MEUS AVILOS... (um trecho para recordar os Bairros de Luanda)
Falar em pão quente é recordar o Bairro Popular, era na padaria no largo ao lado da sapataria do surdo que as meninas iam lá e ficavam na fila ao sábado a tarde para comprar o pão para domingo, e está-se mesmo a ver que o maralhal com as suas torraites iam para lá para dar um dedo de conversa, ou mesmo namorar, outros era rua da Gabela a baixo rua da Gabela a cima, e outros mais exibicionistas a dar grandes voltas ao largo e a fazer cavalinhos claro que está de vez em quando era bassaúla na certa. Recordar o Bairro Popular é recordar as farras nos Clubes do Bairro Popular, do Sarmento Rodrigues, as particulares no quintal de qualquer um de nós ( grandes farras na casa da Goretti , da Ivone, do Zé Antunes , Na casa do Pompeu e do Salvador, na casa do Passarinho na Rua da Gabela e em especial na Serração do Salgueiro)
Recordar ainda, os trumunos que fazíamos nos terrenos do Preventório Infantil de Luanda quando jogávamos a bola até mesmo de noite, Tó e Rui Barata, Fernando, Victor e Zé Antunes, Beto , Galiano, Dário, miúdo Agostinho ,Carlos Perninhas e irmão, ( alguém tirou dinheiro do pai que era taxista e com esse dinheiro fomos comprar uma bola de catchú ) , Carlos Capacete já falecido, Américo e muitos mais, são as Corridas que faziamos de mota a volta do Largo ( com os invariáveis despistes na casa do Cid), isso é lembrar o Toalhinha, o Vasco Leite, o Perninhas, o Bronson, o Gaspar, o Zé Antunes (Russo) que uma vez para não ficar debaixo do maximbombo 22 foi para cima do FIAT 124 do Moedas e a mota para debaixo do maximbas e outra vez bateu no Toyota Celica de um mais velho do Sarmento e ai teve que ir para o Hospital de São Paulo com a cana do nariz fracturada. é recordar as idas aos casamentos, baptizados e festas afim como penetras ( sempre havíamos sido convidados ou éramos convidados da noiva ou do noivo consoante o que nos parecia melhor ). Tempos que vão... e que se vão, diluindo nesta saudosa existência de vida.
Recordar o Bairro Popular é recordar ainda kandengue, as idas até ao Bar São João ( do Matias e do Jorge ) e os mais cotas tais como o Necas ( Nascimento guarda redes do ASA suplente do Cerqueira ), o Garrido, o Pita –Grós, o Nogueira , o Américo Nunes, o João Doutor, o miúdo Lobo, o Carlos Enfermeiro, o Sotero, o Manel Zé, o falecido Alberto ( Gugu ), o Moedas, o Zé das Senas, o Fernando e o Nelo Caroça, os Vandúnem, o Zeca Dificil, o Bronson, o Cruz, o Barros, (os irmãos Borges - Zé, António. Chico, Carlos e o João ) e muitos outros avilos que pagavam uns finos cá ao menino, está-se mesmo a ver que depois de beber dois ou três finitos levavam-me a casa e a tia Carmitas ( minha falecida mãe ) barafustava com a malta pois dizia ela que me queriam matar com a cerveja, " temos que nos irmos recordando com estas pequenas lembranças...que já não voltam mais!
É recordar ainda as idas ao cinema São João ( eu e meus irmãos e o Chico meu cunhado trabalhávamos no bar ( sr. Reinaldo era o gerente ) só para ver o filme sem pagar ) e depois no fim das sessões iamos para o muro do Matias e estavamos ali até ás 4 da manhã a contar anedotas " ás vezes era com cada susto pois o Matias vinha á janela e com a pistola de alarme afugentava o pessoal" ou então quando colocava alcatrão no muro (ao qual chamávamos carinhosamente de o nosso poleiro ) para não nos podermos sentar .
Recordar o Sarmento Rodrigues era ir para o Tirol ou o Pisca Pisca e petiscar uns pipis com mocotós e moelas e beber uns finos junto da malta.
