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26/07/2013

UM PEQUENO CONTO ANGOLANO


Lembras-te João Cambaio, das nossas aventuras, quando brincávamos às escondidas nos quintais do “Bairro Pop“? Quando “pelejamos”, dava-mos “galhetas” e “baçulas à pescador” um ao outro, e no outro dia, já estávamos amigos outra vez? Nesses tempos, eu julgava era pecado a gente se insultar, porque Deus estava, também, a ouvir e se ia zangar. Minha mãe me avisava: “se não fores bonzinho para com os teus amigos, sejam eles negros, mulatos ou brancos, vais parar no Inferno”! Depois explicava-me o que era o Inferno. Ela dizia sempre, que no inferno, havia lá um grande caldeirão cheio de azeite a ferver e que um “gajo” – depois de morrer - se tivesse sido pecador e tivesse sido mau, muito mau, para os outros, passava a “eternidade” ali mergulhado, a sofrer p’rá burro! Mas ela tinha razão! Cada vez era mesmo verdade! Te lembras também da Domingas? Aquela negra fula, cheia de “demengueno”,quando passava no passeio da loja do “Sr. Novo” Casa Confiança, toda a “malta” lhe assobiava? O quê? Não ti estás a lembrar? Porra! Aquela miúda qui andava sempre vestida di mini-saia, e “kimone” de “chita”, qui um dia até lhi dei boleia na minha mota “Honda 350”, e lhe “reboquei” até no bairro da Vila Alice? Aquela…qui toda a gente dizia, qui era minha namorada? Mas não era, nessa altura já namorava, com respeito.

-Não me digas, qui era aquela qui era irmã do Tonico, o rei das cabeçadas? Qui o pai dela, além de ser alfaiate, também fabricava no quintal, “quimbombo”?

-Sim! Era essa mesma!

-Possas “Meu”!! Você é corajoso!!! E o irmão sabia?

-Claro qui sim! Coitada, depois, deixei de lhe ver, quando fui no “Rangel” na casa do Velho Inhana, passou muito tempo, e um dia mi disseram qui ela estava “amigada” (vivia) com um branco, um “H’nguenta”do “Puto”, todo vermelho, qui parecia qui tinha “massa de tomate” na cara. Eh!!…Diziam até, qui ela parecia uma senhora, bem vestida. 

-Foi a sorte dela!
-Estás mas é com Inveja! Inveja é cuêsa má, o senhor padre Luis das barbas (os Capuchinhos), da Igreja de São Paulo, tinha ensinado, que há pessoas tinham sorte e por isso viviam bem. Deus é que sabia, a nossa vez também ia chegar. E se não chegava, depois no céu, Deus tinha mais pena de nós…

-Vai-te lixar Zé Antunes! Afinal a Domingas é que ficou lixada: lhe deixaram com filho na barriga, coitada…!

-Tás a brincar…João Cambaio?

-Juro “Sangue de Cristo”! Mas mantem-te calmo Zé Antunes! A vida é pra ser vivida e no meio de tanta desgraça, ao menos um “coche” de calma. Vamos mas é “varrer uma cabeça de “peixe-pungo”, no Bar do Cravo”! Uma caveira de peixe. Ecologia. Uns comem. Outros são comidos. É assim a Natureza e de outra maneira não havia vida. Errado. Nem sequer havia outra maneira. Porque para haver outra maneira só com vida….Fim de citação”!

-Onde é que tu ouviste isso João? (já a postes para se instalar na cadeira).

-Foi mesmo na TPA (Televisão Pública de Angola)…Ó Banga Zé!!

-ALDRABÃO!! Naquele tempo Televisão? só “Rádio Ecclésias”, “ Voz de Angola” ou “Emissora Oficial”!! 
Zé Antunes

1971

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