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29/09/2012

A-DOS CUNHADOS



A dos Cunhados é uma freguesia portuguesa do concelho de Torres Vedras, A fundação de A-dos-Cunhados data de 15 de Dezembro de 1581 por decisão de D. Jorge de Almeida, arcebispo de Lisboa (com o aval do Bispo de Targa) depois de, em 1572 ter autorizado a celebração de missas na capela (mais tarde igreja) que tinha sido começada dois anos antes “por decisão dos moradores dos cunhados e sobreiro curvo”. e a elevação a vila aconteceu a 21 de Junho de 1995.

Ocupando uma vasta área de cerca de 45 Km2, situa-se entre o verde da paisagem rural, salpicado por inúmeras quintas e casais, e os tons azuis e esverdeados do mar. O seu território está encravado entre o oceano Atlântico e inúmeras freguesias: Silveira e S. Pedro e Santiago a Sul, Ramalhal e Campelos a Este, e Maceira a Norte. A sede da freguesia dista doze quilómetros da cidade de Torres Vedras e dez da praia de Santa Cruz.

A freguesia de A-dos-Cunhados apresenta um número significativo de quintas e de casais dispersos por toda a freguesia, acentuando a sua forte componente rural, e ainda as seguintes localidades:






Nesta freguesia existiram apenas doze moradores. Eram duas famílias e três “sem eira nem beira”. As duas famílias tinham entre si laços familiares, visto que os dois irmãos eram os chefes de família.
O nome desta freguesia era para ser A-dos-Irmãos, mas como este nome já existia, a freguesia acabou por ficar designá-la por “A-dos- Cunhados”




Se em 1527 se contavam apenas “vinte e sete vizinhos” na freguesia (que na época era formada por “Aldeia dos Cunhados, ditas do Sobreiro Curvo, Paradas e Póvoa, dita da Maceira e dita da Pai Correia com casais”), em 2001 ja habitam mais de 6936 pessoas (e a freguesia era agora formada por A-dos-Cunhados, Boavista, Bombardeira, Brejenjas, Casais do Rego, Casais da Serpegeira, Casais Vale da Borra, Casal da Barreirinha, Casal da Carrasquinha, Casal da Popa, Casal da Portela, Casal de Serpa, Casal da Varzinha, Casal das Paradas, Casal de Além, Casal do Seixo, Casal dos Feros, Casal Figueira Velha, Casal Ventoso, Louribetão, Palhagueiras, Pinheiro Manso, Póvoa de Além, Póvoa de Penafirme, Praia da Vigia, Quinta da Piedade, Santa Cruz – Pisão, Sobreiro Curvo, Vale Janelas, Valongo).


A ocupação desta zona, que segundo sabemos aconteceu desde o chamado paleolítico Antigo, está infimamente ligada à fertilidade dos solos, Principalmente os que envolvem as margens do rio Alcabrichel. Este lugar tornou-se vila em 21 de Junho de 1995.
A 1997 a Maceira é elevada a Freguesia, deixando, portanto, de pertencer à freguesia de A-dos-Cunhados.



Mapa do Concelho de Torres Vedras

25/09/2012

“ELES COMEM TUDO E...NÃO DEIXAM NADA”!

 
“…São os mordomos do Universo todo / Senhores à força Mandadores sem lei / Enchem as tulhas Bebem vinho novo / Dançam a roda no quintal do rei”…assim cantava Zeca Afonso!

Que homens são estes? Déspotas? Exploradores? Lacaios do FMI? “FMI…não há truque que não lucre ao FMI. / FMI, não há graça que não faça o FMI. / FMI, o Bombástico de plástico para si. / FMI, não há força que reforça o FMI”! “Acordai” soberanos do poder, que o POVO está na rua.

“Passar fome, não é um dever Constitucional”, disse o distinto Prof. Adriano Moreira. “O grande problema é o problema da legitimidade moral, política, e essa só existe se houver uma distribuição tendencialmente equitativa dos sacrifícios”, quem proferiu isso foi Paulo Rangel, o euro deputado do PSD.

Falta de fiscalização, falta de equidade, transparência nas contas, fuga de impostos, falta de auditorias em Empresas, Autarquias, Clubes de futebol, ginásios, e outras investigações sob a Direcção dos nossos Procuradores da República, DCIAP/DIAP, Brigada Especial da Polícia Judiciária, Agentes Especiais do Ministério das Finanças e outras Autoridades. Dou, como exemplo, esta notícia: “O Fisco Britânico, vai inspeccionar cerca de 200 mil contribuintes, cujos bens superem os 1,25 milhões de Euros. O anúncio foi feito, pelo Secretário de Estado do Tesouro do Reino Unido, Danny Alexander. Assim, foi criada uma unidade especial das Finanças britânicas, integrada por 300 Inspectores, que vai estar encarregada de vigiar estreitamente os mais de cerca de 400 mil residentes com propriedades e bens valorizados em mais de 3,12 milhões de Euros. Segundo Danny Alexander, a este número vão juntar outros 200 mil contribuintes para se certificar que pagam todos os impostos correspondentes à sua riqueza”. Ora aqui está meus Senhores, uma medida exemplar, salvo melhor opinião, que o Sr. Primeiro-Ministro deveria de imediato a aplicar, uma vez que há muitos “Lordes” (comendadores, dirigentes e comentadores políticos, desportivos, gestores, autarcas, jogadores de futebol, etc) que amealharam (e ganham) milhões em anos do “Boom Económico”. Consequentemente, era mais do que justo, que agora paguem o que devem ao Estado, para não serem sempre os mesmos a pagarem. Porque é de uma injustiça tremenda, de uma violência jamais registada, que haja grandes accionistas a beneficiarem de isenções e a desviarem o dinheiro para as “Offshores” ou para países de taxas reduzidas, e hajam centenas de milhares de portugueses a sobreviverem com salários de miséria, a sofrerem na carne, “cortes constantes” nos seus parcos recursos financeiros.

Este Executivo, “não tem um programa, tem uma agenda ideológica para cumprir e tudo fará para isso: não governa o País, cuida dos números dos credores”.
CRUZ DOS SANTOS

UMA HISTÓRIA DO MOEDAS


Nunca contei esta história por vergonha...

Acabado de chegar de Luanda convidaram-me para ir a Moimenta da Beira.
Quando me levantei e quis tomar o pequeno almoço nenhum café servia galões pela simples razão de que não tinham leite...

Foi-me sugerido que talvez fora da vila a caminho de Viseu talvez conseguisse poia a dona teria um bébé e talvez ai conseguisse o dito galão...enfim assim foi
Ao principio da noite e depois de um Café ouvi um barulho ensurdecedor de música Pimba e fui espreitar para perceber como eles se divertiam...pensei deve ser uma farra à maneira do pessoal daqui...

O meu maior espanto e desilusão foi que quando já me vinha embora e de frente para o palco não queria acreditar...eu conhecia aquela "Banda" de outros carnavais...
E mais não posso contar !!!!!!!!!!!!!!!! ( JOÃO LUIS MOEDAS )

A Barragem de Vilar é uma barragem portuguesa erguida no
rio Távora, perto da vila de Vilar (Moimenta da Beira), esta barragem serve para criar uma albufeira, a qual para além de regularizar os caudais deste rio serve para abastecer de água a central hidroelétrica de Tabuaço (destinada à produção de energia elétrica), a qual fica a cerca de 5 km da vila com o mesmo nome Tabuaço.

A albufeira de Vilar é também utilizada atualmente para a captação de água destinada ao abastecimento público de diversos
municípios da região.

Situado nas margens da Albufeira do Vilar, tem o Parque de Campismo, que está dotado dos mais modernos equipamentos de Campismo, Lazer e Desporto.

