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29/04/2014

"A EUROPA MORREU EM CHIPRE”!


Portugal vive “atafulhado” de Economistas, daqueles Mestres dos números ligados à Ciência das grandezas, do raciocínio lógico e abstrato, das equações diferenciais, da “álgebra matricial” e programação matemática e outros métodos computacionais. É a matemática, que permite aos economistas formular proposições significativas e testáveis sobre muitos assuntos complexos e abrangentes que não poderiam ser adequadamente expressas informalmente. É essa linguagem, que leva os economistas a fazer afirmações claras, específicas e positivas sobre esses assuntos controversos ou“ contenciosos” que seriam impossíveis. 

Mas, concretamente, o que é a economia? Não é a Organização, ou a distribuição da produção em função das populações e do seu bem-estar? Ou é a utilização ou a marginalização das populações em função de flutuações financeiras anárquicas, sem ligação com as pessoas, mas exclusivamente ligadas ao lucro, em detrimento delas? Estaremos numa verdadeira economia ou, pelo contrário, na sua negação? É que no meio de tantas previsões e perante essa miséria agravada das populações, confundimos o escamoteamento da economia com o da política. Ou seja, os poderes políticos com o poderio económico. Já se sabe que a ideologia neoliberal, não respeita as leis da economia nem as obrigações do direito. Quando Viriato Soromenho-Marques escreve que “a Europa morreu em Chipre”, acrescentando: 

“Com ela, uma certa "Europa do humanismo e da solidariedade também”! E talvez para sempre, porque a capitulação daquele pequeno país prova que a mutação do ideal social em um estado omnipotente e autoritário (a Alemanha é que manda, até por interpostas economias) não é capricho do acaso, sim um projeto hegemónico (supremo) e perigosíssimo, pode conduzir à guerra (avisou Jean-Claude Junker). 

Mas há uma pergunta a formular: alguma vez essa "Europa do humanismo e da solidariedade" existiu? Meus Senhores: é o capitalismo que ordena as coisas e a própria vida das pessoas, que chegou excessivamente longe, com o apoio das irresponsabilidades e das cedências de quem devia ter uma posição moral irredutível. Nesta conjuntura avultam muitas traições e imprevidências. Chegámos a esta miséria. E agora? 

“Salvemos os bancos!”

Cruz dos Santos
2014
 

16/04/2014

MERCEDES NOVO


No ano de 1973/74 a mãe do Carlos pediu-lhe para ele ir comprar uma botija de gás. Ele pega no carro novo do pai um Mercedes- Benz, que mais tarde se iria transformar em Táxi, e em vez de ir ao Sr. Amaro comprar o gás, Carlos chama o Zé Barata que era seu vizinho e lá foram eles em direção ao embarcadouro do Kaposoca e do Kitoco que faziam a ligação Luanda - ilha do Mussulo, grande aventura ( imaginem ele sem carta), chegados ai á entrada tinham que virar a direita para descer até ao parque onde se estacionam as viaturas .

De repente o automóvel deu uma escorregadela de traseira e o nosso amigo Carlos inexperiente na arte de conduzir pisou a fundo nos travões, o carro derrapou e desceu a ribanceira a direito, Carlos aflito e com o pé nos travões, parou a um metro de uma árvore, ficando a viatura enterrada até a abertura da porta.

Carlos na altura ficou aflito, pois a hora do almoço estava a chegar e o automóvel não estava na garagem, seu pai iria dar por falta da viatura.

Começou-se a juntar pessoas na parte alta da ribanceira fazendo os normais comentários quando senas destas acontecem:

Alguém se feriu!!! Perguntaram…

Tudo bem só o automóvel é que ficou aqui na areia enterrado!!! Respondeu…

Apareceu o fornecedor que enviava o pão para a Ilha do Mússulo, e com a boleia dele vieram para Luanda e foram ter com os Bombeiros ( naquele tempo não existiam telemóveis )

Lá conseguiram que os bombeiros os fossem socorrer tiveram que levar uma grua para içar o belo Mercedes-Benz ladeira acima.

Nosso amigo Carlos chegou a casa sem o gás, encostou o automóvel junto á parede da garagem, porque tinha amassado a parte da embaladeira debaixo da porta do pendura, tomou um banho rápido de mangueira no quintal,

O pai do Carlos só deu conta dois dias depois, da parte acidentada do carro, e só soube da história quando chegaram ao Brasil.

( história do Carlos Alberto )

 
Zé Antunes
1973

11/04/2014

HÁ CRISE FINANCEIRA? OU FALTA DE MORAL?


Sim, há de facto uma crise na vida política portuguesa. Não é uma crise do sistema ou das instituições, mas sim uma crise a nível do carácter e dos valores das pessoas que fazem parte dessas mesmas edificações. O que é grave na crise, é que ela não é conjuntural. Não! O grave é que as demissões, os escândalos e as acusações cruzadas, são o resultado de um mal que vem das profundezas e que vai crescendo como um cancro, roendo aos poucos a credibilidade do regime. Parece que nada se discute e tudo se admite, com subserviência e resignação.

