ATRÁS DE UMA BAGUNÇA ESTÁ SEMPRE UM BAGUNCEIRO…
A minha Teresa mal para em casa. Salta de manif para manif. Foi à do que se lixe a troica, foi a da CGTP, foi à das Farmácias... Vai a todas... Está numa de protesto permanente.
Por um lado eu não aceito muito bem o nervosismo com que ela encara a situação atual. Receio que o coração dela não aguente, mas não sou eu que lhe vou dizer para deixar de protestar contra o que ela pensa que está mal e precisa de ser corrigido.
Na manifestação da Inter, no Terreiro do Povo, (antigo Terreiro do Paço) dei com ela, a minha. Teresa a discutir com um grupo de ferroviários. Discutir é uma maneira de dizer, porque de uma troca de opiniões verdadeiramente se trata.
O tema em discussão não podia ser mais complexo e difícil de clarificação. No centro da conversa estava, como não podia deixar de ser, a crise. Quem a provocou e quem a está a pagar com um palmo de língua de fora.
Uns afirmavam que a culpa era do governo ou do ministro qualquer coisa. Outros juravam que o mal estava no euro, por que, com o escudo, estaríamos muito melhor ou, pelo menos, menos mal.
Perante a complexidade dos problemas a minha Teresa, que não é estúpida e de parva tem muito pouco, ficava-se pela essência das coisas:
- O que eu sei, disse ela, virando-se para uma ferroviária que intervinha no diálogo é que alguns estão a fazer fortunas com esta crise, que esmaga os trabalhadores e os reformados, tocando até muitas famílias da classe a média...
- Mas como é que eles ganham dinheiro se a economia está parada?
- Aí é que reside o problema, a economia está parada mas a máquina da especulação financeira é que não pára e, por mais estranho que pareça, até acelera. Este e o nosso grande mal. A economia está a ser subvertida pela finança. Com um simples computador um capitalista, um especulador, daqueles que nos (dizem que) emprestam o dinheiro das troicas, pode ganhar num minuto o que o dono de uma fábrica com dezenas ou centenas de trabalhadores não ganha num mês. Hoje não é a produzir que se ganha, mas a especular e a roubar.
- No caso da CP, que dizem estar a ser preparada para a venda aos privados, fala-se agora muito da bagunça que por aqui reinou nos últimos anos, bagunça que, por exemplo levou um governo do PS a proibir esta empresa pública de participar no concurso da travessia do Tejo, que acabou por ser entregue á FERTÁGUS adiantou outro circunstante.
Aqui a minha Teresa entendeu que era a altura de por alguma verdade em cima da mesa:
- Se o afastamento da CP, para se entregar o bolo todo à Fertágus foi para acabar com a bagunça, os que desenvolveram essa operação acabaram por fazer precisamente o contrário. Talvez por falta de pontaria, erraram o alvo e contribuíram escandalosamente para aumentar a bagunça que hoje dizem que pretendiam combater.
A CP foi afastada do concurso da concessão pelo Cravinho do PS depois dela ter feito a infraestrutura e a linha na Ponte 25 de Abril e de ter firmado o contrato dos comboios para fazer a travessia do Tejo, e que o governo do PS acabou por entregar à Fertágus, para que a esta fosse permitido assinar um contrato que lhe assegura o exclusivo dos lucros deixando para o Estado o exclusivo dos prejuízos …
Foi assim que o governo do PS decidiu acabar com a bagunça na CP. Um escândalo que se pode compreender melhor se, acrescentarmos isto:
Se no fim do ano a Fertágus ganhar, por hipótese, mil milhões de euros, fica com a totalidade do lucro. No caso contrário, se a Fertágus chegar ao fim do ano com um milhão de euros de prejuízo, é o Estado que suporta inteiramente as perdas.
Esta contabilidade encontra-se camuflada no contrato de concessão sob a fórmula de cálculo do movimento de passageiros transportados. Se houver menos o Estado paga uma indemnização. Se houver mais, muito mais, a Fertágus arrecada tudo...
Se esta é urna forma correta de defender os interesses do Estado é caso para se dizer que vou ali já venho, para não dizer outra coisa pior.