A Barragem do Vilar foi construída nos anos 60, e para poder albergar os trabalhadores da dita barragem foi feito um casario de casas todas iguais. Com todas as infraestruturas na Aldeia do Vilar em Moimenta da Beira, em que foram para lá viver algumas pessoas da dita aldeia. Com a conclusão dos trabalhos da Barragem, muitos moradores e porque não eram da região foram-se embora e deixaram muitas casas ao abandono. Foi quando em 1975 o I.A.R.N. começou a colocar os ditos RETORNADOS nas casas vagas. Um dia fui Moimenta da Beira pois a Familia Loureiro estava lá a residir em Vilar e encontro o João Luis Venâncio mais a Esposa a Isabelinha e mais malta de Luanda entre eles, alguns elementos dos Rúbis de Luanda. O Bondoso, o Chico Leite e o Claudino. O Rui Bondoso primo ou sobrinho do Bomba é funcionário da Camara Municipal de Moimenta da Beira. Naquela altura tocavam ao fim de semana para animar a população local no chamado clube da Aldeia num recinto próprio para o evento. ( INTERNET )

No ano de 2010 voltei a Moimenta da Beira e fui lá ver como estava a Aldeia do Vilar, o tal recinto virou discoteca abandonada e no local moram meia dúzia de pessoas quase todas da terceira idade. Tem mais movimento no tempo de verão.

Por isso podes contar o resto das histórias, pois se a Banda é de músicos nossos avilos que foram nesses tempos conturbados viver para essa aldeia longinqua, a quando da chegada de Luanda em 1975, e foram para ali quase obrigados, pois na altura estava dificil ter emprego e habitação.

Podes contar pois eles se calhar até vão achar um piadão, tu te lembrares destas histórias 37 anos depois ( ZÉ ANTUNES )
1975

NÓS E A MANIA DAS GRANDEZAS!


Andamos “Tesos”, porque tivemos sempre a “mania das grandezas e das fachadas”! É natural que, em obras como as realizadas no Alqueva, Centro Cultural de Belém, sede da Caixa Geral de Depósitos, com a “Expo”, auto-estradas (por todo o país), pontes, Organismos Públicos, campos de futebol, aquisição de material de guerra, incluindo carros de combate, submarinos e outros “colossais” empreendimentos, adquiriram uma dimensão apocalíptica, aos olhos de toda a Europa. Nunca se viu tanto desperdício! Precipitação, falta de planeamento, caprichos políticos, mania das grandezas e “mitologia nacional” são traços comuns a estes “grandes projetos”, que fizeram as “delícias” dos interesses económicos e tiverem o condão de “entontecer” o poder político. Como é óbvio, os custos, para o contribuinte, foram e continuam a sê-lo enormíssimos (porque há obras dessas que continuam), mesmo se os Governos e os promotores dessas obras persistirem em afirmar, que tudo será pago com “receitas próprias”. Parte dos custos de alguns desses empreendimentos, foi e ainda deve ser, habilmente transferida para o contribuinte, nomeadamente para as tais chamadas “obras colaterais”, tais como as efetuadas com a ponte sobre o Tejo, os acessos rodoviários, o alongamento, ou seja, o estender do metropolitano, o caminho de ferro, a “Gare do Oriente”, o saneamento básico, a deslocação dos petróleos e do gás nas refinarias de Sines, os transportes urbanos, os telefones e a eletrificação, quase tudo a cargo de empresas públicas. Outros custos de “viabilização económica”, que foram sempre suportados pelo contribuinte, seja por intermédio de “impostos excecionais de mais-valias” ou pela especulação fundiária, etc., tudo isso se tornou num “oceano” de despesas (custos e atrasos), que vieram sempre estimular a curiosidade da imprensa e do público.

Qual a razão, de termos cada vez mais a impressão de vivermos apanhados no seio de um poder fatal, “mundializado”, “globalizado”, tão poderoso que seria inútil pô-lo em causa, fútil analisá-lo, absurdo opor-se-lhe e delirante simplesmente sonhar em libertar-se de uma tal omnipotência que se diz confundir-se com a História?

Viviane Forrester, romancista e ensaísta francesa, crítica do jornal “Le Monde” e membro do júri do prémio literário Feminino, diz isto: “Não vivemos sob o domínio da globalização, mas sim sob o jugo de um regime político único e planetário, inconfessado – o ultraliberalismo, que gere a globalização e se aproveita dela, em detrimento da grande maioria dos cidadãos. Esta ditadura sem ditador não aspira a conquistar o poder, mas sim a dispor de todo o poder sobre aqueles que efetivamente o detêm”.

Mais palavras para quê?

CRUZ DOS SANTOS

OS MACHÕES


Os “Machões”, que batem nas mulheres!

A violência doméstica, como qualquer tipo de violência, é sempre uma forma de exercício de poder. E o poder nas sociedades humanas, em Portugal, é masculino. Um poder que se exprime na violência sobre a mulher. Um poder que se exprime na divisão do trabalho e na divisão dos papéis sociais. Um poder que se exprime na família ou fora dela. “Violência doméstica, é a violência explícita ou velada, literalmente praticada dentro de casa ou no seio familiar (marido e mulher, sogra, padrasto) ou parentesco natural pai, mãe, filhos, irmãos, etc. Inclui diversas práticas, como a violência e o abuso sexual contra crianças, maus-tratos contra idosos e, violência contra a mulher e contra o homem geralmente no processos de separação litigiosa além da violência sexual contra o parceiro”.

Tem havido, infelizmente, um aumento do crime de violência doméstica sobre as mulheres em Portugal, que se deve, não só à alteração da lei, como sendo “crime público”, mas também às campanhas de sensibilização que têm desde então sido feitas pelo Estado. E, a este nível, há que elogiar o trabalho da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, bem como as nossas Autoridades Policiais que têm vindo a combater, ultimamente. Delitos esses, praticadas por energúmenos prepotentes, que se julgam senhores de poder. Um poder que parte de uma conceitualização da sociedade assente em estereótipos da mulher como são os da figura da mãe (alargada ao conceito de esposa, a mãe dos filhos) e a figura da puta, ambos tendo como elemento identificador serem objeto de exercício de poder, sujeitos passivos, alvos de violência. Muitos casos de violência doméstica, encontram-se associados ao consumo de álcool e drogas, pois seu consumo pode tornar a pessoa mais irritável e agressiva especialmente nas crises de abstinência.

Os chamados “desentendimentos domésticos”, que se referem às discussões ligadas à convivência entre vítima e agressor (educação dos filhos; à falta de personalidade; limpeza e organização da casa; divergência quanto à distribuição das tarefas domésticas, enfim, um infindável número de fatores, nomeadamente à educação, cultura e civismo. Combater esta “natureza de coisas”, é um papel que cabe aos Estados democráticos. O reconhecimento da mulher como indivíduo, como ser com direitos iguais ao homem, é uma das principais batalhas do século XXI. Até porque dessa igualdade entre cidadãos, entre seres humanos, depende a construção da utopia que é a própria democracia. Aliás, é essa a meta que está contida no Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos. É essa meta que importa ter sempre presente, a de que os seres humanos são todos iguais e têm todos os mesmos direitos e deveres.

Meus Senhores, a democracia é uma construção racional e a sua existência depende de uma sociedade de Mulheres e Homens livres e não violentados. Uma sociedade construída racionalmente por seres humanos e não baseada naquilo que tem sido visto como a “natureza das coisas”. Uma sociedade de cidadãos e não de cavalheiros e damas. Uma sociedade onde não haja delitos consentidos aos cavalheiros.

Banga Ninito

VERDADES INCONTORNÁVEIS


Os Retornados!!!


