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20/04/2012

A QUEDA




A melhor que tenho é que o meu pai (Júlio Inácio, Encarregado de Obras na Sonefe ) andava de mota, teve primeiro uma N.S.U e depois uma Zundapp e, quando soube que ia para uma nova Obra no Bairro da Cuca, foi vê-la e levou a minha mãe (Carmitas) "à pendura". Ela detestava andar na mota!


Pois bem, a dada altura a mota começou a patinar na areia e, como devem estar a ver a cena, com os zig-zags que dava, a pobre da minha mãe saltou da mota e foi parar com o traseiro no capim! Quando a cena nos foi contada, eu e os meus irmãos, achámos um piadão à cena e quanto mais nos riamos mais a nossa mãe se enfurecia com o meu pai que, que dizia ela, meu pai conduzia a mota como se andasse em permanentes corridas... Sempre foi acelera e nós, filhos, herdámos o vício...Nessa altura minha mãe resolveu tirar a carta de condução, pois na época começou a trabalhar no Kinaxixe.



Motorizada N.S.U.
Esta é a mais triste, tempos mais tarde na Estrada de Catete, junto à F.T.U. meu pai teve um acidente, estando, a passar uma coluna militar em direcção ao Grafanil, depois de passar o último carro avançou, e do lado contrário veio uma carrinha chevrolet que ainda travou mas bateu na motorizada zundapp, tendo o meu pai caído para o seu lado esquerdo e batendo com a cabeça no alcatrão, transportado ao Hospital, estávamos já preocupadíssimos e só a noitinha viemos a saber o que se tinha passado, pois faltou ao almoço e estava a faltar ao jantar lá nos dirigimos ao Hospital e tivemos conhecimento dos factos, esteve oito dias de coma, valendo segundo os médicos o rebentamento de um tímpano e o sangue ter escorrido para o exterior, e depois esteve internado dois meses no Hospital Maria Pia, até ficar completamente restabelecido.


1967

19/04/2012

PIC - NIC




Um piquenique é uma atividade de entretenimento que consiste na realização de uma refeição ao ar livre, como um lanche ou almoço.


Geralmente os lugares escolhidos são campos, praias, florestas e relvados, para usufruir do contacto com a natureza e a vida selvagem, o sentido moderno da palavra: passeios ao ar livre, nos quais as pessoas levam alimentos para serem desfrutados por todos, é costume fazerem-se piqueniques durante a época festival, nas e junto das praias. Sendo o domingo um dia tradicionalmente de descanso, é normal verem-se várias famílias nos imensos parques de merendas.


Este será um piquenique em família descontraído, com música, com alimentos, bebidas, Então, podemos sentar e desfrutar de um dia relaxante e famíliar.


Aos Domingos logo pela manhã a estrada da Corimba ficava congestionada de trânsito, pois era hábito as familias, sairem nessa direcção para fazerem os PIC-NIC de Domingo, ou só para irem em direcção as praias da Corimba, Quinta Rosa Linda ou para o Morro dos Veados ou ainda para o Futungo de Bela. Muitas vezes também frequentavamos “ a praia da Floresta “ na Ilha de Luanda, ai havia mesmo banquinhos e mesas de madeira onde as familias colocavam as suas imbambas.


Aos Sábados minha mãe dava inicio à preparação do vasto farnel, composto por tudo aquilo que se pode levar para um Pic-Nic. Já nós tínhamos carregado o congelador com cuvetes e pequenos recipientes com água para termos bastante gelo para as bebidas. É que o único sitio que sabíamos onde obter gelo moído ficava fora de mão, para os lados do Estádio dos Coqueiros, na fábrica da Mission e da Coca-Cola, e este procedimento de “fazer” gelo em casa era normal, como bem o sabem e ficava mais barato, a minha mãe, era ajudada pela caçula da família a Mélita.









Domingo de manhã era só cozer o arroz e acrescentar o frango guisado na véspera, o tacho bem embrulhado em papel de jornal para se manter quentinho até a hora da degustação, e ai lá íamos até ao sitio combinado com outras pessoas para se passar um bom Domingo na cavaqueira e gozando as delicias do sitio pois era um misto de mata de coqueiros, palmeiras e de praia, o que sempre dava para se descansar, debaixo daquelas magnificas sombras.


Escolhido o local ideal e numa sombra para montar a logística, mantas estendidas, mesas abertas, garrafões ainda com o “Giz Branco” chamado capacete branco (o capacete indicava que era vinho do bom, vinho da “metrópole”), alguma comida à vista, (Rissóis, Croquetes, Pão, Queijo e Fiambre) Gira-Discos portáteis e de rádios. Música era basicamente própria para o momento “ conjuntos típicos”. Também se ouvia música brasileira e alguma Angolana ( merengues e rebitas) estavamos ali já instalados, e prontos para passar o Domingo.


Estes pic-nic`s familiares serviam também para se conviver com outras familias, onde se partilhavam histórias e vivências. Depois de se comer qualquer coisa para matar o bicho era ir para a água pois a praia era convidativa e ai ficavamos até nos chamarem para almoçar.


Hora do almoço, cada um no seu canto com o arroz de frango quentinho saboreavamos tão bela iguaria e a mais a proximidade de campo e praia, o apetite até era outro, findo a degustação ficavamos ali na sombra os mais velhos a jogar ás cartas, os mais novos a ler, ou o tio Patinhas ou qualquer livro de quadradinhos. Os mais bébes ficavam a dormir uma repousada sesta até meio da tarde.


Seguiamos depois ai pelas 04 horas da tarde para os últimos banhos que duravam a tarde toda, e depois de carregar tudo na Carrinha regressávamos a casa pela noitinha, felizes por ter passado um domingo num pic nic maravilhoso.

Zé Antunes - net


1973

MONOPÓLIO





Outro dia entrei numa loja de brinquedos como há muitos anos não fazia e algo me chamou a atenção. Logo na entrada da loja deparei-me com um jogo da Majora o Monopólio. Tá certo que com esta idade não tenho, há bastante tempo, o costume de jogar ao meu jogo preferido, mas fiquei contente com este fato. Ao ver a caixa do jogo, passou pela minha cabeça algumas lembranças de minha infância; do Monopólio da Celina e da Chú, onde passávamos horas e horas a jogar e a tentar ficar rico,lembranças muito boas de uns 40 anos atrás.


Eram tempos em que valorizava-se muito mais estes brinquedos do que os jogos de computador e video-games que fazem parte da infância de qualquer criança dos anos 90 e 2000. Qualquer criança nascida no final dos anos 70 e início dos anos 80 com certeza já ouviu falar de muitas destas lembranças que me vêm à memória neste momento.


Felizmente a minha infância foi marcada por alguns brinquedos, jogos e desenhos animados que creio faltam nos dias de hoje.





A minha primeira directa foi passada a jogar monopólio com os meus irmãos e com o Domingos... Não me lembro quantos anos teria... Talvez entre os 8 ou 9 ...
Fã incondicional era o meu mano mais novo, andava sempre a trás de nós a pedir para jogarmos com ele!


Mas o que mais jogávamos em miúdos era o jogo da Glória. Também, acho que era o único que tínhamos.


O jogo mais popular do Mundo, de compra e venda de propriedades. Vá para a Cadeia, Receba 2.000$00 sem passar pela casa de Partida. Casa da Sorte, casa da Comunidade, Rua Augusta, Rossio.


