Depois do 25 de Abril de 1974, a vida em Angola não foi fácil para ninguém. Houve um período em que todos os “brancos” eram considerados “persona non grata” e por isso assistiu-se ao abandono em massa de cerca de 300 mil que regressaram a Portugal e aqui foram designados por “retornados”. Também para os angolanos, aqueles dias não foram melhores, porque logo se iniciou uma feroz guerra civil entre os movimentos de libertação. Quais os cenários possíveis para os ex-combatentes angolanos que lutaram ao nosso lado? Poderiam ter sofrido as consequências por serem considerados traidores; poderiam ter sido “recrutados” pelos movimentos ou fugido à guerra que assolou o país. Não sei o que lhes aconteceu, mas certamente a vida não foi fácil para eles. O auge desta guerra entre o MPLA e a UNITA, viveu-se depois das primeiras eleições que decorreram em 29 e 30 de Setembro de 1992.
Cidade do Kuito ( antiga Silva Porto )
Durante 10 meses, de Janeiro a Outubro de 1993, a cidade de Kuito (antiga Silva Porto) foi cercada e bombardeada pela Unita que a tomou de assalto. Os mortos foram cerca de 45 mil e mais de 50 mil feridos. Do que foi esta batalha, aqui se transcreve um relato:
Cidade do Kuito ( antiga Silva Porto )
Particularmente grave era a situação na cidade do Kuito, cercada pela UNITA. A população estava submetida a bombardeamentos diários, desde o início do ano. Chegavam-me relatos dramáticos, através de esporádicas comunicações via rádio, dando conta de toda a sorte de privações na capital biena, onde cadáveres, abandonados nas ruas, eram devorados por cães esfaimados. Não havia uma única casa de pé. Os habitantes, com medo dos bombardeamentos e dos tiros, escondiam-se entre as ruínas, deixando muitos mortos por enterrar. Só dali saíam para procurarem alguma coisa para comerem, como ratos, lagartos, raízes e folhas de arbustos, enfim, tudo o que encontrassem. Quando esta fonte se esgotou, começaram a alimentar-se dos cães que comiam os cadáveres humanos!
Testemunho de grandes amigos que desde mais ao menos 1993 deixei de ter os seus contactos. O Zé Manel era natural do Cuando-Cubango (Menongue antiga Serpa Pinto) o Tomás do Bié (Kuito antiga Silva Porto), zonas onde a guerra civil foi muito intensa e por isso receio muito pelo que eventualmente lhes possa ter acontecido. O Nené, era natural de Namibe (antiga Moçamedes), uma zona onde a guerra foi mais “suave”. Conheci-os em ( Bailundo antiga Vila Teixeira da Silva) no Monte Belo na estrada que ia para o Kuito. A estes três companheiros, grandes avilos em qualquer lugar onde estejam, presto a minha homenagem. Se forem vivos, terão cerca de 70 anos, “muito velhos”, para um país onde a esperança média de vida é de apenas 42,7 anos.
ZÉ ANTUNES
1993. Testemunho de Manuel Serrote ( Néné )
gostaria de saber se tem alguma recordação do bar "sala de transito" no aeroporto de Luanda?, estou a tentar encontrar um amigo para um familiar meu, obrigado.
ResponderEliminarNão tenho recordações do dito Bar, fui lá várias vezes, recordo-me da de 30 de Maio de 1975 quando minha namorada actual esposa embarcou para Lisboa e depois quando estive lá em 21 de Junho para embarcar para Lisboa , tenho poucas recordações do Bar da Sala de Trânsito
EliminarUm grande Kandandu