Apeteceu-me escrever este pequeno texto, nestas horas de solidão e momentos de saudade. Aqui estou eu nesta Lisboa de ontem e de hoje, a recordar a minha Terra, a minha Angola, nesta Europa de Loucos, de dementes, agiotas e invejosos.
O mundo é um palco e a vida um jogo de som e concorrência, representado por um LOUCO, e uma TROIKA que nos mostra a realidade sob a capa do irreal, o sério escondido sob o jocoso. Em cortejo diário, em fila Indiana, a Loucura vai apresentando os atores no palco da vida: os príncipes ignorantes e devassos; os condes aduladores; os filósofos estéreis e quezilentos; os corruptos e as prostitutas mascaradas de gente séria e fina; os artistas pretensiosos; os juízes e advogados astutos; os gestores a quem apenas importa o chorudo vencimento, o título e as honras; os monges torpes e inúteis; o longo cortejo de padres, teólogos, bispos, cardeais e papas, cuja vida é a negação de Cristo.
A guerra, a corrupção, a bajulice, a astúcia, a fraude, a superstição, aparecem como a trama (intriga, conspiração) em que se tecem os dias dos seus contemporâneos, e lembrei-me do lendário Zé do Telhado, de seu nome José Teixeira da Silva, nasceu em 1816 na Freguesia de Costelo de Receguinhos - Penafiel.
A sua alcunha não lhe adveio de assaltar as casas pelo telhado ou de serem os telhados o caminho para a fuga à polícia. Ficou assim conhecido porque nasceu no lugar de Telhado, numa casa coberta de telhas, ao contrário das casas da vizinhança, que usavam palha.
Este conhecido e mítico salteador, que roubava aos ricos para dar aos pobres, ( Robin dos Bosques Português ) andou por Braga, no curso das suas aventuras, das quais se recordam as designadas por "Barbeiro Gabarola" e "Galego Sovina".
Participou em 1846, na Revolta da Maria da Fonte (Póvoa de Lanhoso), tomado partido pelas forças populares.
O famoso Zé do Telhado, que no séc. passado, em Portugal roubava aos ricos para dar aos pobres ( na série "As Pupilas do senhor Reitor que passou na RTP ), foi várias vezes preso, tendo até partilhado o cárcere com o Escritor Camilo Castelo Branco.
Casado com sua prima Ana Lentina de Campos ( a boda celebrou-se a 3 de Fevereiro de 1845), Zé do Telhados entrega-se à vida militar de corpo e alma, sendo condecorado pela sua bravura. Após algum tempo, regressa para o seio da família, uma transição que contou com alguns obstáculos, nomeadamente, o fato de ter dividas pelo não pagamento de impostos, acabando por ser expulso das Forças Armadas. Sem conseguir arranjar trabalho, restou a Zé do Telhado transformar-se no mais famoso bandoleiro de Portugal.
Com as autoridades no seu encalço por todo o País, Zé do Telhado resolveu fugir para o Brasil, escondendo-se na barca “ Oliveira”, acostada no Porto. Ali estava à guarda de Ana Vitória, uma mulher que fora sua vitima, mas que se tornara sua admiradora. Cabe-lhe a ela a frase lapidar que o transformou no Robin dos Bosques português ao dizer: “ existem pessoas de bem que nunca deram ás classes humildes um centésimo do que lhes deu Zé do Telhado.
O seu julgamento teve inicio em 25 de Abril de 1859. Com acusação pública em 09 de Dezembro do mesmo ano. Foi condenado na pena de trabalhos públicos por toda a vida, na costa ocidental de África e no pagamento das custas. Esta pena foi comutada pelo Tribunal da Relação do Porto em 15 anos de degredo para África, sendo publicada em Setembro de 1863.
Foi então "degredado" para a África, neste caso para Angola, onde viveu como pequeno comerciante em Mucári - Ambriz.
Já em Malange, tornou-se negociante de borracha, cera e marfim e casou com uma local, de nome Conceição, com quem veio a ter três filhos. Era conhecido entre os Angolanos como o “ QUIMUÊZO “, ou seja, o homem das barbas grandes, já que as deixara crescer desde que chegara a África.
Faleceu em 1875 com 59 anos. Zé do Telhado morreria de Varíola, sendo sepultado na aldeia de Xissa. Em Malange há uma campa com a seguinte inscrição:" Túmulo de José do Telhado". Trata-se efetivamente do famoso amigo dos pobres, José Teixeira da Silva, mais conhecido como o "Zé do Telhado".
Ainda hoje muitos naturais da terra, vão em romarias á sua campa e surge na boca dos mais velhos como figura mítica e protetora dos mais desfavorecidos, e naturalmente, pelo seu caráter, ali também ajudou a população local e vizinha.
Campa do Zé do Telhado ( Xissa – Malange - Angola ) foto net
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