Ao longo das gerações e ao redor do globo, que outro jogo remete a tantas memórias de diversão familiar em pechinchas e negócios? Nenhum outro jogo fez com que tantos momentos jogados se tornassem memórias. Não importa se, se está a descobrir a diversão pela primeira vez ou se, se está a reviver os dias despreocupados da infância. Lança-se os dados e vamos em frente, compra-se vende-se e hipoteca-se.


1967

18/04/2012

ESCOLA

Entrei para o ciclo preparatório, na Escola João Crisóstomo, hoje Ngola Kanini..
no ano de 1967 até ao ano de 1969, a quando da sua inauguração e nessa altura comecei a reparar nos professores e a decorar os nomes deles. 

Na Industrial Entrei para o primeiro ano do Curso de Aperfeiçoamento de Serralheiro, e integrei a turma 1º J Nº 527, no 2º ano fui para a turma 2º U Nº 218. 


Foto muito antiga da Escola.
No meu tempo já tinha gradeamento a toda a volta.

Andei na Industrial desde 1969 a 1973 concluindo o curso de Serralheiro, depois transitei para a noite uma vez que comecei a trabalhar indo para o 1º ano de secção preparatória. Do Bairro Popular, onde morava, até à Escola ainda era uma caminhada e que tínhamos na altura 12/13 anos, ia com o Guimas, Zé Pinguiço e outros a pé, para poupar o dinheiro do maximbombo e a pensar nas Coca – Colas.

Mas no ano lectivo de 1973/74 estava a estudar a noite o 1º ano da Secção Preparatória, esse ano escolar não chegou ao fim. A «invasão» pelos alunos apanhou-nos em plena aula de Tecnologia. Enquanto a professora Lígia ficava branca de medo, nós espreitávamos pelas janelas. Quando voltámos a olhar para a secretária, ela havia «bazado», deixando-nos ali, uma turma de rapazes com 17 / 18 anos, sózinhos.

Um dia ouvi uma história do Muralha e pu-la em prática.

Uma bela tarde, numa daquelas famosas aulas de "Oficinas", entrada às 13.30h, saída às 17.30h, (só 4 horas de aula), com o Mestre Dias, vulgo "Escaporro" e o Mestre João Diogo Paixão, vulgo "Suta" e sendo chefe de turma este vosso amigo, os mestres tiveram que se ausentar da sala deixando a mesma à minha responsabilidade (maior erro).

Como não era grande aficionado por estas aulas, entendi por bem desafiar a "escumalha" para um "rodeo" à boa maneira do velho oeste. Para servir de montada nada melhor do que o maior limador existente na sala. O esquema implementado era simples, dava-se o maior curso ao cabeçote da máquina, o primeiro cavaleiro sentava-se em cima do mesmo, agarrava-se à porca que fixa o curso do cabeçote, ligava-se a máquina na primeira velocidade e tentava-se manter em cima da máquina até ser engrenada a 5ª velocidade.

Escusado será dizer que foram várias as tentativas, maioria delas frustadas pois não se conseguiam aguentar em cima da montada.

Claro que tinha que chegar a vez do mentor do invento, e quando eu passeava a minha categoria de cavaleiro, eis que vejo a malta a pirar-se toda para os lugares, ficando eu sozinho em cima da máquina sem a poder desligar.
Da porta de entrada ouvi a voz severa do Mestre Dias que disse: Cavaleiro apeia-te!!!!
Prontamente um colega se prestou a desligar a máquina para que eu descesse.
Em seguida levei uma valente "Cachaporrada", uma falta disciplinar e um convite para me deslocar ao gabinete do famoso Beirão...João Carlos Raposo Beirão, Dignissimo Director da Escola Industrial Oliveira Salazar.

Como podem verificar, já naquele tempo a vida era difícil.

Os jovens de hoje já não estão para andar tanto. Ia pela Estrada de Catete, podia ser que algum vizinho nos desse uma boleia e íamos sempre na reinação até à Escola. Quando não havia aulas, ia-se jogar aos “matraquilhos” na loja do Sr. Inácio que ficava por detrás da Escola ou jogava-se à bola nos campos que já lá havia, ou íamos a Praia de Alvalade ( como dizia o mestre Paixão das oficinas ) que era a Piscina

O Director Beirão era terrível, quando alguém se portava mal era certo e sabido que lá levávamos uma suspensão e um bofetão. Claro que o nosso Professor de "Desenho “Sr. CRUZ” mais conhecido pelo três pelos, era uma vítima das nossas patifarias, mas curiosamente tive sempre boas notas a essa disciplina. Eu, como tantos outros, tivemos o “raspanete” do Director e dois dias de suspensão por algo que o Celestino ( Tino da Cola) e o Camilo fizeram, não me lembro o que foi, mas penso que meteram pioneses na cadeira, coitado do professor quando se sentou!

Sempre gostei de desenhar. Não tinha, nem tenho, muito jeito para o desenho imaginário, o desenho livre. Excepto quando fui desenhador na Empresa Represental – Empreendimentos Turisticos e Imobiliários, onde tinha como função o desenho técnico de arquitectura e especialidades. Saí-me sempre bem dessa função e tenho muito orgulho pelo que fiz nessa empresa que me ficou no coração. Mais tarde na Refer foi o desenho de estruturas metálicas, obras de arte ( Pontes ) assistido por computador ( ACAD )

Na escola tinha sempre que ver algo onde pudesse basear-me para desenhar. Na Escola João Crisóstomo tinha muitos bons desenhos no ciclo preparatório com o professor Carlitos, mas, como os mesmos ficavam guardados em armários, no fim do ano lectivo os alunos abriram-nos e eram só folhas de desenho pelo ar.  Aos meus nunca mais os vi.

Na Escola Industrial era mais desenho Metalo-Mecânica, o desenho de Maquinas, professores Cruz e Vagueiro, e foram esses desenhos que me abriram a porta para a empresa referida. No entanto, durante anos lá fui desenhando o que os miúdos costumam desenhar; o «Patinhas», «Pato Donald», «Garra de Aço» (livro muito em voga na altura), o “Mandrake”, e tantos outros. São desenhos do tempo dos meus doces anos da inocência.

No 1º ano de secção preparatória matriculei-me como trabalhador/estudante. Trabalhava na “Represental” na Rua Conselheiro Júlio de Vilhena, perto do Largo Serpa Pinto , ia para a Escola, na altura tinha já uma Honda SS50z.

Daquelas janelas vi a conclusão do “Cinema Império hoje (Atlântico), e via um pouco dos filmes que lá corriam já que era um Cinema com umas aberturas laterais e sem que alguém visse entrava-mos por ali.

Foto do cinema Império hoje Atlântico


Fiz na Escola o curso. Depois transitei para a Secção Preparatória para poder seguir para o Instituto Industrial que era nos barracões todos feitos de madeira. Não acabei pois entretanto já estava a trabalhar e deu-se o 25 de Abril.

De tudo isso, a última imagem que retive foi a do professor João Freitas e da Fátima Fernandes a segurarem os portões. Depois... não me lembro de mais nada. Começaram os confrontos em Luanda e a Escola transformou-se em acampamento de desalojados e feridos que vinham dos bairros.

Enquanto alguns colegas partiam de Angola com as suas famílias, os que ficavam iam ajudando no que fosse preciso. Lá íamos todos os dias, apesar dos tiros.

