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10/04/2012

HISTÓRIA DA VINDA DO DONDO




Dedico estas recordações e vivências de Luanda - Angola à memória de minha Mãe, Maria do Carmo, que desde tenra idade despertou em mim a curiosidade pela leitura e o gosto pelo estudo. Dedico-a também à saudosa memória do meu pai Júlio Inácio pela lição de amor a Angola, que me deu. Cumpre-me ainda registar aqui a minha gratidão a minha esposa Marinha Ribeiro (Princesa do Uije) e ao nosso filho Bruno Miguel por todo o suporte, paciência e resignação que ao longo dos anos sempre mostraram pelas minhas ausências devidas ao meu percurso laboral.
José Antunes Gonçalves, também conhecido por Zé Antunes ( Russo ) nos seus anos de juventude em Luanda-Angola, nasceu em Póvoa de Penafirme – Torres Vedras, em 1955. Viveu a sua meninice na Barragem de Cambambe e na Vila do Dondo, e a sua juventude em Luanda. Frequentou a Escola primária nº 176 no Bairro Popular nº 2 ( Câncio Martins ) a Escola Preparatória de João Crisóstomo e a Escola Indústrial de Luanda e frequentou a secção Preparatória do Instituto Indústrial. Deixou Angola em Junho de 1975 , vindo para a Grande Lisboa, onde vive com a sua esposa Marinha Ribeiro (Princesa do Uige) e filho Bruno Miguel. É desenhador, gosta da leitura, e de desporto motorizado, além do chamado desporto rei o futebol.
Em 1960, transportado pela AUSTIN MINI MIRROR com as bicuatas todas e desde o Dondo, chegados ao Bº de São Paulo, fomos habitar para a Rua dos Pombeiros, junto aos meus tios, ao lado do Endireita, em frente aos Correios de S. Paulo, depois do nascimento da minha irmã fomos viver para o Bº. da Cuca deu-se o ataque às cadeias, aos policias em 04-02-1961, refugiamo-nos nos armazéns de café, nessa noite ficou tudo de vigilia, corria um boato que os brancos iam ser todos mortos.
Na madrugada de 3 para 4 de Fevereiro de 1961 ouvi tiros. Pareceu-me estranho mas não liguei., ainda era muito miúdo e não me apercebi, como minha mãe dizia eram foguetes. No dia seguinte soubemos que sete agentes da autoridade foram cobardemente assassinados, traiçoeiramente, sem poderem esboçar um gesto de defesa, quando cumpriam o seu serviço de rotina. Caíram numa cilada, acorrendo a um chamamento de socorro, a uma fictícia desordem, em plena madrugada. Mortos com requinte de selvajaria, cortados à catanada, foram estes os primeiros mártires da causa portuguesa, as primeiras vítimas da horda assassina a soldo de potências estranhas de intenções conhecidas. Na manhã do dia 4 a notícia espalhou-se por toda a cidade como um relâmpago. A surpresa foi tão grande que, a princípio, era difícil acreditar que fosse verdade. Mas lá estavam os cadáveres, sete corpos que horas antes ainda fervilhavam de vida, a atestar a notícia, tão cruel como revoltante. Começavam-se então a conhecer-se pormenores.
Houvera ainda uma tentativa de assalto à Casa de Reclusão militar, onde fora morto um cabo do exército. Havia ainda alguns agentes da autoridade hospitalizados gravemente feridos. Houvera um soldado negro que fora um verdadeiro herói. Debaixo do fogo e das catanas dos invasores, conseguira meter-se no jeep e chegar, embora ferido, ao quartel onde dera o alarme. De manhã, toda a zona das barrocas estava a ser motivo de aturada rusga por parte da Polícia. Luanda inteira já sabia dos acontecimentos e assistia excitada e revoltada ao desenrolar das coisas. Mas ainda não passava pela cabeça de ninguém, naquela altura, que aquilo seria o prenúncio de dias terríveis, dias que ficariam para sempre marcados na história de um país, dias que deixariam a terra de Angola regada com sangue dos seus habitantes, colhidos de surpresa por um bando de assassinos narcotizados e completamente enlouquecidos por promessas enganosas e impossíveis.







