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22/06/2012

LUANDA A DEBANDADA



Na Luanda isolada, fartura só de medo e de boatos. Nos musseques, afiam-se as catanas para cortar as gargantas dos brancos; milhares de soldados da FNLA já se encontrariam escondidos dentro dos limites da cidade, para se juntarem aos invasores. Aumentando a tensão, chovem panfletos, nos quais se anuncia a "iminente marcha para libertar Luanda".(...) Luanda está estranhamente silenciosa. Deixam de se ouvir as marteladas nos caixotes de madeira, armados pelos portugueses. "Em Luanda, vive-se já, entretanto uma transição histórica. O centro da cidade é atravessado, por vezes, por camionetas de carga, carregadas de colonos brancos, na direcção do aeroporto. No caminho para o porto, alinham-se ainda uma fila interminável, camiões com caixotes e automóveis. Às portas de muitas moradias encontram-se caixotes prontos para seguirem para Portugal. No aeroporto militar, a confusão é permanente.(...).

Uma atrás de outra, as cidades mudavam de mãos. Na sequência da retirada das tropas portuguesas, O MPLA não conseguiu suster as posições, Nova Lisboa, Sá da Bandeira, Porto Alexandre, Moçâmedes, Lobito e Benguela – as maiores cidades tinham sido tomadas pelos dois movimentos rivais e, a sul, pelos sul-africanos, e, em ambas as frentes, por portugueses dispersos. (...) Este isolamento de Luanda era especialmente visível num mapa que existia, e ia sendo actualizado, no quartel-general das tropas portuguesas. Com o corte dos acessos a sul, ia-se confirmando o pior para quem estava na cidade: Luanda poderia vir a tornar-se um enclave, uma ratoeira infernal e quem ali ainda permanecesse em 11 de Novembro, depois da saída das tropas portuguesas (que até lá constituíam a única garantia de segurança) poderia morrer sem que fosse viável qualquer auxílio do estrangeiro. Os presságios diabólicos pareciam cumprir-se, um atrás de outro. Com a queda de Benguela, fechava-se o acesso a sul.(...)

Na baía de Luanda, estavam ao largo duas fragatas da Armada portuguesa, uma corveta, um navio petroleiro e dois navios de passageiros, o Niassa e o Uíge. Nos pátios do palácio governamental, concentrava-se uma força de fuzileiros, a Cavalaria (com os seus blindados e camionetas Berliets) e páraquedistas. E, às 15.30, era arriada, por um marinheiro, a última bandeira das quinas. O destacamento português pôs-se em movimento. E logo as guaritas do palácio-quartel foram ocupadas por polícias angolanos, nas suas novas fardas turquesa. Na varanda colonial, assistindo à despedida, ao render do poder, apenas alguns empregados africanos, vestindo as fardas brancas: Adeus Portugal.

Os portugueses partiam de cabeça (fisicamente) levantada, como anunciara o último alto comissário, Leonel Cardoso. Mas com os corações apertados e intranquilos. Pessoalmente, senti um grande nó na garganta e na boca um sabor amargo.(...) e já estava em Portugal. Assim, com a previsível carga pesada das consequências, que traduziria em 13 anos de guerra colonial, Portugal fechava o ciclo aberto em 1483, quando as primeiras embarcaçõesportuguesas lançaram âAutor desconhecidoncora na foz do rio Congo".

autor desconhecido
1975

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