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04/04/2013

RELÓGIO


Corria o ano de 1986, fim de uma tarde de Março, sábado, vivia na Avenida da Liberdade em Lisboa.

Depois de uma tarde em ameno Convívio gastronómico e báquico, com os habituais amigos, regresso a casa, subindo a Avenida da Liberdade a pé, entro no prédio, prédio onde nas águas furtadas vivia o cabo-verdiano, o Sr. Morais, cota mais velho que era amigo de todos, e deu guarida a um tal de “ zarolho “ que tinha saído da prisão.

Começo a subir os primeiros lanços de escada e vejo a minha esposa a Marinha a descer toda aflita, pois tinham-lhe roubado o relógio, diz-me com sofreguidão:
Foi o Zarolho, foi o Zarolho.
Acalma-te que eu vou já a Praça da Alegria, à Esquadra da Policia, que ali existia e participo o roubo, chegando lá o agente da autoridade quis acompanhar-me até ao Prédio onde acontecera a ocorrência, e deteve o Zarolho.

Zarolho era um cadastrado que tinha saído da prisão, e deambulava pela cidade e vivia de pequenos furtos que vendia no Rossio ( na pedra ), era assim que se chamava a praça Dom Pedro IV onde se traficava de quase tudo.

Dirigimo-nos ao prédio, e o policia foi buscar o zarolho e levou-o para a esquadra para ser interrogado, acompanhei-os para concluir a queixa apresentada.

Na identificação do zarolho, para elaborar o relatório, o agente da autoridade começou a enumerar os delitos praticados pelo zarolho, ao que ele sempre ia negando.

O Policial dizia: Estás a chamar-me mentiroso?

Não, Não, Não dizia ele.

O Agente da autoridade, mostrava-lhe o dedo mindinho e dizia:

Este dedo, adivinha tudo e sabe porque é que estiveste preso estes anos.
Roubaste ou não roubaste o Relógio da Senhora Dona Marinha.

Não, Não roubei nada dizia ele!!

Tudo bem, agora vais lá para dentro e depois conversamos, vai pensando e pensa bem para não termos problemas.

Mandou-nos embora a mim e à minha esposa, mas ainda ali ficamos na conversa, e eu só ouvia uns gritos que o zarolho lá dentro da esquadra dava.

Mal tínhamos chegado a casa, passados poucos minutos tocam à campainha e fui abrir, era o policial com o Zarolho que vinha entregar o relógio à Dona Marinha e pedir desculpas. Retirei a queixa e ficou tudo resolvido, ficando o zarolho até mais simpático sempre que nos via.

Fiquei foi sempre com o enigma, o que lhe terão feio? Eu só ouvi uns gritos!! Só os deuses devem saber, eu desconfio, mas………… posso estar enganado, que deve ter levado umas boas chibatadas, terá levado.

ZÉ ANTUNES

1986

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