Uma das ideias feitas que ainda hoje subsiste no nosso País, é a de que os «retornados do Ultramar» constituíam uma legião de indivíduos que vieram agravar de várias formas o já de si deplorável estado da sociedade portuguesa à data da Descolonização. Sociedade que estava sofrendo o inevitável depauperamento causado pela emigração maciça dos seus braços mais válidos em busca de melhores condições de vida, sangria que começara muito antes das chamadas «guerra colonial» e que esta veio inevitavelmente acentuar. Disse-se, escreveu-se, e ficou gravado no entendimento comum dos portugueses, que a maioria dos retornados era uma legião de pessoas rudes, na maioria já de idades avançadas, que tinham queimado as suas energias pelas terras de África, pouco produtivas para a tarefa da reconstrução nacional, e sobretudo escassamente preparados do ponto de vista profissional. A ideia geral que se fazia e intencionalmente se propalou!... acerca dos retornados do ex-Ultramar, era a de uma maioria de rudes capatazes agrícolas, broncos e violentos, de astutos comerciantes do mato, e de uns tantos «endinheirados» que exploravam negócios altamente chorudos! Acontece que os sucessivos contingentes que os aviões despejavam diariamente no Aeroporto de Lisboa, nos dois ou três meses que se seguiram ao êxodo maciço dos portugueses de Angola e de Moçambique, bem como as imagens fotográficas ou da Televisão, davam uma aparência de realidade a tão deploráveis e errados juízos. São hoje suficientemente conhecidas as deploráveis condições em que os retornados de Angola e Moçambique regressaram a Portugal - nove em cada dez, apenas com as roupas que tinham vestidas no momento do embarque, por não terem tido tempo nem possibilidade de voltar aos lares de onde tinham sido expulsos a ferro e fogo para salvar as vidas. Todavia, serenada a tempestade ou calamidade que se abateu sobre os retornados do Ultramar, acalmadas as inevitáveis paixões políticas e serenados os juízos precipitados as estatísticas encarregaram-se de rectificar as asneiras insidiosas e intencionais, e de dar ao País um retrato real dos retornados, sob mais diversos aspectos. Paralelamente, as manipulações da opinião pública foram cessando, e estudiosos atentos e imparciais debruçaram-se sobre a realidade - e os retornados do ex-Ultramar surgem aos olhos da opinião pública e dos seus concidadãos em geral, como aquilo que na realidade são. Para esboçar esse retrato do retornado socorremo-nos de um valioso e insuspeito estudo realizado por um grupo de universitários, prefaciado por uma brilhante Secretária de Estado de um dos Governos pós 25 de Abril, editado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento, para neste momento e neste local, traçarmos um RETRATO DE CORPO INTEIRO dos retornados, e da sua contribuição para a revitalização da sociedade portuguesa. O apuramento realizado pelo Instituto Nacional de Estatística em 1978, citado pelo referido grupo de universitários no estudo que consultámos, referia a existência de 505.078 indivíduos entrados no País e inscritos como «retornados do Ultramar». Em termos percentuais esses 505 mil retornados representavam pouco mais de 5% do total da população nacional.

Este número é discutível e muitas fontes insistem em números mais elevados, entre 700 a 800 mil. Mas trata-se de números oficiais, registados pela estatística oficial, e é em presença deles que temos de raciocinar. Ora, segundo os números do Instituto Nacional de Estatística, daqueles 505.078 retornados, um pouco mais de metade - exactamente 298.968 - eram nascidos ou oriundos de Portugal, e portanto os restantes 206.110 eram portugueses já nascidos nas então províncias ultramarinas. Por enquanto trata-se apenas de distinguir entre portugueses oriundos de Portugal que regressavam ao país de origem, e portugueses nascidos noutras terras e aos quais, só por isso, parecia querer negar-se a qualidade de portugueses também...Porém, o que é realmente importante, e mostra insofismavelmente que os retornados vieram rejuvenescer a sociedade portuguesa, é a observação desses dados estatísticos quando entra na discriminação etária, cultural e profissional dos retornados. Assim, sob tais aspectos, verifica-se que: daqueles 505.078 retornados, 65,5% tinham menos de 40 anos e constituíam portanto uma parcela válida. Mas acima dos 40 e até aos 64 anos a percentagem de retornados era de 29,8% - todos sabem como no Ultramar os homens até aos 60 anos eram uma das parcelas mais válidas das populações, senão em energias físicas pelo menos em saber e experiência acumulada. Além disso, do total de retornados, 52,74% eram homens e apenas 47,26% mulheres o que pressupõe uma maioria de braços válidos para o trabalho. Porém, um dos aspectos mais importantes desta notação estatística, é aquele que refere que a população retornada era em regra profissional e intelectualmente mais bem preparada do que a da metrópole, pois que do recenseamento efectuado, resultava que: 48,4% tinha instrução primária (numa época em que na metrópole havia mais de 20% de analfabetos); e dos restantes 51,6%, descontando apenas 6,5% de não-alfabetizados constituídos quase exclusivamente por crianças com menos de 10 anos de idade, havia 8,5% de possuidores de cursos superiores incluindo médicos, professores universitários, investigadores, advogados, etc., e mais de 30% possuíam cursos médios, secundários e profissionais. Com a entrada dos retornados, a sociedade portuguesa foi subitamente enriquecida com mais de 5.000 mil engenheiros, arquitectos e técnicos dos mais elevados graus e ramos da engenharia civil e de minas, de industrias transformadoras e outras; cerca de 1.800 biólogos, agrónomos, investigadores dos ramos fisico-químicos e similares; quase 13.000 professores e outros docentes de todos os ramos do ensino, desde o primário ao universitário; 325 navegadores, pilotos e outro pessoal especializado da navegação aérea e marítima; cerca de 16.000 quadros de serviços administrativos e outros, desde estenógrafas a operadores de informática. No sector da produção, a força do trabalho metropolitana foi enriquecida com mais 13.000 mecânicos especializados; cerca de 7.000 serralheiros civis, montadores de estruturas metálicas, caldeireiros e profissões similares. A construção civil, cuja maior força de trabalho tinha emigrado para os países da Europa, foi enriquecida com 13.000 pedreiros, carpinteiros e outros profissionais dos mais diversos ramos. As indústrias transformadoras foram enriquecidas com mais 12.000 operários especializados, desde os ramos têxtil ao da alimentação e bebidas, da mecânica fina ao mobiliário. O sector dos transportes viu-se repentinamente valorizado com a entrada de mais 13.000 condutores de veículos pesados e de transportes públicos. No sector agro-pecuário surgiram mais 16.000 capatazes e condutores de trabalhos agrícolas, de maneio e tratamento de gados ou de exploração florestal, em escalas que, em muitos casos, não eram conhecidas neste país. Mas vieram ainda cerca de dez mil trabalhadores dos ramos de hotelaria, restaurantes e similares, cozinheiros, ecónomos e outros. Porém, e talvez mais importante ainda que as suas especializações profissionais, os retornados trouxeram à força de trabalho do País a contribuição valiosíssima da disciplina, da produtividade, da assiduidade, que rapidamente os distinguiram (e não raro os tornaram detestados...) num ambiente em que apenas se falava de postos de trabalho... mas não se trabalhava; em que o absentismo ascendeu a taxas inconcebíveis, em que os locais de trabalho se transformaram em centros de organização de manifestações a propósito de tudo e de nada. Cremos que estes números, extraídos de fontes absolutamente insuspeitas, serão suficientes para desfazer certas ideias que, infelizmente, ainda de tempos a tempos afloram em certos meios e em determinadas ocasiões, acerca dos Retornados do ex-Ultramar. Na realidade, e a despeito das desgraçadas condições em que se desenrolou o seu regresso à Pátria de origem ou de opção - o fluxo dos retornados constituiu na realidade um indiscutível e precioso factor de valorização da sociedade portuguesa,

Até que enfim

Sempre disse que a vinda dos retornados, e refugiados foi uma transfusão de sangue para este país envelhecido, amorfo, estagnado...

De repente, milhares de pessoas com outros horizontes, maior abertura de espírito, força de vontade e absoluta necessidade de começar vida noutro lugar por lhe ter sido tirado o chão onde viviam (e gostariam de ter continuado a viver!), espalhou-se por todo este território...

Houve de tudo, como sempre... bons e maus exemplos, mas o saldo foi positivo e este artigo revela alguns dados importantes. Gostei de o ler.

Bem podemos divulgá-lo e mostrar a todos que a vinda dos africanos depois da descolonização exemplar só veio beneficiar o retângulo onde nem foram assim tão bem recebidos...

Este texto peca por tardio mas, mesmo assim, reencaminhem o mais possivel, para Que estes números fiquem na memória de quem contestou o nosso regresso à Terra-Mãe!

Um abraço angolano da Maria da Graça Garcez

2012

AMIGOS DESAPARECIDOS


Hoje acordei a pensar naqueles amigos que por alguma razão deixaram de fazer parte da nossa vida. É sempre um sofrimento com esses afastamentos, sobretudo com aqueles em que mais que puxe pela cabeça não consigo perceber a razão...

Realmente , quando nos morre alguém muito querido, muito AMIGO, é difícil encontrar um sentido para a perda. A morte daqueles que verdadeiramente amamos, que andaram connosco nas nossas "cowboyadas", que "cresceram" ao nosso lado, traz sempre dor. O corte definitivo e a ausência física, são ideias quase intoleráveis.

