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20/11/2012

NÓS E…. OS MEANDROS DA POLITICA!

“Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular…” (art.-1º); “A República Portuguesa é um estado de direito democrático, baseado na soberania popular…” (art.-2º); “A soberania reside no povo, que a exerce segundo as formas previstas na Constituição….” (art.-3º).
 Só que vontade popular e soberania popular, como tantos outros “chavões” em que a nossa Constituição é fértil, tendem a não ser mais que meras figuras de retórica. Na pureza dos princípios, “democracia” baseia-se na igualdade essencial dos homens e no seu igual valor. Tal como na antiga Grécia se preconizava, a gestão da coisa pública deveria ser diretamente exercida pelo povo, organizado em conselhos ou assembleias populares, mas logo aí, por inexequível, “o ideal morreu no berço”
 A cavalgada do tempo, a que os estados modernos se não podem eximir, impõe outro tipo de soluções, que nem sequer são novas. Por isso se distingue já (ou ainda só) entre democracia direta – aquela que os pensadores atenienses preconizaram para o seu povo – e democracia representativa – aquela em que o povo “governa” através de representantes seus, periodicamente eleitos. Em nome da segurança dos atos, a eleição produz efeitos que os eleitores, por si só, não podem reverter antes de findo o mandato, o que implica, no sistema e na mentalidade nacionais, que os detentores do poder governem ao sabor dos interesses de uns quantos, incluindo os seus, deixando, ou mesmo lançando na pobreza tantos mais concidadãos, alguns dos quais se escondem por vergonha.
Não tanto como a avidez dos corruptos, a desfaçatez dos desonestos e dos sem carácter, a inépcia e a mediocridade, quase epidémicas, dos quadros que integram os organismos do estado, o que mais preocupa é o silêncio dos bons, porque desencoraja, porque induz o fatalismo agonizante, aquele fatalismo que transparece da história de uma velhinha que, à passagem do seu rei, despótico e cruel, foi a única voz dissonante ao saudá-lo: “-Que Deus guarde vossa Majestade!” O rei, intrigado, interpelou a velhinha, no sentido de saber da razão de tal saudação. E a idosa respondeu: “-Eu conheci o avô de vossa Majestade, que foi um mau rei; conheci o seu pai, que foi um rei ainda pior; vossa Majestade, consegue ser muito pior do que qualquer dos seus dois antecessores…Para que não vamos de mal a pior...que Deus o guarde por muitos anos!”
BANGA
2012

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