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24/06/2013

VIAGEM DE COMBOIO ALFA



Sempre me recordo da primeira viagem de Lisboa ao Porto no Comboio Correio, tinha partida de Santa Apolónia ás 00h20 e chegada ao Porto ás 06h30, com a noite mal dormida ao som de um "pouca-terra-pouca-terra" suave num banco confortável, ou assim me pareceu. E de manhã, o Sol a nascer e a entrar pela janela num convite descarado. Era Dezembro de 1975, as neblinas dançavam por entre serras desconhecidas. E lá fiquei, de nariz enfiado no vidro, tentando aprisionar toda aquela imensidão de beleza que me surpreendia e, ao mesmo tempo, me fascinava, estava a chegar ao Porto. Desde então, o comboio, fosse ele como fosse, pequeno grande, de mercadorias, de passageiros até mesmo "o regional" que transportava os militares, todos me eram igualmente queridos.

Numa das viagens que eu costumo fazer no ALFA PENDULAR, sim, porque um trajeto de Lisboa Santa Apolónia até à Estação de Campanhã no Porto não deixa de ser uma grande viagem, pois, temos tempo suficiente para meditar, pensar, analisar as coisas corriqueiras da nossa vida.

Percebi que algumas coisas mudaram, por exemplo, parece-me, não estou bem certo de que se cumpre os horários, outra coisa é que os comboios ALFA têm ar condicionado, aliás isto já há algum tempo, os bancos estão até mais bonitos, e as pessoas talvez sejam as mesmas, claro que nem todas. De há uns anos atrás, até aos dias de hoje, que o comboio ALFA é o transporte individual, mais utilizado entre Lisboa - Porto.

Mas não é a respeito disso que quero aqui partilhar, o que quero realmente compartilhar com todos, é que no trajeto acima citado, observei várias empresas a beira da linha do comboio, que estão caindo aos pedaços e ia pensando, há muitos anos atrás, o quanto essas mesmas empresas, ou melhor, esses depósitos de lixo, pois é o que parecem, empregaram diversos trabalhadores.

Naqueles tempos, era mais fácil ter um emprego, quantos trabalhadores deixaram seu suor ali para sustentar suas famílias, quantos conseguiram se reformar e hoje, observamos apenas meras paredes a cair aos bocados ou depósitos vazios, destruídos, chega até doer o coração.

Outra coisa que observei e isto já é de tempos que acontece dentro dos comboios, desde que não haja o revisor por perto, são as várias pessoas que vendem objetos, de toda a espécie, isto acontece mais nos comboios regionais ou no intercidades, todos esses produtos por preços baixíssimos. 

Sim, essas pessoas são muito corajosas, pois, enfrentam todo tipo de pessoas, são muitas vezes gozados, mas eles são corajosos, porque devem ter alguém em casa que depende deles, então com esta falta de emprego que assola todo o Portugal, muitos se viram como podem, mas e a segurança nos comboios? Eu sei que é proibido fazer comércio dentro dos comboios, mas a crise e o desemprego atuais faz com que muitas pessoas assim procedam, deixa aqueles que trabalham honestamente vender as suas malambas que de certeza que é para sustentar suas famílias.


ZÉ ANTUNES

2013

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