E por aqui nos ficamos...
Zé Ferroviário
“À TABELA” Nº 109 Novembro de 2012 Orgão da CT
Por um lado eu não aceito muito bem o nervosismo com que ela encara a situação atual. Receio que o coração dela não aguente, mas não sou eu que lhe vou dizer para deixar de protestar contra o que ela pensa que está mal e precisa de ser corrigido.
Na manifestação da Inter, no Terreiro do Povo, (antigo Terreiro do Paço) dei com ela, a minha. Teresa a discutir com um grupo de ferroviários. Discutir é uma maneira de dizer, porque de uma troca de opiniões verdadeiramente se trata.
O tema em discussão não podia ser mais complexo e difícil de clarificação. No centro da conversa estava, como não podia deixar de ser, a crise. Quem a provocou e quem a está a pagar com um palmo de língua de fora.
Uns afirmavam que a culpa era do governo ou do ministro qualquer coisa. Outros juravam que o mal estava no euro, por que, com o escudo, estaríamos muito melhor ou, pelo menos, menos mal.
Perante a complexidade dos problemas a minha Teresa, que não é estúpida e de parva tem muito pouco, ficava-se pela essência das coisas:
- O que eu sei, disse ela, virando-se para uma ferroviária que intervinha no diálogo é que alguns estão a fazer fortunas com esta crise, que esmaga os trabalhadores e os reformados, tocando até muitas famílias da classe a média...
- Mas como é que eles ganham dinheiro se a economia está parada?
- Aí é que reside o problema, a economia está parada mas a máquina da especulação financeira é que não pára e, por mais estranho que pareça, até acelera. Este e o nosso grande mal. A economia está a ser subvertida pela finança. Com um simples computador um capitalista, um especulador, daqueles que nos (dizem que) emprestam o dinheiro das troicas, pode ganhar num minuto o que o dono de uma fábrica com dezenas ou centenas de trabalhadores não ganha num mês. Hoje não é a produzir que se ganha, mas a especular e a roubar.
- No caso da CP, que dizem estar a ser preparada para a venda aos privados, fala-se agora muito da bagunça que por aqui reinou nos últimos anos, bagunça que, por exemplo levou um governo do PS a proibir esta empresa pública de participar no concurso da travessia do Tejo, que acabou por ser entregue á FERTÁGUS adiantou outro circunstante.
Aqui a minha Teresa entendeu que era a altura de por alguma verdade em cima da mesa:
- Se o afastamento da CP, para se entregar o bolo todo à Fertágus foi para acabar com a bagunça, os que desenvolveram essa operação acabaram por fazer precisamente o contrário. Talvez por falta de pontaria, erraram o alvo e contribuíram escandalosamente para aumentar a bagunça que hoje dizem que pretendiam combater.
A CP foi afastada do concurso da concessão pelo Cravinho do PS depois dela ter feito a infraestrutura e a linha na Ponte 25 de Abril e de ter firmado o contrato dos comboios para fazer a travessia do Tejo, e que o governo do PS acabou por entregar à Fertágus, para que a esta fosse permitido assinar um contrato que lhe assegura o exclusivo dos lucros deixando para o Estado o exclusivo dos prejuízos …
Foi assim que o governo do PS decidiu acabar com a bagunça na CP. Um escândalo que se pode compreender melhor se, acrescentarmos isto:
Se no fim do ano a Fertágus ganhar, por hipótese, mil milhões de euros, fica com a totalidade do lucro. No caso contrário, se a Fertágus chegar ao fim do ano com um milhão de euros de prejuízo, é o Estado que suporta inteiramente as perdas.
Esta contabilidade encontra-se camuflada no contrato de concessão sob a fórmula de cálculo do movimento de passageiros transportados. Se houver menos o Estado paga uma indemnização. Se houver mais, muito mais, a Fertágus arrecada tudo...
Se esta é urna forma correta de defender os interesses do Estado é caso para se dizer que vou ali já venho, para não dizer outra coisa pior.
E por aqui nos ficamos...
Zé Ferroviário
“À TABELA” Nº 109 Novembro de 2012 Orgão da CT
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