Depois do Sargento Correia acabar a comissão militar, estavam alojados na nossa casa no Bairro Popular nº 2, ele a esposa e os dois filhos, regressando a Portugal, alugou-se a casa a vários amigos Artur, Paquito, Reis, Guerra, Miguel e amigos casapianos iam lá almoçar e jantar destacando-se o Baltazar, o Passarinho, Ventura e quem tratava desta turma toda era a Mélita, pois na ocasião meus pais estavam na Africa do Sul. Minha mãe foi ter com o meu pai e ai foi operada a uma pequena maleita, deste pessoal todo guardo boas recordações.
Artur era o mais velho da rapaziada pois já tinha cumprido o serviço militar e por Luanda ficou, alinhei com ele em muitas paródias, ficou só manchado por ter comprado o Opel Kadete ao meu pai, ter pago metade do acordado, e um belo dia foi ao posto abastecedor da Texaco na Maianga, abastece a viatura e foge sem pagar, claro que mais tarde a conta aparece em casa do meu pai via tribunal, lá fomos buscar o automóvel que estava acidentado, com a parte da frente toda danificada.
Paquito, foi para lá viver em virtude de ter ficado em Luanda pois os seus pais vieram para Lisboa, ficou em Luanda a trabalhar com um tio. Irrevente e sempre pronto para a cowboiada, casou com a Rosário, ainda hoje nos encontramos nos almoços do Bairro e vamos falando da vida e dos nossos amigos todos.
Reis e Guerra, pessoas muita calmas estavam a cumprir o Serviço Militar nos comandos, depois que se deu o 25 de Abril vieram para portugal, o Reis nunca mais o vi, o Guerra ainda viveu em minha casa em Lisboa, mas nos anos oitente deixei de ter contactos com ele.
Dos casapianos o Baltazar, Ventura e Passarinho estiveram pouco tempo em minha casa mas há sempre uma história para contar e aqui destaco o Baltazar que só queria dormir (muito dormia ele), começou a namorar, comprou uma torraite e já poucas as vezes o viamos, também era guloso pelos pudins que a Mélita e a minha Mãe faziam,
Queres mais Pudim Baltazar? Perguntava a minha Mãe.
Não quero mais dona Maria do Carmo, virando a cara para o outro lado, mas estendia o prato para querer mais !!!!!!!
O Passarinho tinha tudo sobre controle, pois tinha hora para tudo, muito metódico, hora do banho, hora das refeições hora do trabalho e hora de namorar, tive o previlégio de o ir visitar à gráfica LITOTIPO e ai pude constatar toda a organização do seu trabalho. Numa das primeiras casas que eles alugaram, ia lá dormir e constatei que o planeamento das tarefas de casa, eram feitas pelo Passarinho e que todos estavam democráticamente de acordo sem objectar nada em contrário. O Passarinho ficou em Luanda, casou com a Lena e só veio para Portugal em 1984.
O Ventura, mais farrista, alinhei com ele em muitas tertúlias báquicas noturnas, foi dele que veio o convite para colaborar no Campeonato Mundial de Hóquei em Patins que se iria realizar em Luanda, infelizmente foi adiado e transferido para Lisboa já devido aos acontecimentos que se registavam em Luanda. Nos anos setentas estavamos mais vezes juntos pois ele ficou aqui por Lisboa e viveu o Verão Quente de 1975, Não poderei esquecer o Chico, que trabalhava com o Ventura e era na altura o mais velho e na minha maneira de ver o mais caseiro, nunca o vi em grandes festividades, conheci também o Beto que é desenhador como eu, e trabalhava na Lusolanda em Luanda, namorava e casou e por Luanda ficou, vou sabendo que se encontra bem.
Conheci o Miguel numa viagem no maximbombo 22 e ai ele com 16 ou 17 anos, muito triste disse-me que se tinha zangado com o pai e que vivia com uns amigos casapianos, foi ai que através do Miguel, e como estavamos na época de a juventude querer viver o “make love not a war” que conheci o grupo de casapianos que tinham chegado a Luanda e ao Bairro, e fui viver com eles uma temporada. Tempos depois o Miguel ficou em minha casa. O Miguel sempre foi uma jóia de pessoa, muito calado, calmo e sempre disposto a partecipar nas nossas farras, de salientar que hoje depois de nos perdermos nesta selva da europa, estamos em contacto uns com os outros. Só no ano de 2010 é que pude estar novamente com ele, pois a vida dá tantas voltas, foi o Passarinho que viu uma foto do Miguel numa revista e telefona-lhe, dando-me depois o contacto.
Lembrar ainda que na equipa dos Gansos que parteciparam num torneio de futebol de salão na Defesa Civil de Luanda eu era o único que não era casapiano, mas a convivência era boa e todos nos davamos bem. Apesar de haver algumas pessoas que tinham um pouco de inveja, pois as garinas começaram a sair com eles e a malta dizia que lhes vinham roubar as namoradas. Como a mota era o meio de transporte predilecto em Luanda, a rapaziada juntava-se toda e era ver a malta toda reunida a caminho das praias, ou das matinés dançantes ou cinematograficas.
Mais histórias poderiamos contar, se a memória deste tempo passado que nos castrou da convivência com nosos amigos e mesmo familiares, não fosse muitas vezes uma pequenina recordação, mas sempre que possamos recordar a nossa juventude é bom para o nosso ego, e faz-nos lembrar das nossas verdadeiras amizades.
Zé Antunes
Zé Antunes
1973
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