Lá aparecia o Brinca na chica que farto de andar de bicicleta pedia para dar uma volta na minha torraite e eu dizia xê canuco vai lavar a cara e vestir uma camisa e umas calças limpinhas. Xê este branco é mesmo carrula.
malta da Banda Kaluandas do Bairro é recordar a loja do Dias onde o Munhungo também chamado Cassequel, o maximbombo 23 fazia a inversão junto ao imbondeiro. Nesse maximbas era mais barato e o maralhal ia nele e as vezes não pagava, o falecido Zé Pinguiço uma vez ficou todo arranhado pois a fugir do cobrador e com o maximbombo em andamento caiu na estrada de Catete junto aos Maristas .
Recordar o Bairro Palanca e o Golfe ( Lagoa do Roldão ) é recordar as corridas de moto – cross que ai se realizavam, meu grande amigo Carnapeto do Desportivo União de São Paulo que organizava os moto crosses antes de ser nas Barrocas do Miramar , artilhava-se as torraites fazia-se o moto cross e ainda tínhamos tempo para ir ás Matinés no Cine S. João para estar com as Garinas.
Lembro- me perfeitamente do negrão Vai a Lua com uns pés enormes e era Cambaio que tinha uma deficiência numa perna e que queria sempre jogar a guarda - redes!!!
Lembro- me de matar sardões à pedrada no Jardim do Preventório, de brincar as corridas de automóveis "dinkitows" com o Manelito filho da Dona Florinda (alguns "dinkitows" gamados no Quintas e Irmão deixávamos as caixas vazias) com uns amigos de que me recordo alguns nomes ou alcunhas e moradas: O Manelito tinha uma irmã a Linô que moravam na casa ao lado do Sr. Vicente pai da Celina e da Chú, lembro-me de passar tardes inteiras a jogar monopólio com os meus irmãos na casa dele .
Os Teixeiras que moravam na Rua de Serpa mesmo ao meu lado ( António, Quim, Chico e a sobrinha Mila que mais tarde casou com o Minguitos da Terra Nova ).
Lembro-me do Carlos Capacete um kandengue (quer dizer, um jovem ) um madiê que tinha um cabelo muita espetado e muita forte, que quando crescia, parecia mesmo um capacete, razão porque lhe puseram tal alcunha? Tinha uma TORRAITE uma Honda SS50Z, faleceu pouco depois de vir de Luanda.
Lembro-me das nossas brincadeiras com trotinetes e carrinhos de rolamentos que arranjávamos nas oficinas de automóveis (da Renault da Sabb e da Robert Hudson representante da Ford).
Lembro-me dos Pára-quedistas que saltavam no Golf. Íamos lá para tirar o fio que era bem resistente e um dia numa dessas largadas, em que houve uma menina "pára" que por ser muito leve, foi arrastado pelo vento, tendo ido cair em cima (e depois dentro) de um galinheiro no Sarmento. Perto da Serração do Salgueiro, e uma outra que o paraquedas não abriu e ela morreu.
COMO GOSTARIA AGORA DE FAZER E ORGANIZAR UMA CORRIDA DE CARRINHOS COM AS PISTAS DESENHADAS NO CHÃO COM GIZ !!!
Lagoa do Roldão bem atrás do aeroporto na carreira de tiro dos comandos já bem afastado do Golfe ia lá correr nos motocrosses mais o Zé Tó com a minha Honda SS 50 Z, desmontava a mota e aplicávamos o escape livre (tinha feito um escape cónico tipo corneta o chamado mega ) era cá uma barulheira. Depois no fim montava tudo e chegava a casa, o meu Kota ia ver se a mota estava suja mas nada tinha sido bem lavada, um bom banho para não se notar a lama. Para a Lagoa do Roldão ia-se acampar e fazer "aquela famosa caçada noturna" caça dos gambuzinos e ai entra o Luis Gambuzo tinha acabado de chegar a Luanda e ao Bairro nos anos 72 ou 73, conversa de Gambuzinos e nós a picarmos e ele curioso quis saber como era e nós como bons amigos quisemos ensinar-lhe como se caçava , e lá o levamos para o Golfe com o saco de sarapilheira e a lanterna e o deixamos a espera que ele enche-se o saco com gambuzinos e piramo-nos dizendo que os íamos afugentá-los para a direcção dele indo claro está para o bar do Matias , passadas duas horas ele todo danado pois ficou lá sozinho e nada de gambuzinos foi uma rizada de partir o coco, ficou conhecido pelo Luis Gambuzo, e com vergonha da alcunha mudou-se para a Madame Berman.
