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30/08/2012

BAIRRO DA SAMBA



Do que me lembro da Samba?

Da esplanada do Lobo da Costa, onde havia para além de uma mini pista de Kart's, uma bela esplanada que era muito frequentada nas noites Luandenses.
Lembro-me que era o local onde podia-mos ver os famosos Lutadores de Luta Livre que se deslocavam a Angola para lutar pelo cinturão (???).
É claro que era muito míudo (10 anos) e só me lembro de alguns nomes.
Também vi alguns combates ao vivo e a cores no estádio dos coqueiros, e recordo-me de um combate entre o Zé Luis (português) versus um Búlgaro que pesava mais 50 Kg que o primeiro, mesmo assim a vitória coube ao Português.
Depois do espetáculo ia ao Polo Norte para beber uma carbo sidral.

Já agora lembram-se do filme que inaugurou o TIVOLI??-Laurence d' Arabia.
Eis alguns nomes da malta daquela geração: Mário Tirapicos, falecido com a namorada num acidente com a Honda 350; os irmãos Camilo; Necas, Tonecas e irmãos, primos do Pingo; Nelo e irmão; Carlitos, irmão do Rolito; dois Luíses, um morava em frente da padaria e outro na Júlio Lobato, dono da Honda 350 Scrambler; o Tino; o Jaime Sossega e irmãos. O Juca, o Brasileiro e outros chegaram bem mais tarde. Ah, falta o Luíz Gonzaga, irmão da Mimi. Quem conheceu a pista de dinky toys desenhada sobre o urinol do parque? Quem conheceu a Isabel Barata, a Isabel Lobo da Costa, a Conceição irmã do Jorge Velhindo, a Cristina, Geny, Irene, Magda? Por último, alguém lembra do Negresco?

Recordando o Tivoli, após o Laurence da Arábia parece que entrou em cartaz o Doutor Jivago. Lembro que a rapaziada saiu correndo para comprar camisolas de gola alta para imitar o look do Omar Shariff. Bigode mesmo era para poucos.

Estávamos numa das nossas farras de "quintal" em casa da Ilma, penso que se chama assim, irmã do Jorge Pamiés Teixeira vulgo "Careca", a mãe era espanhola, e o João Corte Real mais velho, a pessoa que tinha um maior "caparro", pedi-lhe ajuda para endireitar o volante da Honda SS50Z de escape para cima, que ficou assim devido a uma queda que dei numa curva, por ter batido num cão, quando ia para essa festa. A casa deles ficava perto da Sagrada Família, no largo do Colégio Algarve. Lembro-me como se tivesse passado hoje.

Lembro bem do "Pita-buzinas" ou "Toca-buzinas", como também era conhecido. Tinha um tique nervoso (ou seria um distúrbio obsessivo-compulsivo?) e pontuava cada frase com um "puííím..." feito com o canto da boca.
Dos antigos da Samba gostaria de lembrar do "Ferramenta". O "Ferramenta" era guarda livros da Flor da Samba e recebera esse apelido por andar sempre com três ou quatro ferramentas no bolso; assim que via um parafuso ou uma porca ía lá tentar apertar ou desapertar, conforme o caso.

Lembro de outros apelidos famosos: o "Sarapintas", por ter sardas no rosto; o Idéias, assim conhecido por discutir com a motorizada, isso mesmo, com a motorizada! E da "Maria das Pressas", quem lembra dela e da razão desse apelido?

Lembro-me da Lurdes “a Boneca”, lembro-me dos irmãos dela, Tino e o Diniz , o Diniz salvo erro era sargento da Força Aérea, Lembro-me do falecido Luciano. O Luciano tinha uma NSU Cavalinho vermelho e era bem quisto e respeitado por todos do bairro. Penso que não há mal algum lembrar uma famosa bebedeira dele junto com o Leandro. O Leandro deitou-se num banco do jardim completamente grogue enquanto o falecido Luciano, tripulando a Thriumph 350 do Leandro, curava a bebedeira dando voltas ao parque com o acelerador ao fundo.

Da família Camilo lembro-me bem, a casa deles era engraçada, pintada de verde claro e dava a impressão que ficava num alto, ele vivia com a mãe, o irmão mais velho do Carlos fugiu para a Áustria muito novo para fugir á Pide e á tropa, ( dizia-se que era comunista), o que na altura para mim era chinês, mas estava-mos proibidos lá em casa de pronunciar essa palavra, sob pena de levarmos os meus pais á cadeia, lembro-me de ouvir os meus pais dizerem que eles eram vigiados pela pide por isso.

Vários kandengues decidiram construir uma caverna no morro da Samba? A caverna desabou e um dos Miúdos ficou lá soterrado, sendo resgatado no último minuto por um corajoso da malta. Lembro-me ainda das miúdas da Samba que iam para a praia da Corimba e com os espelhos das motas faziam sinais aos Avilos que ficavam um pouco mais distantes.

