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23/07/2012

VIDA DIFICIL ..........

Depois do 25 de Abril de 1974, a vida em Angola não foi fácil para ninguém. Houve um período em que todos os “brancos” eram considerados “persona non grata” e por isso assistiu-se ao abandono em massa de cerca de 300 mil que regressaram a Portugal e aqui foram designados por “retornados”. Também para os angolanos, aqueles dias não foram melhores, porque logo se iniciou uma feroz guerra civil entre os movimentos de libertação.

Alguns queriam ficar, mas a falta de alimentos e as condições de trabalho começaram a degradar-se, ninguém sabia já quem mandava.

É aqui que José João, querendo ficar, pois até era Angolano, nascera em Luanda, e até estava a trabalhar num Banco, mas vendo que as coisas estavam a piorar resolve embarcar nos últimos aviões da Ponte Aérea, desembarca em Lisboa num dia de Outubro e vai para casa de sua mãe que já se encontrava em Lisboa, como empregado Bancário vai ao Sindicato dos Bancários e rapidamente se encontra colocado e a trabalhar.

Tempos depois é chamado para o serviço militar, tempo reduzido pois vivíamos numa democracia e não se necessitava de tão grande contingente militar, acabado o serviço cívico, regressa ao seu posto de trabalho no Banco.

Como jovem ambicioso, e porque conhecera alguém no norte do pais, com quem queria partilhar a sua vida , pede a transferência para o Norte e ai se casa e se estabelece, tem dois filhos e trabalhando no Banco a vida está-lhe a sorrir e a correr bem.

Fora do Banco tem três estabelecimentos de pronto a vestir, que lhe dão um dinheirinho extra ao fim do mês, vidinha boa até aos anos 85, depois..............

A partir daqui é só especulação, é o que se houve falar, é o pouco que se sabe ..........

No Banco conhece duas clientes já de idade e com a confiança cliente / Banco as ditas perguntam ao nosso José João o que teriam de fazer para rentabilizar uma boa maquia de dinheiro, que tinham em depósito. O nosso prestativo funcionário bancário logo tratou de gerir o dinheiro ás idosas, pois as lojas estavam a ter prejuízo e aquele dinheiro vinha a calhar, para pagar umas certas dívidas..

Entretanto, lá ia vivendo e fazendo festas como se as lojas estivessem a dar muito bom lucro , e é ai que os fornecedores começam a apertar o cerco, não havendo saída para pagamentos das dividas, o nosso José João despede-se do Banco ou é despedido ninguém sabe, e vem rapidamente para Lisboa, não diz nada a ninguém e primeiramente quer ir para a América, mas para ir para os Estados Unidos é preciso um visto de entrada e é muito burocrático pedir um visto e demora algum tempo, embarca rapidamente para o Brasil para São Paulo.

Colegas do José João ficaram admiradíssimos com tudo o que aconteceu, pois não sabiam de nada, e até pensavam que estava tudo bem e que os negócios iam de vento em poupa, mas a vida é mesmo assim, está-se bem hoje, amanhã não sabemos, é preciso é ter a mente sempre descansada. E se era só o dinheiro das clientes que isso se resolveria, mas que o caso com os fornecedores era mais complicado dai a fuga. Ainda falam hoje em dia porque é que ele tomou a atitude que tomou, mas vá lá o diabo saber, ele é que sabe e é segredo dele.

Entretanto no Norte de Portugal começam a circular Editais com a foto dele a saber se alguém saberia do seu paradeiro, entretanto o caso foi para a Justiça, tendo sido arrestado tudo que se encontrava no seu apartamento, tendo a mulher mesmo assim salvado alguns tarecos, que os levou para casa dos pais.

Ao abrigo de uma lei em que se um dos conjugues estiver desaparecido durante um ano , a esposa pediu ao Ministério Público o divorcio ao qual lhe foi concedido.

Vida difícil para esta mulher, que sozinha criou os dois filhos, praticamente sem ajudas pois sua mãe entretanto falecera e ainda tinha que tratar e cuidar de seu pai que está muito doente. Mas ela sente-se feliz e apesar das agruras da vida, conseguiu educar os filhos que se encontram dentro do possível a trabalhar, e ela agora diz que só quer continuar a trabalhar até a sua reforma, e a tratar dos netinhos, que entretanto nasceram.

ZÉ ANTUNES
2008


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