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10/09/2012

EXAME DA 4ª CLASSE E ADMISSÃO


A professora que saudosamente recordo deu-me aulas na 3.ª e na 4.ª classes da já extinta Escola de Primária nº 176 no Bairro Popular nº2 em Luanda.
A escola existe , mas não é mais primária. Era alta, seca de carnes e muito afável, segundo o que a minha memória consegue resgatar da lonjura dos tempos de infância (tinha 9-10 anos na altura). Mas o facto que mais me marcou na convivência com a professora Amélia, assim se chamava, foi a sua disponibilidade para me dar gratuitamente explicações de preparação para os exames de admissão, após o final da 4.ª classe, Eu fiz exame de admissão, como os jovens da minha geração que concluíam a 4ª classe, que decidiam o acesso ao liceu ou à escola técnica (fiz os dois exames, e passei nos dois ) tendo optado pela Escola Técnica na altura e fiz o preparatório na novíssima Escola “ João Crisóstomo” na Rua dos Quarteis, Era novinha em folha! Tinha sido inaugurada naquele Verão e, uma escola tão grande perante os meus dez anos, deixava-me perdido. Era novidade a mais! Ingressei depois na Escola Industrial de Luanda.

É que, "antigamente", os estudantes da quarta classe sujeitavam-se a ter até três exames no final do ano: o da quarta classe, feito na própria escola, a que habitualmente não se chamava exame, mas "prova", feito em folha dupla de papel de 25 linhas e folha dupla de papel quadriculado, dobradas a um terço para anotar a classificação; e um ou mesmo dois exames de admissão, um ao liceu, outro à escola técnica, para os que usavam de cautela, não fossem reprovar num deles e ficar "paraquedistas" (nem na escola primária, nem no liceu ou escola técnica). Este exame era feito no liceu ou na escola técnica a que se concorria, com impressos próprios. Por razões óbvias, o exame da quarta classe a ("prova") só tinha solenidade para as famílias que já sabiam que o estudante iria ficar por aí, nem sequer concorrendo ao exame de admissão.

Em ambos os exames de admissão, na Escola Emidio Navarro e depois no Liceu Salvador Correia. Primeiro, a prova escrita. Chamaram-me. Um nervoso pequenino, que se foi desfazendo ao subir a escada. Lá em cima, alguém a chamar pelo meu nome, e a encaminhar-me para uma sala grande, enorme, com janelas à esquerda. Depois, foi a oral. E a seguir, a festa da passagem.

Eu passei para a Quarta classe, e a professora Amélia a quando do inicio do ano letivo tinha-nos dito que íamos aprender a escrever com caneta de tinta permanente e que por isso tínhamos que comprar uma. À saída da escola dei o recado à minha mãe que o deve ter transmitido ao meu pai. Meu pai veio ter comigo e disse-me “pronto filho, aqui tens a caneta para levares amanhã para a escola, hoje à tarde vais à papelaria comprar tinta para a pôr a escrever”. Eu fiquei contente por ter logo a questão resolvida, mas quando me mostraram a caneta que tinha sido do Sr. Calisto (o padrinho do meu irmão Vitor ), preta com uma argola dourada, todo o meu entusiasmo se desvaneceu. No dia seguinte cheguei à escola com a dita caneta. a professora começou logo a ensinar-nos a escrever com ela, tarefa que não achei nada fácil, e quando todos os alunos abriram os estojos e tiraram as suas, eu fiquei com uma lágrima no canto do olho, a olhar para a minha. Todos tinham canetas com super heróis, no caso dos rapazes, e cor-de-rosa ou com corações no caso das raparigas, tive vergonha, digo-o hoje, quando tive que tirar a minha caneta preta de argola dourada do estojo. Toda a manhã a escrever com aquela caneta, “feia” de bico estranho e com mau jeito… olhava para os outros meninos de língua ao canto da boca a aplicarem-se a escrever com as suas novas canetas de tinta permanente tão bonitas…

Ao almoço, minha mãe perguntou-me como é que tinha sido a manhã na escola e eu, com quase duas lágrimas a deslizarem-me pela cara, contei-lhe a minha manhã de caneta-de-tinta-permanente-preta-de-argola-dourada. Os meus pais registaram os meus queixumes mas não reagiram logo, coisa que me angustiou.


Caneta Parker 51

O assunto tinha ficado em stand by, passaram-se mais uns dias e eu sem nova caneta de tinta permanente, e, uma tarde, quando cheguei a casa minha mãe

tinha-me comprado uma caneta de tinta permanente nova bem bonita dourada e preta uma Parker 51, que estava na moda, resolveu ali todas as minhas preocupações e foi assim que no dia seguinte eu cheguei à escola com uma caneta nova, e com os respectivos frascos de tinta e ainda o famoso mata borrão.


Frascos de Tinta

Esses exames eram obrigatoriamente feitos com canetas de tinta permanente, e durante a 4ª. Classe, tínhamos que treinar o manuseamento da dita caneta, e a fazer uma caligrafia o mais arredondada possível.


Mata borrão




Os meus livros de leitura da Instrução Primária



ZÉ ANTUNES

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