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07/03/2014

DECADA DE 70

No ano de 1971, eu era um kandengue que morava no Bairro Popular nº 2, tinha dezassete anos de idade. Estudava na Escola Indústrial de Luanda, e acabado o Curso, então não me restou outra alternativa a não ser começar a trabalhar para ter a minha independência, continuando os estudos á noite, para comprar a minha primeira motorizada uma Honda SS50Z, para levar a namorada ao cinema nos finais de semana, para beber uns finos, comer uns camarões e uma dobradinha nos Bares do bairro com os amigos, principalmente no Bar do Matias.


Tenho que agradecer aos meus Pais, muito obrigado Sr. Júlio e Dona Maria do Carmo, muito obrigado Luanda por darem-me a oportunidade de me tornar homem, responsável, destemido e acima de tudo um cidadão que aprendeu a amar Angola, a amar a cidade de Luanda, e continuando a amá-la até os dias de hoje.

Na década de 70, muitas novidades e fatos inesquecíveis aconteciam no mundo. Eu e muitos jovens na época ouvíamos as belas músicas dos Beatles, Bee Gees, Elton John, John Lennon, Pink Floyd, Yes, Supertramp, Roberto Carlos, Chico Buarque, Raul Seixas, Led Zeppelin, Deep Purple e tantos outros que faziam sucesso naquele tempo

Pink Floyd

Eu e meus amigos que residíamos no Bairro Popular nº 2, em Luanda, quase todos os avilos tinham a sua torraite e curtiamos as belas passeatas ao Porto Kipir, á Barra do Kuanza, ou na grande cidade de Luanda, ouvíamos os bons rocks clássicos, e também merengadas, rebitas, e dançávamos nos bailes, fossem em clubes ou na residência de alguém nosso amigo, nas festas de aniversário, casamentos, noivados ou qualquer comemoração. Foi uma época inesquecível, em que caminhávamos pelas ruas da cidade, principalmente nos seus musseques, em qualquer hora do dia, ou da noite, sem o perigo que se diz que se vive atualmente.

Quantas vezes atravessamos a Estrada de Catete, mesmo de madrugada, ou caminhava-mos pelas ruas do Sambizanga, Casa Branca, Rangel, Prenda Terra Nova, Cazenga, Palanca e tantas outras ruas de outros Bairros falando de alguma canção de sucesso ou mesmo conversando sobre os temas da actualidade, acompanhados de amigos ou mesmo das namoradas. 

Vivi na verdade o melhor tempo da minha Juventude. 

Bairro Popular nº 2 

Por onde será que estão atualmente os velhos amigos: Paquito, Zé – Tó, Minguitos, Luis Manuel ( Lili ) Zé Manuel, Zé Avelino, Carlos Barbara, Dativo, Moedas, Caroças, Tony Novo, Chico Maia, Nascimento, Seabra, Carlos ( Perninhas ) Nogueira, Zeca Dificil, Taúta, Barros, Manelito, Litó, Quim Costa, António Costa, Chico Teixeira, Cacito, Manuel João, Ninito, Zé Ideias, Soares, Sousa, Cacipita, Mano Meira, Soares, Faisca, Tony Sanguito, João da Lusolanda, Carlos Clara, Madruga, Mário Dias, e tantos outros? 

E as garinas Betty, Celina, Chú, Mila, Dina, Virinha, Leonor, Zeza, Crisanta, Teresa, Alice e Ivone, Goretty, Judite, Isabelinha, Lourdes, Florinda, Teresa, Rosário, Célia, Luisa, Marinha ( São ) minha namorada, e tantas outras. 

E os avilos do conjunto , “Os Rubis“ que abrilhantavam as farras, tocavam nos clubes, Chico Leite, Claudino, e os Manos Bondosos? E os The Windies do meu amigo Beto Calulu.

The Windies

No almolço anual da malta do Bairro Popular nº 2, encontramos muitos avilos da nossa meninice do Bairro, e logo ali matamos as saudades, recordando esses tempos. 

Os bares do Matias, Tirol, Pisca Pisca, o Bar Cravo, e as cervejarias na Baixa de Luanda, que não existem mais? Ou será que existem!! 

Quando eu estudava na Escola Indústrial, tinha também colegas, do Bairro, o Pinguiço, o Guimarães, o Fernando Simões, o Camilo da Terra Nova, o António Gilberto do Sarmento Rodrigues, o António Rodrigues do Cazenga. 

