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02/09/2013

TARIQUE


A morte de Tarique dos Santos Van-Dúnem Aparício deixou Luanda mais pobre. Com ele partiu a Luanda que tinha a capital no Baleizão, onde apoiou tertúlias de jornalistas e homens de letras ou desportistas. No adeus, familiares e amigos disseram que perderam uma parte importante das suas vidas.

Entre os que foram dizer adeus a Tarique estiveram o general Helder Vieira Dias “Kopelipa”, Aldemiro Vaz da Conceição, José Van-Dúnem, ministro da Saúde, general Roberto Leal Monteiro, “Ngongo”, Rui Mingas, José Tavares, presidente da Comissão Administrativa de Luanda, embaixador Kiambata, general Cândido Van-Dúnem, ministro da Defesa e muitas figuras da política, da cultura e do desporto.
Dor, luto e lágrimas marcaram ontem em Luanda o ambiente que envolveu as exéquias fúnebres do nacionalista e empresário Tarique dos Santos Van-Dúnem Aparício. Filho ilustre da Ilha do Cabo deixa órfãos os ilhéus e amigos que ao longo da vida com ele conviveram.

O cortejo fúnebre partiu do Quartel Principal dos Bombeiros para o Cemitério do Alto das Cruzes. O sentimento de dor era visível no rosto de familiares e todos os que tiveram o privilégio de conviver com Tarique e receber dele o seu amor, a sua amizade e a sua infinita bondade.

Seu amigo de longa data, o desportista e empresário Carlos Cardona afirmou que perdeu um grande amigo “um senhor que sabia respeitar a amizade e tinha um grande respeito pelos valores humanos”.

Cardona disse à nossa reportagem que “não lhe conhecia um inimigo e ele tudo fazia para atender todas as pessoas que lhe batiam à porta procurando de ajuda. Nunca recusou a mão a ninguém”.

Carlos Cardona recordou que um dia antes da morte de Tarique, ambos partilharam um convívio agradável: “gostava que o amigo fosse recordado como um homem do povo”. E concluiu: “este homem com quem estabeleci uma amizade de mais de 60 anos jamais virou cara aos pobres e oprimidos”.
Pensamento idêntico tem a ministra da Cultura. Com o rosto triste e parca em palavras, Rosa Cruz e Silva recordou Tarique como um “bom cidadão e patriota”.
Homem multifacetado e um verdadeiro mecenas da Cultura, ele inscreveu também o seu nome na lista dos membros fundadores da Associação Cultural Chá de Caxinde. Jacques dos Santos lembrou a homenagem que lhe foi feita há um mês pelo contributo prestado à instituição. Lamentou a sua morte e realçou que perdeu um amigo e irmão mais velho.

“O momento é de dor e de luto em memória de um amigo que deve ser um exemplo a seguir, sobretudo nos nossos dias onde o verdadeiro sentimento de amor ao próximo, a amizade e a solidariedade estão a desaparecer”, disse.
O comandante “Ingo”, figura lendária da luta de libertação nacional, lembra que Tarique, no desporto, tinha dois amores, um escondido e outro à vista de todos: “ele amava o Atlético. Saía de casa dizendo que ia para o Sporting mais juntava-se a nós no Atlético, onde deu os primeiros passos na luta anti-colonial”.
O caixão de Tarique Aparício foi à Ilha, parou em frente ao Quintal da Tia Guida, seguiu até ao Farol e regressou. Fez mais uma paragem em frente ao seu Baleizão, a cervejaria de Luanda onde eram fabricados os melhores gelados do mundo. Até à Independência Nacional, baleizão em Angola e até em Portugal era sinómimo de gelado. Tudo obra do Tarique. Além do dirigismo desportivo, Tarique também foi um dos fundadores da Academia do Bacalhau.

O Bispo de Cabinda, D. Filomeno Vieira Dias, rezou a missa de corpo presente. “Os que acreditam na ressurreição, a vida não termina por aqui” e realçou que o “momento é de comunhão com a família e de nos despedirmos do nosso querido irmão”.
O prelado falou sobre a capacidade de pensamento, do sentimento de fraternidade que deve prevalecer entre as pessoas e lembrou que a fé tem um princípio que transcende a vida. 

“Para todos os que sentem a tristeza pelo desaparecimento do Tarique peço que rezem pela alma do irmão que partiu para o descanso eterno”, disse D. Filomeno Vieira Dias, que aproveitou a ocasião para citar uma passagem bíblica: “Quem crê em mim viverá”.

Sportinguista ferrenho, o clube do coração de Tarique, o Sporting que tanto amou também se associou às exéquias fúnebres. Na hora da despedida, um grupo de promessas do Sporting Clube de Luanda rendeu-lhe uma singela homenagem. A urna foi coberta com uma bandeira gigante do clube, um desejo que ele nunca escondeu.



“Foi para nós um pai e conselheiro, um verdadeiro amigo de todas as horas que vai sempre fazer parte das nossas vidas”, disse um jovem atleta do clube leonino. Foi até a morte o sportinguista número um. Desde 1975 que fazia parte da direção do clube, à qual presidiu muitos anos. Homem infinitamente bom, Tarique foi um grande empresário, mas também um nacionalista convicto e empenhado.

Percurso de uma vida, nascido em Luanda, no dia 30 de Maio de 1934, Tarique dos Santos Van-Dúnem Aparício, foi comerciante e industrial de grande mérito. Foi também um homem que se destacou no desporto. O seu rasgo como empresário fez do Baleizão o ex-libris da cidade de Luanda. Mas isso só foi possível porque o Tarique amava esta cidade como nunca ninguém amou. Ele dizia aos amigos: “só ama Luanda quem é capaz de viver as suas madrugadas”. Conhecia Luanda desde a primeira hora do dia à última noite. Descobriu todos os seus encantos, desde a sua bem amada Ilha do Cabo à terra vermelha dos musseques.
Ainda criança entrou para a escola do Grémio Africano. Nessa altura sua mãe, Madalena Inácio, e o pai, José Maria Aparício, viviam na Praia do Bispo. “Quando estávamos nos pioneiros do MPLA, levávamos grandes baldes de gelados para as crianças da Praia do Bispo. Era uma forma do pai Tarique recordar a sua infância”, recorda a filha Ana Maria.

Depois de ter concluído o ensino liceal, no Salvador Correia, decidiu ajudar o pai no Baleizão. Tinha 17 anos e os seus mestres vaticinavam-lhe uma carreira brilhante. Preferiu trabalhar para a família. Tomou conta dos negócios de José Maria Aparício e revelou-se um grande empresário.

Ao ler o elogio fúnebre, Ladislau Silva, assessor do Governo da Província de Luanda, destacou que “Tarique percorreu todos os caminhos da cidade e neles descobriu os mil afetos que o moldaram como homem infinitamente bom”.
Uma parte da velha cidade morreu com este homem que foi um dos mais ilustres luandenses.
Recebi do Walter Sério
2013

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