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25/05/2012

AS FARRAS

 


  



                                                    Os Emblemas dos dois Clubes dos Bairros  


Cidade de Luanda, Bairro Popular nº2, e Sarmento Rodrigues, genuinos bairros de vivendas amplas e acolhedoras, varandas com alpendres amplos, onde à noite as familias se concentravam para as cavaqueiras com os vizinhos, com o seus quintais, bairros bem urbanizados, todos gostavam de lá morar. Longe vão os tempos em que nos Sábados à noite e aos Domingos nas matinés se ia dançar. As farras da Associação Recreio e Desporto de Luanda ( Bairro Popular) ou ao Grupo Cultutal e Recreativo do Bairro Sarmento Rodrigues (Bairro do Sarmento Rodrigues), do Clube do Bairro Popular situado no Largo que confinavam as ruas do Andulo, Vila Viçosa e Crato, era um Clube pequeno que foi tendo obras durante as várias direcções tendo até uma equipa de futebol de onze amadora e mais tarde de futebol de salão. Para obter outros rendimentos que não só das cotas dos associados, promovia-se as noites dançantes de Sábado e as tardes dançantes de Domingo, com vários sorteios de rifas e de mais expedientes para se angariar algum “kumbu”para a tesouraria do Clube.


                                                            OS RUBIS ( foto Claudino )


Com uma entrada de portão de ferro grande, entrava-se para um quintal todo cimentado, onde se jogava futebol de salão, esse acrescento que foi feito mais tarde, era descoberto e era ai que se fazia as farras, dai entrava-se à direita no edificio principal e à esquerda era o bar (Jorge Lâmina) sempre com o Bar bem organizado, umas 5 /6 mesas lado direito os gabinetes da direcção em frente o palco genuino, onde vi muitas vezes os irmãos “Bondosos” “Chico Leite” “Claudino” com o conjunto “OS RUBIS” abrilhantarem grandes farras. Ponto obrigatório de encontro para os que procuravam divertir-se através da música e do convívio e para estar com as garinas.


                                                        OS RUBIS ( foto Claudino )


Ao som de música da época que estava na moda: Nelson Ned, Niltom César, Roberto Carlos e
outros românticos, ou ao ritmo dos Kiezos, Prado Paim, Ouro Negro e outros, as farras eram
bastante animadas por parte da juventude. As garinas ( brancas, negras e mestiças ) eram
 Lindas, vinham madiés de outros bairros cobiçar as Garinas do Bairro Popular e
do Sarmento Rodrigues

Clube do Bairro Popular, um dos clubes onde a minha presença era uma constante, onde, com os meus amigos e amigas, e ao som dos cantores e conjuntos da época, Lindomar Castilho, Roberto Carlos, Nelson Ned, Nilton César, dos Credence, The Archies, Otis Redding, Percy Sledge, do “Tango dos Barbudos”, dos Pasodobles, era no Clube do Bairro que passava, quase sempre os Sabados à noite.

Encostados, de cigarro na boca só para o estilo, de longe mirávamos a rapariga que se pretendia para dançar e fazíamos sinal quase impercetível, para não dar muito nas vistas, que a procura era muita e a oferta pouca.

Acontecia muitas vezes, haver mais que um rapaz a fazer sinal à mesma rapariga e depois era o bom e o bonito quando ela se levantava e pensando que era para nós, passava ao lado e ia dançar com outro. Disfarçava-se o melhor que se podia o caricato da situação e lá íamos de novo para o canto.

As miúdas casadoiras iam com os pais ou com amigas e o cochichar delas era para nós incómodo pois não sabíamos do que falavam e podia ser um ‘bota-abaixo’ à nossa forma de dançar ou elogios. Só elas é que sabiam do que falavam. Felizmente fui sempre bom dançarino e embora tivesse passado algumas situações acima descritas, raramente não dançava.