Eu tinha 18 anos, já trabalhava na Represental e eram mais as vezes que ia ao cinema Império ( hoje Atlântico ) do que às aulas. Tendo mesmo no ano de 1974/1975 desistido de estudar devido ao movimento que se gerou sobre os partidos políticos de Angola e pela sua independência.

Hoje passados estes anos todos a Escola virou Instituto e no largo em frente, onde paravam os carros dos papás e as motos dos “ avilos ” à hora da saída, kitandeiras vendem mangas, abacaxi, abacates, mikates e chinelas havaianas em grandes bacias; vendedores ambulantes apregoam cigarros, roupa interior, acessórios para carros, sofás, fatos de banho, espelhos, cassetes de filmes pornográficos e ferragens; os ardinas também passam para vender os jornais (mais caros que o preço neles impresso) e a revista Caras edição Angola, onde um jet set de novos ricos não se envergonha de afrontar, em poses estereotipadas e sorrisos idiotas, os que pouco ou nada possuem.

Escola Indústrial nos anos 1970.



Na João Crisóstomo 

1º Ano Turma A – 518
Professores



MATEMÁTICA – Saratoga



PORTUGUÊS - Maria Jesus Costa ( Fui selecionado para recitar poesia numa festa realizada no Ginásio )



CIÊNCIAS - Maria de Lourdes Couto Pires



DESENHO - rof. Carlitos ( jogador do Sporting de Luanda )



Trabalhos Manuais - Mestre Braga



Canto Coral - Prof. Leitão



2º ANO Turma U -  216



Professores



MATEMÁTICA - Gabriela ( por ser muito alta ) eu sou da famosa turma que teve um dia de suspensão por a senhora ter caído da cadeira ( alguém mexeu na cadeira que era rotativa )



DESENHO - Professor Carlitos



Lembro-me do aluno que morreu com a mina junto aos Maristas era o Ernesto nessa altura começamos a ter aulas de granadas minas e outros acessórios balísticos
lembro-me da professora Sandi Show, não me lembro que disciplina me deu no 2º ano. Também jogava a bola e pertencia à grande equipa de futebol de 11
Amilcar ( G.R.) Rodrigues ( Barrabas ) defesa Carvalho ( Médio) Zé Antunes ( Russo ) Médio Gomes ( Avançado ) Camilo ( Avançado ) pouco mais me lembro, no meu tempo de 1967 a 1969 as turmas não eram mistas.



Lembro-me de um professor já em 1971 que veio de Torres Vedras para dar aulas de Trabalhos Manuais.



Lembro-me também do 1º de Dezembro (se não me engano) nos festivais de ginástica no Estádio dos Coqueiros, o desfile das escolas participantes.

ESCOLA PRIMÁRIA



Fiz a instrução primário na Escola 176 do Bairro Popular nº 2 em Luanda e tive como professoras a Dona Fernanda (1ª e 2ª classe ) e a Dona Amélia ( 3ª e 4ª classe ).

Tanto eu como os meus irmãos só podíamos calçar sapatos ou sandálias quando saíamos de casa para algum evento ou nas nossas deslocações para a escola. Durante o dia, para poupar as solas, jogávamos à bola descalços. Os meus pés estavam tão calejados que por vezes caminhava em cima de arbustos espinhosos sem me causar qualquer mau estar.

Na escola era obrigatório o uso de bata branca, sapatos também brancos, quedes da Macambira ou sandálias da mesma cor. Na parede posterior às mesas dos professores havia obrigatoriamente pendurado um retrato de Salazar. A entrada na sala era feita de um modo ordeiro e com a chegada da professorora a turma de pé entoava o hino nacional.

Feita a chamada dava-se início às aulas acompanhadas, quando necessário, por reguadas nas palmas das mãos com “a menina de cinco olhos”, puxão de orelhas ou com pancadas na nuca ou orelhas com a vara comprida. A palmatória era confeccionada em madeira com uma peça circular provida de cabo que agarrado pelo algoz direcionava o golpe para a palma das mãos dos alunos.

Os orifícios, normalmente 5, na parte circular atenuavam a resistência do ar e com isso o golpe era mais contundente. Os pais dos alunos orientavam os professores a praticarem essa espécie de castigo para aqueles que tirassem más notas ou tivessem alguma conduta reprovável.

Alguns alunos levavam de casa um farnel para ser comido no recreio, aqueles que ainda tinham esse privilégio o faziam mas outros infelizmente, ficavam olhando os colegas comerem mas de vez em quando havia alguém que sorrateiramente se aproximava de quem tinha o lanche e dava uma palmada nas costas da mão sendo o lanche projetado para o ar e logo em seguida era agarrado pelo contendor e comido. Faço um pequeno esforço para recordar estes factos.

Enquanto as meninas brincavam de cabra cega, jogavam pedrinhas, pular a corda, etc., os rapazes jogavam futebol, as bilhas , pião, etc.. As makas entre alunos eram resolvidas fora do recinto da escola e automáticamente formava-se um ajuntamento em volta dos contendores.
Aprendi a ler pela Cartilha Maternal de João de Deus. Minha mãe tinha uma escrita bonita em uma folha de papel escrevia com o lápis o abecedário e frases soltas obrigando-nos a decalcar o que tinha escrito. A minha letra era inclinada e regular devido a esse processo de aprendizado, depois ficou mais técnica devido ao curso de desenho.



Escola Primária nº 176 - Bº. Popular nº 2
Quando regressávamos da escola para casa ou vice versa, normalmente passávamos no lado lateral esquerdo do Proventório Infantil de Luanda após descermos a rua até ao fim, desembocávamos em uma área onde havia árvores de frutos ( mangas, bananeiras, tambarinos e cajus ) que comíamos de vez em quando, frutas de sabores ácidos. No local apareciam lagartos grandes de tonalidade verde. Eles ficam ao sol para regular a temperatura do corpo e após levantarem a cabeça com a chegada de algum intruso deslocavam-se com velocidade para o tronco da árvore subindo-a.

À tarde o lanche servido era de pão com manteiga, ou marmelada, outras vezes farinha de pau misturada com açúcar, mas esta mistura servida num copo se fosse adicionada um pouco de água ela engrossava e depois de digerida tínhamos a sensação de estomago cheio. Outras vezes comíamos ginguba misturada com farinha de mandioca e açúcar batida no pilão mistura chamada de quiquerra.

O matete também fazia parte do lanche e era um composto de papas de massa de farinha cozida adoçicada com açúcar. Havia também a paracuca.


1966

FAMILIA

A Família Antunes Gonçalves é uma das tantas que existem por aí vivendo na normalidade. É formada de tipos comuns, encontrados em todos os cantos da cidade, feiras-livres, praças, saídas de fábricas, escritórios, paragens dos maximbombos... Famílias feitas de vidas ocultas que não buscam figurar em capas de revistas, coluna social de jornais – não vale a pena –, mas que não passam despercebidas ao espectador divino, que as tem em alta conta. Transmontano, Júlio, o marido, não foi o único do bairro a ter o sobrenome de Gonçalves, do avô paterno, Carmitas, a esposa, de Torres Vedras, manteve incólume o sobrenome: Antunes. Júlio é um homem simples, sem estudos, trabalhador, metódico.