A crise é outra coisa. É a consciência da absoluta incapacidade dos dirigentes para as funções que desempenham e que só exercem como resultado da inaptidão e incompetência. Mas o mal além de ser profundo, está instalado. O mal é este clima político, sem uma fiscalização, sem uma auditoria rigorosa (os relatórios de uma auditoria são fontes seguras de orientação imparcial e especializada para os negócios), sem um exame minucioso, sem um escrutínio moral e já quase sem vergonha, onde, à superfície, temos os senhores regionais e a sua teia de “clientelismo” partidário larvar e, nos “subterrâneos do sistema”, temos o jogo escondido de influências e mútuos álibis entre empreiteiros, sucateiros e organismos públicos, entre grandes empresas e grandes escritórios de “advogados-governantes”, entre lugares públicos e lojas de irmãos maçons, entre privatizações e influências políticas, entre negócios nos PALOP e política externa do Estado, entre dinheiros públicos e universidades privadas, centros de saúde e hospitais privados, autódromos privados, urbanizações privadas, está tudo privado! Até nós, infelizmente, já estamos privados de liberdade.

Meus Senhores, já basta de tanta polémica ligada à “crise”, ao “défice”, à “austeridade”, enfim, a todos esses medos, que ultimamente nos têm vindo a ameaçar. Já enjoa isso tudo! É preciso que alguém diga aos portugueses o caminho que este país está a levar. Um país que empobrece, que se torna cada vez mais desigual, em que as desigualdades não têm fundamento, a maior parte delas são desigualdades ilegítimas, numa sociedade onde uns empobrecem sem justificação e outros se tornam multimilionários de um dia para o outro, é um “caldo de cultura”, que pode acabar mal. Aliás, a maioria de nós, receia mesmo que acabe e…muito mal! Os portugueses que interpretem o que quiserem.

Cruz dos Santos

2014

 

01/04/2014

SAUDADES AIUÉ SAUDADES

Ah!...Como eu gostaria de te ver de novo LUANDA! Regressar ao meu bairro, correr naqueles teus “becos” malucos, pisar a tua terra vermelha, “chapinar” nos teus “charcos”, ouvir o “tamborilar” da chuva a cair no telhado de zinco, na cubata de adobe, rebocada e caiada a cal; caçar os “kinjongos” nas “barrocas” da “Casa Branca”; “pelejar” nas areias quentes da tua ilha; mergulhar, dar umas “fimbas” naquelas tuas ondas do Mussulo; andar descalço nas tuas “picadas”; sentar na “Tasca” do “Zé-Kituba”, beber, uma laranjada “Mission”, comer doce de ginguba, feitos pela Tia Donana…AIUÉ minha Nossa Senhora! AIUÉ, que saudades! 

A vida ali era diferente. Não era igual no Rangel, nem quando a gente morava no “BÊ-Ó”, ou no Bairro de São Paulo”! Mas…porque razão, as nossas “Kintandeiras” e todas aquelas Mulheres que usavam panos de “chita”, nunca se sentavam nos bares ao pé da gente? Mesmo eu nunca vi as mulheres antigas, como a minha mãe, e as amigas dela, se sentar nesses sítios, mas porquê, então? Também era mania delas! Eu lhes disse uma vez: Minhas Senhoras: mi desculpem, porque não tiram esses “mileles negros” e estas sandálias di pneu e, nos fazem companhia? Insistia: “muxoxou”, me respondiam: -“Esta é a nossa roupa…Vocês d’agora não prestam!” Como lhes conhecia bem, cresci com elas no Sambizanga, não mais diantava conversar, ficavam com as zangas delas e me davam uma “Berrida”! 

Mas eu via bem que o coração delas estavam da cor dos panos coloridos, que usavam no domingo. Nenhum de nós esquece mais esses momentos! Se eu mesmo naqueles tempos, me dedicava mais, a brincar às escondidas, ou a “cabra cega”, ou ainda “dá-me fogo…vai ali”, ainda que estava melhor. Mas nas aulas, nos recreios e até no catecismo, só queria falar das minhas “gajas”, quase todas minhas namoradas. E quando, algumas delas me falavam no “Cine São João”?! e me convidavam, eu ficava “arrasca”, porque ainda era “kandengue” p’rá entrar no cinema e, mais a mais, com o Fernando Sabú na porta! –“Onde é que pensas que vais ó Miúdo?” Perguntava-me ele, todo cheio de peneiras, parecia ser ele, o “dono daquela m….”! O irmão dele, o Artur, era um gajo fixe, diferente, por isso me dizia: -“Espera aí um koxe, que já te deixo entrar”! 