Para a Lagoa do Silvares, que era mais pequena, ia-se apanhar os passarinhos, com os arames com o visgo extraído das mulembeiras e depois de muito mexer com os dedos, enrolando o leite da dita cuja arvore.
Lembro-me de um senhor muito forte, negro enfermeiro que morava ao lado da casa do Sr. Acácio das camionetas pai da Virinha, Dininha e Cacito., batia no filho a toda a hora pois o kandengue queria jogar a bola com a malta mas o pai queria que o miúdo estudasse para ser médico, dizia que nos prendia a todos, pertencia ao M.P.L.A .
Já agora ainda me lembro de um rapaz que treinava no Benfica o José Luís Cordeiro e que me queria levar para essas andanças do Atletismo, mas eu nessa altura queria era motas .
Lembro-me da mercearia do Sr. Amaro , da casa de Moda do Sr. Novo, da Sapataria do sr. Silva ( mudo ) do Sr. Matias e Jorge do Bar São João, do sr. Pinto Ferreira do Talho, da Padaria da Rua da Gabela, da Tabacaria na Rua de Porto Alexandre, da casa de Gelados na Rua de Ourique, da loja do Cravo, da Loja do Dias onde comprávamos ginguba, do Colégio Santo Expedito . Lembro-me de uma senhora onde íamos comprar gelados feitos de gelo ou era a mãe do Garção ou do Carlos Buritty.
Quem não se lembra de ir apanhar mangas, bananas, pitangas, fruta pinha e cajús na horta do Preventório
Quem não se recorda do pão quente da Padaria da Estrada de Catete? Quem ia para O bairro da Terra Nova depois do ABC
Uma história gira que recordo, Da garrafa de vinho do porto do Nelo Caroça, mas ainda assim bastante divertida... Penso que terá acontecido no Natal de 72 ou 73... A rapaziada do Largo e das motoretas, já não recordo todos os que faziam parte do grupo... resolveu nesse Natal visitar todas as capelinhas, ou seja a casa de todos os amigos... Então em cada casa que passávamos para dar as Boas Festas, os pais dos ditos amigos, faziam questão que comessemos das suas iguarias e bebessemos dos seus vinhos... - Resultado lógico... uma ganda bezana...
Assim quando calhou a vez de visitar a casa do Teixeirinha, que ficava lá prás bandas do Palanca, ao subir a "avenida" de terra batida que dava acesso ao dito Bairro, aconteceu apanharmos uma curva, em que "estranhamente" havia "alguma" areia e o tipo da mota da frente espalhou-se ao comprido e, em consequência disso, todos os que vinham atrás se foram espalhando igualmente em cadeia. Na mota do Zé Antunes ia à pendura o Bacalhau que ficou ali deitado a chorar e a dizer “ ai minha mãe que morri “, Resultado... uma risada geral e a festa continuou...
Pra fechar a noite o Zé Avelino resolver gamar a garrafa de Porto que o Nelo Caroça tinha levado para o Largo para partilharmos mais tarde na noite e "mamou-a" sózinho às escondidas, tendo sido depois atacado por uma crise de tristeza e de choro, confessando-nos que o pai não gostava dele e acabou debruçado na janela da casa dele, a vomitar tudo o que tinha comido e bebido... Cenas dos tempos...
Lembras-te Nelo Caroça
Meu Deus !!! RECORDAR É VIVER !!! ESTAMOS JUNTOS