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20/06/2012

VERÃO QUENTE EM LISBOA

                                                         Zé Antunes em 1975

No dia 1 de Setembro de 1975, com as manifestações que se realizavam todos os dias com palavras de ordem “Nem mais um soldado para Angola e não somos carne para canhão entre muitas “ Eu e mais uns quantos amigos: Norberto de Andrade, João Luis, Carlos da Saudade, e muitos outros, com dinheiro Angolano no bolso, entramos no Banco de Angola na esquina da rua do Comércio e a Rua da Prata e barricamo-nos durante 3 dias que era para trocar o dinheiro, os funcionários não sabiam o que fazer mas solidarizaram-se connosco , mas como o dinheiro Angolano já tinha saído de circulação e foi substituído pelo Kuanza, tivemos também o apoio de pessoas que nos traziam comida e bebidas, café e palavras de algum conforto. Veio a Policia , a G.N.R. e por fim o Cap. Jaime Neves dos Comandos explicando-nos o que se passava em relação ao dinheiro, mas que tinha trabalho para alguns de nós, concordamos sair da Instituição Bancária e logo ali se elegeu uma comissão para elaborar as nossas habilitações literárias e profissionais.

No dia 09 de Setembro de 1975 comecei a trabalhar na Rua de S. Ciro no Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais ( I.A.R.N ). Implementação das fichas individuais de todas as pessoas vindas das províncias ultramarinas, fui viver para a Av. Álvares Cabral perto do Jardim da Estrela e como cada vez mais oriundos de todas as Colónias vinham cidadãos nacionais para Portugal fui transferido para a Quinta da Francelha no Prior Velho onde se começou a despachar os caixotes que entretanto chegavam com as pequena bicuatas das pessoas, despacho por comboio (Sr. Baltazar da Estação de Santa Apolónia homem incansável ) ou de Camioneta para as localidades de origem ou de familiares .

Este meu contributo no I.A.R.N terminou em Dezembro de 1976 na Rua da Junqueira na elaboração das guias de alojamento e alimentação.

Neste verão estava-se à beira da guerra civil. Os operários de punho erguido cercavam o palácio de São Bento, havia violentos assaltos e incêndios a sedes de partidos políticos de esquerda facções militares contavam as espingardas ou redigiam documentos programáticos definindo rumos para o pais, esquerda e direita defrontavam-se no poder e nas ruas, havia as ocupações selvagens com o apoio dos partidos do proletariado. O futuro tanto podia ser de esquerda como de direita ou seja comunista ou fachista ou democrático segundo os padrões ocidentais.

Os Estados Unidos da América decidiram apoiar a ala mais moderada, facção essa do partido socialista liderado por Mário Soares.

Quando em Novembro as forças de extrema esquerda arriscaram a sorte arrastando o partido comunista para um golpe de estado, a contra ofensiva de militares moderados e independentes ripostaram com êxito aos intentos da extrema esquerda. Portugal adoptaria o modelo politico económico do ocidente, um capitalismo com democracia representativa.

Para alguns o 25 de Novembro é a data negra da revolução, mas esta data assinala para outros o inicio do processo da normalização que até ao presente vigora.

Todos os dias no fim do meu período laboral , vinha até ao Rossio ( Pic-Nic ) local de encontro de todos os oriundos de Angola que chegavam todos os dias na Ponte Aérea e iamos sabendo noticias de Angola e particularmente de Luanda onde ainda estavam o meu pai e irmãos. Confraternizava-mos também para beber uns finos e pancar uns petiscos no Pingo Bar e Leão d’ouro na Rua 1º de Dezembro, Sanozama na Praça do Chile em Arroios, e outras sempre na ânsia de saber novidades de Angola.

Desse grupo ( Zé Antunes, Zé Ideias, Henrique Prazeres, Resende, Fernando Transmontano, Zé Bancas, Fernando das Quarras, Nascimento, Octávio, Manel Zé, Alberto, Nogueira, Carocha, Fernando Simões, Ventura, João Mulato, Ferreira Cigano, Kacepita, Meira, Vasco, Machado, Lóló, Tó-Tó, Manel Teddy Boy ( pai da Marisa Cruz que hoje apresenta o Euromilhões ), Jorge Fraquitelas e muitos outros, mais tarde com alguns destes amigos, formou-se a Confraria do Penico Dourado, Convívio Gastronómico e Báquico. A vida nessa altura era complicada com a inflação a subir todos os dias, era o tempo do PREC ( Processo Revolucionário em Curso ) o Recolher obrigatório, a falta de água. e de alguns alimentos, as greves , o 25 de Novembro, Em Dezembro de 1975 por intermédio do meu irmão Fernando que já tinha regressado de Luanda fui trabalhar à noite, um part-time no Teatro Variedades do Vasco Morgado Júnior como técnico de Cicloramas ( Luzes ) na Revista “Aldeia da Roupa Suja” com Camilo de Oliveira, Ivone Silva e Nicolau Brayner entre outros. Foi uma época conturbada, mas fomos superando sempre com a ajuda dos nossos Avílos. Ressalvar que muitas destas amizades ainda hoje perduram e sempre nos ajudamos uns aos outros, e ainda hoje temos o espírito da solidariedade.

                                                                    GRANDES AMIZADES


1975

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