Custa muito , separarmo-nos daqueles que nos conheceram de "jingeira", como se costuma dizer. Toda a separação dói, mas aquela cuja dor chega a ser insuportável, é a separação pela morte. Deixar de ver alguém que nos é muito querido, que foi desde a infância, nosso "Amigo de peito", despedirmo-nos de uma pessoa que toda a vida esteve próxima, ou, nos casos mais dramáticos, enterrar um filho, ou uma mãe...é uma dor sem tamanho!raças a Deus não fm muitos, mas foram os suficientes para sonhar imensas vezes com essas pessoas! Umas sei que desapareceram porque a vida levou rumos diferentes, outros acho que se ofenderam com qualquer coisa... outros foram de vez e há aqueles que só a vida nos dirá!

Mas a verdade é que serão sempre Amigos e a eles agradeço terem feito parte, mesmo que pouco, da minha história de vida! Quando nos sentimos sós e abandonados, surge uma palavra ou um gesto e descobrimos que nunca estaremos sós. E a culpa? A culpa é da vida que tem início meio e fim.

A nossa culpa está apenas em amar tanto e sentir tanto em perder alguém. Mas o tempo é remédio e só em Deus conquistamos o consolo, com Ele pensamos nos bons momentos. E com um pouco mais de tempo transformamos nossos ente queridos em eternos companheiros.

Nossos sonhos ganham aliados, nossa independência ganha acompanhantes, nossa vida conquista anjos. E no fim apenas a saudade e uma certeza, não importa onde estejam, estarão sempre connosco.

Deus vos recebera de braços abertos e tenham o descanso eterno"

JÚLIO INÁCIO - pai

MARIA DO CARMO ANTUNES - mãe

JOSÉ PINGUIÇO - amigo

LITÓ - amigo

OCTÁVIO AMARANTE DINIZ - amigo

AUGUSTO DE JESUS RIBEIRO - sogro

MARIA MANUELA DINIZ RIBEIRO - cunhada

AMÉRICO NUNES - amigo

FERNANDO RIBEIRO “ DAS QUARRAS “ - amigo

CARLOS ALBERTO S. ALVES “ BAMBA “ - amigo

CHELAS - amigo

FERNANDO TRANSMONTANO - amigo

JORGE FRAQUITELAS - amigo

ANTÓNIO MARTINS - padrinho da Marinha

FERNANDO AUGUSTO - Padrasto

PADRE VERGILIO COSTA PEREIRA - padre

RIJO amigo

NIXA -amiga

MANUEL CALDAS – “ MIQUINHO “ - amigo

JAQUES - amigo

FILIPE SANTAREM - amigo

PITTA-GRÓS - amigo

CARLOS DA CASA LINA - amigo



JOSÉ  MACHADO - Amigo

DEIXEM-ME VER LUANDA!


A vida é demasiado breve, demasiado preciosa e demasiado difícil para nos resignarmos a vivê-la...não importa como. E, também, demasiado interessante, para não nos darmos ao trabalho de refletir sobre ela.

De facto, só ganhando distância é possível ganhar tempo para pensar, interiorizar e ensaiar uma atitude mais luminosa e, porventura, mais sábia para viver a vida. E quem diz sábia, diz consciente, lúcida e livre.

Todos temos um "idioma pessoal", uma originalidade que nos cabe descobrir, uma maneira muito própria de reagir aos desafios da vida. E é a consciência desta originalidade, desta singularidade que nos distingue, que nos ajuda a ser mais honestos connosco e com os outros. Quanto mais conscientes estivermos de nós mesmos mais próximos estaremos do essencial.

A vida inteira é uma viagem e, assim sendo, torna-se essencial conhecer a bagagem que carregamos.

Sabem uma coisa?

Sinto fome de palavras livres. Estou farto, saturado mesmo desta gente. Desta Terra, sem aquelas cores do meu Palanca, Sarmento, Sambizanga. Da fragrância do capim e do "kinjongo"; do canto da cigarra e da fruta-pinha, do sape-sape da manga da ,maçã da India e da goiava. Estou farto desta gente que não sabe sorrir, que só o fazem quando fingem que acharam piada. Estou farto de toda esta hipocrisia. Tenho ânsia de viajar com as palavras por dentro dos imensos infinitos da linguagem. Tenho ânsia de correr pelos "becos do Santo Rosa" aiuê Santo Rosa ( falecido pai do Banga Ninito); ânsia de ser um "super-homem", um pardal, um "falcão", um pássaro ("kilombe-Lombe"), para sobrevoar o meu Bairro (onde vivi a minha juventude) "Bairro Popular nº2” ( Câncio Martins ), hoje Neves Bendinha”, e também a Vila Alice, Maianga, Vila Clotilde, a Praia do Bispo, o São Paulo e outras localidades daquele País colorido.

Sinto fome de Liberdade, fome do fascínio daquela minha Ilha, daquele mar esverdeado, que embelezam as praias do Mussulo! Sinto fome de soltar este surdo grito que está dentro de mim...GRITAR, GRITAR ALTO:

Deixem-me ver LUANDA!

Banga Ninito

OS MEUS COLEGAS DE ESCOLA

ESCOLA INDUSTRIAL DE LUANDA

1º e 2º anos de Curso formação Serralheiro

- Ernesto Telles, ainda me lembro dele era um rapaz de meia estatura, mulato claro, calmo tanto no andar com as pernas arqueadas tipo Garrincha, como na fala. Determinadas ocasiões faltava às aulas, e ai mestre Paixão dizia-lhe que no fim do ano o “ chumbava” . Era bom de Bola.


-Francisco Simas, primo do Ernesto era o oposto muito responsável, um pouco estudioso e disciplinado. Mais tarde após o término do Curso de Aperfeiçoamento de Serralheiro ingressou nos quadros dos Caminhos de Ferro de Luanda como mecânico.


-Manuel Oliveira, outro colega que optou em isolar-se de contactos apesar dos meus esforços, para saber so seu paradeiro, que respeito, era um rapaz que sempre demonstrou espírito de liderança foi nosso sub-chefe de turma, era bom de bola nosso avançado na equipa de Futebol, mais tarde, com o apoio do então Eng. Vagueiro foi convidado para ir trabalhar para o seu gabinete de desenho.


-Diniz Marques ( o minha senhora ) era do tipo trapalhão meio desengonçado mais velho que nós e promovido a chefe de turma do 2º ano. Após o término do Curso de Serralheiro Mecânico ingressou nos Quadros de Funcionalismo Público da Câmara Municipal de Luanda como fiscal de obras. Trabalha em Lisboa numa Repartição de Finanças


-Costa Ferreira - tive o imenso prazer de contactar com este grande amigo graças ao nosso Grupo. Ele ainda era estudante na Escola Industrial de Luanda quando resolveu mudar-se para Portugal. Perdi contacto com ele e passados uns anos talvez em 2007 consegui saber que se encontra em Felgueiras.


-Salvador , rapaz de baixa estatura que morava no Bairro da Cuca , soube que também veio para Portugal, para Braga como retornado, de vez em quando encontrava-se com o Fernando na Baixa de Lisboa e há pouco tempo soube pela irmã que já faleceu. Foi sempre camarada participando de todas as brincadeiras.


-José António , encontrei-o em 1976 na Rua de São Ciro trabalhava no I.A.R.N. depois perdi o contacto. Ele era bom no que se propunha fazer no CENTRO COMERCIAL DE MAFRA , alugou o cinema e antes de ir para o Brasil facturou boas maquias de dinheiro.


-Aniceto Monteiro , era o mais traquinas e só queria galhofa, cedo o pai lhe deu uma moto 250 cc que fez o último motocrosse internacional de Luanda nas Barrocas do Miramar, mas teve que vir para Portugal cedo devido aos conflitos nas mercearias de muceque, seu pai foi expulso do Bairro Indigena, está em Chaves é mecânico de motos


-José Antunes , considerava-me um aluno médio. Topava qualquer tipo de brincadeira ou actividade, Tímido, sou do tipo que enrubescia quando alguma menina me dirigia a palavra. Por esse motivo pouco namorador levando a sério os meus relacionamentos amorosos por sinal muito poucos. Normalmente a duração deles era de uns dois meses, pois qualquer deslize da menina era motivo de rompimento. Pouco alto e franzino, cabelo liso meio loiro ( dai a alcunha do Russo ).


