Fiz a instrução primário na Escola 176 do Bairro Popular nº 2 em Luanda e tive como professoras a Dona Fernanda (1ª e 2ª classe ) e a Dona Amélia ( 3ª e 4ª classe ).
Tanto eu como os meus irmãos só podíamos calçar sapatos ou sandálias quando saíamos de casa para algum evento ou nas nossas deslocações para a escola. Durante o dia, para poupar as solas, jogávamos à bola descalços. Os meus pés estavam tão calejados que por vezes caminhava em cima de arbustos espinhosos sem me causar qualquer mau estar.
Na escola era obrigatório o uso de bata branca, sapatos também brancos, quedes da Macambira ou sandálias da mesma cor. Na parede posterior às mesas dos professores havia obrigatoriamente pendurado um retrato de Salazar. A entrada na sala era feita de um modo ordeiro e com a chegada da professorora a turma de pé entoava o hino nacional.
Feita a chamada dava-se início às aulas acompanhadas, quando necessário, por reguadas nas palmas das mãos com “a menina de cinco olhos”, puxão de orelhas ou com pancadas na nuca ou orelhas com a vara comprida. A palmatória era confeccionada em madeira com uma peça circular provida de cabo que agarrado pelo algoz direcionava o golpe para a palma das mãos dos alunos.
Os orifícios, normalmente 5, na parte circular atenuavam a resistência do ar e com isso o golpe era mais contundente. Os pais dos alunos orientavam os professores a praticarem essa espécie de castigo para aqueles que tirassem más notas ou tivessem alguma conduta reprovável.
Alguns alunos levavam de casa um farnel para ser comido no recreio, aqueles que ainda tinham esse privilégio o faziam mas outros infelizmente, ficavam olhando os colegas comerem mas de vez em quando havia alguém que sorrateiramente se aproximava de quem tinha o lanche e dava uma palmada nas costas da mão sendo o lanche projetado para o ar e logo em seguida era agarrado pelo contendor e comido. Faço um pequeno esforço para recordar estes factos.
Enquanto as meninas brincavam de cabra cega, jogavam pedrinhas, pular a corda, etc., os rapazes jogavam futebol, as bilhas , pião, etc.. As makas entre alunos eram resolvidas fora do recinto da escola e automáticamente formava-se um ajuntamento em volta dos contendores.
Aprendi a ler pela Cartilha Maternal de João de Deus. Minha mãe tinha uma escrita bonita em uma folha de papel escrevia com o lápis o abecedário e frases soltas obrigando-nos a decalcar o que tinha escrito. A minha letra era inclinada e regular devido a esse processo de aprendizado, depois ficou mais técnica devido ao curso de desenho.
Escola Primária nº 176 - Bº. Popular nº 2
Quando regressávamos da escola para casa ou vice versa, normalmente passávamos no lado lateral esquerdo do Proventório Infantil de Luanda após descermos a rua até ao fim, desembocávamos em uma área onde havia árvores de frutos ( mangas, bananeiras, tambarinos e cajus ) que comíamos de vez em quando, frutas de sabores ácidos. No local apareciam lagartos grandes de tonalidade verde. Eles ficam ao sol para regular a temperatura do corpo e após levantarem a cabeça com a chegada de algum intruso deslocavam-se com velocidade para o tronco da árvore subindo-a.
À tarde o lanche servido era de pão com manteiga, ou marmelada, outras vezes farinha de pau misturada com açúcar, mas esta mistura servida num copo se fosse adicionada um pouco de água ela engrossava e depois de digerida tínhamos a sensação de estomago cheio. Outras vezes comíamos ginguba misturada com farinha de mandioca e açúcar batida no pilão mistura chamada de quiquerra.
O matete também fazia parte do lanche e era um composto de papas de massa de farinha cozida adoçicada com açúcar. Havia também a paracuca.
1966
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