A praça de touros de Luanda recebeu touradas durante o Estado Novo. Após a independência passou a receber apenas espetáculos musicais. Agora, a praça de touros, obra que nunca foi terminada, vai ser requalificada e transformada num Palácio da Cultura. Um bom exemplo vindo de Angola onde os portugueses tentaram sem êxito impor a 'tradição' tauromáquica.
Em 1975 o "poder popular" inaugurou a era dos grandes assaltos, dos raptos, das buscas domiciliárias sob nenhum motivo, das violações de mulheres e raparigas, até de crianças, em plena via pública, e diante dos maridos e pais, das torturas, das mutilações, dos assassínios a sangue frio e só pelo prazer de matar, das casas incendiadas por desfastio, e das prisões. O MPLA possuía diferentes tipos de cadeias e felizes eram aqueles que escapavam às sevícias mais abjetas ou à detenção nos curros da praça de touros de Luanda, além de forte dispositivo bélico na Praça de Touros (onde a FNLA dizia que o MPLA prendia, matava e enterrava pessoas), torná-las alvo de violações sexuais ou outras, de maus tratos físicos e morais, obrigando-as a ingerir dejetos humanos tal como a alguns prisioneiros que foram retidos durante semanas na praça de touros, aparecerem mortas em qualquer lugar como sucedeu no quintal duma vivenda na Vila Alice onde foram encontrados quatro corpos esquartejados e enfiados numa fossa séptica ou darem-lhes sumiço nas densas matas onde os obrigariam a percorrer distâncias inimagináveis expostos a perigos de toda a ordem e por fim sumirem-nos sem deixar rasto.
Interior ( foto de 1985)
Esta história passou-se no Largo da Tourada, em Abril de 1975.
Liliana Teixeira, estudava no Colégio “Moisés Alves de Pinho “, á data tinha 16 anos e era repetente do 5º ano ( hoje é o 9º ano). Muitas vezes fazia o trajeto do Colégio para o Bairro Sarmento Rodrigues, perto da Vala, na companhia do namorado o João Luiz, outras vezes na companhia de uma amiga a Maria Pacavira, por essa altura já tinha sido decretado o recolher obrigatório e existiam os conflitos entre os movimentos.
O irmão da Pacavira, foi logo avisando a irmã que começava a ser perigoso virem por aquele trajeto, pois na tourada estava o M.P.L.A. e estavam a prender discriminadamente pessoas, que desapareciam sem se saber porquê.
Liliana aceitou o aviso, e começou a vir pela estrada de Catete no machimbombo 22 para o Bairro Popular, ou esperava pelo pai que trabalhava no Porto de Luanda.
Uma certa tarde, como estava tudo calmo sem tiroteio, entendeu ir a pé para casa, estava sozinha, e foi andando, ao chegar ao Largo da Tourada, foi logo ali interpelada por um soldado do M.P.L.A. :
- Como é garina, sozinha a esta hora, o que andas a fazer, para onde vais?
Liliana com os seus 16 aninhos, cheia de medo disse:
- Venho do Colégio “ Moisés Alves de Pinho” e vou para casa, moro já ai no Sarmento Rodrigues, ai depois da Vala.
O militar das F.A.P.L.A.s esclareceu:
- Não estás a ver o quanto perigoso é? Tão novinha e andas por aqui sozinha? E a mais está já a escurecer!
- Liliana disse que costumava passar por ali, muitas vezes no fim das aulas, com os amigos, mas hoje a minha amiga não quis vir.
O Militar com a sua arma empunhada, e aquele ar de superioridade falou:
- Vai-te lá embora e toma cuidado.
Liliana ao chegar a casa e ainda com medo estampado na sua cara, contou ao pai o que se tinha passado. O pai disse que o militar até foi gentil para com a Liliana, mas o certo é que acabada as aulas desse ano letivo, os pais da Liliana, o Sr. Teixeira, a esposa e a Liliana em Junho de 1975 embarcaram para Lisboa na Ponte Aérea.
Panoramica ( foto de 1985)
Vista exterior ( foto de 2005 )
ZÉ ANTUNES
1975
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