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19/06/2012

COMO CHEGUEI A LISBOA

Avião da Tap 747 Jumbo

Foi muito triste, eu não queria vir. Era lá que eu vivia era lá que estavam os meus amigos, a minha casa. Mas a minha mãe e o meu pai mostravam-se irredutíveis, pois nessa altura dia 30 de Maio de 1975, já a minha namorada hoje minha mulher tinha embarcado para Lisboa com a mãe Dona Tercilia e nessa mesma noite fui dormir a 7ª Esquadra por não respeitar o recolher obrigatório, e o meu pai queria que eu trouxesse a minha mãe e irmã por causa dos acontecimentos que se estavam a passar, depois de vários episódios assustadores, principalmente de violações contados por quem tinha visto, ou ouvido contar e até um deles passado no nosso bairro ( intervenientes os Pioneiros do M.P.L.A.) com a Bandeira de Portugal, pisada e rasgada em frente à tropa portuguesa que teve que ficar sem reagir o que para os moradores foi muito triste e revoltante, pois ninguém aguenta ver a sua Bandeira maltratada sem poder fazer nada. Coitados dos militares deve ter sido horrível para eles assistirem a uma coisa daquelas e para nós moradores, era uma coisa inacreditável e é também, até hoje, uma recordação que faz doer muito. Meu pai começou a encaixotar tudo o que podia. Saí de Luanda num avião 747 o chamado Jumbo da Boing no dia 21 de Junho de 1975, ás 11 horas da manhã, conforme o avião subia mais e mais e Luanda a ficar cada vez mais pequena. Mais certeza tinha que o sonho de voltar nunca mais se iria concretizar, olhei para a minha mãe e para minha irmã que choravam, e tive vontade de ser mágico, conseguir parar o avião, pegar na mão da minha mãe e irmã, e juntos voltarmos para junto do meu pai que tinha ficado no aeroporto. Nesse mesmo dia pelas 19 horas cheguei a Lisboa, um outro Portugal, o tal que era Continental, porque o outro era o Ultramarino, com a revolução dos cravos no seu melhor.

Cheguei ao aeroporto da Portela em Lisboa com uma pequena mala na mão com os meus documentos pessoais alguns escudos angolanos, a guia passada pela comissão organizadora de repatriação, umas calças e uma camisa. Tudo o mais ficou lá nos caixotes que meu pai se encarregou de despachar para Lisboa. Troquei 5.000$00 angolanos pela mesma importância de escudos portugueses.


Retornados no aeroporto da Portela em Lisboa. (foto Net)

Na sala de espera do aeroporto já havia muita gente de Luanda com cartazes e sem saberem para onde ir e nós ali também sem ninguém á nossa espera. Resolvemos ir de táxi para a Póvoa de Penafirme – Torres Vedras

Nessa noite fui dormir a Santa Cruz – Torres Vedras, numa cama fria, junto a uma parede também fria que dava para a Adega . Nunca esquecerei essa noite nem os dias seguintes porque ainda hoje sinto a dor pela forma como fomos tratados e recebidos aqui, tanto por governantes como até pela própria família, nessa altura não havia terapias nem psicólogos para nos acompanharem.
No dia seguinte vim para Lisboa, fui para  casa  na Avª.  da Liberdade e dirigi-me ao Pic-nic na praça do Rossio onde poderia encontrar  amigos vindos de Luanda. Nessa altura fui baptizado de novo era o “RETORNADO”.

   Honda 350 Scrambler ainda veio encaixotada num navio italiano


 

1975

              



                                  

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