Rua dos Pombeiros (Bairro de São Paulo)

Em 1962 mudei-me para o Bairro Popular nº 2. Já no Bairro Popular nº2, Lembro-me das "famosíssimas" inundações, que arrastaram a "terra vermelha", até à baixa, pois tinha 7 anos, comecei a adquirir os hábitos de brincar com os amigos, pedindo a meu pai para me fazer as trotinetes e carrinhos de rolamentos, fazendo com os meus irmãos os papagaios de papel, e fazendo corridas de "caricas" recheadas de casca de laranja, para ficarem pesadas, ou fazer com as caricas jogos de futebol daí sermos os três irmãos de clubes diferentes ou ainda fazendo corridas com os magníficos "DIK TOYS".
 O tempo passava, tinha nove anos e ia muitas vezes a casa do meu tio onde vivia, e ai convivia com os kandengues, tocando batuque ,"puíta" ou Guitarra, (feita de Lata de Azeite), grandes amigos, que depois formaram , um grande grupo musical, A vida continuou, até fazer a 4ª Classe e o exame de admissão fui para a “João Crisóstomo”, as amizades eram grandes mas as lembranças dos nomes são vagas. Lembro de uma menina linda chamada Nelita, tenho uma vaga ideia da Laura que era surda muda, ou dos filhos do Sr.Pizarro, muitos outros e o Fernandes que seguiu a vida Militar na FAP. Lembro as imagens das poucas fotos que trouxe e comecei a agarrar-me a pessoas mais velhas que eu, lembro-me dos motoqueiros que iam para Belas , fazer corridas com as motas e a Policia vinha atrás deles. Policia Barbosa mais conhecido em Luanda e arredores. Lembro-me do Simão ,"cozinheiro" da Pastelaria Vouzelense, lembro-me das mariscadas no Cacuaco, das visitas à "CUCA", de ir a Viana comer um franguinho assado, do 24 Horas na Estrada de Catete, do Bar Cravo com a dobradinha, do Bar América, do Bacalhau no Vilela, dos jantares da Floresta das praias do Mussulo, de Belas, da Ilha dos passeios na Marginal, da Vila Alice e Vila Clotilde, da Maianga , dos gelados no Baleizão , da "ginguba", dos pratos saborosos, da Moamba, do Colonial , do Tropical, do Miramar, do Aviz , do R.I.L.20 (onde acompanhava amigos mais velhos que andavam na Tropa e iam ao cinema que era mais barato ). Em 1969 comecei a estudar na “Escola Industrial de Luanda” aos 14/16 anos, liguei-me á amizade dos mais velhos"grandes amigos" no Bar do Matias no Bairro Popular nº2, onde já residia.
 A vida é assim. mas como disse no ínicio começam a aflorar lembranças lindas das noites em S.Paulo, altas farras no “ DESPORTIVO UNIÃO DE SÃO PAULO “ ia lá já com a minha Honda primeiro a SS50Z e depois com a 350 Scrambler. Regressei ,em 1975, deixando para trás , fotos, nomes, a minha vida de adolescente.

2 comentários:

  1. Boa noite Sr. José Gonçalves deixo-me dois convites um para, se entender se juntar ao grupo de Ex alunos da Escola Preparatória João Crisóstomo de Luanda.
    https://www.facebook.com/groups/175756112547068/
    o outro tem a ver com o nosso primeiro encontro que vai ter lugar em Fátima no mês de Março
    https://www.facebook.com/events/363133930446407/
    Cumprimentos, desculpe o incomodo e boa noite.
    Mário Abreu

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  2. Amigo Mário já estou no facebook no grupo da escola Preparatória de "João Crisóstomo" Luanda fui da famosa turma que levou um dia de suspensão por a Prof. Gabriela ter caido da Cadeira.
    Quanto ao encontro já foi divulgada a minha presença, pois espero encontrar muitos amigos desse tempo.
    Um grande Kandandu

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