TuneList - Make your site Live

03/07/2012

BAIRRO POPULAR Nº 2

Fui morar para o Bairro Popular nº2,  em Março de 1962 , para a Rua de Serpa nº.  102  do lado direito quem desce a rua, desde a casa da menina Berta até a última casa a  do Manuel João,  do lado esquerdo estava a Escola Primária, o Cinema São João, a Igreja  de  Santa Ana, a Capela e o Preventório Infantil de Luanda no fim um grande bananal que rapidamente foi transformado em campo da bola.
Frequentei  a escola primária, onde fiz a 1ª e 2ª classes com a professora Fernanda. tendo depois frequentado a 3ª. e 4ª. classes com a professora Amélia que morava na rua de Porto Alexandre ( 4ª Rua ), onde ainda andei nas explicações para os exames de admissão ás Escolas Técnicas e aos Liceus. Lembro-me de alguns  kambas  e  algumas Garinas: João Borges ( BALA ) Figueiredo, Freitas,  Albuquerque,  Luis Van-Dúnen,  Chico Maia,  João Melo,  Luisa,  Nazaré,  Betty,  Celina,  Arlete  (Chú ) Ivone e outros .
Lembro- me  da Joana Maluca que corria atrás de nós. Há quem diga que a Joana, foi em tempos uma jovem muito inteligente e estudiosa que por tanto estudar, teve um esgotamento. Outros dizem que a Joana era uma rapariga linda que se apaixonou por um branco e que no dia do seu casamento teve um desgosto que a fez enlouquecer de dor, nesse dia, o homem que tanto amava morreu de acidente. Não sei qual das versões é a verdadeira, sei apenas que hoje, em toda a cidade de Luanda ela é a Joana Maluca que nos assusta e nos fascina, ainda hoje me lembro da Joana com saudade…
Lembro-me bem de um individuo que  passava no Largo, a  quem nós chamávamos o Palhinhas, nunca ninguém soube nada dele pois não dizia nada de nada e andava sempre com uma palhinha na boca   e  o  Canhangulo com a sua bicicleta,  as mães diziam à pequenada que ele era o homem do saco e ainda o Trambuca ( velho maluco que vivia de esmola e dizia quem não trambuca não manduca). 
Eu ia aos Domingos aos fardos onde se comprava altas farrapeiras à  Rua de Loulé, que mais tarde em frente foi construída a Defesa Civil (era a rua de transição para o Bairro Sarmento Rodrigues ).
Chá das 6... Programa ''Canta quem Sabe''... Apresentado na altura a quando eu com 11 anos, fui  pela primeira  vez, assistir a um espectáculo apresentado pela saudosa, simpática, e doce Ruth Soares,  e pelo eficiente saudoso apresentador Artur Peres. Isto foi em 1966. Seguindo-se do programa '' Um minuto para mostrar o que vale'', quando mais crescido, fui assistir a um  concurso de Dança (1971), já apresentado pela Alice Cruz, tendo ao  piano o nosso querido Maestro Casal Ribeiro, e algumas vezes por Shegundo Galarza. Lembrando-me do cantor Vasco Rafael, Duo Ouro Negro, João Sequeira, Milú Ferreira, Fernanda Ferreirinha, a inesquecivel eterna diva referencia portuguesa, a nossa Amália Rodrigues... Existem realmente momentos muito altos na vida.  Saudades,  saudades...!!
Lembro-me das manas ( Zita, Zinha e Ester ) por as três andarem sempre de mini – mota e alinharem connosco pelas voltinhas ao Bairro.