Como a maioria dos habitantes do Bairro Popular nº 2, Aprecia um bom bacalhau e torce pelo Benfica, sem fanatismos. Veste-se com roupas simples, sempre limpas e combinando as cores, e por isso é tido como alguém de bom gosto. Em casa, jamais andou de calção ou sem camisa. Cuida da aparência porque sabe que assim agrada à esposa. Seu carácter sociável não é de mera fachada, não. Goza de respeito e prestígio graças ao profissionalismo com que encara o trabalho. Pontual no horário de entrar e sair da empresa, diz aos chefes – quando insistem nas horas extras –, que tem outro negócio a cuidar, a família.
Ninguém discute porque já se sabe que não abre mão disso, e que para evitar as tais horas a mais, trabalha com intensidade – sem molenga –, e nunca contesta as suas responsabilidades das tarefas que lhe são direccionadas.

Como encarregado de Obras tem que impor a sua sabedoria e personalidade. O temperamento do Júlio é sereno e sociável, fecundamente utilizado para conquistar a amizade e a confiança dos filhos, com os quais gasta prodigamente o tempo. Sua figura cresce contínua e aprumadamente diante de seus filhos, porque o exemplo da pessoa amada sempre exerce um suave e misterioso império naqueles que a amam. Júlio é do tipo que sabe sofrer em silêncio e rezar com insistência.

Nas situações em que todos perdem a cabeça, não se desespera e pensa o lado positivo das coisas, o que lhe aumenta a autoridade. Os traços de pai vão se desenhando nos filhos sem que estes o percebam – notarão quando, homens formados, não tiverem mais o pai, pois o amor reflete sempre a feição moral de quem o inspira. Júlio tem muitos amigos e sabe conservá-los, sacrificando-se por eles sem nada esperar em troca.

No trato com os demais, tem a palavra oportuna que estimula e orienta. Maria do Carmo ( Carmitas) é mãe, só mãe – o que é divino. Ainda é jovem, - tem cinco anos menos do que Júlio – e a juventude lhe é ressaltada pela beleza. Seu temperamento é alegre, bem-humorado, onde se combinam maravilhosamente uma requintada feminilidade com suave energia e sólido sentido prático. É serena, mas quando fica brava, fica mesmo. Entretanto, tal estado de alma lhe é raro e, por conhecê-lo, os filhos evitam despertá-lo, propósito nem sempre alcançado... Carmitas, não é o tipo de mulher que necessita de elogios.

Possui o instinto de mulher simples, que a leva a furtar-se de ostentações ou chamar a atenção. Foi criada para rodear de afeição aos que ama e dar-lhes um lar onde possam expandir-se em singela felicidade. Percebeu que o salário do marido nem sempre chega dedica-se a trabalhar numa banca de verduras no kinaxixe. Bem-humorada, mostrou às amigas, que a fustigaram pela opção tomada, ter lucrado mais ao se tornar dona do seu próprio tempo, que passou a organizar criativamente, de modo a poder dispor de algumas horas diárias para ler, estudar, foi umas das primeiras mulheres a tirar a carta de condução em Luanda sem sacrificar a família. Em casa, ao ler e estudar os assuntos da sua profissão, as chamadas contas de merceeiro.

Carmitas se mantém actualizada. Ao unir seu gosto profissional ao sentimento materno, que penetra na alma dos filhos e faz descobrir o espírito humano com sabedoria, avalia profundamente os acertos e desacertos da sua ciência. E assim, cada vez que olha para um filho e o vai descobrindo, vê nele um potencial maior que em si própria, porque é a continuidade, que deve desvendar e preparar. Vislumbrou que a tarefa formativa dos pais lhes amplia as realizações pessoais. A casa dos Antunes Gonçalves é sem luxo, mas de muito bom gosto. É casa própria e do tipo vivenda, comum nos velhos bairros da cidade: pequeno jardim fronteiriço, sala de estar de onde parte um corredor de acesso a três quartos à esquerda, banheiro à esquerda , cozinha no final e um quintal grande.

A estreiteza económica da família é disfarçada na casa pela limpeza e bom gosto na decoração, feita de objectos simples que, ajeitados pelas mãos de Carmitas, ganham beleza incomum. E isso faz todos sentirem vontade de logo retornar ao lar. Júlio e Carmitas casaram-se cedo e, sendo jovens ainda, têm 4 filhos: Zé Antunes, com 12 anos; Fernando, 10 anos; Victor, 9 anos; e Amélia, 7 anos;

O salário do Júlio dá para manter a família, sem extravagâncias, caprichos ou descuidos orçamentais. Várias despesas são reduzidas com a produção caseira de ovos, galinhas e patos. No quintal – como já foi dito, esses espaços ainda sobrevivem em bairros antigos e populares, Um pé de goiaba, outro de mamoeiro e ainda um sape sapeiro formam o pomar e concluem o círculo da casa. Valeu a pena insistir; foi vitória granjeada pela constância. Agora, cada filho sabe que a roupa de uso, ao ficar curta, deve ser passada ao irmão seguinte; o mesmo ocorre com livros e outros materiais escolares: “É preciso cuidar bem das coisas”, é ladainha que todos já sabem de cor e salteado e estão carecas de ouvir, como se diz. A situação financeira não permite ter empregada, e obriga cada filho a se encarregar de uma parte dos afazeres domésticos.
Tirar o pó dos móveis, lavar o chão, lavar a roupa, ajudar na cozinha, pôr ordem na sala de estar, quartos e quintal, são tarefas distribuídas entre todos. Além disso, os pais estabeleceram que ninguém é empregado de ninguém. Cada um que zele pelas coisas pessoais. Nada de sapatos, roupas, toalhas e brinquedos espalhados pela casa. Os infractores serão penalizados na forma da lei. Ai de quem não obedecer... E tem mais: o interessado arrume a própria cama e ordene a parte que lhe cabe no guarda-roupa.

Cama bem arrumada, não à moda francesa, mas à espanhola: lençóis duplos e sacudidos, colchão espalmado, cobertores alisados e colcha sem amarrotar. Terminam por aí os encargos? Nem por sonho. Somam-se às tarefas diárias – e isso cabe aos rapazes – os serviços mais pesados: pintura da casa, conserto das calhas e telhado. Júlio encarrega-se da parte eléctrica, hidráulica e alvenaria, com a ajuda dos filhos... Júlio não aceita o falacioso argumento dos preguiçosos e mesquinhos de que para casa não vale a pena tanto zelo. “Vale – diz Júlio –, porque é o meu lar; o lugar onde vivem os meus, e onde recebo parentes e amigos, que julgo dignos da ordem e limpeza: uma casa com portas emperradas, mato no jardim, pintura encardida, vidros quebradas, ferrugem no portão, vidros riscados, fios electricos salientes, espelhos de luz partidos, reboco caído, bem reflecte a corroída alma de quem ali mora”. Ê lá, Júlio...

O sonho da casa própria aos poucos vai-se concretizando. Sobre a Mélita recai os cuidados menores, o preparo das refeições e costuras mais elaboradas. Aniversário! Quando há algum, o que por ali não é raridade, prontamente se põe a mesa de festa. O segredo de tanta eficiência – outra batalha vencida pela constância de Carmitas reside nos seus dotes culinários, e há sempre bolo e apagar as velas.

Quando Júlio e Carmitas souberam há algum tempo que em certo país europeu um casal que dava tarefas aos filhos foi processado criminalmente por escravidão de menores, ou besteira desse teor, comentaram tristemente entre si que não estão ensinando as crianças a perceberem que elas não têm somente direitos diante dos pais, mas também deveres filiais-paternais, além dos fraternais; e que tão cheios de satisfações, facilidades e benesses, esses molengões papa-direitos trarão muitas dores aos pais e às famílias que constituírem, que certamente não durarão muito, e trarão grandes despesas à sociedade.