Na primeira vez que fui assistir a um filme, me assustei, com o barulho e assobios que vinham da “geral”, naqueles bancos de madeira corridos sem costa, (cheios de percevejos). Em cima, nas melhores cadeiras, ficavam alguns brancos com as mulheres deles e os “monas” crescidos, que nunca faziam barulho. Eram os “brancos de primeira”! Brancos de primeira, mas é uma ova! Nem sabiam falar, era cada “parolo”! “Vinham lá de Xima”, como a “malta” dizia. Todos vermelhos…”Uá Kussuka”!

Mas foi, na Escola Primária “nº 176” (no bairro Popular nº 2), que aprendi a ler. Minha professora era uma Transmontana, má p’rá caraças. Apanhei cada “bordoada”, com aquela “palmatória de 5 olhos” e aquela puta daquela vara, que a “Madié” tinha ao pé do quadro, dava-me com ela na cabeça, quando eu não sabia distinguir uma vogal dum ditongo, e muito menos o que era uma consoante! –“Diz lá ó rapaz” (perguntava-me ela na aula de português): “No singular, diz-se: Ele tem! E no plural, como é que se diz?” –“Ele tinhavas”, respondia-lhe. –“Quem te “Entinhava” era eu! Seu branco-preto!” E malhava-me com aquele pau na “cachola”! Filha da p…, dizia eu baixinho. Nesses tempos, eu pensava era preciso aprender a namorar como a tabuada. 

Agora, quando me lembro, até me rio de mim mesmo, e até tenho saudades daquela transmontana que me ensinou a ler e a multiplicar, que dois vezes dois, são quatro! A Domingas (uma das minhas namoradas, mulata, natural da Kibala, aquela que mais saudades me deixou) é que tinha razão, quando dizia: -“O Sol é que faz tudo! A gente cresce, começa também a crescer as mamas, limão, maboque, laranja e, um dia, se queria mesmo os dedos dum rapaz a “desrespeitar” as nossas blusas… Uns que ficavam arrasca quando a gente lhes grita e finge que está zangada, mas outros… Se não lhe agarramos…”!

Porra!...Tenho Saudades da minha Sanzala e da minha (nossa) Angola! 

Bangas: Zé Antunes / Ninito

2014






CRITICAR E DENUNCIAR, ALIVIA-NOS A ALMA!


A política portuguesa, atingiu o nível mais baixo até hoje registado. Vivemos na sociedade mais criticada e desprezada da História. O descalabro do desemprego, a queda abissal da economia e, por fim, a consciência de que todo o programa tinha falhado, assim como as previsões, todas as provisões “cientificamente” consumadas, assistimos - cobardemente- impávidos e serenos (confortavelmente bem instalados), a toda esta miséria de encenações e aldrabices, exibidas por todos estes “fazedores de opinião”,comentadores, “treinadores de bancada”, nos canais portugueses da Televisão.
 
Contudo, a vergonha, nestes tempos sombrios, está, ela também, falida, esfarrapada e nem resquício da sua presença se advinha no horizonte das nossas preocupações. Vivemos num tempo, que adoramos o ódio em nós mesmos. Talvez por termos acumulado, no fim de tanto tempo, tanto rancor violento, tanta ira contida, tanta raiva e repulsa, a tantas injustiças e crimes arquivados, a “aguardarem melhor prova”!

Como pode uma sociedade odiar-se a si própria? Como na esquizofrenia, existe um processo de transposição. Ao detestar a sua cultura e comunidade, cada um assume-se externo a ela. Assim, apesar de pertencer ao alvo agredido, desvia o ataque para outros, através do mito da tal sociedade conservadora e bolorenta. Mas está a desprezar-se a si mesmo sem dar por isso. Chocar, denunciar, incomodar é tudo o que se faz. Está na moda e sabe bem. E, faz-se até à exaustão. –“E qual é a utilidade disso?”
 
Ó meus Amigos: alivia-nos a alma e o “stress”, “amansa-nos” a fera que temos em nós. Julgo até, salvo melhor opinião, que a sociedade sente-se muito melhor assim. E…aqui para nós: “Não é tão fácil destruir?” Difícil, difícil, é construir sobre os escombros, pois requer tarefa de criadores, e estes (os artistas), ou se demitiram ou estão desempregados. Mas, o mais engraçado, é que os tais comentadores, em geral, falam com sobranceria sobre o que desconhecem. É como na paixão amorosa, na “febre do futebol” ou no “fervor religioso”, só quem vive por dentro consegue compreender.
 
De longe, sempre distantes e escondidos por trás do televisor, ou em conjuntos com os nossos amigos, nos cafés e restaurantes, lá vamos mandando as nossas “bocas”, cheios de jactância, admirando ou reprovando, mas nunca avaliar ou analisar. Somos todos assim, incluindo eu! Lá diz o Povo: “De médico e louco, todos temos um pouco”!

Cruz dos Santos

2014