O ‘travão’ que elas colocavam (braço em frente ao peito), impediam qualquer ‘avanço’ mais malicioso da nossa parte mas, aos poucos, iam cedendo, pois de tanto rodopio as ‘defesas’ iam abaixo e quando davam conta já estávamos encostados.

Mas também haviam mulheres mais maduras que iam lá sozinhas para ‘encontrarem’ um parceiro ocasional. Esta história foi verídica e passou-se com um amigo meu.

Ele fez sinal a uma mulher trintona e eis que quando ela se levanta verificámos que coxeava. Como ela veio ao encontro dele que remédio teve ele senão dançar o ‘slow’ que nesse momento tocava. Era uma música do Percy Sledge (nunca me esqueci desse pormenor).


                                                                  Farra de Quintal


E lá foram eles enlaçados, muito juntinhos, e ela para cima e para baixo consoante o pé que poisava. Quase a música acabada, ele lança-nos um pedido de socorro. Pediu-nos para o rodearmos e para irmos para a casa de banho. Assim fizemos e tinha acontecido o inevitável. Com tanto ‘roço’ o nosso amigo não aguentou!!!! e calças e cuecas lavadas. Secou-se o mais possível e a camisa ‘cintada’ (muito utilizada na época) por fora, serviu de resguardo ao molhado que se notava.

Foi um riso pegado entre nós. Depois da farra acabada, vi-a indo pelo Largo do Bairro, no seu coxear, perdendo-se no escuro da noite.

                                                                    Os Kiezos 1972

O Clube do Sarmento Rodrigues era na 2ª rua do lado direito quem ia para o Golf e ai a meio da a rua á esquerda, Edificio moderno de 2 andares e atrás um grande quintal, com um bar e uma grande pista para de poder farrar, e um palco para os conjuntos e para variedades. As cervejas, os refrigerantes, as batatas fritas, sandes e outros géneros, era fornecidos pelo bar, e ao som dos discos ou de um ou outro “ Conjunto“ músical, convivia-se, conversava-se e dançava-se, e cada um fazia pela vida. Muitas garinas que frequentavam os Clubes dos Bairros estabeleceram grandes amizades, namoros e até casamentos.

Como é comum nessas andanças, alguns rapazes procuravam obter as boas graças de determinada garina “arrastavam-na“ para a pista de dança e faziam os possiveis para a “cativar” para o resto da noite ou tarde e para outros encontros futuros, ai era ela que decidia. Se ele soubesse que era do “agrado” dela, tudo bem, grandes namoricos que se fizeram nas farras, senão teria que procurar outra garina.

                                               Malta no Clube do Bº. Sarmento Rodrigues

Era interessante ver como algumas eram “disputadas” com “marcação” em cima por parte de alguns rapazes. Era uma luta de galos e, regra geral o mais batido e sabido na lábia era o ganhador. Mas o madié que perdia partia logo para outra batalha e se não fosse naquele sábado ou domingo que obtivesse o troféu, seria nas semanas seguintes. Era assim a mentalidade da juventude naquele tempo, dos meus convivios nunca me apercebi da existencia de problemas entre eles, ficavam todos na mesma amigos.



                                             Matinee dançante no Sarmento Rodrigues


Face à fama que os Clubes tanto do Bairro Popular como o do Sarmento Rodrigues, das farras. começou a constar em Luanda que as garinas eram bué (muitas) e ai começaram a aparecer avilos de outros bairros. E, assim sendo, algumas das “nossas” garinas pensavam em nos provocar “ciúmes” Às vezes havia alguma maka (discussão) quando um de nós ia buscar uma delas para dançar, e se a garina desse “tampa”(não, não danço) e na mesma música fosse dançar com um Madié (rapaz) de outro bairro, ai era quase certo que poderia haver mesmo maka, muitas delas faziam de propósito para nos provocar. Umas discussões mais acaloradas, mas ficava-se por ali, na outra semana estavam lá de novo e já como amigos
Assim se passavam fins de semana nas Farras



                                                               Conjuntos


Zé Antunes

1973







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