Ao partir Júlio para o trabalho, Carmita prende os cabelos com uma bandolete para não atrapalhar na lida da casa e, à noite, antes da chegada do marido, solta-os penteando-os sobre os ombros e põe uma roupa simpática para recebê-lo. Está sempre bonita, vestida com sobriedade e bom gosto. Para a filha, ela diz que mulher desmazelada e cheirando mal não pode chorar marido que chegue tarde ou bata em outra porta. Carmitas é a primeira a levantar e a antepenúltima a deitar, cedendo ao Júlio o cuidado de aguardar o retorno dos filhos da escola; e o marido cumpre o encargo aproveitando o sono da casa para preparar o que levará para o trabalho no dia seguinte.

O dia-a-dia de Carmitas não é fácil e ela diz o mesmo que todas as mães de famílias numerosas dizem, seja a mãe dos Sabinos ou a dos da Silva, variando apenas nos nomes dos filhos: “Melita, é hora de te aprontares para ires para a escola; acorda”. “Oh, não, Zé, põe esse cachorro para fora de casa”. “Ôôô Fernando, eu falei para olhares o leite...”. “Victor, arruma a tua cama, menino”. “Júlio, não esqueças o remédio do Fernando”. “Bandido...”. “Meu Deus, não aguento mais; me leva embora, vai!”. “A mãe não tem dinheiro”. “Depois, depois filho”. “Ai, desaparece com esses patins daqui, que riscas o quintal todo!”. “Por que estás a chorar?”. “Não fales com a boca cheia”. “Vai lavar a cara”. “Deus te abençoe, seu diabinho”. “Menina, onde você aprendeu a responder assim?”. “Nada de palavrão, menino!”. “Melita, o arroz está no fogão?”. “Está doendo? Deixa de se queixar”. “Um beijo”. “Tchau...”. “Como foi o dia, Júlio?”. “Foste bem no exame Zé?”. “Puxa, que bom, tu compraste o remédio”. “puxa, a que ponto chegamos!”. “Olha para mim e responde: foste tu que partistes isso? Que inferno de vida”. “ meninos vão estudar e deixem a bola”. “Já vais levar com o cinto, meu maroto “

Carmitas integra a sociedade médica da rua. Como é bem sabido, pois é de fácil observação, e já foi afirmado por muita gente, até por membros de famílias numerosas de outros países, em bairros humildes se desenvolve uma medicina chamada familiar, que reúne todas as mães da rua. De tradição oral, as técnicas, avalizadas por farta base empírica, são passadas de geração a geração, constituindo sólida cultura científica que, de verdade, poupa não poucos gastos com a concorrência médica de diploma e canudo, só chamada como recurso extremo, e depois de esgotadas todas as aplicações de emplastros, emulsões, chás de ervas comuns ou das inacreditáveis e raras, efusões, e consultas a todas as mulheres da vizinhança no anseio de desenterrar alquimia olvidada em alguma cachola. Acrescente-se o que avó alguma deixou de frisar – elo jamais quebrado no correr dos séculos: “O suadouro é medicina base de todas as demais.

De preparado que não faz transpirar ou suar em bicas é para desconfiar”. “ tantas gemadas com cerveja preta eu tomei para me fortalecer”. Como bem lembrou um filho de família numerosa e pobre, do norte de Portugal, se os laboratórios conhecessem tal ciência, rica em receitas, certamente colocariam em suas embalagens: “só para uso externo”. E o resultado é que criança nunca morre... Remédio eficaz e concorrente do suadouro – quem dele não padeceu lance a primeira pedra – é o óleo de rícino, dotado de grande prestígio entre as mães para acabar com a manha de filho que se faz de doente para iludir o banho ou não ir à escola.

Basta citar o milagroso medicamento que o kandengue já vai dizendo: “Já estou bom, mãe; já estou bom!” De verdade, é tido em alta conta pelas mães esse santo remédio.

1978

ADOLESCÊNCIA




Minhas memórias




Recordar factos ocorridos na nossa adolescência - infãncia é o lembrar de situações vividas por nós e que vão sendo lembradas com a nostalgia da nossa vivência passada, com mais ou menos saudade, histórias da nossa vida..


Nasci na Póvoa de Penafirme no dia 12 de Maio de 1955 . Consta na minha Certidão de Nascimento que fui baptizado pelo Padre Abílio da Costa Reis Lima no dia 23 de Junho de 1955, nasci às 23 horas e 20 minutos, filho legítimo de Júlio Inácio Gonçalves, Encarregado de Obras, natural da Freguesia de Aguieiras, Concelho de Mirandela, Distrito e arquidiocese de Bragança e de sua esposa Dona Maria do Carmo Antunes Gonçalves, doméstica, natural de Povoa de Penafirme, Freguesia de À-Dos-Cunhados, Concelho de Torres Vedras, Distrito e arquidiocese de Lisboa, etc, etc..


Fiz questão de transcrever parte da minha Certidão de Nascimento porque as minhas origens refletiram-se ao longo da trajetória das fases da minha vida.
Vi a luz do dia em que a parteira chamada e contratada pelo meu avô Vital, ajudou o parto da minha mãe, em casa. Comum na época esse tipo de procedimento.


Meus pais criaram-nos com muitas dificuldades pois éramos 4 filhos e para melhorarem um pouco o orçamento familiar tinham sempre nalgum canto do quintal quando morávamos no Bairro da Cuca uma área onde cultivavam vários tipos de verduras e legumes que com o produto da venda no mercado de kinaxixe, davam um pouco mais de desafogo no pagamento das despesas.


Enquanto as meninas brincavam de cabra cega, jogavam pedrinhas, pular a corda, etc., os rapazes jogavam futebol, ao berlinde , pião, etc.. As makas entre alunos eram resolvidas fora do recinto da escola e automáticamente formava-se um ajuntamento em volta dos contendores.

A fim de ficarmos protegidos do paludismo, todos os dias antes do matabicho tínhamos que tomar 1 comprimido de quinino e durante alguns anos assim fizemos.


Eu já um jovem com 20 anos em 1975 de regresso de Luanda para Portugal.
vivi no Bairro Popular ao pé da igreja de Santa Ana.


Estudei na escola primaria ali bem perto e mais tarde fui frequentar a escola João Crisóstomo o 1º ciclo. Frequentando depois a Escola Indústrial de Luanda


Com alguma frequência eu, meus pais e meus irmãos, apanhava-mos o maxibombo 22 rumo ao centro da cidade, nessas deslocações também se impunha uma visita à Portugália e ao Baleizão.


As idas á praia do mussulo no Kitoco ou no Kapossoca enfim tantos e tantos locais que me ficaram gravados na memoria e recordo por vezes com uma lágrima no canto do olho enfim recordações que se não apagam, e que as guardo na minha memória. Que saudades eu tenho de Luanda desses tempos.




1966

MARABUNTA

Histórias de Luanda

Marabunta é o nome de uma espécie de formiga, que devora tudo, mas eu vou falar de outra “Marabunta”, uma personagem famosa da Luanda dos anos sessenta e setenta e que já só conheci numa fase em que a sua áurea se teria já desvanecido. Era uma madeirense que terá emigrado para Luanda, na busca de uma vida que dificilmente encontrava na sua ilha da Madeira, mulher que desembarcara em Luanda com a finalidade de exercer a mais velha profissão do Mundo e, graças a ela e a outras manigâncias, enriquecera.

