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17/02/2013

MUSICA


No turbulento ano de 1968, a música teve um de seus momentos de ouro Beatles, Rolling Stones, Roberto Carlos e ascensão dos tropicalistas marcaram período. Brasil tinha canções de protesto e discussões sobre política e estética.

George Harrison e John Lennon
durante um evento no ano de 1968

1968 pode não ter representado um divisor de águas na música internacional como 1967, ano da inovação trazida pelos Beatles em "Sgt. Pepper's lonely hearts club band", ou os dias de 1977 da explosão do punk. Mas trouxe artistas dentro de sua maturidade criativa e obras extraordinárias, caso dos mesmos Beatles com o "Álbum Branco" ou Jimi Hendrix e seu ambicioso "Electric ladyland". Esses dois álbuns, considerados atualmente peças fundamentais na história do pop, são apenas os primeiros de uma fila de discos que foram lançados em 1968 e permanecem relevantes até hoje.

No cenário brasileiro, a história foi um pouco diferente. 1968 foi quando o tropicalismo tomou forma definitiva e hoje consegue dividir espaço com a bossa nova como símbolo da musicalidade do Brasil para uma geração mais jovem mundo afora.

O ano de 1968, foi agitado em todo o mundo. Nos Estados Unidos havia movimentos pacifistas (contra a guerra do Vietnã) e contra o racismo. Na Europa, estudantes se rebelaram contra as autoridades. E no Brasil os universitários organizaram passeatas contra a ditadura militar.
Stones e Beatles
De uma forma geral, o período trouxe obras que têm repercussões ainda presentes. Os Rolling Stones lançaram "Beggars banquet", considerado uma volta à forma após a tentativa de embarcar na onda da psicodelia, e também trouxeram como compacto a poderosa "Jumpin' jack flash". Os Beatles também fizeram um movimento similar, com "Hey Jude" no lado A e "Revolution" no lado B, faixa em que Lennon declarava que "todos nós queremos mudar o mundo".

Foi o ano também em que Simon & Garfunkel gravaram a trilha sonora de "A primeira noite de um homem", alavancada por "Mrs. Robinson", que Elvis Presley fez em retorno triunfal em um especial de fim de ano, salvando uma carreira em declínio, e quando o Led Zeppelin se formaria para se tornar poucos anos mais tarde "a maior banda do mundo". 1968 foi o período em que os grandes nomes já haviam experimentado bastante (em vários sentidos) e agora já tinham uma noção mais bem definida de quais caminhos poderiam tomar - mesmo que isso acontecesse de forma mais instintiva ou inconsciente.

Ideologicamente, as duas principais bandas da época se encaminhavam para lados diferentes. Lennon falava em paz, depois de uma temproada na Índia, e Mick Jagger se empolgava com a rebelião nas ruas. A já citada "Revolution", dos Beatles, dizia que "quando você fala sobre destruição, você já não pode contar comigo". Jagger escreveu os versos de "Street fighting man" (algo como homem das lutas de rua) inspirado na turbulência política de 1968.

A Guerra do Vietnãm também já motivava pessoas, em pleno ápice do movimento hippie e da contracultura, o que estimulou uma série de composições de protestos.

No Brasil a maturidade não era exatamente a palavra que vinha instantaneamente cabeça quando era necessário descrever o que se passava no Brasil de então. Era época de experimentações e de controvérsia quanto a qualquer tipo de proposta. A jovem guarda entrava em decadência, mas Roberto Carlos brilhava cada vez mais como estrela - seria o vencedor do festival de San Remo, na Itália -, e logo não se vincularia a qualquer grupo específico. Dentro de pouco seria coroado como o maior cantor do país.

Os festivais, a grande efervescência estava nos festivais e na chegada do movimento tropicalista. Os fãs de música e os militantes políticos se envolviam em embates durante as eliminatórias. A ditadura militar engrossava o chumbo e havia muita agitação, divisão e patrulha ideológica.

Caetano Veloso e os Mutantes conclamavam "É proibido proibir", e dois nomes hoje institucionalizados da música brasileira, Chico Buarque e Tom Jobim, eram vaiados porque sua "Sabiá" era escolhida pelo júri do Festival de 68 em detrimento da engajada "Pra não dizer que não falei de flores", de Geraldo Vandré.

Era também a época em que a guitarra elétrica na música brasileira foi considerada uma heresia para muitos, tornando o tropicalismo, com sua união de brasilidade e não-brasilidade, motivo de discórdia. Outros viam neles falta de engajamento político.

O guitarrista Sérgio Dias em 2008

Curiosamente, os Mutantes Sérgio Dias, Arnaldo Baptista e Rita Lee estavam em Paris durante as manifestações de Maio de 1968. "Vi a bandeira comunista amarrada na [catedral de] Notre Dame. Nossa droga era cheirar gás lacrimogêneo", afirma o guitarrista Dias em referência à atuação dos policiais franceses.

"Ver um pedaço da 'revolução francesa' foi fantástico. As pessoas cantavam a 'Marselhesa' [o hino da França] na rua e também a gente acompanhava [o pintor Salvador] Dalí arrasando e tantas outras pessoas criativas."

"Irrotuláveis" Dias analisa o comportamento dos tropicalistas, do qual fizeram parte também Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, o arranjador Rogério Duprat e o poeta Torquato Neto, entre outros. "Nós éramos completamente irrotuláveis. A gente se considerava indestrutível, a gente detonava", afirma. "Cada integrante do tropicalismo era uma figura, um símbolo, um significado. Na capa do disco ['Tropicália ou Panis et circenses', obra fundadora do movimento] eu apareço empunhando uma guitarra", lembra Dias.

Nelson Motta, produtor musical, escritor e jornalista, tinha 24 anos em 1968 e cobriu os tumultos ocorridos durante os festivais de 1968. Quarenta anos depois ele observa os efeitos permanentes do que propôs o movimento.
"O Tropicalismo representou a liberdade criativa, o experimentalismo, a modernização da linguagem poética e musical, uma nova leitura de uma cultura brasileira marginalizada pela MPB, pela integração com os movimentos internacionais de juventude, a cultura hippie, o rock, a pop art, buscando uma nova visão crítica do Brasil e da arte brasileira."

The Doors in Copenhagen 1968
ZÉ ANTUNES

2010
   
 

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