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09/07/2012

GERAÇÃO À RASCA



A geração dos meus pais não foi uma geração à rasca.

Foi uma geração com capacidade para se desenrascar. Numa terriola de Trás os Montes as condições de vida não eram as melhores. Mas o meu pai Júlio não ficou de braços cruzados à espera do Estado ou de quem quer que fosse para se desenrascar. Veio para Lisboa, aos 14 anos, onde um seu irmão, um pouco mais velho, o Manuel, já se encontrava. Mais tarde veio o Delmar, o irmão mais novo. Depois vieram as raparigas (Branca, Madalena e Esperança). Apenas sabendo tratar da terra e do pastoreio, perdidos na grande e desconhecida Lisboa, lançaram-se à vida.


Porque recusaram ser uma geração à rasca fizeram uma coisa muito simples. Foram trabalhar.

Não havia condições para fazerem o que sabiam e gostavam. Não ficaram à espera.
Foram taberneiros, Carvoeiros, Carpinteiros, Governantas e Mulheres a dias. Fizeram milhares de bolas de carvão e serviram milhares de copos de vinho ao balcão.
Foram simples empregados de tasca. Mas pouparam. E quando surgiu a oportunidade estabeleceram-se como comerciantes no ramo, ou mesmo assim emigraram.

Cada um à sua maneira foram-se desenrascando.

Porque sempre assumiram as suas vidas pelas suas próprias mãos. Porque sempre acreditaram neles próprios. E nós, eu e os meus primos, nunca passámos por necessidades básicas. Nós, eu e os meus primos, sempre tivémos a possibilidade de acesso ao ensino e à formação como ferramentas para o futuro. Uns aproveitaram melhor, outros nem tanto, mas todos tiveram as condições que necessitaram. E é este o exemplo de vida que, ainda hoje, com 55 anos, me norteia e me conduz. Salvaguardadas as diferenças dos tempos mantenho este espírito.

Não preciso das ajudas do Estado.
Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.

Não preciso das ajudas da família que também têm as suas próprias vidas. Não preciso das ajudas dos vizinhos e amigos. Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.

Preciso de mim. Só de mim.
E, por isso, não sou, nunca fui, de qualquer geração à rasca. Porque me desenrasco. Porque sempre me desenrasquei.

O mal desta auto-intitulada geração à rasca é a incapacidade que revelam.

Habituados, mal habituados, a terem tudo de mão beijada.

Habituados, mal habituados, a não precisarem de lutar por nada porque tudo lhes foi sendo oferecido. Habituados, mal habituados, a pensarem que lhes bastaria um canudo de um qualquer curso dito superior para terem garantida a eterna e fácil prosperidade.
Sentem-se desiludidos.

E a culpa desta desilusão é dos "papás" que os convenceram que a vida é um mar de rosas.Mas não é.

É altura de aprenderem a ser humildes.É altura de fazerem opções. Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não encontram emprego "digno". Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não conseguem ganhar o dinheiro que possa sustentar, de imediato, a vida que os acostumaram a pensar ser facilmente conseguida.Experimentem dar tempo ao tempo, e entretanto, deitem a mão a qualquer coisa.

Mexam-se.Trabalhem.Ganhem dinheiro.

Na loja do Shopping.Porque não ? Aaaahhh porque é Doutor... Doutor em loja de Shopping não dá status social.Pois não.Mas dá algum dinheiro. E logo chegará o tempo em que irão encontrar o tal e ambicionado emprego "digno". O tal que dá status.

O meu pai e tios fizeram bolas de carvão e venderam copos de vinho.
Eu, que sou Desenhador de Estruturas, Construção Civil e Maquinas, em alturas de aperto, vendi bolos, ginginhas, trabalhei em cafés, etc.
E garanto-vos que sou hoje muito melhor e mais reconhecido socialmente do que se sempre tivesse tido a papinha toda feita.

Geração à rasca ? Vão trabalhar que isso passa.

À rasca, mesmo à rasca, também já tenho estado.
Mas vou à casa de banho e passa-me.

Recebido na net com alterações

Zé antunes

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