Outro acontecimento marcante nessa altura foi o aparecimento da Coca Cola em Luanda e o concurso que fizeram. Tinha-mos de coleccionar caricas de 0 a não sei quantos e os números 13 e salvo erro o 8 em 100 só saia 1. Era muito difícil ganhar e começaram logo a fazer trafulhices, apagando números das caricas e desenhando os que faltavam à colecção.

Lembro-me tão bem desta cena! A Teresa tinha os números todos, só lhe faltava o 13 e num domingo, antes de sair para um piquenique, a mãe retirou as caricas das garrafas para ver os números e eis que lhe sai o 13! Foi uma festa, mas veio de lá o pai dela todo zangado e muito aflito, pensando que a mãe e ela tinham feito a dita trafulhice. Foi preciso muito para o convencer que o 13 era original e lá lhes saiu uma bicicleta. Lembro-me que nessa altura a Teresa era uma grande amiga, mas perdi-lhe o rasto. Nunca mais soube nada dela.

Há ainda o caso dos cheques visados falsos, protagonizado pelo Bertino e pelo Figueiredo. Uma fraude espectacular, o enredo daria um bom filme. Por que será que um assunto desses ainda não foi explorado? Poderiam surgir novas revelações. Eu, por exemplo, não sabia da possível conexão entre a morte do José Barata e esse caso. Sabia apenas que alguém queria silenciar o Barata. Uma vez alguém colocou uma cobra venenosa de bom tamanho no jardim da casa dele; felizmente o pai dele viu a cobra e ele e o malogrado Barata mataram-na a tiros de pistola.

E a tareia que um assaltante levou da casa do Márito !!!: a mãe do Márito quando viu um homem no primeiro andar da sua casa e pôs-se aos gritos... como aquela hora só havia mulheres e crianças, foram todas as mulheres com o que se tinham á mão, panelas, tachos vassouras...agarram o dito e deram-lhe tamanha coça que ele só pedia para chamar a policia que as mulheres ainda o matavam!!!isto pelos anos 71, foram todas acudir a mãe do Márito, sem se lembrarem que tinham os filhos em casa a dormir!!

Penso que o Lobo da Costa era uma pessoa conhecida e querida por todos nós. Ele era empresário, atleta e até artista de cinema. Eu, penso que ele participou num filme dos anos 40, rodado em Portugal. Em Luanda, anos 50, ele exibiu-se como lutador no Circo Ferroni, eu só ouvi a filha a Isabel Lobo da Costa contar e penso que poucos serão capazes de se lembrar deste circo mas certamente lembrarão dos torneios de "luta-livre americana" dos anos 60-70, nos Coqueiros, com Milano, Dimarcos, Taúta, Grilo, Rocha, La Barba, Vilaverde, Landro, King Kong (o falecido Taborda), dentre outros. O Lobo da Costa organizava e participava destes torneios. E mantinha uma pequena feira de brinquedos infantis na Restinga, Ilha de Luanda. Depois abriu o Restaurante Ganso, nas instalações de uma antiga lavandaria industrial a caminho da praia da Samba. Devem ter experimentado o "bife à Lobo", não? Mas apesar do sucesso o restaurante teve vida curta.

Por volta de 63-64 o Lobo da Costa construiu a pista de kart na Samba. Na inauguração da pista eu estava no prédio da padaria. Algumas dezenas de pessoas tentavam ver as competições do alto de um imbondeiro, junto ao rio seco. Um galho quebrou e várias pessoas cairam de uma altura de 4 a 5 metros. Foi um deus nos acuda.

Antes do Lobo da Costa construir a pista de carting, o local acolhia feiras de diversões itinerantes. Lembro do poço da morte do Max, motociclista veterano, do qual se dizia ter mais platina na cabeça do que miolos. O equipamento do Max era velho, a começar na moto e a acabar na madeira do poço, cheia de remendos. O show atraía poucos espectadores e o Max deixava entrar os putos de graça sob a condição de que estes o aplaudissem e fizessem bastante gritaria. A cada volta, volta que ele dava naquela Jawa barulhenta era um coro de "uaaaá, uaaaá, uaaaá".

De qualquer forma, obrigado pelo show, grande Max!



HISTÓRIAS DOS MAIS VELHOS



2008

2 comentários:

  1. Esta história da Coca Cola por acaso foi passada comigo e meus irmãos, Eu vivia na Samba a qdo do lançamento da Coca Cola em Luanda e o que é aqui narrado aconteceu exactamente connosco... por acaso essa TERESA serei eu????? ou há 2 famílias com a mesma história? Tinha graça!!!! Só que eu não me chamo Teresa.

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  2. Olá
    Esta história da Coca Cola foi contada pelo falecido Américo Barroso e ele falou-me na Teresa ( se calhar és tu Celina Rocha )
    São Histórias de saudades que vamos recordando Um beijo

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