Segundo as vozes a “Marabunta” era uma mulher que desafiava a calma quotidiana da provinciana Luanda da época. Mulher vistosa, loura, sem preconceitos, ambiciosa, deslocava-se sempre num Chevrolet Corvette vermelho garrido descapotável, insinuando-se numa cidade que parava literalmente para a ver.

Constava-se que esse Corvette era do Ferreira do Negage, que tinha umas fazendas de café, abriu o Bowling ao pé do Hospital Militar, uma fábrica de massas num edifício onde funciona a representação consular da África do Sul, ali para os Coqueiros.

A “Marabunta”, apenas se sabe que se chamava Gracinda, alimentou muitas histórias e muita galga na Luanda dos anos sessenta e setenta, e só vê-la passar em frente ao Salvador Correia, era para os que se empoleiravam no muro um verdadeiro troféu, imaginando pelos joelhos da senhora o torneamento do resto das pernas.

A “Marabunta” era muito ciosa nas suas relações, e conta-se que um daqueles fazendeiros do café enriquecido, quis gozar com ela; Depois dos “preliminares”, passou-lhe um cheque de 20 contos (atenção estamos no fim dos anos 40 e era muita massa) sabendo que aquela conta só tinha 18, ela foi ao Banco de Angola, e como era sobejamente conhecida o banco depositou os dois contos e ela levantou o cheque. O fazendeiro acabou gozado quando pensou que estava a lidar com alguma “amadora”.

Em determinada altura na hoje Avenida Valódia, estabeleceu-se na “Vidraria dos Combatentes”, paredes meias com o ” Punta del Pazo”, tendo comprado todo o material da “vidraria Leiriense”, ao lado da Saratoga ao pé do edifício na Mutamba que hoje alberga o Ministério das Finanças. Na cidade faziam-se conjecturas diversas, como é que ela teria conseguido o dinheiro para montar um estabelecimento, que era passagem obrigatória de miudagem e graúdagem, por razões que pouco tinham a ver com vidros ou espelhos. Constava-se que tinha sido novo-rico do café do Golungo-Alto, que estava com ela amiúde no “Sporting” na 1ª rotunda da ilha, e que dizia em voz alta: “Tenho dinheiro que nunca mais acaba”. Parece que a “Marabunta” sem muito esforço, provou o contrário em pouco tempo, tendo-o deixado falido.

A realidade é que a senhora juntou-se entretanto com um furriel do exército colonial, que as más línguas da cidade chamavam de “furriel consorte” , mudou de carro, tendo comprado um Chevrolet Camaro amarelo, aí por volta de 1970. Nessa altura já envelhecia e vendeu por muito bom preço o único Corvette descapotável que havia em Angola,

Duas décadas de ouro, para o carro e para a Marabunta, afinal uma mulher que toda a cidade conhecia e se contava histórias, muitas inventadas, mas que ainda hoje é recordada nas conversas de um cada vez maior número de pessoas, que cada vez mais se lembram do que se passou há muitos anos, e não se conseguem recordar o que fizeram uns dias antes.

MAKAS




Logo a seguir à Sé no prédio de esquina, mesmo ao lado do Hotel Turismo!! No ano de 1965! Que começou a bronca com os paraquedistas que andaram aos tiros com os Comandos, entre o Amazonas e a Portugália, depois de umas CUCAS e umas NOCAIS, e na Versailles se refugiaram muitos civis!! Eu estava com os meus pais e quando vimos os Unimogs cheio de soldados a disparar para o ar fomos-nos esconder na Pastelaria Ateneia, lá ao fundo nas casas de banho!! Foi um susto de todo o tamanho!! Sei que iamos em direcção ao baleizão e ai voltamos para o Bairro Popular nº2 já não houve gelados para ninguém. Foi bem comentado esse incidente e a rivalidade entre Paraquedistas , Fuzileiros e Comandos perduraram sempre pelos tempos, muitos deles vinham stressados da campanha no mato e claro chegavam a Luanda e o álcool é que os desatinava mais. O castigo que esses soldados tiveram foi que foram todos transferidos para o Negage!

Mais tarde houve outro incidente com luta corpo a corpo entre Paraquedistas e os Fuzileiros no largo da Mutamba, em que também o pessoal civil teve que se refugiar e esconder nas casas de comercio ali na baixa de Luanda.

Estes acidentes e estas guerrinhas aconteciam porque cada um se julgava melhor que o outro nos tres ramos das Forças Armadas .

17/04/2012

COBRAS



Devido à frescura da vegetação que existia na casa do Bairro da Cuca e da horta da Carmitas, coabitavam ali muitas cobras. Certo dia, até uma surucucu foi vista e morta.

As cobras normalmente eram finas e tinham um metro de comprimento, mas a surucucu era curtinha mais ou menos com 25 ou 30 centímetros e era grossa, como o braço de um homem. Elas também gostavam de fazer os ninhos, nas folhagens dos BAMBÚS que existiam ao lado da nossa casa.

Uma vez, estávamos a almoçar no alpendre da casa no Bairro da Cuca quando vimos uma cobra de um metro de comprimento, entrou pelo lado do Quintal onde existiam as capoeiras das galinhas , se calhar estava com fome e preparava-se para atacar uma galinha (ah ah ah ah)... Brrrrrrrrrrrr... Que grande grito e que grande corrida eu dei, saindo dali a "7 pés"... meu pai com as calmas todas pegou na enxada e matou o bicharoco

Outra vez, eu estava a apanhar maças da India, numa grande macieira que existia a entrafa do quintal, e fiquei admirado por estar ali um cinto verde... Que grande grito eu dei, quando topei que aquilo não era um cinto, mas sim uma COBRA pendurada.

Quando um dia mataram uma surucucu, o irmão mais velho do Domingos o Ângelo (ele na altura com 11 ou 12 anos e eu com 7), andou com ela, embrulhada num saco de plástico, atrás de mim... Eu fui fechar-me à chave no meu quarto, onde estive horas e horas... Mas o malandro do Ângelo ia lá chamar-me, dizendo que já tinha deitado a cobra fora, mas eu não acreditava nele.  Só quando o meu Pai deu pela minha falta, e soube do que se estava a passar, obrigou o Ângelo a ir enterrar a bichinha e depois foi chamar-me ao quarto, onde estive enclausurada mais de 4 horas

Certo dia, na Estrada que vai para o Cazenga, iam trabalhadores a pé pela estrada, um deles foi picado na canela da perna por uma surucucu. Como sabem, a picada desta cobra é fatal, pois o veneno da picada espalha-se logo pela veia acima, e é com certeza "a morte do artista"... Um dos trabalhadores descalçou de imediato o que tinha sido picado que já se lamentava que ia morrer, e com um pequeno canivete que sacou do bolso, fez um golpe no local da picada, e foi chupando o sangue, cuspindo-o para o chão, fazendo isto várias vezes, para retirar o sangue envenenado. Depois fez um garrote com o lenço, um pouco acima do ferimento. Levou-o para o hospital de Maria Pia, onde foi concluído o tratamento. O trabalhador foi muito elogiado, pois se não tivesse feito aquela operação, o colega teria morrido.