-António Gilberto (Togy), nosso guarda-redes no futebol era por intermédio dele que ás 3ª feiras liamos o Jornal a “BOLA” para sabermos e comentarmos as crónicas sobre os jogos realizados no domingo anterior, principalmente para sabermos noticias do glorioso benfica, ele antes de chegar a Escola Indústrial passava na casa Travassos e comprava o jornal. Depois da Dipanda só nos viemos a encontrar em 2009 num jantar de malta amiga, Costumo estar com ele a quando dos jogos do Benfica.


-Tino da Cola, Não o vejo desde junho de 1975, quando faziam a feira de Fardos ( roupa usada ) em frente a defesa civil, tenho estado com o irmão e sei que mora para os lados de Viseu, gostaria de o visitar e lembrar as nossas brincadeiras quando viajavamos no munhungo ( maximbas 23 ) que saia do largo em frente à loja Dias.


-Tavares,  nunca mais o vi, ou soube algo dele, gostaria de um dia o encontrar.


-Calé, nunca mais o vi, soube que veio para Olhão, gostaria de um dia o encontrar e lembrar as nossas historias, principalmente quando estavamos numa aula de Oficinas e ele atirou-se para cima de mim e eu baixe-me. e ele caiu , deslocando o braço esquerdo.

- Augusto ( Alá ) nosso chefe de turma do 1º ano


-Sancho, Umas das actividades desportistas que praticávamos era futebol. Mas o Sancho era mais para a Vela, e mais tarde no ano de 1974 foi presidente do Clube Naval de Luanda, e ainda se manteve nesse posto até a visita do papa foi ele que se comprometeu a pintar as igrejas de luanda a quando da visita do PAPA. Fez um contrato com a camara municipal de Luanda.


-Pinguiço, Era muito calmo, queria era paródia, iamos a pé do Bairro Popular para a Escola Industrial para poupar o dinheiro do machimbombo para irmos para a esplanada São João atrás do Liceu Feminino para estarmos com as meninas e beber a nossa Coca - Cola. Faleceu em 1976 acidente de mota na via norte a caminho do emprego, era o seu primeiro dia de trabalho no Porto.

-Amilcar Fonseca, rapaz atlético vivia para o Andebol era o único da nossa turma que jogava Futebol , Andebol e Basquetebol e nas três modalidades se saia bem, vive em Lisboa costumamos nos encontrar e por a conversa em dia.



-Alberto Rodrigues, também muito calmo, morava no Cazenga, nosso defesa direito com ele a defender não passava nada, ( Barrabás ) trabalha na Segurança Social tive o prazer de lhe fazer o projecto para a moradia dele, encontramo-nos ás vezes e pomos a conversa em dia.


-Camilo, Morava na Terra Nova, nunca mais o vi, mas por meio das redes Sociais vamos nos falando, gostaria de um dia o encontrar e lembrar as nossas historias, da Escola Indústrial, do Suta do Leirós, nossos mestres das aulas de Oficinas, das idas à Piscina de Alvalade quando fugavamos às aulas de Oficinas, e ele no dia a seguir dizia : Vocês vão para a praia de Alvalade, mas eu no fim do ano f....... ( lixo-vos).

1970

17/09/2012

O GRANDE SUSTO


Um certo dia de Setembro de 1984, tem o Bruno Miguel 4 anos feitos em Abril, frequenta os tempos livres na “ Associação Pró-Infância Santo António”, ali na Almirante Reis, nos Anjos, costuma ser a mãe, o pai ou alguém delegada por nós a ir buscá-lo à escola, nessa vez foi a mãe, que o foi buscar à tardinha, encaminhando-se para o Metropolitano de Lisboa como era rotina, sem antes de ir dar um alô à loja do chinês já dentro da estação do Intendente, quando olha para o lado, pois tinha deixado a mão do Bruno livre, já não o vê. Aflita começa a chamar por ele e à procura por tudo que era canto, chama a Policia e faz a ocorrência do acontecido.

Enquanto a mãe, mais alguns populares e a Policia procuram o Bruno, este com as rotinas diárias, enquanto a mãe falava com a chinesa dona do Quiosque das flores, ele continuou o seu percurso e meteu-se dentro do comboio do metro , saindo na estação da Avenida onde morava-mos na altura.

Eu a essa hora trabalhava como part-time no Restaurante Bar o “ Galo “ no Parque Mayer, fiquei um pouco surpreendido de ver chegar o Bruno muito caladinho e sozinho e perguntei:

E a mãe onde está?

Não me respondeu, estava com ar comprometido e continuava mudo, e sentou-se dentro do balcão nos barris da cerveja e ali ficou.

Perguntei se queria comer uma sandes e beber um sumo?

Novamente não respondeu e continuou quietinho.

Não liguei, pensei a mãe deve estar ai fora a conversar com alguém.

Nesse espaço de tempo, a mãe os populares e a Policia, continuavam no Intendente à procura do Bruno, foi quando um Policia se lembrou e disse:

Não terá entrado no comboio do metro e ter ido para casa? Os miúdos agora são bastante inteligentes. Queira deus que sim disse logo a mãe e acompanhada de um Policia vieram a casa e nada, não viram o Bruno, foram ter comigo ao Bar e à entrada a mãe olha para mim a chorar e diz toda triste e desesperada:

Zé, o Bruno desapareceu!!!

Aí percebi porque é que o Bruno estava tão calado.

Olhei para a mãe e para o Policia e disse:

O Bruno está aqui. Apareceu-me aqui à meia- hora atrás e tento falar com ele e ele não diz nada, está mudo.

A mãe sorriu e o choro já foi de felicidade por estar a ver o filho

À meu malandro que deste um grande susto à mãe, e andam todas as pessoas amigas à tua procura, não voltes a fazer o que fizeste, sempre ao pé de mim ou do pai, a mãe ficou bastante preocupada.

O Policial disse que tinha que se retirar, e que dentro da situação correu tudo bem. Agradecemos pois o policia era da Esquadra dos Anjos , e lá foi ele para a sua área de serviço.

Claro que tive uma conversa com o Bruno sobre a situação, dizendo-lhe, que nunca mais se perdesse das pessoas que o iriam buscar à Escola.

Lá sorriu aliviado mas com vergonha pelo que tinha feito, nunca mais a mãe ou eu tivemos preocupações, como a que aqui narrei,


ZÉ ANTUNES

1984

14/09/2012

CONCORDE


Eu tive o privilégio de ver o Concorde quando fez o primeiro voo Internacional da volta ao Mundo pois aterrou em Luanda a 01 de fevereiro de 1973, onde vivia.

Eu e alguns avilos do Bairro Popular, onde estava o Jaques, o Miguel, o Chico, o Victor, o Fernando Simões o Pitta Grós e mais alguns, fomos ao fim da Pista, onde sabíamos que o, arame farpado estava cortado, e aproximamo-nos do avião, mas nessa altura o avião estava já rodeado de Policia Aérea e de Policia Militar. Outros foram ao aeroporto mas ficaram na varanda que dava para a pista no 1º andar, sei que muitos de nós fugamos à escola para ir para o aeroporto. Outros não foram trabalhar nesse dia.

Um incidente grave nessa época foi no momento de os pilotos se prepararem para por o Concorde a trabalhar um deles abriu a janela e içou a bandeira do MPLA coisa que gerou polémica e o avião ficou retido quase uma semana no aeroporto de Luanda, pois muita gente não sabe deste episódio que foi resolvido entre governos da época visto os Franceses serem nessa época fornecedores de armas e mercenários ao MPLA.

Alguém (
Sr. Biffen ) solicitou ao Secretário de Estado para Assuntos Estrangeiros e da Commonwealth que as representações fossem recebidas, e ao levantar voo com cores da Bandeira do MPLA pelo avião Concorde, que horas antes tida aterrado no aeroporto de Luanda.

Alguém (Sr.
Balniel ) Eu não recebi nenhumas representações. Mas eu entendo que a British Aircraft Corporation, pediu desculpas ao Governo Português pela utilização inadvertida e infeliz de uma bandeira que obteve de boa-fé de um fornecedor comercial. Embaixador de Sua Majestade em Lisboa e Consul de Sua Majestade em Luanda, também transmitiu, Sua Majestade ao Governo Português e lamentar o incidente.


