Sim, há
de facto uma crise na vida política portuguesa. Não é uma crise do sistema ou
das instituições, mas sim uma crise a nível do carácter e dos valores das
pessoas que fazem parte dessas mesmas edificações. O que é grave na crise, é
que ela não é conjuntural. Não! O grave é que as demissões, os escândalos e as
acusações cruzadas, são o resultado de um mal que vem das profundezas e que vai
crescendo como um cancro, roendo aos poucos a credibilidade do regime. Parece
que nada se discute e tudo se admite, com subserviência e resignação.
A crise é
outra coisa. É a consciência da absoluta incapacidade dos dirigentes para as
funções que desempenham e que só exercem como resultado da inaptidão e
incompetência. Mas o mal além de ser profundo, está instalado. O mal é este
clima político, sem uma fiscalização, sem uma auditoria rigorosa (os relatórios
de uma auditoria são fontes seguras de orientação imparcial e especializada
para os negócios), sem um exame minucioso, sem um escrutínio moral e já quase
sem vergonha, onde, à superfície, temos os senhores regionais e a sua teia de
“clientelismo” partidário larvar e, nos “subterrâneos do sistema”, temos o jogo
escondido de influências e mútuos álibis entre empreiteiros, sucateiros e
organismos públicos, entre grandes empresas e grandes escritórios de
“advogados-governantes”, entre lugares públicos e lojas de irmãos maçons, entre
privatizações e influências políticas, entre negócios nos PALOP e política
externa do Estado, entre dinheiros públicos e universidades privadas, centros
de saúde e hospitais privados, autódromos privados, urbanizações privadas, está
tudo privado! Até nós, infelizmente, já estamos privados de liberdade.
Meus
Senhores, já basta de tanta polémica ligada à “crise”, ao “défice”, à
“austeridade”, enfim, a todos esses medos, que ultimamente nos têm vindo a
ameaçar. Já enjoa isso tudo! É preciso que alguém diga aos portugueses o
caminho que este país está a levar. Um país que empobrece, que se torna cada
vez mais desigual, em que as desigualdades não têm fundamento, a maior parte
delas são desigualdades ilegítimas, numa sociedade onde uns empobrecem sem
justificação e outros se tornam multimilionários de um dia para o outro, é um
“caldo de cultura”, que pode acabar mal. Aliás, a maioria de nós, receia mesmo
que acabe e…muito mal! Os portugueses que interpretem o que quiserem.
Cruz dos
Santos
2014
Sem comentários:
Enviar um comentário