As minhas memórias da adolescência com amigos, principalmente com o Ângelo e o Artur amigos do Bairro da Cuca, e outros amigos, leva-me a sitios bem distantes no meu imaginário, das boas companhias das boas farras e dos momentos em que acampavamos na ilha de Luanda.
Havia dois elos de ligação entre mim e o Ângelo, nomeadamente as nossas mães que eram amigas ( a mãe do Ângelo a Maria Marques tinha uma banca de legumes no mercado do Kinaxixe, em que minha mãe foi primeiro empregada, mas depois a mãe do Angelo passou a banca para a minha mãe ) e mais tarde no desporto nos jogos de futebol de 11 na Escola Indústrial de Luanda. Eu e o Ângelo costumavamos jogar juntos na Escola ( ambos frequentavamos o Curso de Aperfeiçoamento de Serralheiro ) apesar de eu já nessa altura residir no Bairro Popular nº2.
Também possivelmente conhecia-o melhor, porque era com quem eu saia no inicio da decada de 1970 depois do meu regressoa a Luanda. E foi sempre as nossas familias, o elo de ligação entre nós. O Ângelo casou já na Póvoa de Varzim no ano de 1976,
Luanda na época era um lugar fantástico, porque havia muita coisa a acontecer. Muitas miúdas, muito rock`n`roll, também para desgraça de muitos, havia muita liamba.
Olhando para trás, dou-me conta de que era um grupo de amigos imensamente talentosos. Éramos um um grupo de adolescêntes movidos pelas harmonas que tiravamos o máximo partido do que Luanda tinha para oferecer em termos de diversão.
Recebemos uma educação muito despreocupada de quase classe média. Recordo esses anos de adolescência com muito carinho.... amigos fantásticos, eventos fantásticos, experiências muito iluminadoras e, claro miúdas, música e farras.
Nessa altura o Artur era um rapaz normal, era apenas mais um no grupo e, naquela altura ainda não tinha dado sinais do seu talento.... isso só aconteceria mais tarde. Tanto quanto me lembro ele na Escola Industrial estudava pintura decorativa, ele tinha muita graça e pintava bem, mas o seu talento era ele em qualquer festa, ou farra, com a sua guitarra, dois acordes e começava a cantar, não tinha uma grande voz, mas tinha sempre miúdas á sua volta. Penso que aos olhos delas, ele era tão misterioso e vulnerável, como bem parecido e talentoso.
É preciso não esquecer que embora o Artur se viesse a tornar venerado, famoso e respeitado pelo seu trabalho, eu não mantinha uma amizade próxima com ele desde que ele acabou o Curso na Escola Indústrial, iamos-nos falando, e vendo, ainda fui em Luanda ao seu casamento com a Manuela, ia o vendo, até ao momento, já em Lisboa, em que se foi abaixo.
Quando eramos adolescêntes ele era um rapaz, com as suas paranóias não era mais ou menos normal, era um rapaz perturbado.
Frequentamos a mesma Escola mas em cursos diferentes e ele era mais velho, conviviamos pouco, mas ele era nuito bom a tocar guitarra pelo que foi aceite no nosso grupo. Claro que anos mais tarde isso viria a tornar-se irritante pois começou cada vez, e com mais frequência a fumar uns charros, e a embrenhar-se no mundo da droga.
Falar do Artur não é um dos meus temas preferidos, lamento dizer, e fico triste quando me apercebo que faleceu muito jovem (maldita droga).
Deste dois amigos que conheci muito jovem no Bairro da Cuca, o Ângelo que está em Póvoa de Varzim ainda mantemos contacto e quase sempre que eu vá ao norte é pretexto para nos encontrarmos e fazermos uma almoçarada.
ZÉ ANTUNES
1975
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