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20/02/2014

RECOLHER OBRIGATÓRIO

Na noite de 10 para 11 de Julho de 74 dão-se os primeiros incidentes violentos em Luanda. Os merceeiros dos musseques, Sambizanga, Mota, Lixeira, Marçal, Rangel (o mais populoso), Adriano Moreira e Cazenga (o mais extenso). Calemba, Cemitério Novo, Golfe, Catambor e Prenda, são expulsos.
 

Agosto de 1974 é decretado o primeiro recolher obrigatório em Luanda, estabelecido o recolher obrigatório de toda a população de Luanda, entre as 21 horas e as 6 horas do dia seguinte, até ordem em contrário (referindo-se os casos excecionais não abrangidos por tal medida).


A chegada de Agostinho Neto a Luanda, na manhã de 4 de Fevereiro de 1975, data simbólica, é apoteótica. Nunca se viu, antes, nada assim, tão espontâneo, tão sentido, tão exaltante. Calcula-se que estiveram mais de cem mil pessoas, no aeroporto e na pista de aterragem, invadida mal o avião parou. Quem esteve lá guarda esta recordação e de que quem a viveu falará sempre.






Nesse mesmo mês de Fevereiro de 1975 em Luanda ocorrem os primeiros confrontos entre tropas regulares do MPLA e da FNLA. 
 
Neste novo sobressalto do dramático processo de descolonização que, mau grado os compromissos assumidos ao mais alto nível e a imposição do recolher obrigatório não se extinguiu naquele dia, ficou a pairar a suspeita de que o delírio de fogo que mantivera Luanda angustiada durante toda a noite de 28 e parte do dia de 29 de Abril de 1975, se teria devido a uma manobra de deceção do MPLA com vista a encobrir a descarga de um navio jugoslavo.
 
Quarta – feira, 30 de Abril de 1975, novos distúrbios graves em Luanda, é imposto novamente o recolher obrigatório.
 
E o imenso arsenal voltou a estar ativíssimo no próprio "Dia do Trabalhador", 1º de Maio de 1975, cujas festividades haviam sido canceladas a fim de se evitar o pior, ou seja, a repetição dos violentos afrontamentos da antevéspera.
 
Aquele dia, contra tudo o que se esperava e desejava, foi marcado por um novo surto de intenso e descontrolado tiroteio e por um autêntico delírio de saques, espancamentos e buscas indiscriminadas, não autorizadas, provocando um número avultado de mortos e feridos de que, oficialmente, se registaram: Hospital de S. Paulo, 10 mortos e 139 feridos; Hospital Maria Pia, 3 mortos e 87 feridos; Hospital Militar, 31 feridos, entre os quais três militares portugueses.
 
No dia 12 de Maio de 1975, o MPLA e a FNLA iniciam uma confrontação armada de larga escala.
 
Luanda, na época, era palco de permanentes incidentes, entre militares/militantes do MPLA E FNLA, que espalhavam medo, terror e sangue pelas noites e chãos da cidade, pelos musseques e onde bulisse alma de gente de qualquer cor. O recolher obrigatório era quase sempre desrespeitado e multiplicavam-se os conflitos, as palavras de ordem anti - tudo e todos. 
 
Com o recolher obrigatório os problemas com a Policia, pela noite fora nas discotecas começaram a complicar-se.





















Manifestação em Luanda 1975 ( Foto da net )


A violência alastrava-se e a propaganda desenhava-se e escrevia-se nas paredes e no asfalto da cidade, pouco pacífica e, pior, inspiradora de ódios. Os tiroteios, principalmente de noite, con

fundiam-se com o rebentar de granadas e morteiros. Ainda me lembro, de, à noite, ver o fogo a cruzar os céus da cidade, que eu via do terraço da minha casa no Bairro Popular. Estranhamente, ou talvez não, a esmagadora maioria da população parecia indiferente a isso tudo. A cidade de Luanda, cosmopolita, cheia de luz, ciosa e atraente, parecia matar todos os medos.
 
Tudo parecia funcionar, como se nada se passasse.
Assim por lá passei os últimos dias, entre os prazeres das praias na Ilha, e no Mussulo, das Cervejarias do Restinga, do Amazonas e da Portugália, da Paris Versailles e da Mutamba, os cinemas e as discotecas à noite, e o contacto com os nossos amigos. Mesmo assim a nessa altura, a população branca ainda acreditava que podia ficar.
 
De qualquer modo, todos os luandenses se aperceberam do gigantesco arsenal acumulado pelos três Movimentos, não só pela dimensão e duração do tiroteio, bem como pela variedade do armamento utilizado, perfeitamente denunciado pelos sons das rajadas ou pelo rebentamento das granadas.
 
Notícia do Diário de Lisboa, sobre a Luanda de 8 de Agosto de 1975. 


A 7 de Agosto de 1975, forças do MPLA expulsaram 300 militantes da FNLA de Luanda.

ZÉ ANTUNES
 
1975

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