teria que ir a Luanda, e a 26 de Setembro de 2005, cheguei a Luanda, ao fim da tarde, já quando a noite se ia fechando, tive oportunidade de ver a bordo do moderníssimo avião da Taag, Boeing 777, para 300 passageiros, toda a cidade de Luanda profundamente iluminada, o que me causou espanto pois tinham-me dito que havia muitas interrupções de luz e de água para abastecimento da cidade.



Boeing 777 da TAAG ( Foto net )
 

 O desembarque e a passagem pela Alfândega não teve, para mim, problemas, pois tinha amigos à minha espera que trataram de me abrir caminho e ninguém me pediu satisfações. Soube, no entanto, que por vezes os funcionários da Alfândega pedem a um ou outro passageiro para abrir as suas malas o que acontece também em qualquer aeroporto da Europa.

Mais à frente darei mais pormenores sobre a viagem para o centro da cidade, mas esta análise vai incidir somente sobre assuntos que possam ter interesse para os amigos do Bairro Popular nº 2, que na eventualidade de se deslocarem a Luanda. Um ponto importante devo mencionar, no Aeroporto de Luanda não se consegue arranjar transportes para o Centro da cidade, pois não há táxis nem maximbombos públicos.

Existem carros privados aos milhares, pintados de azul e branco. São carrinhas fechadas que transportam 8 a 10 passageiros cada uma, para serviço das populações locais que precisam de se deslocar dos muceques para o centro da cidade, pagando 500 Kuanzas cada passageiro, Aproveito a altura para informar que em Luanda o euro vale 100 Kuanzas e o dólar 80 kuanzas. O dólar é aceite com mais facilidade, em qualquer ponto, do que o Euro, mas existem casas de câmbio e Bancos que trocam euros por Kuanzas, sem problemas.



 
               Os chamados Taxis ( Candongueiros )

 
Existem empresas que alugam carros, com ou sem motorista. Não é aconselhável alugar carro sem motorista pois não conseguiriam guiar no actual trânsito da cidade. Também não aconselho a utilização das carrinhas azuis, onde facilmente seriam roubados. A cidade vai surpreende-los. De 1975 a 2005 nada foi feito para a aumentar. A única coisa que aumentou foi a construção indiscriminada de muceques com casas de madeira, de lata e algumas poucas de tijolos ou blocos de cimento.

Actualmente estão construídos ou em construção dezenas de grandes prédios, com 10 a 20 andares, muitos deles já habitados por grandes empresas. A vida em Luanda está mais cara do que em Lisboa. Um almoço ou jantar, com um prato, fruta ou doce, vinho, cerveja ou água e café não fica por menos de 2500 Kuanzas , 25 euros. Um café custa à volta de 200 Kuanzas dois euros. Não há problemas com Restaurantes. Por toda a parte se encontram bons restaurantes, com preços mais ou menos iguais. Os próprios hoteis e algumas pensões podem fornecer almoço ou jantar. A diária inclui o pequeno almoço, sendo pago á parte as restantes refeições.

Na Ilha de Luanda existem dezenas de Restaurantes, quase todos eles de bom nível. Alguns são Self-service, com preços mais em conta, existindo um grande restaurante com esse tipo de serviço, logo à saída da ponte mas na estrada de regresso á cidade. Pode-se escolher uma grande variedade de pratos, incluindo lagosta grelhada ou cozida, com os acompanhamentos à escolha, e o preço por kilo são sempre os mesmos, tomei conhecimento desses preços pois num dos almoços mais os meus amigos saboreamos lagosta grelhada e pagamos bem caro, ai constatei que Luanda é a cidade mais cara do mundo de verdade.

Na antiga Rua General Carmona, mesmo ao cimo da rua, do lado direito, junto *as antigas instalações do Grupo Desportivo da Fábrica Macambira*, existe um restaurante denominado Veneza pertencente a portugueses com um bom serviço. É um grande restaurante, para mais de 50 pessoas, onde uma dose de comida dá perfeitamente para duas pessoas. Várias vezes almocei lá e ainda ficava comida na travessa. Se pensam que vão encontrar os restaurantes cheios de angolanos, enganam-se! A maior percentagem de clientela é de portugueses ou estrangeiros. Grande percentagem de angolanos recebem salários em kuanzas que não lhes permitem frequentar restaurantes.