       Concorde a levantar vôo ( foto net )

Recorte do Jornal "O Século" com um in noticia Fevereiro de 1973

ZÉ ANTUNES

1973

AEROPORTO



Lembram-se quando íamos para o fim da pista do aeroporto de mota com penduras? Saltava-mos o arame farpado, deitávamo-nos na pista quando o avião começava a aterrar para assustar os que iam pela 1ª vez?

Cada noite um levava uma garrafa de John Walker ou Sbell para bebermos depois do avião aterrar !!!!

Quem estava presente quando o Carniceiro que morava na 4ª rua levou chá dentro duma John Walker para enganar o pessoal. Penso que quem fez a marosca foi o Perninhas. Os primeiros kandengues beberam e acharam muito bom, mas o Pitta Grós verificou a contrafação quando ia dar uma golada após aterragem do avião.

Nessa noite tiramos as calças ao Carniceiro e demos-lhe um banho de chá.
Numa dessas noites ia o Pompeu e outros à frente a acelerar quando passavam a vala do Sarmento para o Bairro Salazar caíram. Nessa queda o Zé Dentolas o filho do Dentista, com a sua vespa ficou todo arranhado parecia um Cristo.

Nós que vínhamos mais atrás com as luzes deixamos de ver, era só poeira, parecia nevoeiro cerrado. Lembro-me de ter participado numa dessas aventuras e o Carlos Capacete depois quando chegamos ao Largo, começou a chamar o Gregório, deitou cá para fora os líquidos e os sólidos, só dizia mal da vida dele, e a malta claro numa de risada até chorar.

12/09/2012

O VELHO DO SACO

O velho Trabuca, já só espera que as almas caridosas do Bairro lhe dessem alguma coisa para comer, deambula pelo bairro com um cajado na mão pois o peso do corpo é muito e ele nasceu com uma deficiência, a perna direita era mais curta, e com um saco de sarapilheira ás costas. Passou a chamar-se Trabuca, pois ele disse uma frase “Quem não trabuca, não manduca” e ficou com o nome de Trabuca, aliás ninguém nunca soube o nome verdadeiro dele, dizia-se que era muito prestativo que fazia os recados todos quando jovem, mas agora com os seus 80 anos só esperava caridade. Era empregado jardineiro do Proventório Infantil de Luanda no Bairro Popular nº. 2 e vivia no barracão onde se guardava tudo o que fosse da jardinagem, aquele espaço era uma horta e bananal que depressa virou um campo de futebol para os kandengues fazerem os seus trumunos.

Dai as mães dos meninos mal comportados e que não comiam a sopa quando ele passava, começaram a dizer que ele era o homem do saco.

Segundo a lenda, as crianças do saco que o
velho carrega, eram crianças que estavam sem nenhum adulto por perto, em frente às suas casas ou brincando na rua. O velho pegaria a criança caso ela saísse sem ninguém de dentro de casa.

Derivada dos mendigos que permeiam todas as cidades, essa lenda urbana é usada pelas mães para assustar os meninos malcriados que saem para brincar sozinhos na rua. De acordo com ela, um velho malvestido, e com um enorme saco de pano nas costas, anda pela cidade levando embora as crianças que fazem “asneiras, mal comportadas e , desobedientes”. Em algumas versões, o velho é retratado realmente como um mendigo, outras ainda o apresentam como um cigano; creio que isso dependa da região do país onde ela é contada. Há ainda versões mais detalhadas (entendam como cruéis) em que o velho (mendigo ou cigano) leva a criança para sua casa e lá faz sabonetes e botões com elas.

No início do surgimento da lenda do Velho do Saco, os pais amarravam uma fita vermelha na perna da cama da criança indesejada e o velho do saco passava a noite de casa em casa, se houvesse uma fita vermelha na perna da
cama o velho do saco poderia levar embora a criança em questão. Essa história era a versão original da lenda do velho do saco, os pais a usavam para assustar as crianças ou para forçarem as crianças a serem obedientes.


O Velho do saco

ZÉ DO TELHADO





Apeteceu-me escrever este pequeno texto, nestas horas de solidão e momentos de saudade. Aqui estou eu nesta Lisboa de ontem e de hoje, a recordar a minha Terra, a minha Angola, nesta Europa de Loucos, de dementes, agiotas e invejosos. 

O mundo é um palco e a vida um jogo de som e concorrência, representado por um LOUCO, e uma TROIKA que nos mostra a realidade sob a capa do irreal, o sério escondido sob o jocoso. Em cortejo diário, em fila Indiana, a Loucura vai apresentando os atores no palco da vida: os príncipes ignorantes e devassos; os condes aduladores; os filósofos estéreis e quezilentos; os corruptos e as prostitutas mascaradas de gente séria e fina; os artistas pretensiosos; os juízes e advogados astutos; os gestores a quem apenas importa o chorudo vencimento, o título e as honras; os monges torpes e inúteis; o longo cortejo de padres, teólogos, bispos, cardeais e papas, cuja vida é a negação de Cristo. 

A guerra, a corrupção, a bajulice, a astúcia, a fraude, a superstição, aparecem como a trama (intriga, conspiração) em que se tecem os dias dos seus contemporâneos, e lembrei-me do lendário Zé do Telhado, de seu nome José Teixeira da Silva, nasceu em 1816 na Freguesia de Costelo de Receguinhos - Penafiel. 

A sua alcunha não lhe adveio de assaltar as casas pelo telhado ou de serem os telhados o caminho para a fuga à polícia. Ficou assim conhecido porque nasceu no lugar de Telhado, numa casa coberta de telhas, ao contrário das casas da vizinhança, que usavam palha. 

Este conhecido e mítico salteador, que roubava aos ricos para dar aos pobres, ( Robin dos Bosques Português ) andou por Braga, no curso das suas aventuras, das quais se recordam as designadas por "Barbeiro Gabarola" e "Galego Sovina". 

Participou em 1846, na Revolta da Maria da Fonte (Póvoa de Lanhoso), tomado partido pelas forças populares. 

O famoso Zé do Telhado, que no séc. passado, em Portugal roubava aos ricos para dar aos pobres ( na série "As Pupilas do senhor Reitor que passou na RTP ), foi várias vezes preso, tendo até partilhado o cárcere com o Escritor Camilo Castelo Branco. 

Casado com sua prima Ana Lentina de Campos ( a boda celebrou-se a 3 de Fevereiro de 1845), Zé do Telhados entrega-se à vida militar de corpo e alma, sendo condecorado pela sua bravura. Após algum tempo, regressa para o seio da família, uma transição que contou com alguns obstáculos, nomeadamente, o fato de ter dividas pelo não pagamento de impostos, acabando por ser expulso das Forças Armadas. Sem conseguir arranjar trabalho, restou a Zé do Telhado transformar-se no mais famoso bandoleiro de Portugal. 

Com as autoridades no seu encalço por todo o País, Zé do Telhado resolveu fugir para o Brasil, escondendo-se na barca “ Oliveira”, acostada no Porto. Ali estava à guarda de Ana Vitória, uma mulher que fora sua vitima, mas que se tornara sua admiradora. Cabe-lhe a ela a frase lapidar que o transformou no Robin dos Bosques português ao dizer: “ existem pessoas de bem que nunca deram ás classes humildes um centésimo do que lhes deu Zé do Telhado. 

O seu julgamento teve inicio em 25 de Abril de 1859. Com acusação pública em 09 de Dezembro do mesmo ano. Foi condenado na pena de trabalhos públicos por toda a vida, na costa ocidental de África e no pagamento das custas. Esta pena foi comutada pelo Tribunal da Relação do Porto em 15 anos de degredo para África, sendo publicada em Setembro de 1863. 

Foi então "degredado" para a África, neste caso para Angola, onde viveu como pequeno comerciante em Mucári - Ambriz. 

Já em Malange, tornou-se negociante de borracha, cera e marfim e casou com uma local, de nome Conceição, com quem veio a ter três filhos. Era conhecido entre os Angolanos como o “ QUIMUÊZO “, ou seja, o homem das barbas grandes, já que as deixara crescer desde que chegara a África. 


Faleceu em 1875 com 59 anos. Zé do Telhado morreria de Varíola, sendo sepultado na aldeia de Xissa. Em Malange há uma campa com a seguinte inscrição:" Túmulo de José do Telhado". Trata-se efetivamente do famoso amigo dos pobres, José Teixeira da Silva, mais conhecido como o "Zé do Telhado". 

