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01/07/2012

PROIBIDO FUMAR




O Zé Antunes entra no Comboio da Linha de Sintra, que se dirige para o a sua residência no Cacém e se senta cansado de calcorrear a baixa de Lisboa. Almeja paz e serenidade no percurso de regresso a casa, mas pressente confusão ao ver que um tipo de cabeça fresca acender o cigarro dentro da carruagem . Ainda não é proibido fumar nos transportes públicos, mas vai havendo já uma consciencialização para os malefícios do tabaco. Em baforadas profundas, o fumador aprecia a estação do Rossio pela janela. Nisso, um zeloso passageiro, diante de tamanha intoxicação de fumo e insubordinação, diz:

- É favor deixar de fumar pois o fumo do cigarro está a incomodar-me. Apague o cigarro. E já é proibido fumar em recintos fechados e nos transportes públicos.
- Não apago.

Então o zeloso vai até ao factor ( Revisor ) , e se ouve a voz do fumador: provocante

- É proibido falar com o pica bilhetes.


Então, alguns passageiros decidem apoiar o do cigarro e vários cigarros são acesos. Ao olhar para trás, o reclamante se irrita com o desaforo e ordena ao factor:

- Chame já o Chefe da Estação, pois nãp viajo neste comboio com este fumo todo não se respira aqui.

O reclamante desce para a gare e se põe a parlamentar e a gesticular junto do chefe da estação, chama dois policias de serviço na estação do Rossio, e retorna à carruagem do comboio acompanhado das autoridades.

Ao entrar, ninguém fuma: um lê o jornal, outro aprecia distraidamente a Estação e o vai e vem de outras composições que chegam à gare, e outro finge dormir... Indagados sobre o fumo, o silêncio é absoluto. Alguns passageiros torcem o queixo e fazer bico com os lábios a modo de "Este senhor está louco?".

Então, o zeloso cidadão evidenciando-se por estar acompanhado da autoridade diz ao seu desafeto:

- Fume agora, vamos!

- Não fumo. Não estou com vontade.

Sem provas, o policial diz:

- Meu caro senhor, não posso dar flagrante e não há corpo de delito (as piriscas e as beatas jazem na gare da estação). Foram atiradas pelas janelas. Não há como dar voz de prisão, e a lei aprovada só proibe fumar dentro dos transportes públicos.

Então, o policial desce e o chefe da Estação dá a partida ao comboio que segue o destino. Não mais incomodado, o zeloso volta à sua poltrona e o maquinista segue viagem. Mais adiante, na Estação de Benfica o comboio para, e pela janela o não mais incomodado pelo fumo vê um bando de crianças a pedir esmolas. Mas como aquilo não o afecta directamente, não se sente indignado e segue de consciência tranquila e orgulhosa de si.

Poucos anos depois era proibido fumar em recintos fechados, era proibido fumar nos transportes públicos, e era proibido fumar em alguns restaurantes.

Zé Antunes


2008




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