A sociedade mediática em que vivemos, leva-nos a admirar ou odiar personalidades a quem, de facto nunca falámos. Ocupam-nos mais que os nossos vizinhos e amigos. Hoje amamos e desprezamos à distância. O mundo da política foi desde cedo palco privilegiado para o clamor das multidões, biografias de heróis e narrativas de grandeza que ecoam pelos séculos. Por outro lado, a propaganda política tenta impor uma determinada visão do mundo e da sociedade sobre as pessoas; é a persuasão. O marketing procura primeiro saber o que as pessoas querem e depois oferece-lhes; é a reciprocidade. E na política isso significa que os eleitores tornam-se consumidores; e a mensagem, assim como os líderes são produtos que são moldados segundo o gosto, os desejos, e os interesses do mercado.
O mais ridículo é que estamos realmente convencidos que compreendemos perfeitamente essas figuras públicas, que sabemos mesmo o que pensam ou querem e partilhamos algumas dessas suas opiniões e raciocínios. Se pensarmos um pouco veremos que a única coisa que sabemos sobre eles, são os apontamentos dos jornais, só vislumbramos o que nos diz a televisão, só conjeturamos com opiniões de comentadores. Mas a verdade é que a sociedade mediática nunca deixa tempo para pensar sequer um pouco. Diria mesmo, que a própria lógica da comunicação gera mais ódios que admirações. Nós temos de ser claros a esse respeito: a resposta deve ser dada à imagem, e não ao homem, não é aquilo que está lá que conta, é aquilo que é projetado. As pessoas são impulsionadas pela lenda, e não pelo homem em si. É a aura (a fama, a aragem, celebridade) que envolve a figura carismática, mais do que a figura em si, que atrai os seus seguidores. Todos sabemos que os políticos só querem votos, os empresários são máquinas de fazer dinheiro, os artistas buscam fama e proveito. No fundo, vemo-los como caricaturas, personagens de pantomima. Temos consciência da nossa enorme complexidade e subtileza pessoais, da profundidade dos nossos motivos, anseios, desejos. Mas as figuras públicas, são autómatos boçais, sem qualquer imaginação ou iniciativa, predeterminados por um jogo bem conhecido. No entanto, ninguém parece dar-se conta da linearidade tola da nossa interpretação dessas e outras figuras.
Em vez de nos ocuparmos com assuntos ligados ao nosso bem-estar, ao ambiente, ao número de pessoas desempregadas, ao nosso futuro e ao futuro dos nossos filhos e netos, vivemos projetados num mundo longínquo e fictício, preocupados com coisas que de facto nunca nos chegarão a afetar. Sobre elas, o que sabemos não passa de enredos de cordel mentecaptos e fabulosos, criados por especialistas de marketing político. Estamos, cada vez mais, subjugados a essas personagens do faz-de-conta e entregues ao nosso destino. “Somos cada vez mais aquilo que queremos ver no mundo”.
BANGA NINITO
2012
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