Foi no ano de 1972, quase toda a rapaziada do bairro namorava, eu conheci a minha namorada que é hoje minha esposa, no dia do seu aniversário em 23-12-1972, ela fazia 14 anos, e a minha irmã convidou-me para uma festa de aniversário, pois a São era colega da minha irmã e andavam ambas na “ João Crisóstomo”, fomos apresentados, dançamos, dissemos aquelas baboseiras que é típico de quem se conhece pela primeira vez e começamos a namorar em Junho de 1973 ai comecei a ir a casa dela e como a mãe era segundo diziam e confirmei depois uma bela costureira, pois todas as idas a casa dela era pretexto para costurar mais uma camisa, e era pretexto para falar com a São, era todas as semanas uma camisa nova.
Separamo-nos quando das minhas férias á ex- São Salvador (Mbanza Congo ) em Julho de 1974 e depois ela foi viver para a Vila Alice por causa dos conflitos que se estavam a passar. Só a tornei a ver em Maio de 1975 a quando da vinda dela para Portugal. Retomando o namoro já em Portugal no Natal de 1975.
As kivitas para fazerem agrados aos meninos, telefonavam ou escreviam cartas a pedir músicas para passar na Rádio Comercial de Luanda que ficava ao cimo da rua Vasco da Gama no Prédio do Suba, e dedicavam aos seus namorados, dedicatórias essas para serem ouvidas no Domingo de manhã, havia quem levasse o rádio para a praia, essas dedicatórias não mencionavam todos os nomes era um código que logo foi descoberto de tão evidente que era. Os locutores eram, o Carlos Alberto, Jorge Seabra e o Norberto de Andrade, Começava o Programa :
Vamos ouvir o Roberto Carlos na música tal... que as garinas, Celina, Betty, São, Virinha, Mila, Célia, Rosário dedicam aos Pássaros: Amarelo (Zé-Tó), Vermelho (Henrique), Azul (Zé Antunes), Preto (Lili), Verde ( Minguitos), ao Carlos e ao Paquito, o Carlos e o Paquito estavam identificados, quanto aos pássaros coloridos eram os restantes e estavam também identificados pelas cores das motas, depois de ouvirmos as músicas românticas lá íamos até à ilha de Luanda para uns bons banhos na água do mar. Ao fim da tarde era na matiné do cine São João que os casalinhos de namorados trocavam umas beijocas e havia umas mãos mais atrevidas que não paravam quietas, BONS TEMPOS DA NOSSA JUVENTUDE QUE JÁ NÃO VOLTAM!!
Confesso que ao escrever este tema dedicado a recordar alguém que foi a que mais me marcou emocionalmente naqueles meus jovens anos. Não que tenha receio de quem no presente possa ler. Nem de nenhum “fantasma” do passado. A esse e a outros níveis sou totalmente desprendido. Pois é-me completamente indiferente o juízo de valores que a meu respeito possam tecer. Mas o tema faz-me retornar às memórias desse tempo longínquo do ano de 1973 que esse alguém ficou bem no meu intímo, num qualquer recanto do meu ser.
Nessa altura ouvi minha mãe quando conversava sobre a que é hoje minha esposa “…pois é meu filho não há dúvida que essa moça está-te a marcar para sempre, mas tu ainda és um beija flor. Procuras pousar em todas as flores que podes e encontras pelo caminho, sorves o mel e depois “ voas “ para outra e agora verificas que muito de ti está a ficar agarrado a ela. Nem o tempo consegue fazer esquecer nem colar os cacos em que deves andar”. Não rebati aquela reflexão de minha mãe, porque este caso não foi como os outros anteriores,
Este foi totalmente e inesperadamente, sublime. Só ela, ao ter entrado no meu mundo da forma que entrou, conseguiu que eu fizesse coisas e criasse situações que nunca antes tinha feito. Inclusive o facto de pela primeira e única vez na minha vida ter-me “sujeitado” a aparecer um “ atrasado mental” quando tive que pedi-la em namoro. Eu perto de fazer 18 anos, nunca tinha permitido “ autorizar-me” a ter esse tipo de procedimento de procurar obter permissão. …Eu é que permitia se andavam ou não comigo e nunca os outros…Ter que obter o “aval” não fazia parte do meu dicionário comportamental. Aliás já tinha dito mais que muitas vezes que nunca andaria com alguém cujo passo seguinte fosse o de “formalizar” esse “andar” e até gozava com os meus amigos que se sujeitavam a esse constrangimento. Pensamento de machista reconheço.
Mas ela foi particularmente em tudo “especial” desde que pela primeira vez a vi, passando por esse embaraçoso momento. Razão pela qual refiro que a reflexão de minha mãe neste caso bem particular da minha vida não tinha cabimento, pois em nada de nada foi como os outros. E esta foi e ainda é, a mais desconcertante história de amor que um dia me aconteceu quero partilhá-la, porque eu mereço, porque ela merece porque ambos merecemos.
Marinha ( São) 1973
Zé Antunes
Zé Antunes
Muito obrigado pela sua abertura ao relatar os seus sentimentos, em tema tão delicado! Abraço, CG
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