Aprendi a gostar de música nessa discográfica, cresci a espreitar as vitrinas, aprendi a manusear os vinis alinhados nas estantes com as pontas dos dedos, era como se dedilhasse as cordas de uma guitarra de caixa, uma "Fender" preciosa ou um "Stradivarius" melodioso e envolvente. Quando escolhia, pegava neles com cuidado como quem pega numa relíquia, e mal sabia eu que naquela altura estava mesmo a comprar algo que um dia iria - quase, felizmente! - ser obsoleto, o mundo não iria parar, o Homem não iria deixar de evoluir, e com essa evolução vieram os CD's, o som quase impecável, as misturas digitalizadas fizeram milagres. E os vinis, aqueles discos pretos, quase ficaram esquecidos nas estantes da minha casa. O meu velho gira-discos ficou de lado, parado e triste, em silêncio.
Também cresci, e amante como sou dos sons, fui na leva e adoptei os CD's. Mas hoje, quando voltei a esse passado, de repente vi-me na sala de estar de casa, a colocar no gira-discos, um disco , senti os meus dedos novamente a passar os álbuns e a pegar o escolhido, voltei a colocar um disco no prato, e a pegar na pontinha da asa da agulha, puxando-a para trás até ouvir o estalido, o prato começar a girar nas 33 rotações, e pousá-la com cuidado na primeira faixa, enquanto me afastava durante aqueles segundos de "barulhinho" para o sofá da sala. Era assim que passava as minhas tardes de fins-de-semana, a ouvir o som dos meus ídolos que comprava nos supermercados Angola. Mais tarde o José Maria e mais uns sócios abriram na D. João II a discoteca “BONZÃO”. Lembro-me das filas que enfrentei quando saiam os êxitos dos bee gees, beatles ou outro qualquer disco da moda, relembro-me quando consegui chegar à frente e pegar finalmente no disco que eu pensava que me escapava, que aflição!, depois mais feliz que nunca enfrentar novamente a fila para pagar a dinheiro, aquele dinheiro que eu poupava durante o mês.
1972
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