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15/11/2013

Á QUEIMA ROUPA

Victor Silva, grande avilo dos tempos da Escola Industrial de Luanda, acaba o Curso de Aperfeiçoamento de Serralheiro no ano de 1969, vai estagiar, como serralheiro Mecânico na Manutenção das máquinas de manufatura do tabaco, integrando mais tarde o quadro de pessoal da Fábrica Tabacos Ultramarina ( F.T.U.).

Em Maio de 1973, com 20 anos casa-se com Maria João de 21 anos de idade, na igreja de Santa Ana no Bairro Popular nº 2, Maria João vivia na Rua de Loulé.
Costuma-se dizer quem casa quer casa, mas os nossos amigos vão viver para casa dos pais do Victor na Vila Alice, Rua Feliciano de Castilho.

Maria João trabalha na baixa de Luanda na Rua Pereira Forjaz num solicitador exercendo as funções de datilógrafa.

Maria João engravida e em Abril de 1974 nasce o Ruizinho.

Victor tem uma mota Honda 350 CB, e todos os dias vai de sua casa na Vila Alice, para o Bairro da Terra Nova para a F.T.U. 

Maria João desloca-se de machimbombo para a Mutamba.

Vivem felizes, os dois a trabalhar, o pimpolho enquanto vão trabalhar fica com a mãe do Victor, dona Esmeralda.
Já no ano de 1975, naqueles dias conturbados, com recolher obrigatório decretado, dos saques, e também de pessoas mortas sem se saber o porquê, Recordar o massacre do Pica-Pau em que no dia 4 de Junho, mais de trezentos militantes da UNITA, foram friamente assassinados e os seus corpos mutilados pelo poder popular do MPLA no Comité de Paz da UNITA em Luanda.

Nesse dia fatídico 4 de Junho, está uma manhã nublosa com algum cacimbo, Victor sai de casa direito ao trabalho, mas com a preocupação de seu filho estar doente, e que está internado no Hospital de São Paulo no Bairro do Marçal, perto das 15 h 00 com a devida autorização sai do emprego, dirige-se para o Hospital para ir visitar o seu filho.

Na estrada de Catete junto ao Cemitério Novo (Cemitério de Santa Ana) atropela uma mulher de raça negra, junta-se logo ali uma imensa multidão, que começam a gritar:

Matem o colono! Matem o colono!!

Sem se saber como, ouve-se um disparo e Victor fica ali a agonizar.

Chega a tropa portuguesa a multidão dispersa, desaparecendo, só ficou um kandengue de nome João Pequeno.

A tropa Portuguesa ainda tentou reanimar o Victor, mas ele já estava morto, sucumbiu á bala disparada à queima roupa, bala essa que se alojou no peito, junto ao coração

João Pequeno é interrogado e contou esta versão, que o Victor atropelou uma cota, se juntou pessoas e que se ouviu um tiro, que não sabia de mais nada.

Maria João estranhou a demora do Victor tanto no Hospital, onde o Ruizinho estava internado, como em casa, já era noite, e nada do Victor. 

Resolveu ir á 7ª Esquadra, saber informações sobre o paradeiro do marido, visto ela ter telefonado para a F.T.U. e lá lhe terem dito que ele saíra mais cedo para visitar o filho no Hospital.

Já com o coração apertado esperando o pior, na 7ª Esquadra dão-lhe a triste informação que o Victor Silva estava morto e era preciso que ela fosse á morgue e que reconheça o corpo.

Faz o funeral onde apareceram muitos amigos que a ajudaram naquela hora muito triste, seu filho melhora e em Junho de 1975 embarca para Portugal com o filho e com os sogros, seus pais ainda ficaram em Luanda.
Chega a Lisboa e vai viver para Viana do Castelo, onde tem familiares.
No ano de 1980 emigra para a Austrália onde tem família e amigos de infância que a acolhem e lhe dão emprego.

Casou novamente em 1983 com um Australiano e hoje já reformada vive com o marido, filho, nora e com o seu netinho.

Em 2012 Maria João esteve em Lisboa de férias e encontramo-nos e fomos jantar com alguns avilos amigos dela que não nos víamos á trinta e sete anos, foi uma festa, e um grande jantar, não nos esquecemos de guardar um minuto de silêncio pelo Victor.


ZÉ ANTUNES

1975

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