À noite a ilha de Luanda fica entupida com carros pois grande parte da população estrangeira janta nos Restaurantes da Ilha. Bebidas não faltam . As fábrica Cuca, Nocal e Eka foram privatizadas e estão a trabalhar bem. Cervejas portuguesa e holandesas aparecem por toda a parte. Vinho de Portugal há de todas as marcas e produtores e é o preferido por todas as classe sociais, mas os preços são altos. Um fino (Imperial) custa quase 2 euros. Não devem beber água da Companhia pois embora seja tratada não merece grande confiança. Não vi ninguém beber dessa água. Mas água engarrafada, em garrafas de plástico, pequenas e grandes, há de todas as marcas portuguesas e francesas.

A cidade está invadida por vendedores ambulantes. Vendem de tudo, desde alfinetes até rádios, televisões, barracas de praia e até preservativos, se necessitarem. Mas atenção a esses vendedores, começam por um preço muito alto e chegam a vender por metade do preço e ainda menos. Também não deixam de roubar o que o cliente tiver à mão, desde que tenham oportunidade para isso.

O Bairro Popular nº2, que agora se chama Neves Bendinha, desistam de o visitar. Visitei o Bairro e fiquei deprimido com o que vi ou não vi. O asfalto acabou! Nem na estrada principal de acesso ao Bairro ele existe. Todas as ruas do Bairro são ornamentadas com buracos que um carro normal não pode transpor. As casas estão irreconhecíveis. Para encontrar a minha casa que habitei durante 20 anos, tive de subir e descer a rua de Serpa várias vezes e mentalmente ir vendo quem outrora, morava nelas, pois todas as casas estão praticamente tapadas por tapumes de madeira ou de lata, construídas no pequeno espaço de quintal e jardim que as casas tinham à frente. O lixo está amontoado em toda a parte, nalguns pontos dificultando o trânsito. 


 
 Bairro Popular nº 2 ( Cine São João )

 
O cinema foi vendido a uma seita religiosa cujo nome não fixei. A escola primária foi fechada e serve agora de escola industrial, com alunos de maioridade.

 


              Bairro Popular nº2 ( Escola Primária 176 )


Cheguei a pedir ao motorista que ali parasse, mas ele aconselhou-me a não o fazer pois muitos desses alunos são perigosos e ele lá tinha as suas razões para o afirmar. Só parámos perto da minha antiga casa para fazer perguntas a dois moradores que estavam à porta. Perguntei a razão daquele descalabro do Bairro e fui informado que a maioria dos antigos moradores angolanos, que tinham comprado as casas aos portugueses ou tomado conta delas, venderam as mesmas por bom preço aos refugiados do Zaire e do Mali que as pagaram por bom preço. 

 
                 Largo do Bairro Popular nº2 (Sapataria)
 

 
                     Bairro Popular nº 2 ( Rua da Gabela )


 
O Bairro foi praticamente abandonado à sua sorte e por isso vos digo: Não percam tempo a visitar um bairro que já não é bairro mas sim um amontoado de barracas ornamentadas pelo lixo que têm à porta.


                 Bairro Popular nº 2 ( Bar do Matias )

 

 Se persistirem em visitar o Bairro, não o façam num carro normal, terão de utilizar um Land-Rover e mesmo assim será necessária muita perícia do motorista. A rua de acesso que sai da Estrada de Catete, junto ao Cemitério de Santa Ana, a antiga Machado Saldanha está sempre pejada de viaturas, andando a 5 klms, por hora, tanto na ida como no regresso. 

 
                Bairro Popular nº 2 ( Rua Machado Saldanha )



 A própria Estrada de Catete, onde andei várias vezes, embora em razoável estado de conservação, comparando com a estrada para o Bairro, a todas as horas do dia, mantém intenso fluxo de viaturas, e metade desse tráfego é feita pelas carrinhas de passageiros, pintadas de azul e branco..

Para quem viaja sem ter onde ficar em Luanda , o principal problema é a saída no Aeroporto. Antes de viajar é preciso efectuar reservas num hotel. Tem que se tratar com eles para que um carro os vá buscar ao Aeroporto.. Não acontece com quem tenha pessoas a residir em Luanda que foi o meu caso, que tinha pessoas amigas à minha espera.

