Fui morar para o Bairro Popular nº2, em Março de 1962 , para a Rua de Serpa nº. 102 do lado direito quem desce a rua, desde a casa da menina Berta até a última casa a do Manuel João, do lado esquerdo estava a Escola Primária, o Cinema São João, a Igreja de Santa Ana, a Capela e o Preventório Infantil de Luanda no fim um grande bananal que rapidamente foi transformado em campo da bola.
Frequentei a escola primária, onde fiz a 1ª e 2ª classes com a professora Fernanda. tendo depois frequentado a 3ª. e 4ª. classes com a professora Amélia que morava na rua de Porto Alexandre ( 4ª Rua ), onde ainda andei nas explicações para os exames de admissão ás Escolas Técnicas e aos Liceus. Lembro-me de alguns kambas e algumas Garinas: João Borges ( BALA ) Figueiredo, Freitas, Albuquerque, Luis Van-Dúnen, Chico Maia, João Melo, Luisa, Nazaré, Betty, Celina, Arlete (Chú ) Ivone e outros .
Lembro- me da Joana Maluca que corria atrás de nós. Há quem diga que a Joana, foi em tempos uma jovem muito inteligente e estudiosa que por tanto estudar, teve um esgotamento. Outros dizem que a Joana era uma rapariga linda que se apaixonou por um branco e que no dia do seu casamento teve um desgosto que a fez enlouquecer de dor, nesse dia, o homem que tanto amava morreu de acidente. Não sei qual das versões é a verdadeira, sei apenas que hoje, em toda a cidade de Luanda ela é a Joana Maluca que nos assusta e nos fascina, ainda hoje me lembro da Joana com saudade…
Lembro-me bem de um individuo que passava no Largo, a quem nós chamávamos o Palhinhas, nunca ninguém soube nada dele pois não dizia nada de nada e andava sempre com uma palhinha na boca e o Canhangulo com a sua bicicleta, as mães diziam à pequenada que ele era o homem do saco e ainda o Trambuca ( velho maluco que vivia de esmola e dizia quem não trambuca não manduca).
Lembro-me das manas ( Zita, Zinha e Ester ) por as três andarem sempre de mini – mota e alinharem connosco pelas voltinhas ao Bairro.
Depois mais tarde, ingressei na Escola Preparatória João Crisóstomo, inaugurada no ano de 1967 / 1968 na rua dos Quarteis, onde conclui o preparatório, tendo depois frequentado a Escola Industrial de Luanda. Ai acabei o Curso de Formação de Serralheiro ( durante as férias grandes o meu pai punha-me a trabalhar para aprender a arte e assim no 1º anos do Curso estive os três meses na Fabrica Imperial de Borracha ( Macambira ) Serralheiro Sr. Alfredo que morava na Rua de Porto Alexandre ( 4ª Rua ) meu mestre. No 2º Ano no ABC Serralheiro cunhos e cortantes ( moldes ) foi meu mestre o José Martins. No 3º ano na Represental já como tirocinante de desenhador. Até começar a trabalhar vivi a minha infância no Bairro São Paulo e Bairro Popular, nos anos de 1974 e 1975 já no Bairro do Café na casa da Avó do Zé Tó que me ajudou bastante pois foi a partir dai que cortei o cordão umbilical dos meus Pais e comecei a viver independente, indo sempre aos bairros que me viram crescer.
Meu pai foi durante muitos anos Encarregado de Obras na Firma SONEFE, esteve na construção da Barragem de Cambambe ( Alto Dondo ) tripulava uma torraite N.S.U. e depois uma ZUNDAPP, mais tarde um Opel Kadete que veio da Africa do Sul com volante à direita., onde aprendi a conduzir e ia fazer Banga para as kivitas do Liceu Femenino e das outras escolas. Minha mãe trabalhava no mercado do Kinaxixe, tinha uma banca de Legumes e Verduras , meus irmãos o Fernando na Robert Hudson na Zona Industrial, o Victor no Banco Comercial de Angola , a Mélita estudava na época e tratava de nós e de mais três casapianos (Passarinho, Baltazar, Miguel ) que na altura foram viver para minha casa, a quando da ida de minha mãe e do meu pai para a Africa do Sul, meu pai para trabalhar na construção de uns depósitos de água em Troyeville ( Joanesburgo ) e minha mãe para ser operada, aos Rins e Visicula, tendo todo o mundo regressado a Portugal em 1975. O Passarinho que entretanto casou com a Lena Ventura ficou em Luanda até 1984.
Minha irmã Mélita com 13 anos – 1973
Minha irmã Mélita com 13 anos – 1973
Desde os grandes combates de Maio e Junho de 1975 entre os movimentos de libertação, Luanda depressa se transformou numa cidade de caixotes. Era desolador ver uma cidade maravilhosa a esvaziar-se dos seus habitantes, pois cada dia que passava havia menos gente nas ruas, menos coisas para comprar (as prateleiras das casas comerciais estavam vazias, os restaurantes estavam fechados por falta de alimentos), a inflação cada vez mais incontrolável, e mais caixotes nas ruas ou nos cais à espera de embarque. A ponte aérea esvaziou Luanda ainda mais depressa. Por fim, em Setembro a Universidade de Luanda fechou, e em Outubro Luanda parecia já uma cidade deserta e sem vida.
Zé Antunes
2000
Olá Zé Antunes.
ResponderEliminarCoincidência...também eu vivi no bairro popular nº 2, na Rua de Ourique nº 103. Nasci em Portugal e em 1967 embarquei para lá, onde vivi até 1975. Frequenteu a mesma escola primária, lá do bairro; o mesmo cinema; a mesma igreja; enfim os mesmos locais. Também frequentei a Escola João Crisostomo, mas apenas no primeiro periodo, porque depois começaram os problemas e tive que regressar. Tenho algumas poucas fotos de então e também de algumas tiradas em 1997 aquando da minha visita a essa terra. Um abraço.
Olá amigo
EliminarPoderemos nos conhecer e ficava feliz se manda-se os seus elementos para todos os anos nos encontrarmos nos almoços do Bairro Popular nº2 Sarmento Rodrigues e Palanca que se realizam no primeiro sábado de Maio
praticamente todos nós fizemos esse percurso
mande noticias
Um grande Kandandu
meus cumprimentos. sou o Isaac e quero escrever a historia do bairro popular tenho 16 anos, vivo na rua das verdades estudo na santa Ana. preciso da sua ajuda.
ResponderEliminarAmigo Issac ainda és kandengue eu sou mais cota tudo o que sei do Bairro foi até 1975 depois tivemos de bazar para a Tuga manda o teu mail e eu poderei te enviar historias daqueles tempos Um grande Kandandu
EliminarEu também vivi no Bairro Popular (Sarmento Rodrigues) entre 1967 e 1970.
ResponderEliminarNunca mais lá voltei. Saí de lá com 15 anos. Gostava de ver imagens daquele tempo. O 22 para a Mutamba ou o 23 dando a volta junto ao Imbondeiro,
Cordialmente,
José Luis COVITA