Normalmente naquele tempo iamos caçar para os lados do Vilela, eu era pequeno ma acompanhava os mais crescidos e ia caçar com eles com a minha fisga e o meu visgo. Certo dia um amigo meu, o João foi pelo carreiro, à procura de encontrar uma peça de caça para matar e ir comer uns bifinhos com a família. Pisou um tronco que estava atravessado no carreiro, mas o "tronco" mexeu-se...Conforme o "tronco" se mexeu, o pé dele escorregou... Afinal aquilo não era um tronco, mas sim uma JIBÓIA que estava ali, enrolada em forma de "e"... A JIBÓIA começou a apertar o laço, para prender o pé ao João. Este topou a jogada da bichinha e desferiu-lhe um tiro na barriga, com a 22-longo que levava.. A JIBOIA logo afrouxou o laço e o jovem retirou o pé e procurando a cabeça da BICHA, deu-lhe outro tiro, desta vez na cabeça.

O João não ganhou para o susto! Diziam que a JIBÓIA depois de ter a pessoa dominada, lhe desfechava na cabeça, o pico-venenoso que tinha na cauda.

Estava eu certa ocasião a passar umas férias em casa de uns familiares, numa povoação a cerca de 25 kms de Vila Teixeira da Silva (Bailundo), no Monte Belo onde o pai do Gama tinha a xitaca (pequena quinta), gerou-se um grande alarido, porque alguém veio dizer que junto ao rio (a cerca de 500 mts) estava uma JIBÓIA morta, mas com um cabritinho na barriga.

Fomos todos a correr... e lá encontramos a JIBÓIA empanturrada, naturalmente com uma grande congestão, depois de ter sugado o cabritinho

TIJOLOS




Fui morar para o Bairro Popular nº2 , em Março de 1962 , e lembro-me de uma vez em que ainda faltavam construir os muros e a garagem para conclusão da nossa moradia, era preciso ir comprar mais uns tijolos, e outros materiais para conclusão da obra.

Fui então com meu pai à “Cerâmica do Cazenga” era assim que se chamava, mas era no fim do Bairro da Cuca e no começo da Lixeira, nessa altura o meu pai ainda tinha uma AUSTIN MINI MIRROR carrinha que era fechada tipo furgão, mas que meu pai já a tinha transformado em carrinha de caixa aberta. Carregados os tijolos, há que empreender o regresso ao Bairro Popular nº2, e a carrinha bem carregada, lá vinha devagar pois penso eu que trazia carga a mais, e pensaria também meu pai, pois não queria esforçar a velhinha MORRIS, e vinha devagar, o certo é que ao atravessar a linha de comboio na Francisco Newton na passagem de nivel sem guarda que há perto da Fábrica de Cervejas “ CUCA”, a carrinha foi abaixo mesmo em cima dos carris e não havia maneira de pô-la a trabalhar, nem mesmo à manivela, ela com aquela carga toda quis ali ficar, para desespero de meu pai, pois sabia que haveria de passar ali o comboio que vinha do Bungo e ia para Viana. Sem ninguém para ajudar eu via o desespero de meu pai, é que com aquela carga toda nem de empurrão se movia, e a mais eu era um candengue com 7 ou 8 anos.

Quem conhece a passagem de nivel sabe que quem vem do Bairro de São Paulo é a descer e quem vai para o Bairro da Cuca é a subir, mesmo no meio de um Vale. De repente ouve-se o silvo do comboio e o mesmo já à vista no lado da cerâmica, meu pai desesperado engrena uma mudança ( 1ª ) e dá ao arranque, com a carrinha engatada, foi vê-la aos solavancos a deixar os carris livres para o comboio passar, consequências um pneu do lado esquerdo traseiro rebentado.




AUSTIN MINI MIRROR


Lá se teve que levantar a carrinha com o elevador, vulgo ( macaco) mas teve que se calçar com uns quantos tijolos, não fosse o macaco ceder com o peso da carga. Tirou-se o pneu danificado e meu pai foi com uma boleia que apareceu ao Bairro de São Paulo a uma oficina remendar o pneu. Foi uma sensação primeiro de medo e depois de alivio e satisfação, quando vimos que estava tudo bem e empreendemos o resto da viagem com cuidados e sempre devagar.

TROPA PORTUGUESA




Possivelmente estou vivo graças à tropa portuguesa e às milícias civis que defenderam o Bairro da Cuca em Luanda, quando este foi atacado, em 1961. ( o celebre boato que os turras estavam no Vilela ) foi quase todo o Bairro para os Armazéns de Café que existiam perto do Colégio João de Deus. Nessa noite não dormi e foi a primeira vez que vi o meu pai com uma metralhadora, mais o sr. Raminhos que o acompanhava também com uma metralhadora. A minha mãe, escondia uma FN de 9mm e acalmava-me a mim (6 anos) Nando (4 anos), Victor (3 anos) e Amélia (1 ano) dizendo que as morteiradas e tiros eram foguetes porque havia festa ali perto. Havia de facto "festa" mas era doutra. O pseudo ataque foi supostamente repelido e fiquei assim com a oportunidade para contar esta história. De outro modo, não estaria aqui...se o ataque se tivesse concretizado.

O meu pai era um homem de sensibilidade extrema e desconfio que se se visse cara a cara com um guerrilheiro dos movimentos de libertação, morreria, não de medo, mas por não conseguir premir o gatilho. Enfim...

Mas o meu pai prestou muitos serviços ao Exercito Português, sentiu-se nessa obrigação pois mal seria ver outros anónimos a defender-nos as costas e não estar solidário com eles. Esses serviços foram prestados através das instalações e de viaturas que pertenciam à SONEFE. Em Maquela do Zombo, quando da sua deslocação para uma obra de Saneamento naquela Cidade no ano de (1964 ).

Quando o reforço de tropas chegaram finalmente a Angola (1961) Ainda deu para eu passear, e muito, nos Willys e nos Jipões da tropa...ah, já me esquecia...adorava as rações de combate de tropa...sobretudo aquelas grandes bolachas de água e sal "Capitão" e os tubos verde tropa sem palavras (pareciam de pasta dentífrica) com marmelada ou doce .








MORDOMIAS

Em quase todos os aquartelamentos entre Ambriz-Maquela do Zombo e também no Nóqui. São Salvador, de entre outras coisas, tinham cinema, café-restaurante, comércio, pista de aviões, biblioteca do Movimento Nacional Feminino e instrumentos musicais do mesmo MNF disponíveis para militares.
Em resumo, as comissões em S.Salvador eram um pic-nic. Saíam para cacar durante a noite e conservávam os bifes de pacaça em tempero vinha-de-alhos. Cuidávam da saúde evitando o vinho servido nos aquartelamentos e as rações de combate. Mesmo durante as operacões conseguíam passar bem sem as racões de combate. Conseguíam peixe fresco, bastando para isso jogar uma granada num riacho e pegar os peixes meio zonzos. Os guias produziam vinho de palmeira, o marufo; quem não experimentou não sabe o que perdeu.

Num bairro suburbano de Maquela do Zombo havia botecos com cerveja gelada e presença feminina. Alguns tropas preferiam trazer suas próprias esposas e namoradas, algumas estiveram escondidas em aquartelamentos por vários meses.

Em toda a região do norte havia Grupos Especiais. Eles atravessavam a fronteira com o Congo e no retorno traziam informacões e também uma erva muito disputada pelos entendidos. Pensava-se que só os norte-americanos no Vietnam usavam essa erva, mas não..

