Hotel Trópico
Depois das minhas férias no Bailundo ( Vila Teixeira da Silva – Monte Belo ) no mês de Maio de 1975, em Luanda já tudo acontecia devido a chegada dos movimentos de Libertação ( M.P.L.A, F,N.L.A E UNITA ) acontecimentos que eram noticiados nos jornais e nas conversas que tínhamos com os amigos e colegas de trabalho. Nessas férias em Nova Lisboa conheci o Carlos Madeira que trabalhava numa Mercearia numa das Ruas paralelas ao RUACANÁ.
Eu a viver no Bairro Popular, ia muitas vezes ao Bairro do Café ( Sagrada Família) visitar a Avó do Zé-Tó que mais tarde casou com a Celina, minha amiga de infância, ia visitá-la, pois foi ai que fui viver quando sai de casa de meus pais. Perto do Bouling encontro o Carlos Madeira, logo ali fizemos uma festa e fomos ao Tutty Frutty, ali na Rua Sá da Bandeira, jantamos e fomos dar uma volta noturna pela cidade.
O Carlos Madeira veio de Nova Lisboa e foi ter com uma tia ( a tia Lourdes ) que vivia ali nas Ingombotas, foi lá para pedir guarida por uns tempos, a tia não o podia acolher, devido a ter a casa já com muitos familiares que viviam na periferia e com os acontecimentos, recolher obrigatório, que Luanda vivia tiveram que fugir mais para o centro da cidade.
Tia não tem problema, disse ele, guarde-me só as malas com a minha roupa, que vou resolver a minha estadia, pois tenho aqui alguns amigos.
Passados uns dias, numa bela tarde, e estando eu na esplanada da Portugália vejo o Carlos Madeira e um amigo o José Nogueira, ambos a vender e a comprar Ouro, Cautelas premiadas da Lotaria Nacional e também umas roupas ( calças Loís ) que tinham sido roubadas numa grande Loja / Armazém bem conhecida ali na Rua Luis de Camões.
Entabulamos conversa e perguntei:
Então Carlos o que tens feito?, estou a ver ai o teu negócio!!! Onde estás a viver? Como é meu avilo a tua vida??
Resposta dele que eu não estava à espera..
Olha o Zé Antunes, como é meu avilo, fix, Eh pá, eu e aqui o meu avilo que te apresento o José Nogueira estamos no Hotel Trópico.
Como é que é? Sem trabalho, só a vender esses mambos, como pagas a estadia.
Não pagamos, só vamos lá dormir e comer uns morfes e beber umas bebidas. No dia que pedirem para pagarmos, bazamos, pois não temos lá nada, só a roupa do corpo, é só sair e está feito.
Eu aqui no Hotel fiz a ficha e disse que meu pai era um grande Fazendeiro de Café em Carmona e aqui o José Nogueira era meu amigo.
Fiquei um pouco boamado ( incrédulo) e disse: Olha lá, vê lá onde te metes, isto está mau, andam ai a prender pessoas a torto e a direito, fico preocupado.....mais a mais também não vos posso ajudar em questões monetárias!!!
Do Carlos Madeira podia-se esperar tudo do José Nogueira não o conhecia, foi-me apresentado nessa altura.
Pois é, a realidade é que eles estavam hospedados no melhor Hotel de Luanda o “ Hotel Trópico”, já faltava a Cerveja e comida, eles estavam na maior, fui convidado a lá ir pois todas as noites faziam umas farras com outros amigos e amigas, e dois dias depois fui e verifiquei que sim que não lhes faltava nada, eram tratados como VIPS.
Nesse final de mês de Maio de 1975, o Gerente foi falar com eles para o pagamento das dormidas e do consumo no bar, que já apresentava valores altíssimos.
Com o seu muito à vontade, o Carlos disse:
Ok vou ali ao Banco levantar cheques que já pedi e logo à noite acertamos as contas deste mês.
Saíram nas calmas e claro está nessa noite houve mais um quarto livre pois os dois foram a casa da Tia Lourdes, pegaram nas malas e foram para Nova Lisboa, numa carrinha que tinham pedido emprestada a um amigo que morava em São Paulo.
O Carlos Madeira foi para a Africa do Sul ( cidade do Cabo ) em 2005 estava na cidade de Setúbal e presentemente está no Canadá
O José Nogueira voltou a Luanda e no dia 21 de Junho de 1975 embarcou comigo para Lisboa onde nos encontramos, e vamos recordando estas e outras histórias.
ZÉ ANTUNES
1975
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