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10/09/2013

O FININHO


Conheci em 1972 Carlos Reis, mais conhecido pelo ”Fininho”, nasceu em Freixo de Espada à Cinta, na idade militar , apresentou-se e fez recruta nos Rangers de Lamego, depressa é incorporado para rumar a Angola, para Luanda, onde vai concluir o restante tempo de vida militar, vai para os Comandos, como furriel vai viver para o Bairro Popular nº 2.

Sempre que podia o “Fininho” aos fins de semana ia até aos clubes do Bairro Popular e ao Clube do Bairro Sarmento Rodrigues e naqueles loucos tempos não faltava a nenhuma farra, diga-se de verdade o nosso “ Fininho “ até era um bom dançarino, as garinas só queriam dançar com o madié.

Certo, certo é que encontrou o seu par, uma mulata toda bangona que até se ajeitava na dança, e era vê-los os dois sempre juntos nas fungutas ou no Clube do Bairro Popular ou no Clube do Sarmento Rodrigues.

De tanto dançarem e conviverem, foi-se criando uma empatia entre os dois que deu namoro.

Depois de acabado o serviço militar e ter passado a disponibilidade, junta-se ao pessoal das motos e compra uma Honda 350 CB, casa-se com Dulce e foram viver para a Terra Nova, continuando aos fins de semana, onde houvesse farra, ai estavam eles a dançar.

Dulce tinha um tio que era merceeiro no musseque Rangel, e um dia já em 1974, numa grande maka, que se gerou na mercearia do tio, Dulce que estava no local errado, e na hora errada, é atingida com um tiro no peito e vem a falecer no Hospital de São Paulo.


A partir dessa data, a vida acabou-se para o nosso Carlos Reis “Fininho” que em Julho de 1975, na Ponte Aérea que entretanto se organizou, vem para Lisboa e instala-se com outras pessoas numa habitação na Avenida da Liberdade.

Para ir ganhando a vida monta uma banca de jornais, revistas e cigarros.

Sozinho e com saudades da esposa, lá vai sobrevivendo naquele verão quente e conturbado ( politicamente ).

Mas em 1982 cansado resolve ir para a cidade que o viu nascer, foi ter com familiares, foi para Trás-os-Montes, para Freixo de Espada à Cinta, desde essa data nunca mais vi o Carlos Reis ” Fininho “ até que no ano de 2012 estava em Nabais – Seia, tinha ido almoçar mais a família e uns amigos a Folgosinho ao Restaurante do Albertino, e reparo num olhar fixamente para mim, e eu para ele, e disse aos presentes!

Conheço aquele individuo, não sei de onde, disse á minha esposa:

Vou lá falar com ele, parece que ele também me conhece.

Dito e feito, levantei-me e dirigi-me a ele, e quando me aproximava, deu-se um clique, ele levantou-se e ficamos os dois a olhar um para o outro, e a uma só voz dissemos:

Eu: “Fininho”


Ele: “Banga Zé “

Estava ali e dizia para os meus botões que te conhecia, ao qual me respondeu que também olhava para mim e dizia para si próprio que também me conhecia.

Encontro inesperado ao fim de trinta anos, desde que ele saiu de Lisboa.

Logo ali recordamos a nossa vivência, as saudades e os mambos da nossa juventude, principalmente as farras, troca de telefones e de mails e agora lá vamos recordando o que vivemos no antigamente, principalmente a nossa Luanda e aqueles sete anos que fomos vizinhos em Lisboa, principalmente aquelas bombas que rebentaram ao lado da sua casa.

Carlos Reis refez a vida tornando a casar, tem dois filhos, e trabalha num negócio familiar ( Oficina de Automóveis ).

Agora vamo-nos encontrando principalmente em Fátima, onde se reúne muita malta de Luanda.
ZÉ ANTUNES

1972


2 comentários:

  1. Obrigado pelo texto! Gostei de ler. O mundo às vezes é mesmo tão pequeno...!

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    1. É verdade, parece que estamos sózinhos e é só olhar para o lado sempre tem um amigo.
      Amigo mandei-lhe um escrito sobre Luanda.
      U grande Kandandu

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