Largo da Maria da Fonte
O largo da Maria da Fonte, antes de se construir o Mercado do Kinaxixe era uma lagoa. Só nos finais dos anos 50 foi feito um aterro (com uma máquina de terraplanagem, Caterpillar) e o funcionário que manobrava a máquina, Sr Lua, numa manobra de inversão de marcha esmagou uma criança de raça negra, sem se ter apercebido. Entrou em estado de choque e teve que receber acompanhamento médico, tal o trauma que o acidente lhe causou. Segundo relatos de pessoas amigas o Sr. Lua ficou "maluco" e embriagava-se por causa disso. Os Kandengues da época,"fugavam" à escola, e sabiam as horas, e que era meio dia com o tiro de canhão disparado na Fortaleza de Luanda, ritual usado diáriamente para assinalar a hora, e enganavam os kótas. Pior era ter que justificar o estado lastimoso das batas escolares...que de brancas passavam a ter a cor da terra barrenta.
Trata-se de um dos largos mais famosos de Luanda. Uma praça muito agradável com as suas fontes e canteiros ajardinados. A estátua no centro do largo, foi erigida em memória aos combatentes da Grande Guerra que tinha a seguinte inscrição: "Portugal aos seus combatentes europeus e africanos da Grande Guerra, 1914 -1918". Após a independência, a estátua foi substituida por uma carcaça de um carro de assalto. Mais tarde, no lugar da carcaça, foi colocada uma estátua em homenagem à rainha Ginga.
Neste largo foi erigido em 1952 o mercado do Kinaxixe. Tinha como objectivo proporcionar aos vendedores de rua (kitandeiras e outros), higiene e conforto na venda dos seus produtos. Obra do arquitecto Vasco Vieira da Costa, com uma arquitectura de influências Corbusianas. Esta obra é referida nas revistas da especialidade, como uma das mais importantes efectuada pelos portugueses durante o século XX.
E um edifício com nobreza, referenciado nos livros de arquitectura universal como uma referência conceptual e construtiva. "Para além de ser o único edifício de Angola referenciado no livro "Arquitecturas do Mundo", ele representa sob o ponto de vista da arquitectura tropical, a essência do pensamento sobre a ventilação cruzada e a forma como o betão deve ser usado em regiões tropicais , sendo a sua estrutura formal e compósita , um ponto de partida para se analisar o que se pode ou se deve fazer, em regiões tropicais. O edifício reflecte os elementos base do pensamento sobre arquitectura tropical, ou seja a ventilação cruzada, o recurso ao grande pé direito, a luminosidade controlada, as protecções a poente no percurso da incidência solar, as relações espaço/ventilação, humidade/conforto térmico. Não é por acaso que vem referenciado no livro das arquitecturas do Mundo!
Nele se movimentavam diariamente centenas de pessoas, pois era o mercado Central e abastecedor de Luanda. Havia a secção da fruta, como abacaxi, goiaba,maracujá, pitanga, tamarindo, sape-sape, mucua, abacate, fruta pinha, mamão e papaia, manga, maboque, coco, banana, laranja, cajú e tantos outros frutos.
A secção dos legumes frescos das mais variadas espécies de hortícolas e ainda cana de acucar, jindungo, ginguba, batata doce, caldo verde já cortado, etc.etc. Minha mãe tinha aqui uma Banca onde só vendia leguminosas.
A secção do peixe, onde para além dos odores do peixe seco se podia encontrar todo o género de peixe e crustáceos pescados nos mares de Angola além das sardinhas do bacalhau etc que vinha de Portugal.
A secção das carnes do bom gado bovino, caprino, suíno e aves, assim como animais vivos, tais como coelhos, cabritos e galinácios.
Havia secções diversas de calçado de vestuário, dos coloridos panos do congo das missangas de mil cores, Era um mercado municipal de assinalável miscigenação racial e social no seu uso quotidiano.
Em 2008 o mercado do Kinaxixe foi demolido. No seu lugar será erigido um complexo comercial denominado “Shopping do kinaxixe”,
QUE DIZEM VAI SER O MAIOR DO CONTINENTE AFRICANO
ZÉ ANTUNES
2008
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