Naqueles tempos antes da Dipanda, ai no ano de 1974, Zacarias “ o Bom Moço “ andava bué de contente, lhe tinham arranjado um salo como porteiro de uns escritórios ali na baixa de Luanda, perto do Largo Serpa Pinto.
Zacarias estava mesmo sem fazer nada e esse salo veio em boa altura pois kitar mal é, estava mali mali. Ele falava sem kumbú estou frito.
Nos primeiros quinze dias sempre a bumbar sem faltas todo aprumadinho mesmo na banga, mas os cumbús ainda estavam a faltar, vai na tesouraria do escritório e fala:
Tenho ai uns mambos para saldar, queria então pedir um vale de 500 escudos, porque a situação está péssima, estou na penúria.
Lhe falaram que não podia ser, no fim do mês que lhe iam pagar tudo, mas Zacarias sabe chorar e lhe adiantaram 100 escudos, lhe falaram é o que temos em caixa agora só se trabalha com cheque.
Ainda assim desconsolado porque o kitare não chegava, porque ele queria rústir com a kivita numa funguta do Bairro do Rangel, na dona Amália.
Chega o tão esperado fim do mês, Dona Loudes a secretária do boss lhe chama:
Zacarias está aqui teu cheque, agora vais ai na esquina tem o Banco Comercial de Angola ( gerente era sobrinho do famoso Peyroteu ) assinas só aqui atrás e tens o teu salário, tudo certinho com o teu vale descontado.
Zacarias fica na bicha do banco, quando chega a sua vez entrega o cheque ao funcionário e todo sorrisos, fala para o funcionário: assino aonde mesmo?
O funcionário diz:
Vais assinar aqui, mas tens que me apresentar o teu documento para ver se está válido, para registar aqui no cheque.
Eh nada, me falaram só assina, meu documento não tenho, a camba lá do meu trabalho falou só que eu assino, como agora falas dos documentos.
O funcionário vai falar com o gerente pois a empresa em causa era boa cliente, talvez pudesse facilitar sem a amostragem dos documentos de identificação, só com a assinatura.
Nesse entretanto como a demora era muita, um madié, bem grande e cheio de cabedal que está a trás do Zacarias, já impaciente fala:
Como é “ oh meu “ assinas e dás os documentos, ou então levas aqui um enxerto de porrada que nem sabes donde vieste.
Zacarias todo intimidado grita para o funcionário do Banco:
Trás ai o cheque que eu assino e te dou os documentos, tu não falaste bem, este madié aqui, é que sabe falar.
Zacarias recebe os seus cumbús e sai do Banco todo feliz, nesse fim de semana vai com a barona rústir um pé de dança numa funguta.
ZÉ ANTUNES
1974
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