Quando eu ouço as músicas daquela época, logo me vem à lembrança as calças á boca de sino, as camisas justinhas ao corpo, os sapatos de tacão alto, os cabelos compridos, das pessoas e dos lugares por onde eu passei. São boas lembranças e espero que todos os meus amigos e conhecidos estejam muito bem em suas vidas. 

Sei que alguns já faleceram, como o Litó, o Filipe Santarém, o Jaimito, o Carlos Capacete, o Machado, o Mikinho, o Fernando das Quarras, o Fernando Transmontano, o Pinguiço, a Alice ( Nixa ), que descansem em paz, no seu eterno sono. 

Na juventude, dos anos 1960 a 1975, íamos muito ao cinema, trabalhei no Bar do Cinema para poder assistir aos filmes, aos encontros de jovens da igreja de Santa Ana, ( J.O.C. ) com os amigos (as) e namorados ( as ). 

O cinema do Bairro Popular o cine São João, muito famoso na época, depois de assistir a um bom filme, iamos para o muro do Bar do Matias até altas horas da madrugada. Vida muito difícil, para nossos pais que trabalhavam, pagávam os nossos estudos, tínhamos que ser responsáveis desde muito cedo, diferente da juventude de hoje, onde os pais patrocinam os filhos, que demoram muito mais para serem independentes. 

Fazíamos passeatas, que iam sempre dar ao Largo da Mutamba, quase tudo acontecia nas Avenidas próximas. Nesta época, surgiu o moderno Edificio da Mutamba, foi desde sempre o ponto de encontro, para curtir, simplesmente deixamos de ir a Biker jogar bilhar para frequentarmos o Mutamba, ou para simplesmente ouvir os amigos, desabafar, rir em amenas cavaqueiras, enfim ser feliz.

Largo da Mutamba ( foto Mário Silva 1972 )

Foi muito bom viver cada momento, marcado por boas e más lembranças, que fazem a história de nossa vida, ainda hoje tenho saudades desse tempo. 

Alguns comentários: 

Do grupo de AMIGOS que cresceram felizes no seu Bairro onde a amizade se foi fortalecendo ao longo de horas infindáveis de confraternização e brincadeira como se de uma imensa família se tratasse numa sala de visitas imensa, o Largo e o Café do Matias onde a qualquer hora sabia-mos onde estavam os nossos Amigos. ( Moedas

Na rua de Loulé, que mais tarde em frente foi construída a Defesa Civil (era a rua de Transição para o Bairro Sarmento Rodrigues ), e como todos os moradores frequentei o cinema S. João, a Igreja de Santa Ana, e quando entrei para a escola primária fui estrear a referida escola denominada Escola Primária nº 176. Tenho recordações das professoras Dona Fernanda e Dona Amélia, recordações dos intervalos, e da venda de doçarias á porta da escola, confecionadas pelas "quitandeiras" como a paracuca, pirolitos e o doce de coco. 

A minha sogra era cliente da loja de confeções Confiança, do Sr. Novo, pois ela era modista e confecionava roupa para a maior parte da malta jovem do Bairro principalmente camisas bem justinhas. Na entrada do Sarmento Rodrigues havia uma mercearia cujos donos eram o Sr. Aníbal e D. Dulce, onde havia uma frondosa árvore, o Imbondeiro, era a chamada loja do Sr. Dias. 

Todos os anos por alturas do Natal visitávamos a Mutamba onde no Jardim da Camara Municipal de Luanda se montava o imponente presépio e esta zona estava sempre toda iluminada. O presépio era algo de maravilhoso com todas as personagens bem representadas. Penso que de ano para ano havia uma inovação na sua montagem, o presépio era lindíssimo. ( Tiza

Infelizmente, ou felizmente, a vida é como uma roda gigante: uma hora estamos no alto, noutra hora, estamos em baixo, mas o mais importante é que as lembranças ficam cravadas na parede da nossa memória. 


ZÉ ANTUNES 

1970

2 comentários:

  1. Ola sou a filha do Artur Lopes que era o baterista da banda The Five Kings. Eu gostaria de saber se ele tinha gravado algo disco ou mais se ele participou em festivais ou fotos dele.

    Marta Lopes

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    1. Amiga Marta eu não sei se eles gravaram algum disco desse Grupo pouco sei, esse grupo ao que sei era Brasileiro e eu na altura estava em Luanda.
      Um beijo

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