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02/09/2013

BOM DIA LUANDA


Bom dia, Luanda. Tu és rica. Ficas à beira mar, tens uma praia de areias brancas, és cheia de música e o teu clima é tropical. Os teus habitantes são orgulhosos e belos. Quando se vai passear, ao fim da tarde, pelas tuas ruas,

fragmentos do seu português misturam- se com a música que retumba algures de um altifalante. Para quem quer acreditar nos prognósticos económicos, vais ter um futuro próspero. Então, porque é que as pessoas não gostam de ti? Porque é que não te conhecem? Porque é que tratas mal os teus visitantes?

Porque é que não te compreendem? Efetivamente, não é fácil conhecer-te.

As tuas ruas estão cheias de poeira e, muitas vezes, também de lixo. Buracos nas ruas do tamanho dos pneus de um camião, tampas de esgoto sem qualquer proteção já alguma vez uma criança caiu dentro de algum desses buracos?

Os engarrafamentos permanentes nas tuas ruas acabam todos os dias com os nervos das pessoas. E ter que ficar horas e horas na fila da bomba de gasolina, apesar das enormes reservas de petróleo frente à tua costa, não facilita o gostar de ti.

Mesmo assim, tu consegues ser charmosa, consegues inspirar, relaxar, enfeitiçar.

Por exemplo, quando no centro da cidade, atrás de um dos teus gigantescos estaleiros, se entra no «A nossa Sombra », um pequeno jardim com uma esplanada-restaurante, para tomar um cafezinho e sentirmo-nos como num oásis.

Quando se está sentado na praia para ver o pôr do sol, a cidade nas costas, a música Kizomba no ouvido, o vento quente, levando consigo a pressão do dia, com a consciência de que algures, do outro lado do mar, está o Brasil.

Quando se vai de barco ao mar, ver os golfinhos deslizando na água. Quando se é convidado para ir a uma festa numa casa lá no alto, com vista sobre os telhados da cidade, observar as suas luzes a brilhar, não se quer estar em nenhum outro lugar do mundo.

Porque é que se sabe tão pouco de ti? Já tens 436 anos. Acabas de fazer anos. Em 1575, o comandante do navio português Paulo Dias de Novais veio com o primeiro grupo de colonos portugueses. Passaste por muita coisa desde então. Pela colonização portuguesa. Pelo fim do regime colonial. Pela guerra civil. Paz. Pessoas que fugiram. Pessoas que voltaram para construir o país e participar no boom económico. E hoje? Hoje as opiniões divergem. As pessoas ou te odeiam ou te amam. Dizem que és a cidade mais cara do mundo, reclamam contra a tua corrupção, e a maior parte das vezes só falam mal de ti.

Para te compreender e talvez até gostar de ti é preciso conquistar- te e descobrir-te. É preciso ir para o lado menos elegante da Ilha e comer peixe na Tia Luísa. Ela deixa marinar o peixe em sumo de limão antes de o pôr na pequena grelha encostada à parede, o quintal com telhado de zinco feito «restaurante », transforma o peixe no mais delicioso que alguma vez se comeu.

Sentar no parque ao lado da casa do Presidente no Miramar onde à tarde a rapaziada do bairro vem jogar basquetebol.

Ouvir a música do tempo antes da independência, em 1975, que os mais velhos voltam a tocar ao domingo à tarde no café. Abrir os olhos. Descobrir os azulejos dos letreiros das ruas do tempo dos portugueses. Divagar pelos teus cinemas ao ar livre que se podem visitar, mas que já não funcionam. Escutar o teu barulho.

Os pregões das peixeiras e o ronco dos motores, permanentemente ligados, dos carros estacionados para que os motoristas sentados lá dentro se possam refrescar no ar condicionado. Sentir o teu cheiro, o oceano e o aroma fresco da terra depois de um aguaceiro, tanto como o lixo presente em quase todo o lado.

Encontrar os teus habitantes e falar com eles. Os teus artistas, pensadores, pintores, poetas, atores, músicos. Ouvir as suas histórias e as suas vidas.

Luanda, precisamente. Cidade portuária. Cidade do petróleo. Cidade do boom. E logo depois de São Paulo e do Rio de Janeiro a terceira maior cidade lusófona do mundo. Tu mexes com as pessoas. Vale a pena o esforço de te conquistar.

Recebi via mail

Christiane Schulte
Diretora do Instituto Cultural Alemão /
Goethe-Institut Angola

2013

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