Depois mais tarde, ingressei na Escola  Preparatória João Crisóstomo, inaugurada no ano de 1967 / 1968  na rua dos Quarteis, onde conclui o preparatório, tendo depois  frequentado a  Escola Industrial de Luanda.  Ai acabei o Curso de Formação de Serralheiro ( durante as férias grandes o meu pai punha-me a trabalhar para aprender a arte e assim no 1º anos do Curso estive  os três meses na Fabrica Imperial de Borracha   ( Macambira ) Serralheiro Sr. Alfredo que morava na Rua de Porto Alexandre ( 4ª Rua ) meu mestre. No 2º Ano no ABC  Serralheiro cunhos e cortantes ( moldes ) foi meu mestre o José Martins.  No 3º ano na  Represental  já como tirocinante de desenhador. Até começar a trabalhar vivi a minha infância no Bairro São Paulo e Bairro Popular, nos anos de 1974 e 1975 já no Bairro do Café na casa da Avó do Zé Tó que me ajudou bastante pois foi a partir dai que cortei o cordão umbilical dos meus Pais e comecei a viver independente, indo sempre aos  bairros que me viram crescer.
Meu pai foi durante muitos anos  Encarregado de Obras na Firma SONEFE, esteve na construção  da Barragem de Cambambe ( Alto Dondo ) tripulava uma torraite  N.S.U.  e depois uma ZUNDAPP,  mais tarde um Opel Kadete que veio da Africa do Sul com volante  à  direita., onde aprendi a conduzir  e ia  fazer Banga  para  as kivitas do  Liceu Femenino  e  das outras escolas.  Minha  mãe trabalhava no mercado do Kinaxixe, tinha uma banca de Legumes e Verduras , meus irmãos  o Fernando  na Robert Hudson na Zona Industrial,  o Victor no Banco Comercial de Angola , a Mélita  estudava na época  e tratava de nós e de mais três   casapianos (Passarinho, Baltazar, Miguel ) que na altura foram viver para minha casa, a quando da ida de minha mãe e do meu pai para a Africa do Sul, meu pai  para trabalhar na construção de uns depósitos de água  em Troyeville ( Joanesburgo ) e minha mãe para ser operada, aos Rins e Visicula,  tendo todo o mundo regressado a Portugal em 1975. O  Passarinho que entretanto casou com a Lena Ventura  ficou  em Luanda até  1984.

               Minha irmã Mélita com 13 anos – 1973  
Desde os grandes combates de Maio e Junho de 1975 entre os movimentos de libertação, Luanda depressa se transformou numa cidade de caixotes. Era desolador ver uma cidade maravilhosa a esvaziar-se dos seus habitantes, pois cada dia que passava havia menos gente nas ruas, menos coisas para comprar (as prateleiras das casas comerciais estavam vazias, os restaurantes estavam fechados por falta de alimentos), a inflação cada vez mais incontrolável, e mais caixotes nas ruas ou nos cais à espera de embarque. A ponte aérea esvaziou Luanda ainda mais depressa. Por fim, em Setembro a Universidade de Luanda fechou, e em Outubro Luanda parecia já uma cidade deserta e sem vida.

Zé Antunes
2000




5 comentários:

  1. Olá Zé Antunes.
    Coincidência...também eu vivi no bairro popular nº 2, na Rua de Ourique nº 103. Nasci em Portugal e em 1967 embarquei para lá, onde vivi até 1975. Frequenteu a mesma escola primária, lá do bairro; o mesmo cinema; a mesma igreja; enfim os mesmos locais. Também frequentei a Escola João Crisostomo, mas apenas no primeiro periodo, porque depois começaram os problemas e tive que regressar. Tenho algumas poucas fotos de então e também de algumas tiradas em 1997 aquando da minha visita a essa terra. Um abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá amigo
      Poderemos nos conhecer e ficava feliz se manda-se os seus elementos para todos os anos nos encontrarmos nos almoços do Bairro Popular nº2 Sarmento Rodrigues e Palanca que se realizam no primeiro sábado de Maio
      praticamente todos nós fizemos esse percurso
      mande noticias
      Um grande Kandandu

      Eliminar
  2. meus cumprimentos. sou o Isaac e quero escrever a historia do bairro popular tenho 16 anos, vivo na rua das verdades estudo na santa Ana. preciso da sua ajuda.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Amigo Issac ainda és kandengue eu sou mais cota tudo o que sei do Bairro foi até 1975 depois tivemos de bazar para a Tuga manda o teu mail e eu poderei te enviar historias daqueles tempos Um grande Kandandu

      Eliminar
  3. Eu também vivi no Bairro Popular (Sarmento Rodrigues) entre 1967 e 1970.
    Nunca mais lá voltei. Saí de lá com 15 anos. Gostava de ver imagens daquele tempo. O 22 para a Mutamba ou o 23 dando a volta junto ao Imbondeiro,

    Cordialmente,
    José Luis COVITA

    ResponderEliminar