De um modo geral, os militares do contingente metropolitano tinham mais dificuldade de acesso a algumas mordomias era mais para os que conheciam o terreno ou seja angolanos.

10/04/2012

HISTÓRIA DA VINDA DO DONDO




Dedico estas recordações e vivências de Luanda - Angola à memória de minha Mãe, Maria do Carmo, que desde tenra idade despertou em mim a curiosidade pela leitura e o gosto pelo estudo. Dedico-a também à saudosa memória do meu pai Júlio Inácio pela lição de amor a Angola, que me deu. Cumpre-me ainda registar aqui a minha gratidão a minha esposa Marinha Ribeiro (Princesa do Uije) e ao nosso filho Bruno Miguel por todo o suporte, paciência e resignação que ao longo dos anos sempre mostraram pelas minhas ausências devidas ao meu percurso laboral.
José Antunes Gonçalves, também conhecido por Zé Antunes ( Russo ) nos seus anos de juventude em Luanda-Angola, nasceu em Póvoa de Penafirme – Torres Vedras, em 1955. Viveu a sua meninice na Barragem de Cambambe e na Vila do Dondo, e a sua juventude em Luanda. Frequentou a Escola primária nº 176 no Bairro Popular nº 2 ( Câncio Martins ) a Escola Preparatória de João Crisóstomo e a Escola Indústrial de Luanda e frequentou a secção Preparatória do Instituto Indústrial. Deixou Angola em Junho de 1975 , vindo para a Grande Lisboa, onde vive com a sua esposa Marinha Ribeiro (Princesa do Uige) e filho Bruno Miguel. É desenhador, gosta da leitura, e de desporto motorizado, além do chamado desporto rei o futebol.
Em 1960, transportado pela AUSTIN MINI MIRROR com as bicuatas todas e desde o Dondo, chegados ao Bº de São Paulo, fomos habitar para a Rua dos Pombeiros, junto aos meus tios, ao lado do Endireita, em frente aos Correios de S. Paulo, depois do nascimento da minha irmã fomos viver para o Bº. da Cuca deu-se o ataque às cadeias, aos policias em 04-02-1961, refugiamo-nos nos armazéns de café, nessa noite ficou tudo de vigilia, corria um boato que os brancos iam ser todos mortos.
Na madrugada de 3 para 4 de Fevereiro de 1961 ouvi tiros. Pareceu-me estranho mas não liguei., ainda era muito miúdo e não me apercebi, como minha mãe dizia eram foguetes. No dia seguinte soubemos que sete agentes da autoridade foram cobardemente assassinados, traiçoeiramente, sem poderem esboçar um gesto de defesa, quando cumpriam o seu serviço de rotina. Caíram numa cilada, acorrendo a um chamamento de socorro, a uma fictícia desordem, em plena madrugada. Mortos com requinte de selvajaria, cortados à catanada, foram estes os primeiros mártires da causa portuguesa, as primeiras vítimas da horda assassina a soldo de potências estranhas de intenções conhecidas. Na manhã do dia 4 a notícia espalhou-se por toda a cidade como um relâmpago. A surpresa foi tão grande que, a princípio, era difícil acreditar que fosse verdade. Mas lá estavam os cadáveres, sete corpos que horas antes ainda fervilhavam de vida, a atestar a notícia, tão cruel como revoltante. Começavam-se então a conhecer-se pormenores.
Houvera ainda uma tentativa de assalto à Casa de Reclusão militar, onde fora morto um cabo do exército. Havia ainda alguns agentes da autoridade hospitalizados gravemente feridos. Houvera um soldado negro que fora um verdadeiro herói. Debaixo do fogo e das catanas dos invasores, conseguira meter-se no jeep e chegar, embora ferido, ao quartel onde dera o alarme. De manhã, toda a zona das barrocas estava a ser motivo de aturada rusga por parte da Polícia. Luanda inteira já sabia dos acontecimentos e assistia excitada e revoltada ao desenrolar das coisas. Mas ainda não passava pela cabeça de ninguém, naquela altura, que aquilo seria o prenúncio de dias terríveis, dias que ficariam para sempre marcados na história de um país, dias que deixariam a terra de Angola regada com sangue dos seus habitantes, colhidos de surpresa por um bando de assassinos narcotizados e completamente enlouquecidos por promessas enganosas e impossíveis.







Rua dos Pombeiros (Bairro de São Paulo)

Em 1962 mudei-me para o Bairro Popular nº 2. Já no Bairro Popular nº2, Lembro-me das "famosíssimas" inundações, que arrastaram a "terra vermelha", até à baixa, pois tinha 7 anos, comecei a adquirir os hábitos de brincar com os amigos, pedindo a meu pai para me fazer as trotinetes e carrinhos de rolamentos, fazendo com os meus irmãos os papagaios de papel, e fazendo corridas de "caricas" recheadas de casca de laranja, para ficarem pesadas, ou fazer com as caricas jogos de futebol daí sermos os três irmãos de clubes diferentes ou ainda fazendo corridas com os magníficos "DIK TOYS".
 O tempo passava, tinha nove anos e ia muitas vezes a casa do meu tio onde vivia, e ai convivia com os kandengues, tocando batuque ,"puíta" ou Guitarra, (feita de Lata de Azeite), grandes amigos, que depois formaram , um grande grupo musical, A vida continuou, até fazer a 4ª Classe e o exame de admissão fui para a “João Crisóstomo”, as amizades eram grandes mas as lembranças dos nomes são vagas. Lembro de uma menina linda chamada Nelita, tenho uma vaga ideia da Laura que era surda muda, ou dos filhos do Sr.Pizarro, muitos outros e o Fernandes que seguiu a vida Militar na FAP. Lembro as imagens das poucas fotos que trouxe e comecei a agarrar-me a pessoas mais velhas que eu, lembro-me dos motoqueiros que iam para Belas , fazer corridas com as motas e a Policia vinha atrás deles. Policia Barbosa mais conhecido em Luanda e arredores. Lembro-me do Simão ,"cozinheiro" da Pastelaria Vouzelense, lembro-me das mariscadas no Cacuaco, das visitas à "CUCA", de ir a Viana comer um franguinho assado, do 24 Horas na Estrada de Catete, do Bar Cravo com a dobradinha, do Bar América, do Bacalhau no Vilela, dos jantares da Floresta das praias do Mussulo, de Belas, da Ilha dos passeios na Marginal, da Vila Alice e Vila Clotilde, da Maianga , dos gelados no Baleizão , da "ginguba", dos pratos saborosos, da Moamba, do Colonial , do Tropical, do Miramar, do Aviz , do R.I.L.20 (onde acompanhava amigos mais velhos que andavam na Tropa e iam ao cinema que era mais barato ). Em 1969 comecei a estudar na “Escola Industrial de Luanda” aos 14/16 anos, liguei-me á amizade dos mais velhos"grandes amigos" no Bar do Matias no Bairro Popular nº2, onde já residia.
 A vida é assim. mas como disse no ínicio começam a aflorar lembranças lindas das noites em S.Paulo, altas farras no “ DESPORTIVO UNIÃO DE SÃO PAULO “ ia lá já com a minha Honda primeiro a SS50Z e depois com a 350 Scrambler. Regressei ,em 1975, deixando para trás , fotos, nomes, a minha vida de adolescente.