Carlos Clara chega ao Rossio, mais precisamente, junto ao conhecido Café Piquenique, ao lado da Caixa Geral de Depósitos ( antigo BNU), local onde os Retornados outrora se reuniam, para alguns dedos de conversa sobre vidas passadas e dificuldades presentes, contando cada um o seu drama que daria para vários romances.
Quase todos os regressados das ex-colónias singraram neste país, ou no caso de Carlos Clara no Canadá para onde foi em 1980, começando pelos degraus mais baixos das carreiras profissionais, casos da Fernanda, professora eventual habilitada com o antigo sétimo ano dos liceus que foi integrada como dactilógrafa da letra”U” [a última letra do alfabeto dos funcionários a dos contínuos, sem desprimor para a classe, para a qual era apenas exigida a quarta classe]. Outros mesmo com novas profissões!
Um administrador foi reclassificado como chefe de secção e, para atingir o lugar de chefe de repartição, a que já teria direito aquando da Revolução de Abril, teve de concorrer treze vezes, e, finalmente, venceu os vinte e muitos candidatos para uma vaga posta a concurso.
Mas como vos ia contando, encontrei o Carlos Clara, anos depois, na zona do Rossio, transfigurada com as obras do Metro e com a população dos Retornados transferida para a Praça da Figueira, local onde se viam mais africanos que naturais da metrópole.
A minha pergunta, depois de lhe dar um forte kandandu (abraço) de amizade, foi no sentido de saber da sua saúde, e dos seus familiares. Carlos Clara, olhando a esplanada do Piquenique, de lágrimas nos olhos, estava em Lisboa porque seu pai tinha falecido, foi fazendo uma surda chamada:
O Fernando Transmontano? Aquele funcionário dos Seguros, O Jorge Fraquitelas? O Fernando Ribeiro ( das Quarras )? O Chelas ( chefe de Posto) ? O Xabregas tio do Chelas? O Bamba ( filho do Sequeira Alves)? O Jaques ? O Américo Nunes ? O Miquinho primo do Banga Ninito? Um que era do Bairro da Maianga, de nome Virgílio, grande poeta e que escrevia bons contos e belos poemas? O Manel Teddy Boy ( pai da Mariza Cruz)?
Silêncio. Os pardais chilreavam nas despidas árvores da Praça...
As lágrimas vieram aos olhos dos presentes...
Faleceram todos..., morreram todos! Tão novos! Estão, para sempre, nos cemitérios de Benfica, Feijó, Abóbada e no Alto de S. João... e no nosso pensamento.
Gaivotas que voam.......... ouviu-se da boca do poeta Andrade, quebrando o silêncio da nostalgia!
Gaivotas que voam.......... ouviu-se da boca do poeta Andrade, quebrando o silêncio da nostalgia!
2010
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