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05/11/2012

LISBOA EM 1970



Da minha estadia em Portugal no ano de 1970, passei quase todo o verão entre a praia de Carcavelos e a Praia do Navio em Santa Cruz-Póvoa de Penafirme, e nesse Verão fiquei alojado na casa da minha avó ti Quitas Pedro na Póvoa de Penafirme, ou seja na casa onde nasci, e ia sempre com as minhas primas e primos para a praia ou para os passeios, pois só nessa altura é que comecei a conhecer a família, ia quase sempre para a praia do Navio ou então mesmo para a praia Formosa em Santa Cruz.

Em Carcavelos, meu tio Joaquim nesse verão alugava as barracas e as cadeirinhas de praia que era um serviço sazonal que ele tinha, Eu tinha sempre uma barraca para depois do almoço ferrar uma soneca até as 16h00.

Entretanto começaram as aulas e fui estudar para Torres Vedras. Começo das aulas em Setembro na Escola Industrial e Comercial de Torres Vedras, levantava-me às 06h00 da manhã para apanhar um maximbombo dos Claras e ia da Póvoa de Penafirme a Torres Vedras ( 10 km ) para ter aulas às 07h30, muito frio, muita chuva, numa altura disse a meu pai que queria ir para Luanda pois não me adaptava ao clima e meus amigos estavam todos em Luanda.

Nesse entretanto vinha a Lisboa muitas vezes, principalmente aos fins de semana, e como sempre, vinha para casa da minha tia Lourdes, ali perto da Praça da Alegria.

De frequentar os Bombeiros da Praça da Alegria que todos os sábados faziam os bailes de Fim de Semana, conheci o Zé Carlos que morava na Travessa da Glória, ía até casa dele fumar e ler os famosos livros aos quadradinhos, e alguns livros que eram proibidos, aproveitávamos que os pais saiam para trabalhar e ficávamos sozinhos durante o dia.

Ou então, íamos para a porta de uma loja de discos que existia ali na Rua de São José, quando o Led Zeppelin se formaram para se tornarem poucos anos mais tarde "a maior banda do mundo", ouvir o "Whole lotta lovin" dos Led Zeppelin em altos berros.

O empregado da loja o Alberto Aguiar estava apanhadinho pelos Led Zeppelin. Nessa década começou a sair boa música e os Led Zeppelin, com o Jimmy Page a mandar pedradas na guitarra e o Robert Plant soltar aqueles gritos selvagens, nessa altura curtia os Roling Stones, os Pink Floid e os Beatles, os Beatles em "Sgt. Pepper's lonely hearts club band", Jimi Hendrix e seu ambicioso "Electric ladyland”, ai já vi muita juventude a fumar o seu charro para curtir a música, conheci muitos a começar pela marijuana e liamba, e mais tarde, no ano de 1975, ja estavam agarrados nas drogas pesadas. O Jardim do Borel naquele tempo era um chamariz para a juventude, ia-se para lá namorar, e fumar.

Frequentava muitos os “Pro-fi-rios” loja que estava na berra com umas farrapeiras ( roupas ) todas prá frentex, todas modernas e que a juventude já se começava a libertar de certos preconceitos que a sociedade lhes impunha, eu ia lá mais era para ver as meninas que lá trabalhavam.

Eu e o meu amigo Zé Carlos, mais tarde com a companhia do Luis que morava na Rua das Taipas e do Mário mais a namorada a Mena que moravam na Rua do Salitre, percorríamos a cidade de lés a lés, o Mário, mais velho tinha 18 anos, não tinha Carta de Condução mas tinha um Carocha 1200 preto, do Pai que rústia pela cidade e arredores sem problemas de ser intercetado pelas autoridades, já tinha sido mandado parar numa operação stop, mas não fazia a mínima e continuava a fazer Banga com o chiante ( automóvel ). Para mim era novidade ir ás tascas mais frequentadas pela juventude, Uma Pastelaria que frequentava muito era a Pastelaria Roma na Av. de Roma, outra e que me agradava mais era a Mexicana, na praça de Londres onde na altura paravam os motards todos, e ai se discutia tudo sobre as duas rodas, eu como gostava já de motos era muito bom estar ali com pessoas mais velhas a falar de motas.

Também e apesar de só ter 15 anos frequentava muito o Ritz ( o porteiro era nosso amigo ) perto da Praça da Alegria e o Bolero na calçada de São Lázaro onde se comia cozido à Portuguesa ás 07 h 00 da manhã, e se ouvia uns fados cantados por fadistas amadores. Perto do Parque Mayer existia o Café Lisboa mesmo na Avenida da Liberdade, íamos lá beber um cafezinho e aproveitar para ver as coristas e bailarinas, bem como os artistas de nomeada que trabalhavam nas Revistas dos Teatros do Parque Mayer. Nesse tempo também íamos aos cinemas e lembro-me do Arco Iris e do Politíama, com sessões continuas, com dois filmes um de Cow boys e outro de Capa Espada e ou de Espadachim, no Condes era só a sessão da noite, ou de ir-mos à Marisqueira Solmar enquanto esperava-mos pela hora de entrada no cinema Condes íamos comer o já e bem afamado Bife no Prato.

Mas nesse ano de 1970 também trouxe o fim dos Beatles, numa altura em que eu começava a conhecê-los melhor. Pouco depois, comprei o "Abbey Road" e só no ano de 1973, acabei por comprar todos os discos dos Beatles, já em Luanda, na famosa discoteca “ Bonzão “. A sua música exercia sobre mim um fascínio, que ainda hoje se mantém, e não me perguntem porquê. Nesse ano, fui ver o filme "Let it Be" ao cinema São Jorge e comecei a perceber a palavra nostalgia. Quis ir para Luanda o mais rapidamente possível e assim foi, embarquei a 30 de Novembro de 1970.



ZÉ ANTUNES

1970

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