Ainda hoje muitos naturais da terra, vão em romarias á sua campa e surge na boca dos mais velhos como figura mítica e protetora dos mais desfavorecidos, e naturalmente, pelo seu caráter, ali também ajudou a população local e vizinha.


Campa do Zé do Telhado ( Xissa – Malange - Angola ) foto net

A HISTÓRIA DO CORNETEIRO





Um esclarecimento que se fazia necessário...Agora sim, entendi tudo

Pois é! Afinal... é por isso!

O Corneteiro "omitiu-se" desde os primórdios da nacionalidade. Então... foi tudo a seguir:

Conquistas, "saqueando" nuestros hermanos, arredando os Mauritanos para lá dos Algarves; alargando nossas fronteiras; descobrindo outras terras além-mar, por Américas, Áfricas e Índia, espalhando a Fé e o Império, intercâmbiando culturas diversas, explorando e desenvolvendo, e assentando arraiais de amor por esta Terra de Deus.

Pois... mas porque é que o Dr. Júlio V. da Silva, na matéria de História Universal, nunca nos falou deste famoso Cornetim de D. Afonso filho de Tareja, deveras marcante na Lusa História, e que se finou (ou fizeram finar) antes do tempo, permitindo que o saque, que só era da praxe, se transformasse numa abundância frenética e tresloucada, eterna e aparentemente inesgotável?!.. Já sei! - Fora excluído do programa de ensino e calado para sempre!

Enfim... não há ninguém - nenhum Barão Assinalado - que brade lá pelo Paço: "Viva o Corneteiro de D. Afonso Henriques!", para ver se este povo estremece e CAI NA REAL, por um momento, e que alguém desobstrua, de verdetes e tampões, e toque o raio do saudoso Cornetim?

Ah! Estava a pensar no Corneteiro da Ilha da Tábua, do Funchal, José Manuel Coelho, mas o rapaz não é brazonado, só tem fôlego, sopra à toa e não tem, concerteza, habilidade e afinação para tocar a fim-de-saque comme il faut.


Afinal a culpa é mesmo do corneteiro!...
Nos primeiros tempos da fundação da nacionalidade - tempo do nosso rei D. Afonso Henriques - no fim de uma batalha o exército vencedor tinha direito ao saque sobre os vencidos.

(Saque - s.m.: ato de saquear. Roubo público legitimado).

Pois bem, após uma dessas batalhas, ganha pelo 1º Rei de Portugal, o seu corneteiro lá tocou para dar "início ao saque" a que as tropas tinham direito e que só terminaria quando o mesmo corneteiro desse o toque para pôr “fim ao saque”.

Porém, fruto de alguma maleita ou ferimento, o dito corneteiro finou-se, antes de conseguir tocar o "fim ao saque".

E, até hoje, ninguém voltou a tocar, anunciando o fim do saque.

Não haverá por aí alguém que conheça o toque?

Recebido via mail de um mangolê da Quibala, foi adaptado do blog- http://olindaolinda.blogspot.com/

11/09/2012

CARTA AO PRIMEIRO-MINISTRO DE PORTUGAL

O texto que publico na íntegra é do escritor e ensaísta Eugénio Lisboa. Os sublinhados são da minha responsabilidade.
O autor foi presidente da Comissão Nacional da UNESCO / conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal em Londres entre 1978-1995 / professor catedrático especial de Estudos Portugueses na Universidade de Nottingham / professor catedrático visitante da Universidade de Aveiro / e coordenador do ensino da língua portuguesa na Suécia. É Doutor Honoris Causa pelas universidades de Nottingham e Aveiro. A Câmara de Cascais outorgou-lhe a medalha de Mérito Cultural.
Em Moçambique foi sucessivamente administrador e director das petrolíferas SONAPMOC, SONAREP e TOTAL.


Exmo. Senhor Primeiro Ministro

Hesitei muito em dirigir-lhe estas palavras, que mais não dão do que uma pálida ideia da onda de indignação que varre o país, de norte a sul, e de leste a oeste. Além do mais, não é meu costume nem vocação escrever coisas de cariz político, mais me inclinando para o pelouro cultural. Mas há momentos em que, mesmo que não vamos nós ao encontro da política, vem ela, irresistivelmente, ao nosso encontro. E, então, não há que fugir-lhe.

Para ser inteiramente franco, escrevo-lhe, não tanto por acreditar que vá ter em V. Exa. qualquer efeito —
todo o vosso comportamento, neste primeiro ano de governo, traindo, inescrupulosamente, todas as promessas feitas em campanha eleitoral, não convida à esperança numa reviravolta! — mas, antes, para ficar de bem com a minha consciência. Tenho 82 anos e pouco me restará de vida, o que significa que, a mim, já pouco mal poderá infligir V. Exa. e o algum que me inflija será sempre de curta duração. É aquilo a que costumo chamar “as vantagens do túmulo” ou, se preferir, a coragem que dá a proximidade do túmulo. Tanto o que me dê como o que me tire será sempre de curta duração. Não será, pois, de mim que falo, mesmo quando use, na frase, o “odioso eu”, a que aludia Pascal.

Mas tenho, como disse, 82 anos e, portanto, uma alongada e bem vivida experiência da velhice — a minha e da dos meus amigos e familiares. A velhice é um pouco — ou é muito – a experiência de uma contínua e ininterrupta perda de poderes. “Desistir é a derradeira tragédia”, disse um escritor pouco conhecido. Desistir é aquilo que vão fazendo, sem cessar, os que envelhecem. Desistir, palavra horrível. Estamos no verão, no momento em que escrevo isto, e acorrem-me as palavras tremendas de um grande poeta inglês do século XX (Eliot): “Um velho, num mês de secura”... A velhice, encarquilhando-se, no meio da desolação e da secura. É para isto que servem os poetas: para encontrarem, em poucas palavras, a medalha eficaz e definitiva para uma situação, uma visão, uma emoção ou uma ideia.

A velhice, Senhor Primeiro Ministro, é, com as dores que arrasta — as físicas, as emotivas e as morais — um período bem difícil de atravessar. Já alguém a definiu como o departamento dos doentes externos do Purgatório. E uma grande contista da Nova Zelândia, que dava pelo nome de Katherine Mansfield, com a afinada sensibilidade e sabedoria da vida, de que V. Exa. e o seu governo parecem ter défice, observou, num dos contos singulares do seu belíssimo livro intitulado The Garden Party: “O velho Sr. Neave achava-se demasiado velho para a primavera.” Ser velho é também isto: acharmos que a primavera já não é para nós, que não temos direito a ela, que estamos a mais, dentro dela... Já foi nossa, já, de certo modo, nos definiu. Hoje, não. Hoje, sentimos que já não interessamos, que, até, incomodamos.
Todo o discurso político de V. Exas., os do governo, todas as vossas decisões apontam na mesma direcção: mandar-nos para o cimo da montanha, embrulhados em metade de uma velha manta, à espera de que o urso lendário (ou o frio) venha tomar conta de nós. Cortam-nos tudo, o conforto, o direito de nos sentirmos, não digo amados (seria muito), mas, de algum modo, utilizáveis: sempre temos umas pitadas de sabedoria caseira a propiciar aos mais estouvados e impulsivos da nova casta que nos assola. Mas não. Pessoas, como eu, estiveram, até depois dos 65 anos, sem gastar um tostão ao Estado, com a sua saúde ou com a falta dela. Sempre, no entanto, descontando uma fatia pesada do seu salário, para uma ADSE, que talvez nos fosse útil, num período de necessidade, que se foi desejando longínquo. Chegado, já sobre o tarde, o momento de alguma necessidade, tudo nos é retirado, sem uma atenção, pequena que fosse, ao contrato anteriormente firmado. É quando mais necessitamos, para lutar contra a doença, contra a dor e contra o isolamento gradativamente crescente, que nos constituímos em alvo favorito do tiroteio fiscal: subsídios (que não passavam de uma forma de disfarçar a incompetência salarial), comparticipações nos custos da saúde, actualizações salariais — tudo pela borda fora. Incluindo, também, esse papel embaraçoso que é a Constituição, particularmente odiada por estes novos fundibulários. O que é preciso é salvar os ricos, os bancos, que andaram a brincar à Dona Branca com o nosso dinheiro e as empresas de tubarões, que enriquecem sem arriscar um cabelo, em simbiose sinistra com um Estado que dá o que não é dele e paga o que diz não ter, para que eles enriqueçam mais, passando a fruir o que também não é deles, porque até é nosso.