Uma visita à Ilha do Mussulo é indispensável. Há barcos rápidos para nos levar à Ilha onde existe um belíssimo Restaurante Self-service que nos apresenta mais de 20 pratos diferentes, à escolha. Também tive oportunidade de comer belas lagostas, saborosas gambas ou apetitosos caranguejos de Moçâmedes, expostos numa comprida mesa.. Há só um preço mas pode-se comer tudo o que nos apetecer. Quando lá estive esqueci-me de perguntar o preço, pois almocei lá, e paguei um dinheirão, mas se lá forem podem contactar o proprietário Sr. Gonçalves, que é português. Em conversa com ele vim a saber que tinha um irmão que trabalhou na Fábrica Imperial de Borracha e que eu conheci, nos meus tempos de estudante. 


 
                                                                    Ilha do Mussulo


 Está em construção uma auto - estrada que sai da Samba, contonado Viana e vai até ao Cacuaco ( Via Expresso ). Alguns quilómetros, logo à saída de Luanda, já estão operacionais. Também na Praia do Bispo está em construção outra auto - estrada. Toda a zona da Xicala estava transformada em muceque, com centenas de barracas, mas o Governo mandou-as demolir, colocou os seus moradores em Viana, e no Cazenga, em casas construídas pelo Governo, só para que a estrada fosse iniciada.

Uma visita à barra do Kuanza também é aconselhável. Já ali existe um Restaurante Self-service muito bom. O Cabo Ledo, a uns 10 klms. também tem Restaurante e toda a zona está linda, com uma praia maravilhosa. A ponte sobre o Kuanza foi restaurada, mas tem de se pagar portagem.

Se não quiserem sair de Luanda têm as praias da Ilha que estão muito limpas, principalmente na ponta da Ilha onde existem muitos restaurantes com praias privativas. Algumas alugam cadeiras e chapéus de sol pelo preço de 300 kuanzas.

Em todas as cervejarias e restaurantes pode – se pedir um prego no pão ou um prego no prato, como nos tempos antigos. Quem é que nunca se deliciou com um bom prego no pão, com ou sem gindungo? Depois da independência isso acabou, pois não havia carne mas agora até há carne demais.

Luanda, vias secundárias e terciárias do Bairro Popular nº 2 no município do Kilamba Kiaxi estão fechadas ao trânsito, para remodelação que se irá iniciar, no quadro do Programa de Reabilitação de Infra - estruturas a nível de Luanda.

Enquadradas no Programa da gestão municipal, os trabalhos estão a cargo de uma empreiteira que atua na circunscrição de modo faseado. Segundo constatei, a obra contempla o asfaltamento dos arruamentos, construção de passeios e lancis, iluminação pública, arborização e sinalização, bem como a restauração do sistema de distribuição de água potável e rede de esgoto. Isto é o que se consta no Bairro.
A intervenção está a contar com a colaboração da EDEL (Empresa de distribuição de Eletricidade) e EPAL (Empresa Provincial de Abastecimento de Água de Luanda) para não obstruir o abastecimento de água, fornecimento e distribuição de energia elétrica na área.  

Para o êxito da empreitada de desenvolvimento urbano de vias integradas, o trânsito ficou fechado em várias ruas, tais como a principal Machado Saldanha ( só se vai circular num sentido entrada para o Bairro a saída será pela rua ao fundo do Cemitério), Ruas de Vila Viçosa, do Crato, do Cubal e do Andulo.

No largo está projetado um jardim infantil e um ringue para a pratica de desportos ( futsal, basquetebol e outros ) vai ficar mesmo defronte da Igreja de Santa Ana.


 

               Bairro Popular nº 2 ( Igreja de Santa Ana )

A Cidade está diferente. Zonas e edifícios novos muito bonitos. E mil e uma histórias de vida marcadas pelo ritmo e cultura Angolana. A baía. Sempre a bela Baía, a vista lindíssima da marginal, mas os arredores em total e degradação principalmente os bairros de Luanda.

Voltei a Lisboa feliz por ter visto Luanda 30 anos depois, mas triste por toda a inercia e degradação, mas na baixa de Luanda vi a cidade a crescer como um ritmo alucinabte.

 
 

ZÉ ANTUNES

2005




 
 

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