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22/06/2012

COISAS DE ANGOLA… ( ÓBITOS )



Em Luanda agora é assim! As pessoas se produzem todas para ir a um funeral, como se à uma festa de gala se tratasse. Se antes o branco e o preto eram as cores para actos fúnebres, agora as damas bazam até de vermelho, rosa, amarelo, laranja, quer dizer, só as cores "mais cheguei" para chamar mesmo a atenção.

Na verdade, os óbitos se transformaram em locais predilectos para desenvolver uma paquera, na ausência de locais públicos de lazer que proporcionem encontros, afinal quem não tem cão nem gato, caça com rato. Há quem diga que as damas vão para ver os BOSS´S da família. Ficam de olho bem aberto para marcar qual é o tio que dá mais kumbu. Depois jogam todo o seu charme para cima do kota, não importando se casado, solteiro ou viúvo, nem respeitam o luto.

Já os homens, parece que são mais discretos, bazam a estes encontros para beber de graça, consentir uma paquera e, claro, pitar (comer) um coxe, afinal, de graça, bar aberto, boca-livre, não faz mal a ninguém. Os óbitos, há muito que deixaram de ser cerimónias nostálgicas em que os parentes e amigos se encontram para consolar quem perdeu um ente querido. As Mulalas das kotas deram lugar ao desfile de moda e posses. Tas a ver aquela expressão " ché quez da caldo", já ficou ultrapassada. A canjica e o caldo foram superados pelos Mufetes, Muambas, Bolos, Doces diversos, Rissóis, Tortas e Pudins à maneira.

Da Kissangua, coitada, já nem se fala mais, nem nos círculos mais conservadores das famílias, de vez em quando, aparece nas praças e paragens de candongueiros mas, com novo nome para disfarçar: "Sumol em Saco". Nada de coisa de pobres (kissangua) nos óbitos a onda agora é Cuca, Sagres, Castle, Carlsberg, Coca-Cola e associadas, Sumol e até a forasteira Kiss, agora também Blue's, por que as Youk´s sumiram do mapa. Quer dizer, até aquelas kotas que produziam os pitéus dos óbitos naquelas panelas bué gudas (grandes) também estão desempregadas, foram substituídas pela contratação dos serviços de Bufetes e Catering.

Óbito na cidade da Kianda ( Santa Ana ) é festa grande. Já há quem prefira patar nos kombas (óbitos) do que ir aos casamentos; nos óbitos não olham nas caras nem querem saber se é parente do noivo ou da noiva para te servirem. Só falta mesmo contratar DJ´s para animar o bo... digo o óbito, com músicas da igreja, já que os kuduristas já fazem questão de cantar daquele jeito neh.





 
Nesses encontros não podia faltar a turma dos BUFUS, aqueles que definem a qualidade dos óbitos, segundo critérios já bem definidos. Adesão de pessoas famosas, número de carros, que inclui os da moda, último grito, os que mais choram, quem desmaia mais, a quantidade e qualidade do pitéu e bebida etc. quem não consegue um óbito nestes moldes é logo taxado de "JIMBA DIAFU", "DIBINZERO".

É... meu, morrer na Nguimbe (capital) não é negócio para qualquer um!!!

E não pára por aí, o que dá mais pontos é o lugar onde será o enterro. Tem que ser ALTO DAS CRUZES ou SANTA ANA porque o resto é mesmo resto. O óbito pode ter tudo, mas se o funeral não for nestes lugares perde todos os pontos. Diante disso, começa um novo dilema já que conseguir espaço nestes cemitérios não é coisa fácil e carece de "cunha forte", mas também, o cemitério 14 ou kamama ( Bairro do Golfo ) não são cemitério para Vip´s, tipo, não vão ser comidos também pelos sálálés. Então o defunto chega mesmo a ficar uma semana ou mais a espera que se decida sobre seu próximo endereço.

Mas nem tudo mudou, ainda se vê aquelas kotas que sempre exageram na hora de exprimir sua tristeza. Aquelas kotas que vão chorar no Kinaxixi, quando o óbito é no Marçal, para depois reclamar dos rins. Ainda é a oportunidade ímpar para ver todos os parentes, onde os que menos choram são as vítimas quando se procura o culpado pela morte: "EIE U MULOGI". Ele é o feiticeiro, vês que nem chora, eu já sabia. Os vizinhos da rua toda continuam com aquele mau e velho hábito de faltar ao serviço durante um mês sob pretexto de óbito na casa do vizinho que em vida nem sequer os cumprimentava.



Isto é caso para perguntar: AONDE ESTAMOS E PRA ONDE VAMOS? SABES??????
Jornalista de Angola
2005

2 comentários:

  1. Olá Zé Antunes.
    Cheguei aqui por um linque de uma amiga angolana que escreve no www.cartasafilosofia.com.
    Interessante texto sobre os atuais costumes de Angola, apesar de que perco muito da riqueza devido ao desconhecimento das palavras nativas, mas tudo bem consegui captar a essência da coisa.
    Escrevo pra perguntar sobre um assunto fora do tópico em questão:
    A Capela na foto é projeto do Niemeyer ou é só muito parecida com o estilo dele?
    Desde já agradeço a atenção dispensada.
    Um abraço
    L.S. Alves

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  2. Olá bom dia amigo alves, parece-me o estilo dele mas não sei precisar esta capela está á entrada do cemiterio de Santa Ana em Luanda ( o chamado Cemiterio Novo ) se souber de alguma informação eu contactarei-o, se souber de alguma noticia revelante cá estarei para receber essas boas noticias
    Por agora um grande kandandu ( abraço )

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