Já alguém, aludindo à mesma falta de sensibilidade de que V. Exa. dá provas, em relação à velhice e aos seus poderes decrescentes e mal apoiados, sugeriu, com humor ferino, que se atirassem os velhos e os reformados para asilos desguarnecidos, situados, de preferência, em andares altos de prédios muito altos: de um 14º andar, explicava, a desolação que se comtempla até passa por paisagem. V. Exa. e os do seu governo exibem uma sensibilidade muito, mas mesmo muito, neste gosto.
V. Exas. transformam a velhice num crime punível pela medida grande. As políticas radicais de V. Exa, e do seu robôtico Ministro das Finanças — sim, porque a Troika informou que as políticas são vossas e não deles... — têm levado a isto: a uma total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página.

Falei da velhice porque é o pelouro que, de momento, tenho mais à mão.
 Mas o sofrimento devastador, que o fundamentalismo ideológico de V. Exa. está desencadear pelo país fora, afecta muito mais do que a fatia dos velhos e reformados. Jovens sem emprego e sem futuro à vista, homens e mulheres de todas as idades e de todos os caminhos da vida — tudo é queimado no altar ideológico onde arde a chama de um dogma cego à fria realidade dos factos e dos resultados. Dizia Joan Ruddock não acreditar que radicalismo e bom senso fossem incompatíveis. V. Exa. e o seu governo provam que o são: não há forma de conviverem pacificamente. Nisto, estou muito de acordo com a sensatez do antigo ministro conservador inglês, Francis Pym, que teve a ousadia de avisar a Primeira Ministra Margaret Thatcher (uma expoente do extremismo neoliberal), nestes termos: “Extremismo e conservantismo são termos contraditórios”. Pym pagou, é claro, a factura: se a memória me não engana, foi o primeiro membro do primeiro governo de Thatcher a ser despedido, sem apelo nem agravo. A “conservadora” Margaret Thatcher — como o “conservador” Passos Coelho — quis misturar água com azeite, isto é, conservantismo e extremismo. Claro que não dá.

Alguém observava que os americanos ficavam muito admirados quando se sabiam odiados.
É possível que, no governo e no partido a que V. Exa. preside, a maior parte dos seus constituintes não se aperceba bem (ou, apercebendo-se, não compreenda), de que lavra, no país, um grande incêndio de ressentimento e ódio. Darei a V. Exa. — e com isto termino — uma pista para um bom entendimento do que se está a passar. Atribuíram-se ao Papa Gregório VII estas palavras: “Eu amei a justiça e odiei a iniquidade: por isso, morro no exílio.” Uma grande parte da população portuguesa, hoje, sente-se exilada no seu próprio país, pelo delito de pedir mais justiça e mais equidade. Tanto uma como outra se fazem, cada dia, mais invisíveis. Há nisto, é claro, um perigo.


De V. Exa., atentamente,

Eugénio Lisboa



10/09/2012

EXAME DA 4ª CLASSE E ADMISSÃO


A professora que saudosamente recordo deu-me aulas na 3.ª e na 4.ª classes da já extinta Escola de Primária nº 176 no Bairro Popular nº2 em Luanda.
A escola existe , mas não é mais primária. Era alta, seca de carnes e muito afável, segundo o que a minha memória consegue resgatar da lonjura dos tempos de infância (tinha 9-10 anos na altura). Mas o facto que mais me marcou na convivência com a professora Amélia, assim se chamava, foi a sua disponibilidade para me dar gratuitamente explicações de preparação para os exames de admissão, após o final da 4.ª classe, Eu fiz exame de admissão, como os jovens da minha geração que concluíam a 4ª classe, que decidiam o acesso ao liceu ou à escola técnica (fiz os dois exames, e passei nos dois ) tendo optado pela Escola Técnica na altura e fiz o preparatório na novíssima Escola “ João Crisóstomo” na Rua dos Quarteis, Era novinha em folha! Tinha sido inaugurada naquele Verão e, uma escola tão grande perante os meus dez anos, deixava-me perdido. Era novidade a mais! Ingressei depois na Escola Industrial de Luanda.

É que, "antigamente", os estudantes da quarta classe sujeitavam-se a ter até três exames no final do ano: o da quarta classe, feito na própria escola, a que habitualmente não se chamava exame, mas "prova", feito em folha dupla de papel de 25 linhas e folha dupla de papel quadriculado, dobradas a um terço para anotar a classificação; e um ou mesmo dois exames de admissão, um ao liceu, outro à escola técnica, para os que usavam de cautela, não fossem reprovar num deles e ficar "paraquedistas" (nem na escola primária, nem no liceu ou escola técnica). Este exame era feito no liceu ou na escola técnica a que se concorria, com impressos próprios. Por razões óbvias, o exame da quarta classe a ("prova") só tinha solenidade para as famílias que já sabiam que o estudante iria ficar por aí, nem sequer concorrendo ao exame de admissão.

Em ambos os exames de admissão, na Escola Emidio Navarro e depois no Liceu Salvador Correia. Primeiro, a prova escrita. Chamaram-me. Um nervoso pequenino, que se foi desfazendo ao subir a escada. Lá em cima, alguém a chamar pelo meu nome, e a encaminhar-me para uma sala grande, enorme, com janelas à esquerda. Depois, foi a oral. E a seguir, a festa da passagem.

Eu passei para a Quarta classe, e a professora Amélia a quando do inicio do ano letivo tinha-nos dito que íamos aprender a escrever com caneta de tinta permanente e que por isso tínhamos que comprar uma. À saída da escola dei o recado à minha mãe que o deve ter transmitido ao meu pai. Meu pai veio ter comigo e disse-me “pronto filho, aqui tens a caneta para levares amanhã para a escola, hoje à tarde vais à papelaria comprar tinta para a pôr a escrever”. Eu fiquei contente por ter logo a questão resolvida, mas quando me mostraram a caneta que tinha sido do Sr. Calisto (o padrinho do meu irmão Vitor ), preta com uma argola dourada, todo o meu entusiasmo se desvaneceu. No dia seguinte cheguei à escola com a dita caneta. a professora começou logo a ensinar-nos a escrever com ela, tarefa que não achei nada fácil, e quando todos os alunos abriram os estojos e tiraram as suas, eu fiquei com uma lágrima no canto do olho, a olhar para a minha. Todos tinham canetas com super heróis, no caso dos rapazes, e cor-de-rosa ou com corações no caso das raparigas, tive vergonha, digo-o hoje, quando tive que tirar a minha caneta preta de argola dourada do estojo. Toda a manhã a escrever com aquela caneta, “feia” de bico estranho e com mau jeito… olhava para os outros meninos de língua ao canto da boca a aplicarem-se a escrever com as suas novas canetas de tinta permanente tão bonitas…

Ao almoço, minha mãe perguntou-me como é que tinha sido a manhã na escola e eu, com quase duas lágrimas a deslizarem-me pela cara, contei-lhe a minha manhã de caneta-de-tinta-permanente-preta-de-argola-dourada. Os meus pais registaram os meus queixumes mas não reagiram logo, coisa que me angustiou.


Caneta Parker 51

O assunto tinha ficado em stand by, passaram-se mais uns dias e eu sem nova caneta de tinta permanente, e, uma tarde, quando cheguei a casa minha mãe

tinha-me comprado uma caneta de tinta permanente nova bem bonita dourada e preta uma Parker 51, que estava na moda, resolveu ali todas as minhas preocupações e foi assim que no dia seguinte eu cheguei à escola com uma caneta nova, e com os respectivos frascos de tinta e ainda o famoso mata borrão.


Frascos de Tinta

Esses exames eram obrigatoriamente feitos com canetas de tinta permanente, e durante a 4ª. Classe, tínhamos que treinar o manuseamento da dita caneta, e a fazer uma caligrafia o mais arredondada possível.


Mata borrão




Os meus livros de leitura da Instrução Primária



ZÉ ANTUNES